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Charles Baudelaire
consciência sem precedente da relação
entre a beleza e a dimensão do presente |o
novo; ruptura com a tradição
“Mas então que é o tempo? É a brisa fresca e preguiçosa de outros anos, ou esse tufão
impetuoso que parece apostar com a eletricidade: Não há dúvida que os relógios,
depois da morte de [Solano] López, andam muito mais depressa”
(Machado de Assis, em crônica de 25 de março de 1894).
Como é a Paris do poeta Charles Baudelaire?
Com o avanço do capitalismo, Paris passa por
intensas mudanças sociais (surgimento de uma
pequena burguesia), desenvolvimento do
pensamento científico e de novas tecnologias, e
acelerada urbanização. A Paris de ruelas medievais
dá lugar à Paris de grandes avenidas iluminadas;
mudanças na sociabilidade acompanham aumento
de espaços públicos.
Reurbanização supervisionada pelo Barão Haussmann: sistemática demolição de ruelas estreitas que
foram substituídas por 140 km de avenidas e bulevares retos e largos, que a iniciativa privada viria a
encher de lojas e cafés sob novos apartamentos alugados a preços altos. A escala das demolições
era tão espantosa quanto a ambiciosa cidade que se planejava. Paris transmitia a todos que viviam
nela uma ideia de modernidade.
Efeito dessas mudanças sobre a população:
parques, cafés, locais de diversão e as ligações
ferroviárias com os subúrbios proporcionaram
oportunidades de lazer (turfe em Longchamp,
no Bois de Boulogne), acompanhado de
aumento da atividade comercial (lojas de
departamento). A nova aparência da cidade
ajudou a criar a imagem ideal do estilo de vida
e da ordem burgueses.
Sem esse segundo elemento, que é como que a cobertura estimulante, excitante e
apetitosa do bolo divino, o primeiro elemento seria indigerível, impalatável,
inadaptado e inadequado à natureza humana. Desafio qualquer um a descobrir
alguma espécie de beleza que não contenha esses dois elementos”
Apolo de Beldevere. Cópia romana em mármore, de
estátua grega de c.350 a. C. Museu do Vaticano.
Johann Joachin Winckelmann: a arte grega como sinônimo
do conceito de arte. A História da Arte na Antigüidade
(1764). Reflexões sobre a imitação da arte grega na pintura
e na escultura (1755).
Definir as rupturas que sobrevêm no sec XIX como recusas mais ou menos
bruscas da tradição é evidentemente insuficiente. seria fácil objetar que a
história em geral e a evolução da arte em particular não são mais do que
uma sucessão, a intervalos mais ou menos longos, de sobressaltos, de
trancos, de mutações e às vezes de posições mais ou menos radicais às
épocas anteriores. Nesse sentido, cada época inventa uma modernidade para
si mesma, imaginando um futuro capaz de libertá-la da rotina e do peso dos
tempos anteriores.
Mas o que permite considerar a modernidade, tal como é definida por
Baudelaire, como anunciadora de transformações mais profundas do que as
precedentes? Em que o impressionismo, nascido pouco depois da morte do
autor das Fleurs du mal, pode ser percebido como uma revolução de
importância pelo menos igual à da Renascença na história da arte ocidental?
Titian. Vênus de Urbino, 1538. Óleo sobre tela, Uffizi
Giorgione. Venus adormecida, c. 1510. óleo sobre tela, 108 x 175 cm
Gemäldegalerie, Dresden
Edouard Manet. Olympia, 1863. óleo sobre tela, 131 x 190 cm. Musée d'Orsay, Paris
Edouard Manet. Almoço sobre a relva (Le Déjeuner sur l'herbe), 1863
Óleo sobre tela, 208 x 265 cm. Musée d'Orsay, Paris
Ticiano ou Giorgione, c. 1509. Concerto campestre (Concert champêtre)
óleo sobre tela, 105 cm × 137 cm. Musée du Louvre, Paris
Edgar Degas. Depois do banho,
mulher se enxugando, entre circa 1890
e circa 1895. Pastel, 103.5 × 98.5 cm.
National Gallery
Edgar Degas. Depois do
banho, mulher enxugando a
nuca, c. 1899. Pastel sobre
cartão. Musée d'Orsay
Edgar Degas. Depois do banho,
mulher enxugando as costas, 1896
Gelatina prata, 165 mm X 120 mm.
Getty Center
Temática e forma.
