Se não o resolvermos ficamos sem autoridade moral para continuar a condenar a eutanásia como homicídio.
( Daniel serrão) INTRODUÇÃO
Quanto mais desenvolvida tecnologia
particularmente na área de medicina, a diagnose feita para uma doença mesmo que seja grave, pode se tratar até encontrar o estado curável pelos trabalhos mais efectivos. É um sinal de que a vida humana pode ser prolongada no certo ou determinado tempo. Assim também a morte pode ser calculada matematicamente. O problema de um doente grave que se trata duma forma rápida ou lenta, pode se determinar pelas novas tecnologias. Falando da morte, não podemos escapar do tema delicado relacionado à Eutanásia. É um assunto sensível que tem sido debatido em vários níveis sociais, políticos e religiosa. Na sua prática, seja legal ou ilegal, eutanásia, de facto, levanta “muita poeira”. Isto é problema ético no qual poderia afectar profundamente as relações familiares assim como entre médicos e doentes. Para além disso, a eutanásia pode se torna algo de pró e contra que sempre eventualmente defende o valor da vida humana. 2.CONCEITO DA EUTANASIA
Em relação aos direitos humanos, a
eutanásia sempre tem sido o fenómeno controverso. Há pessoa que concorda em fornecer a morte segundo o seu pedido, também para acabar com a sua dor e sofrimento. Mas a controvérsia surge na possibilidade de realizar isto. Entretanto muitas pessoas dizem que esta forma é antiética ou um crime ou deveria ser a responsabilidade de Deus. 3.CONCEITOS GERAIS RELACIONADOS A MORTE DIGNA E EUTANÁSIA
MORTE DIGNA: a morte natural com
todos os alívios adequados através duma intervenção global no sofrimento humano. Alguns pretendem identifica-la com a morte “a pedido”, provocada pelo médico, quando a vida já não pode oferecer um mínimo de confronto considerado imprescindível pelo doente. ORTOTANÁSIA: a morte em boas condições, com alivio dos sintomas físicos e psicológicos que provocam sofrimento. DISTANÁSIA: a morte em más condições, com dor, incómodos, sofrimento. Seria a morte com o mau tratamento da dor e de outros sintomas ou a associada ao encarniçamento terapêutico. ENCARNIÇAMENTO TERAPÊUTICO:
a aplicação de tratamento que
sobretudo num contexto de doença avançada e irreversível, se podem consideram inúteis ou de tratamentos que, embora úteis, são desproporcionadamente incómodos para o resultado que deles se espera. SEDAÇÃO PALIATIVA:
a correcta pratica médica de induzir o
paciente no sono para que não sinta sintomas desagradáveis. Nos raros casos de sintomas refractários aos tratamentos preconizados pelos avanços técnicos actuais. Existem diferentes tipos de sedação. Uma sedação suave que acompanhe e potencie os analgésicos, mantendo a consciência do paciente é muito recomendável. DOENTE PALIATIVO:
aquele que padece de uma doença
para a qual não existe um tratamento curativo ou de uma doença muito grave às quais está associado habitualmente grande sofrimento físico e existencial. Pode ser um doente não oncológico ou oncológico e ter anos, meses ou semanas de vida. DOENTE TERMINAL:
aquele que padece de uma doença
incurável e avançada, previsivelmente mortal a curto prazo: três a seis meses de acordo com Organização mundial de saúde. DOENTE MORIBUNDO:
aquele que tendo uma doença
avançada e irreversível, apresenta previsivelmente dias ou horas de vida. CUIDADOS PALIATIVOS:
os cuidados de saúde interdisciplinares,
rigorosos e humanizados, destinados a intervir activamente no sofrimento dos doentes avançados e incuráveis e/ou muito graves e seus familiares, com o objectivo de lhes proporcionar dignidade e a máxima qualidade de vida possível. Aceitam a inevitabilidade de morte não prolongado o sofrimento, mas não a provocam. 4.DEFINIÇÃO DE EUTANÁSIA
Etimologicamente, a eutanásia deriva-se
de um termo de origem grega (eu + thanatos) que significa boa morte ou morte sem dor. A prática de eutanásia é suportada pela teoria que defende o direito do doente incurável de pôr termo à vida quando sujeito a intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos. No dicionário de moral, o termo grego da eutanásia poderia ser euzanasia, que significa bom morrer. eutanásia é entendida como uma acção ou omissão que por sua natureza ou na intenção causa a morte com fim de eliminar qualquer dor. Do ponto da vista médico, a eutanásia é todo o tipo de terapêutica que suponham objectiva ou intencionalmente, directa ou indirectamente uma antecipação da morte. O ser humano foi “dado a si próprio” e não se “fez” a si próprio
