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Estudos com trepadeiras no Brasil

Cap. 2
Andreia Alves Rezende e Veridiana de Lara Weiser-
Bramante

Julia Peroni
Histórico dos estudos com trepadeiras

Os estudos sobre trepadeiras nas florestas tropicais iniciaram com Darwin


(1867) e Schenck (1892, 1893). Apesar do tempo de início, esses estudos são
sempre raros ao longo da história principalmente quando comparados com os
Fanerófitos (são plantas perenes e lenhosas, com gemas de renovo (meristemas
vegetativos) localizadas a uma altura superior a 25 cm acima do solo) – sistema
de classificação Raunkiær

- após os trabalhos de Putz (1984) e Putz & Mooney (1991) aumentaram o


interesse pelas trepadeiras, o qual comprovou que as mesmas fazem parte
integral da comunidade florestal e têm papel importante na dinâmica florestal.
Histórico dos estudos com
trepadeiras
- Constatou-se que a biomassa de lianas vem aumentando nas florestas (Phillips et
al. 2002, Chave et al. 2008, Schitzer & Bongers) mas pouco se sabe sobre a
biologia e ecologia de trepadeiras.

Os estudos de trepadeiras no brasil iniciaram-se no final da dec. De 1980 com


Prof. Dr. Hermógenes de Freitas Leitão Filho orientando a tese de doutorado de
Leonor Patrícia Cerdeira Morellato, tendo como objetivo conhecer a flora e a
fenodinamica das trepadeiras da Reserva da Mata de Santa Genebra, em
Campinas-SP
Florística

Os levantamentos Florísticos de trepadeiras foram realizados em


diferentes formações vegetais no Brasil: Floresta Ombrófila Densa,
Floresta Estacional Semidecídua, Floresta Arenícola de Restinga,
cerrado sensu stricto e cerradão.
- Familias com maior riqueza especifica: Bignoniaceae, Sapindaceae,
Malpighiaceae, Apocynaceae, Fabaceae e Asteraceae.

Gentry (1991) afirma a capacidade de trepadeiras lenhosas crescerem em florestas


maduras e de trepadeiras herbáceas crescerem nas bordas dos fragmentos,
geralmente.
Asteraceae apresentam maior número de espécies em formações vegetais do domínio da Mata
Atlântica como nos trabalhos de Kim (1996), Lima et al. (1997), Udulutsch et al (2004), Santos et al
(2009) e Villagra & Romaniuc Neto (2010), possivelmente devido a presença do gêneros Mikania,
que tem um dos seus centros de dispersão nas terras altas do sudeste brasileiro (Holmes 1995,
Ritter & Waechter 2004)
Os levantamentos da floresta ombrófila densa (kim 1996, Lima et al 1997, Barros et al 2009 e
Villagra & Romaniuc Neto 2010) apresentaram maior riqueza florística do que nos estudos
realizados na Floresta Estacional Semidecídua (Morellato & Leitão Filho 1998, Hora 1999, Udulutsch
et al. 2009, Araújo & Alves 2010, Robatino 2010, Udulutsch 2010 e Durigon & waechter 2011) e no
cerrado (Weiser 2002, 2007)

- a diminuição das trepadeiras adentrando o interior do pais, pode estar relacionado à baixa
umidade devido distanciamento do ocêano (Gentry 1991, Oliveira 2006), em zonas temperadas,
espera-se que a riqueza florística de trapadeiras seja menor em relação às zonas tropicais (Gentry
1991, Schnitzer & Bongers 2002). É possível que o gradiente latitudinal explique a baixa riqueza
florística na Floresta Ombrófila densa no estado de santa catarina (Citadini-Zanette et al 1997) e
nas Florestas Arenícolas de Restinga no Estado do Rio Grande do Sul (Venturi 2000), no sul do
trópico de capricórnio
Fenologia
A fenodinamica reprodutiva de trepadeiras na Floresta estacional
Semidecínua da Reserva Mata de Santa Genebra constatou uma assincronia
entre as trepadeiras e as arvores e arbustos, o que traz uma oferta de
recursos ao longo do ano para as espécies, na maioria os polinizadores das
trepadeiras são abelhas (sistema de polinização por melitofilia) e seus
diásporos dispersos pelo vento, com síndromes de anemocoria (Morellato
1991)
As espécies com dispersão por animais, zoocoria, tem padrão fenológico
distinto das espécies arvóreas (Morellato & Leitão Filho 1996). Essa
assincronia entre trepadeiras e outras espécies, proporciona uma
complementariedade de disponibilização de pólen, néctar e frutos por todo
o ano as espécies de macacos, beija-flores, outras aves e insetos como
abelhar e borboletas (Morellato & Leitão Filho 1996).
Sfair (2006), a única divergengia fenológica entre lianas e arvores em um fragmento de
cerrado denso é a época de floração tendo o mesma sistema de polização, em Itirapina-SP.

A diferenciação de nicho entre lianas e arvores no tempo permite que ambas coexistam no
ecossistema, mesmo que aparentemente compitam por polinizadores e dispersores. Dessa
fora há recursos à fauna local ao longo de todo o ano.

Independente da vegetação local, o padrão dispersão anemocoria em trepadeiras e zoocoria


em arvores prenomina.

