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EUTANÁSIA I

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE


FACULDADE DE CIÊNCIA DE SAÚDE

PE. LAURENSIUS LULI YAN HULLER


Se não o
resolvermos
ficamos sem
autoridade moral
 para continuar a
condenar a
eutanásia como
homicídio.

( Daniel serrão)
 INTRODUÇÃO

 Quanto mais desenvolvida tecnologia


particularmente na área de medicina, a
diagnose feita para uma doença mesmo
que seja grave, pode se tratar até
encontrar o estado curável pelos
trabalhos mais efectivos.
É um sinal de que a vida humana pode
ser prolongada no certo ou determinado
tempo. Assim também a morte pode
ser calculada matematicamente. O
problema de um doente grave que se
trata duma forma rápida ou lenta, pode
se determinar pelas novas tecnologias.
 Falando da morte, não podemos
escapar do tema delicado relacionado à
Eutanásia. É um assunto sensível
que tem sido debatido em vários
níveis sociais, políticos e religiosa.
Na sua prática, seja legal ou ilegal,
eutanásia, de facto, levanta “muita
poeira”.
 Isto é problema ético no qual
poderia afectar profundamente as
relações familiares assim como
entre médicos e doentes. Para além
disso, a eutanásia pode se torna algo
de pró e contra que sempre
eventualmente defende o valor da vida
humana.
2.CONCEITO DA EUTANASIA

 Em relação aos direitos humanos, a


eutanásia sempre tem sido o fenómeno
controverso. Há pessoa que concorda
em fornecer a morte segundo o seu
pedido, também para acabar com a
sua dor e sofrimento. Mas a
controvérsia surge na
possibilidade de realizar isto.
 Entretanto muitas pessoas dizem que
esta forma é antiética ou um crime ou
deveria ser a responsabilidade de
Deus.
3.CONCEITOS GERAIS RELACIONADOS A
MORTE DIGNA E EUTANÁSIA

 MORTE DIGNA: a morte natural com


todos os alívios adequados através
duma intervenção global no
sofrimento humano. Alguns pretendem
identifica-la com a morte “a pedido”,
provocada pelo médico, quando a vida já
não pode oferecer um mínimo de confronto
considerado imprescindível pelo doente.
 ORTOTANÁSIA: a morte em boas
condições, com alivio dos sintomas
físicos e psicológicos que provocam
sofrimento.
 DISTANÁSIA: a morte em más
condições, com dor, incómodos,
sofrimento. Seria a morte com o mau
tratamento da dor e de outros sintomas ou
a associada ao encarniçamento terapêutico.
 ENCARNIÇAMENTO TERAPÊUTICO:

a aplicação de tratamento que


sobretudo num contexto de doença
avançada e irreversível, se podem
consideram inúteis ou de tratamentos
que, embora úteis, são
desproporcionadamente incómodos
para o resultado que deles se
espera.
 SEDAÇÃO PALIATIVA:

a correcta pratica médica de induzir o


paciente no sono para que não sinta
sintomas desagradáveis. Nos raros casos
de sintomas refractários aos tratamentos
preconizados pelos avanços técnicos actuais.
Existem diferentes tipos de sedação. Uma
sedação suave que acompanhe e potencie os
analgésicos, mantendo a consciência do
paciente é muito recomendável.
 DOENTE PALIATIVO:

aquele que padece de uma doença


para a qual não existe um tratamento
curativo ou de uma doença muito
grave às quais está associado
habitualmente grande sofrimento
físico e existencial. Pode ser um doente
não oncológico ou oncológico e ter anos,
meses ou semanas de vida.
 DOENTE TERMINAL:

aquele que padece de uma doença


incurável e avançada, previsivelmente
mortal a curto prazo: três a seis meses
de acordo com Organização mundial de
saúde.
 DOENTE MORIBUNDO:

aquele que tendo uma doença


avançada e irreversível, apresenta
previsivelmente dias ou horas de vida.
 CUIDADOS PALIATIVOS:

os cuidados de saúde interdisciplinares,


rigorosos e humanizados, destinados a
intervir activamente no sofrimento dos
doentes avançados e incuráveis e/ou muito
graves e seus familiares, com o objectivo de
lhes proporcionar dignidade e a máxima
qualidade de vida possível. Aceitam a
inevitabilidade de morte não prolongado o
sofrimento, mas não a provocam.
4.DEFINIÇÃO DE EUTANÁSIA