5.EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EUTANÁSIA
No século dezasseis Thomas More no
seu livro designado Utopia retrata a eutanásia para os que estão desesperadamente doentes como uma das instituições importantes de uma comunidade ideal imaginária. Seguiu-se o médico e filósofo inglês Francis Bacon, que, em 1623, na sua obra Historia vitae et mortis, defendia ser desejável que os médicos desenvolvessem a arte de ajudar os agonizantes a sair deste mundo, com mais doçura e serenidade. Nos séculos seguintes, os filósofos britânicos (em particular David Hume, Jeremy Bentham e John Stuart Mill) puseram em questão a base religiosa da moralidade e a proibição absoluta do suicídio, da eutanásia e do infanticídio. O grande filósofo alemão do século dezoito Immanuel Kant, por outro lado, embora acreditasse que as verdades morais se fundam na razão e não na religião, pensava, não obstante, que "o homem não pode ter poder para dispor da sua vida". - Em algumas comunidades pré-celtas e celtas, os filhos matavam os seus pais quando estes estivessem muito velhos e doentes. - Na Índia, os doentes incuráveis eram atirados ao rio, depois de terem boca e narinas tapadas com uma lama ritual. - Em Esparta tal prática era comum, e em alguns casos, obrigatória, como no caso de recém-nascidos, com alguma - Os Birmaneses enterravam vivos, idosos e enfermos graves. - Populações rurais sul-americanas, que fossem nómadas por factores ambientais, sacrificavam anciães e enfermos, para não os expor a ataques de animais. - Na Grécia antiga, por exemplo, filósofos como Platão, Sócrates e Epicuro defendiam a ideia de que o sofrimento de uma doença dolorosa seria uma boa justificação para o suicídio. Já Aristóteles, Pitágoras e Hipócrates condenavam o suicídio. - No Egipto, Cleópatra VII criou uma Academia para estudar formas menos dolorosas de morte. - Entre as décadas de 20 e 40 do século XX, surgiam inúmeros exemplos de relatos de situações caracterizadas como eutanásia, pela imprensa, ainda leiga, neste período. - Em 1985, na Prússia, foi proposto que o Estado deveria prover meios para realizar a eutanásia em pessoas que não a pudessem solicitar. 6.PAÍSES PERMITIDOS À EUTANÁSIA
Nos Estados Unidos, na Califórnia e no
estado de Oregon existe o chamado “living will”, que é um testamento biológico, que nega os cuidados paliativos, e o desejo de morrer com dignidade. Para o diagnóstico ser considerado válido tem de ter a aprovação de 2 médicos, entrando em vigor 2 semanas depois e válido por 5 anos. Na Holanda, o caso mais mediático, a eutanásia é tolerada desde há cerca de 50 anos, mas só em Novembro de 2000 o parlamento aprovou a legislação que a legaliza, tendo-se tornado o primeiro país do mundo inteiro a fazê-lo, mas é feito com todo o cuidado, pois os médicos têm de obedecer a regras rigorosas para pratica-la e o processo é acompanhado por comissões a nível compostas por um médico, um jurista e um especialista em ética, a fiscalizar todo o processo. A lei prevê que também os menores de idade, ou seja as crianças possam também recorrer a este procedimento, desde que os pais autorizem. A nova lei disse que a eutanásia só pode ser realizada por médicos que acompanhem de perto o estado de saúde do doente em Na Bélgica, em Setembro de 2002, foi o segundo país do mundo a legalizar a eutanásia, dando a possibilidade aos médicos belgas de terem acesso nas farmácias a utensílios e a medicação necessária para o fazer. De acordo com a lei, apenas os médicos podem requisitar o conjunto de instrumentos. Na Suíça, o suicídio assistido é tolerado e está previsto na lei. Existe neste país uma associação, a que os suíços deram o nome de “Exit”, que conta com o apoio de cerca de 60 mil pessoas, cujo a sua função é prestar atenção e cuidados ao doente que solicite a morte assistida. Na Áustria, existia uma lei que estabelecia o suicídio assistido, mas foi anulada em 1997. Em Uruguai, no dia 10 de Agosto de 1934, quando entrou em vigor atual Código Penal uruguaio, foi caracterizado o "homicídio piedoso", no artigo 37 do capítulo III, que aborda a questão das causas de impunidade.