As trepadeiras não necessitam de um agente dispersor biótico, padrão que provavelmente é a


causa de grande sucesso de estabelecimento de trepadeiras em áreas degradadas.
Fitossiciologia

Os estudos fitossociológico foram feitos e diferentes formações


vegetais, na grande maioria foi utilizado o método de amostragem de
parcela, exceto Venturi (2000) q utilizou a metodologia de pontos-
quadrante. A comparação de estudo é complicada pelo fato de não
haverem padrões de medição de dados. Sendo uma dificuldade não só
dos botânicos brasileiros, mas globralmente uma questão enfrentada
pelos estudiosos da área
Gerwin et al (2006) publicaram um protocolo para padronizar inventários de lianas
 
Proposta:

Medida do diâmetro do caule: 130 cm do solo

Diâmetro mínimo o caule (lianas até o dossel): 2com

Diâmetro mínimo do caule (investigar abundancia de lianas): 1cm

Diâmetro mínimo do caule (estudar dinâmica, regeneração e sucessão de lianas): 0,5


cm

Se o objetivo for riqueza: 1 <DAP<2cm

Se o objetivo for abundancia: DAP> 1cm


Padronizar para poder comparar

Uma questão importante que não vem sendo abordada é “Como as espécies mais
importantes de trepadeira modificam a estrutura e a dinâmica da comunidade?”.
Necessária para subsidiar discussões no nível de comunidade e fundamentar planos de
manejo.
Manejo em Fragmentos
Florestais
Engel et al (1998) aspectos importantes de ecologia de lianas: são
componentes estruturais característicos das florestas tropicais, com aspectos
mais positivos que negativos sobre sua dinâmica e ciclo de regeneração, assim
como sobre a comunidade de fauna associada e a manutenção da
biodiversidade.

- a presença exagerada de lianas em áreas degradadas parece ser apenas um


indicativo ou consequência da perda da sustentabilidade e não a sua causa
primária.

- evitar o corte de lianas nas bordas dos fragmentos e sim enriquecer com
mudas de espécies pioneiras de rápido crescimento
Rozza (2003) promoveo o manejo, com cortes, de trepadeiras na Reserva Municipal Mata Santa
Genebra, em Campinas – SP, onde as mesmas são hiperabuntantes sobre as arvores.

Constatou que houve uma regeneração florestal, e os tratamentos com maior intensidade de
corte das trepadeiras apresentaram alterações na composição e estrutura da comunidade devido
à contribuição de indivíduos arbustivos-arbóreos de espécies pioneiras, estabelecidos nas
parcelas após o manejo.

*em fragmentos onde a regeneração florestal esteja comprometida devida a hiperabundancia de


trepadeiras, uma boa alternativa é o corte de espécies de habito trepador.
Estimativa de biomassa
Estudos importantes para verificação da ciclagem
de nutrientes, sendo que a maior parte dos
nutrientes da floresta está na parte aérea da
vegetação (Martins & Rodrigues 1999). E também
do conhecimento da estrutura e funcionamento do
ecossistema florestal (Leitão Filho 1993, Pagano &
Durigan 2000)
Martinello er al (1999) 17% de serapilheira total Floresta Ombrófila
Densa Submontanha na microbacia do rio Novo, Orleans – SC

Hora et al (2008) 19% serapilheira total Floresta estacional


semidecídua na Fazenda Canchim, São Carlos – SP

Melis (2008) 2,23% da biomassa aérea total Floresta Ombrófila


Densa Atlantica, Ubatuba – SP
Anatomia

Estudos que se referem a estrutura anatômica de lianas são poucos


e se restringem a poucas espécies das Familias Asteraceae,
Bignoniaceae, Menispermaceae, Rubiaceae e Sapindaceae

Gentry (1993) aponta tais pesquisas como importantes para a


identificação taxonômica das espécies de trepadeiras, sendo
informação complementar aos elementos reprodutivos, geralmente
empregados nos trabalhos de campo e herbários.

- Chaves de identificação são ferramentas importantes na


fiscalização de lianas utilizadas comercialmente
Interação entre trepadeiras e forófitos

As espécies de trepadeira aparentam ter preferencias de espécies


de forófitos (Weiser 2002).

Tamanho foliar pequeno, baixa densidade da folhagem e padrão de


casca externa aparentam haver maior susceptibilidade de
infestação de trepadeiras, ao passo que troncos flexíveis e
tamanho reduzido aparentam resistência ou proteção contra
infestação de trepadeiras

Sistema de interação por aninhamento entre forófitos e lianas (?)


Considerações finais

Apesar do aumento das pesquisas com trepadeiras no brasil, não há


um protocolo vigente comum dificultando a comparação de
resultados.

A maioria dos estudo foram levantamentos quali ou quantitativos


das espécies de trepadeiras de uma determina área. Importante para
determinar padão de distribuição e abundancia de espécies.

Estudos futuros precisam abordar a pedronização de critérios e


métodos de amostragem e adotar um protocolo comum para
possibilitar análises comparativas consistentes.
Abundancia e biomassa de lianas vem aumentando nas florestas
tropicais (Phillips et al 2002, chave et al 2008, Schnitzer & Bongers
2011) provavelmente pelo aumento da demanda evapotranspirativa,
perturbação e fragmentação das florestas, aumento da concentração
de gás carbônico na atmosfera

Para investigar o aumento de lianas ao longo dos trópicos é


necessário estabelecer uma Ampla rede de parcelas permanentes
monitoradas a longo prazo combinado com estudos observacionais e
experimentais (Schnitzer & Bongers 2011), o que não ocorre no
brasil.
Fim.

“Diversidade e conservação de
trepadeiras: contribuição para
a restauração de ecossistemas
brasileiros”

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