 Etimologicamente, a eutanásia deriva-se


de um termo de origem grega (eu +
thanatos) que significa boa morte ou
morte sem dor. A prática de eutanásia
é suportada pela teoria que defende o
direito do doente incurável de pôr termo
à vida quando sujeito a intoleráveis
sofrimentos físicos ou psíquicos.
 No dicionário de moral, o termo grego
da eutanásia poderia ser euzanasia,
que significa bom morrer.
 eutanásia é entendida como uma
acção ou omissão que por sua
natureza ou na intenção causa a
morte com fim de eliminar
qualquer dor.
 Do ponto da vista médico, a eutanásia é
todo o tipo de terapêutica que
suponham objectiva ou
intencionalmente, directa ou
indirectamente uma antecipação da
morte.
O ser humano foi
“dado a si
próprio”
e não se “fez” a si
próprio
 

5.EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EUTANÁSIA

 No século dezasseis Thomas More no


seu livro designado Utopia retrata a
eutanásia para os que estão
desesperadamente doentes como
uma das instituições importantes
de uma comunidade ideal
imaginária.
 Seguiu-se o médico e filósofo inglês
Francis Bacon, que, em 1623, na sua
obra Historia vitae et mortis,
defendia ser desejável que os
médicos desenvolvessem a arte de
ajudar os agonizantes a sair deste
mundo, com mais doçura e
serenidade.
 Nos séculos seguintes, os filósofos
britânicos (em particular David Hume,
Jeremy Bentham e John Stuart Mill)
puseram em questão a base
religiosa da moralidade e a
proibição absoluta do suicídio, da
eutanásia e do infanticídio.
O grande filósofo alemão do século
dezoito Immanuel Kant, por outro lado,
embora acreditasse que as verdades
morais se fundam na razão e não na
religião, pensava, não obstante, que
"o homem não pode ter poder
para dispor da sua vida".
- Em algumas comunidades pré-celtas e
celtas, os filhos matavam os seus pais
quando estes estivessem muito velhos e
doentes.
- Na Índia, os doentes incuráveis eram
atirados ao rio, depois de terem boca e
narinas tapadas com uma lama ritual.
- Em Esparta tal prática era comum, e em
alguns casos, obrigatória, como no caso
de recém-nascidos, com alguma
- Os Birmaneses enterravam vivos,
idosos e enfermos graves.
- Populações rurais sul-americanas,
que fossem nómadas por factores
ambientais, sacrificavam anciães e
enfermos, para não os expor a ataques
de animais.
- Na Grécia antiga, por exemplo, filósofos
como Platão, Sócrates e Epicuro defendiam
a ideia de que o sofrimento de uma
doença dolorosa seria uma boa
justificação para o suicídio. Já Aristóteles,
Pitágoras e Hipócrates condenavam o
suicídio.
- No Egipto, Cleópatra VII criou uma
Academia para estudar formas menos
dolorosas de morte.
- Entre as décadas de 20 e 40 do século
XX, surgiam inúmeros exemplos de
relatos de situações caracterizadas
como eutanásia, pela imprensa,
ainda leiga, neste período.
- Em 1985, na Prússia, foi proposto que
o Estado deveria prover meios para
realizar a eutanásia em pessoas
que não a pudessem solicitar.
6.PAÍSES PERMITIDOS À EUTANÁSIA