7.TIPOS DE EUTANÁSIA
Activa: A eutanásia consiste em tomar medidas
activas que causem a morte. A eutanásia ativa acontece quando se apela a recursos que podem findar com a vida do doente (injecção letal, medicamentos em dose excessiva etc.). 1.Eutanásia activa voluntária
Quando se mata activamente a pedido do
paciente. 2.Eutanásia activa não-voluntária
Quando se mata activamente um paciente
que caiu em coma irreversível ou se encontra em estado vegetativo persistente, e o paciente não teve a oportunidade de exprimir esse desejo. 3.Eutanásia activa involuntária
Quando se mata activamente um paciente
que exprimiu o desejo contrário, ainda que para seu benefício. Passiva: Consiste em abster-se de usar os meios e oportunidades que impedem a morte. A morte do doente ocorre por falta de recursos necessários para manutenção das suas funções vitais (falta de água, alimentos, fármacos ou cuidados médicos). 1.Eutanásia passiva voluntária:
Deixar morrer alguém a seu pedido.
2.Eutanásia passiva não voluntária
Deixar morrer alguém que não teve a
oportunidade de exprimir esse desejo, dado encontrar-se em coma irreversível ou em estado vegetativo persistente. 3.Eutanásia passiva involuntária
Deixar morrer alguém contra o seu
desejo expresso, ainda que para seu benefício. 8.MOTIVOS DE EUTANASIA
Mesmo que a eutanásia seja efectuada por
opção pessoal (do interessado, dos seus familiares, e do terceiro interessado na situação) ou se faça duma forma legal e tolerante despenalizada pela lei, há realmente, vários motivos considerados por seguintes: (VIDAL. 1991:260) Evitar ao paciente dores e sofrimentos; Para acabar com feridos agonizantes; Para se desfazer de velhos “inúteis”; Por simples escolha do paciente ou velho que julga mais humano tornar a morte um acto de decisão pessoal Giovanni Russo acrescenta que há outros motivos com que a morte causada pela eutanásia pode se tornar uma prova suportável: (RUSSO, 2010: 101-102) O bem-estar e a qualidade de vida aumenta e ao mesmo tempo cresce a fragilidade do homem; A solidão em que se encontra o homem do nosso tempo; A fuga do sacrifício e do sofrimento; Escassa solidariedade social e os custos de saúde, o peso dos idosos e dos doentes sobre a família e sobre o orçamento do Estado; Os tratamentos actuais de reanimação prolongam notavelmente a dita “fase terminal”, tornando muito gravoso e prolongado o sofrimento.