Deuses e santos cristãos desapareceram das artes plásticas; são substituídos por temas
que valorizam o lado 'épico' da vida contemporânea (Baudelaire)... o conteúdo da
arte, as ideias representadas transformam-se e inspiram-se na atualidade. Porém,
mais do que a novidade temática, é, sobretudo, a forma desta representação que fere
o academismo, desconcerta a crítica e choca o público.
Olympia, Déjeuner, as mulheres nuas de Degas a banhar-se - não são as promessas de
nudez, mas sim a postura do voyeur na qual se instala o espectador, convidado a olhar
pelo buraco da fechadura, não para ver 'Susanas no banho' mas simplesmente
'mulheres em seu banho de bacia'. É uma questão de convenções recusadas aqui em
proveito de um dispositivo visual que dá a impressão de ser testemunha, como por
inadvertência, de uma cena ousada, retratada ao natural.
... A hostilidade do grande público e de numerosos críticos para com as formas novas está
aí para provar que tocar na forma significa libertar um poder subversivo que
ultrapassa o domínio artístico; renunciar à mimese, ao sacrossanto princípio da
imitação solidamente estabelecido há quatro séculos significa solapar os valores
fundadores da moral e da política numa sociedade que confia em sua ordem
estabelecida. (JIMENEZ, p. 275-283).
2. O croqui de costumes
(...) mas há na vida ordinária, na metamorfose
incessante das coisa exteriores, um movimento
rápido que exige do artista idêntica velocidade
de execução. As gravuras de várias tonalidades
do século XVIII obtiveram novamente o favor da
moda, como eu afirmava há pouco; o pastel, a
água-forte, a água-tinta forneceram
sucessivamente seus contingentes para o imenso
dicionário da vida moderna disseminado das
bibliotecas, nas pastas dos amadores e nas
vitrines das lojas mais vulgares.
A litografia, desde o seu surgimento,
imediatamente se mostrou bastante apta a essa
enorme tarefa aparentemente tão frívola. As
obras de Gavarni e de Daumier foram com justiça
denominadas complementos da Cemedia
Humana... [Balzac] Observador, flanêur, filósofo,
chamem-no como quiserem, ma, apara
caracterizar esse artistas, certamente seremos
levados a agraciá-lo com um epíteto que não
poderíamos aplicar ao pintor das coisas eternas,
ou pelo menos mais duradouras, coisas heróicas
ou religiosas.
3. O Artista, homem do mundo, Homem das multidões e criança
Manet busca ser fiel a uma nova e indefinida realidade (realismo), a modernidade
emergente, nova sociabilidade, espaços públicos estendidos com as novas
avenidas de Haussmann, da intensidade de luz e movimento inéditos,
sensações difusas se multiplicavam. O pintor não quer chocar. É um
'intelectual burguês que tem contatos com a boêmia, é um dandy que trafega
por entre os novos tipos dessa sociedade.
O quadro deve se apresentar como uma imagem imediata e quase ofuscante ...
seus componentes ... anulando toda a ilusão de perspectiva e de claro-escuro,
são colocados todos sobre um plano e sejam percebidos simultaneamente e
com a máxima intensidade. Na instantaneidade da visão se unificam os
tempos diferenciados da narração figurativa, do próximo e do distante, da
percepção das coisas e de sua individuação; uma visão instantânea é
inevitavelmente ‘de son temps’ e sua intensidade insuperável depende
justamente de não haver um antes e um depois (...).
4. A modernidade
“... Esse homem ... esse solitário dotado de uma imaginação ativa, sempre
viajando através do grande deserto de homens, com um objetivo mais geral
diferente do prazer fugidio da circunstância. Ele busca esse algo que nos
permitirá de chamar a modernidade ... Trata-se, para ele, de extrair da moda
o que ela pode conter de poético no histórico, de extrair o eterno do
transitório.
Se lançarmos uma olhadela sobre as nossas exposições de quadros modernos,
ficaremos chocados com a tendência geral dos artistas de vestir todos os
sujeitos com roupas antigas. Quase todos utilizam modas e móveis do
Renascimento (...)
Este é de fato o sinal de uma grande preguiça; pois é muito mais cômodo declarar
que tudo é absolutamente feio nos trajes de uma época, do que esforçar-se
em extrair a beleza misteriosa que eles podem conter, por menor ou mais
ligeira que seja”.
4. A modernidade