 Nos Estados Unidos, na Califórnia e no


estado de Oregon existe o chamado “living
will”, que é um testamento biológico, que
nega os cuidados paliativos, e o desejo
de morrer com dignidade.
 Para o diagnóstico ser considerado válido
tem de ter a aprovação de 2 médicos,
entrando em vigor 2 semanas depois e
válido por 5 anos.
 Na Holanda, o caso mais mediático, a
eutanásia é tolerada desde há cerca de
50 anos, mas só em Novembro de 2000
o parlamento aprovou a legislação que a
legaliza, tendo-se tornado o primeiro
país do mundo inteiro a fazê-lo, mas é
feito com todo o cuidado, pois os
médicos têm de obedecer a regras
rigorosas para pratica-la e o processo é
acompanhado por comissões a nível
compostas por um médico, um jurista e
um especialista em ética, a fiscalizar todo
o processo.
A lei prevê que também os menores de
idade, ou seja as crianças possam
também recorrer a este procedimento,
desde que os pais autorizem. A nova lei
disse que a eutanásia só pode ser
realizada por médicos que acompanhem
de perto o estado de saúde do doente em
 Na Bélgica, em Setembro de 2002, foi o
segundo país do mundo a legalizar a
eutanásia, dando a possibilidade aos
médicos belgas de terem acesso nas
farmácias a utensílios e a medicação
necessária para o fazer. De acordo com a
lei, apenas os médicos podem requisitar
o conjunto de instrumentos.
 Na Suíça, o suicídio assistido é tolerado
e está previsto na lei. Existe neste país
uma associação, a que os suíços deram
o nome de “Exit”, que conta com o
apoio de cerca de 60 mil pessoas, cujo a
sua função é prestar atenção e
cuidados ao doente que solicite a morte
assistida.
 Na Áustria, existia uma lei que estabelecia
o suicídio assistido, mas foi anulada em
1997.
 Em Uruguai, no dia 10 de Agosto de 1934,
quando entrou em vigor atual Código Penal
uruguaio, foi caracterizado o "homicídio
piedoso", no artigo 37 do capítulo III, que
aborda a questão das causas de
impunidade.
 
7.TIPOS DE EUTANÁSIA

 Activa: A eutanásia consiste em tomar medidas


activas que causem a morte. A eutanásia ativa
acontece quando se apela a recursos que
podem findar com a vida do doente (injecção
letal, medicamentos em dose excessiva etc.).
 1.Eutanásia activa voluntária

Quando se mata activamente a pedido do


paciente.
 2.Eutanásia activa não-voluntária

Quando se mata activamente um paciente


que caiu em coma irreversível ou se encontra
em estado vegetativo persistente, e o
paciente não teve a oportunidade de exprimir
esse desejo.
 3.Eutanásia activa involuntária

Quando se mata activamente um paciente


que exprimiu o desejo contrário, ainda que
para seu benefício.
 Passiva: Consiste em abster-se de usar
os meios e oportunidades que
impedem a morte. A morte do doente
ocorre por falta de recursos necessários
para manutenção das suas funções vitais
(falta de água, alimentos, fármacos ou
cuidados médicos).
 1.Eutanásia passiva voluntária:

Deixar morrer alguém a seu pedido.


 2.Eutanásia passiva não voluntária

Deixar morrer alguém que não teve a


oportunidade de exprimir esse desejo,
dado encontrar-se em coma irreversível
ou em estado vegetativo persistente.
 3.Eutanásia passiva involuntária

Deixar morrer alguém contra o seu


desejo expresso, ainda que para seu
benefício.
8.MOTIVOS DE EUTANASIA

 Mesmo que a eutanásia seja efectuada por


opção pessoal (do interessado, dos
seus familiares, e do terceiro
interessado na situação) ou se faça
duma forma legal e tolerante
despenalizada pela lei, há realmente,
vários motivos considerados por seguintes:
(VIDAL. 1991:260)
 Evitar ao paciente dores e sofrimentos;
 Para acabar com feridos agonizantes;
 Para se desfazer de velhos “inúteis”;
 Por simples escolha do paciente ou
velho que julga mais humano tornar a
morte um acto de decisão pessoal
 Giovanni Russo acrescenta que há outros
motivos com que a morte causada pela
eutanásia pode se tornar uma prova
suportável: (RUSSO, 2010: 101-102)
O bem-estar e a qualidade de vida aumenta
e ao mesmo tempo cresce a fragilidade do
homem;
A solidão em que se encontra o homem do
nosso tempo;
A fuga do sacrifício e do sofrimento;
 Escassa solidariedade social e os
custos de saúde, o peso dos idosos e
dos doentes sobre a família e sobre o
orçamento do Estado;
 Os tratamentos actuais de reanimação
prolongam notavelmente a dita “fase
terminal”, tornando muito gravoso e
prolongado o sofrimento.
 