9. EUTANÁSIA E O CÓDIGO PENAL DE MOÇAMBIQUE
No que diz a respeito ao Código Penal de
Moçambique aprovado pela Assembleia da República e promulgada em 18 de Dezembro de 2014, a eutanásia na verdade, não está constatada numa especificação articulada. Porém, este termo poderia ser considerado numa forma implícita no que se refere ao título I sobre crimes contra as pessoas e ao capítulo I sobre crimes contra a vida. Mesmo que a eutanásia seja vista como um acto de eliminar a dor irrecuperável ao fim de lhe chegar à boa morte, mas o facto de tirar a vida Nisto, quem colabora conscientemente e voluntariamente a tirar a vida duma pessoa através de eutanásia, independentemente do pedido pessoal ou não para morrer, poderia estar aplicado no artigo 155 do código penal sobre homicídio voluntario que mata a pessoa. Embora, o caso de eutanásia com seus tipos e motivos não está em vigor como norma jurídica, acho que as praticas de eutanásia sempre existem na sociedade civil. 10. PAPEL DA IGREJA SOBRE EUTANÁSIA
A Igreja Católica mantém uma atitude de
compreender e respeitar o homem pela sua dificuldade em viver, pelo seu sofrimento físico e mental. Na perspectiva da fé, a Igreja também acredita que a vida sempre é um bem e valor indisponível. A vida, sendo dom de Deus, é confiada ao homem para que a promova na sua beleza e nos seus Assim, mesmo cada vez pelas aparências de doença e sofrimento, a vida do homem se muda e poderiam torná-la mais frágil até se encontrar a morte, a vida em si sempre mostra o valor importante e tem dignidade perante Deus e outras pessoas. A morte é eventualmente vista como consequência disso. (Russo, 2010: 103) Na encíclica Evangelium Vitae no 65, Papa João Paulo II justificou claramente contra eutanásia: “Em conformidade com o Magistério dos meus Predecessores e em comunhão com os Bispos da Igreja Católica, confirmo que a eutanásia é uma violação grave da Lei de Deus, enquanto morte deliberada moralmente inaceitável de uma pessoa humana. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal.” (João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae no dia 25 de Março de 1955 em Roma). Fundamentada pelo Catecismo, a Igreja Católica não aceita moralmente o acto de eutanásia em qualquer motivo e meio pondo o fim à vida de pessoas doentes, deficientes ou moribundos. A Igreja justamente recomenda que as pessoas doentes ou deficientes devam ser amparadas e cuidadas até levar uma vida tão normal. (CIC, no 2276-2279). Por isso, considera-se pela Igreja que uma acção ou omissão que causa a morte com o fim de suprimir o sofrimento constitui realmente um assassínio contrário à dignidade de pessoa humana e ao respeito de Deus vivo, criador.
11. AVALIAÇÃO ÉTICA MORAL DA EUTANÁSIA
Para ética, as situações eutanásicas são as
terapêuticas eutanásicas que se aprovam ou reprovam moralmente por referência a uma escala de valores. Concretamente, perante o caso de eutanásia, aprovação ou rejeição moral disso, depende do modo de resolver o conflito entre o valor da vida humana e o valor da morte como alternativa melhor perante a vida. Referimo-nos às situações em que o paciente (ou seus familiares ou outras pessoas incluídas na situação) considera preferível abreviar a vida, e por conseguinte, adiantar a morte pelos motivos seguintes: 1. livrar-se de agonia prolongada, 2. livrar-se de sofrimentos muito grandes, 3. desfazer-se da vida “inútil” (velhos, deficientes), 4. fazer do morrer uma “escolha livre”. Será que nestes casos se pode falar de autêntico conflito ético entre o valor da vida e estes valores assinalados que constituíram o conteúdo do direito de morrer dignamente? Perante os moralistas e os que parecem igualar a eutanásia às situações de distanásia como se se tratasse de morte livremente escolhida, a resposta é claramente negativa. Os argumentos éticos morais que condenam a acção de abreviar directamente do moribundo são seguintes: inviolabilidade da vida humana, falta do sentido de preposições de outros valores acima do valor da vida humana, perigo de arbitrariedade por parte dos poderosos (autoridades, técnicos, etc), consideração “utilitarista” da vida do homem, perda do nível moral na sociedade, etc. (VIDAL. 1991:261) Gostareis de conhecer os segredos da morte! Mas como o encontrareis, A não ser que o busqueis No coração da vida?