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cena a cena

Símbolos cénicos
Há uma relação entre os símbolos cénicos que cada personagem transporta
consigo e os motivos da condenação, pois esses símbolos representam,
precisamente, a atividade, a condição ou a característica que está na origem
da condenação (ou da salvação, no caso dos Cavaleiros).

Cena inicial

No começo do Auto, o Anjo divide o palco com o Diabo e o seu


companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos, enquanto realizam
os preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de
almas. 
Fidalgo.
Símbolo cénico:
Manto- representa a vaidade
Pagem- representa a tirania e exploração dos mais fracos
Cadeira – representa o estatuto social(nobreza) e o poder

Argumentos de Defesa:
-Barca do Inferno é desagradável.
-Tem alguém na Terra a rezar por ele.
-É “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu.
-É nobre e importante.

Acusações:
-Ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com
ninguém.
-Ter sido tirano para com o povo.
-Ser muito vaidoso.

Percurso cénico:
-Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
A segunda personagem que sofre julgamento é o onzeneiro
ambicioso. Ao chegar à barca do Inferno, o Diabo chama-o
de “meu parente”, como se fossem membros da mesma
família.
Esta personagem pertence à burguesia.

Símbolo cénico:
-bolsão: representa o dinheiro.

Argumentos de defesa:
-ter morrido sem esperar
--jura ter o bolsão vazio
-precisa de ir à Terra para ir buscar mais dinheiro (para
comprar o Paraíso).

Argumentos de acusação:
- leva um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de
pecados - a ganância;
-ser avarento.

Percurso cénico:
-Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
A terceira personagem a entrar é o Parvo (Joane), que
conversa com o Diabo, insultando-se um ao outro.
Esta personagem pertence ao povo.

Símbolo cénico:
Não traz, porque os símbolos cénicos estão relacionados
com a vida terrena e os pecados cometidos. O Parvo não
tem qualquer tipo de pecados - não agiu com maldade.

Argumentos de defesa:
Tudo o que fez foi sem maldade (palavras do Anjo)
“Quem és tu? / Samica alguém”.

Percurso cénico:
Fica no cais onde assiste e comenta o desfile das outras
personagens – irá funcionar como advogado de acusação,
chegando mesmo a substituir o Anjo.
No fim vai para a Barca da Glória.
A quarta personagem é um sapateiro, João Antão, que vem
carregado de formas.
Esta personagem pertence ao povo (artesão).

Símbolo cénico:
-avental: simboliza a profissão;
- formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e os seus
pecados.

Argumentos de defesa: (práticas religiosas)


- rezava e ia à missa (o fidalgo usou a mesma defesa)
- fazia ofertas à igreja
- confessava-se e comungava
- fez todas as práticas religiosas.

Argumentos de acusação:
- roubava
- enganava
- religião mal praticada.

Percurso cénico:
Cais -Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
O Frade é a quinta personagem a apresentar-se perante as
barcas do Inferno e da Glória. Entra acompanhado por uma
"Moça“. Traz consigo um "broquel", ou seja um escudo, uma
espada e um “casco” debaixo do capelo. A entrada do Frade
em cena é um excelente exemplo de cómico de situação, pois
entra a cantar e a dançar.
Esta personagem pertence ao Clero.

Símbolo cénico:
Moça; espada, escudo; capacete e hábito.

Argumentos de defesa:
- O seu estatuto (Frade) e o facto de ter rezado muito na sua
vida.

Argumentos de acusação:
– Ser mundano e não cumprir os votos de castidade e de
pobreza;

Percurso cénico:
Cais -Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
A alcoviteira, Brízida Vaz, é a sexta personagem. Com esta cena, Gil Vicente não só critica
as alcoviteiras, como também as outras classes nomeadamente o Clero.

Símbolo cénico:
-seiscentos virgos postiços;
-três arcas de feitiços;
- três almários de mentir;
-cinco cofres de enleos
-alguns furtos alheos;
- casa movediça;
-dous coxins d’encobrir;
-as moças que vendia .

Argumentos de defesa:
- era uma mártir; levou açoites; servia a Sé; era perfeita
como os apóstolos e anjos e fez coisas muito divinas
-salvou todas as suas meninas .

Argumentos de acusação:
-a vida de prostituta, a hipocrisia.

Percurso cénico:
Cais -Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
A sétima personagem a desfilar é um judeu.
Nem sequer dialoga com o Anjo, pois não acredita na
religião cristã. Também não entra na barca do Inferno,
pois o Diabo decide que ele e o bode irão a reboque, já
que era costume os judeus estarem separados das
restantes pessoas.

Símbolo cénico:
-bode: representa a sua religião

Argumentos de defesa:
- o dinheiro
Argumentos de acusação: (o Parvo acusa-o de):
- roubar a cabra
- ter cometido várias ofensas à religião cristã e à igreja,
comendo carne no dia de jejum
-ser Judeu

Percurso cénico:
-fica no cais com o bode (porque ninguém o quer)
-Barca do Diabo.

O Judeu recusa deixar o bode em terra porque:


- quer ser reconhecido como Judeu
- não recusa a sua religião.
Entra um corregedor e, logo a seguir, um procurador.

Símbolo cénico:
- Corregedor: vara e processos
-Procurador: livros jurídicos
Tipo:
- Corregedor: Juiz corrupto
-Procurador: Funcionário da Coroa corrupto

Argumentos de acusação do Procurador:


-não tem tempo de se confessar

Argumentos de acusação do Corregedor (o Diabo


acusa-o de):
- não ter sido imparcial nas suas sentenças
- ter aceite subornos, até de Judeus (muito mal vistos
naquele tempo)
- confessou-se, mas mentiu.

Argumentos de defesa do Corregedor:


- era a sua mulher que aceitava os subornos

Percurso cénico:
Cais -Barca do Diabo→𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜→Barca do Diabo
Na 10ª cena, surge um enforcado.

Símbolos Cénicos:
- baraço (corda que traz ao pescoço)

Tipo:
- povo (criminoso condenado)

Argumentos de defesa:
- ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado
- já tinha sofrido o castigo na prisão
- Garcia Moniz tinha-lhe dito que, se se enforcasse, iria
para o paraíso.

Argumentos de Acusação:
- o crime que cometeu (ser criminoso)
- ser ingénuo.

Percurso cénico:
-Cais → Barca do Diabo
Finalmente, surgem os quatros cavaleiros.

Símbolos Cénicos:
-hábito da ordem de Cristo
-espadas

Pertenciam:
-aos cruzados

Defesas:
-dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo

Quando chegam ao cais, chegam a cantar. Essa cantiga mostra aos


mortais que a vida é uma passagem e que terão de passar sempre
naquele cais, onde serão julgados.

Nessa cantiga está contida a moralidade da peça:


-fala do destino final que está de acordo com aquilo que foi feito na
vida Terrena.
Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo porque:
-merecem entrar na barca do Anjo
-morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de
todos os pecados.
Percurso cénico:
Cais → Barca da Glória

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