9. EUTANÁSIA E O CÓDIGO PENAL DE MOÇAMBIQUE

 No que diz a respeito ao Código Penal de


Moçambique aprovado pela Assembleia da
República e promulgada em 18 de
Dezembro de 2014, a eutanásia na
verdade, não está constatada numa
especificação articulada.
 Porém, este termo poderia ser
considerado numa forma implícita no
que se refere ao título I sobre crimes
contra as pessoas e ao capítulo I sobre
crimes contra a vida.
 Mesmo que a eutanásia seja vista
como um acto de eliminar a dor
irrecuperável ao fim de lhe chegar à
boa morte, mas o facto de tirar a vida
 Nisto, quem colabora conscientemente e
voluntariamente a tirar a vida duma pessoa
através de eutanásia, independentemente do
pedido pessoal ou não para morrer, poderia estar
aplicado no artigo 155 do código penal sobre
homicídio voluntario que mata a pessoa.
Embora, o caso de eutanásia com seus tipos e
motivos não está em vigor como norma jurídica,
acho que as praticas de eutanásia sempre
existem na sociedade civil.
10. PAPEL DA IGREJA SOBRE EUTANÁSIA

A Igreja Católica mantém uma atitude de


compreender e respeitar o homem pela sua
dificuldade em viver, pelo seu sofrimento
físico e mental.
 Na perspectiva da fé, a Igreja também
acredita que a vida sempre é um bem e
valor indisponível. A vida, sendo dom de
Deus, é confiada ao homem para que a
promova na sua beleza e nos seus
 Assim, mesmo cada vez pelas
aparências de doença e sofrimento, a
vida do homem se muda e poderiam
torná-la mais frágil até se encontrar a
morte, a vida em si sempre mostra o
valor importante e tem dignidade
perante Deus e outras pessoas. A
morte é eventualmente vista como
consequência disso. (Russo, 2010:
103)
 Na encíclica Evangelium Vitae no 65, Papa João Paulo II
justificou claramente contra eutanásia:
 “Em conformidade com o Magistério dos meus
Predecessores e em comunhão com os Bispos da
Igreja Católica, confirmo que a eutanásia é uma
violação grave da Lei de Deus, enquanto morte
deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa
humana. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural
e a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela
Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário
e universal.” (João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae
no dia 25 de Março de 1955 em Roma).
 Fundamentada pelo Catecismo, a Igreja
Católica não aceita moralmente o
acto de eutanásia em qualquer
motivo e meio pondo o fim à vida de
pessoas doentes, deficientes ou
moribundos. A Igreja justamente
recomenda que as pessoas doentes ou
deficientes devam ser amparadas e
cuidadas até levar uma vida tão normal.
(CIC, no 2276-2279).
 Por isso, considera-se pela Igreja que
uma acção ou omissão que causa a
morte com o fim de suprimir o
sofrimento constitui realmente um
assassínio contrário à dignidade de
pessoa humana e ao respeito de Deus
vivo, criador.
 
11. AVALIAÇÃO ÉTICA MORAL DA EUTANÁSIA

 Para ética, as situações eutanásicas são as


terapêuticas eutanásicas que se aprovam ou
reprovam moralmente por referência a uma
escala de valores. Concretamente, perante o
caso de eutanásia, aprovação ou rejeição
moral disso, depende do modo de resolver o
conflito entre o valor da vida humana e o
valor da morte como alternativa melhor
perante a vida.
 Referimo-nos às situações em que o
paciente (ou seus familiares ou outras
pessoas incluídas na situação) considera
preferível abreviar a vida, e por conseguinte,
adiantar a morte pelos motivos seguintes:
 1. livrar-se de agonia prolongada,
 2. livrar-se de sofrimentos muito grandes,
 3. desfazer-se da vida “inútil” (velhos,
deficientes),
 4. fazer do morrer uma “escolha livre”.
 Será que nestes casos se pode falar de
autêntico conflito ético entre o valor da vida e
estes valores assinalados que constituíram o
conteúdo do direito de morrer dignamente?
 Perante os moralistas e os que parecem
igualar a eutanásia às situações de distanásia
como se se tratasse de morte livremente
escolhida, a resposta é claramente negativa.
 Os argumentos éticos morais que condenam
a acção de abreviar directamente do
moribundo são seguintes: inviolabilidade da
vida humana, falta do sentido de preposições
de outros valores acima do valor da vida
humana, perigo de arbitrariedade por parte
dos poderosos (autoridades, técnicos, etc),
consideração “utilitarista” da vida do homem,
perda do nível moral na sociedade, etc.
(VIDAL. 1991:261)
Gostareis de conhecer os
segredos da morte!
Mas como o encontrareis,
A não ser que o busqueis
No coração da vida?

( Gibran – O Profeta)

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