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PRECONCEITO

LINGUÍSTICO
GRAMÁTICA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

“O preconceito linguístico está ligado, em boa medida,


à confusão que foi criada, no curso da história, entre
língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais
urgente é desfazer essa confusão. Uma receita de bolo
não é um bolo, o molde de um vestido não é um
vestido, um mapa-múndi não é o mundo... Também a
gramática não é a língua.” (BAGNO, 2011, p. 9).
Princípio geral da obra

Toda variedade linguística atende às necessidades


da comunidade de pessoas que a emprega, não
cabendo juízo de valor, como: língua melhor,
língua mais correta, língua mais bonita, sobre esta
variedade.
Visão Geral

“Preconceito é qualquer opinião ou sentimento, quer favorável, concebido


sem exame crítico; ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado a
priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão”.
Dicionário Houaiss
 
“Entende-se como preconceito linguístico o julgamento depreciativo contra
determinadas variedades linguísticas. Segundo a linguista Marta Scherre, o
“julgamento depreciativo, desrespeitoso, jocoso, e consequentemente,
humilhante da fala do outro ou da própria fala” geralmente atinge as
variedades associadas a grupos de menor prestígio social”.
Wikipédia
Preconceito Linguístico
O que é, como se faz
 
A Mitologia do preconceito linguístico
 

Para analisar como se constrói o preconceito linguístico, Bagno relaciona oito mitos
que revelam o comportamento preconceituoso de certos segmentos letrados da
sociedade frente às variantes no uso da língua, e as relações desse comportamento
com a manutenção do poder das elites e opressão de classes menos favorecidas,
normalmente por meio da padronização imposta pela norma culta.
• Mito nº 1 – “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma
unidade surpreendente”: o autor aborda sobre a unidade linguística e
as variações que existem dentro do território brasileiro.

O maior e mais sério dentre os outros mitos, por ser prejudicial à


educação e não reconhecer que o português falado no Brasil é bem
diversificado, mesmo a escola tentando impor a norma linguística como
se ela fosse de fato comum a todos os brasileiros.

As diferenças de status social em nosso país, explicam a existência do


verdadeiro abismo linguístico.
• Mito nº 2 – “ Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala
bem português”: apresenta as diferenças entre o português falado no
Brasil e em Portugal, este último considerado superior e mais
“correto”.

“Refletem o complexo de inferioridade, o sentimento de sermos até


hoje uma colônia dependente de um país mais antigo e mais
“civilizado”. (p.20)

Conclui-se que nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais
bonito ou mais feio: são apenas diferentes um do outro e atendem às
necessidades linguísticas das comunidades que os usam, necessidades
linguísticas que também são diferentes.
• Mito nº 3 – “Português é muito difícil”: baseado em argumentos
sobre a gramática normativa da língua portuguesa ensinada em
Portugal, e suas diferenças entre falar e escrever dos brasileiros.

Consiste na obrigação de termos de decorar conceitos e fixar regras


que não significam nada para nós fora de sala.

A Regência verbal é caso típico de como o ensino tradicional da língua


no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português.
• Mito nº 4 – “As pessoas sem instrução falam tudo errado”: preconceito
gerado por pessoas que têm um baixo nível de escolaridade. Bagno
defende essas variantes da língua e analisa o preconceito linguístico e
social gerado pela diferença da língua falada e da norma padrão.

Isso se deve simplesmente a uma questão que não é linguística, mas


social e política – as pessoas que dizem Cráudia, praca, pranta,
(rotacismo) pertencem a uma classe social desprestigiada,
marginalizada, que não tem acesso à educação formal e ao bens culturais
da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito
que pesa sobre elas, ou seja, sua língua é considerada “feia”, “pobre”,
“carente”, quando na verdade é apenas diferente da língua ensinada na
escola.
• Mito nº 5 – “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o
Maranhão”: Mito criado em torno desse estado, o qual é considerado
por muitos o português mais correto, melhor e mais bonito, posto que
está intimamente relacionado com o português de Portugal e o uso do
pronome “tu” com a conjugação do verbo: tu vais, tu queres etc”

No Maranhão a população costuma usar o pronome TU seguido de formas


verbais clássicas com a terminação em S (Ex: tu vais / tu queres);

Porém no Maranhão também é comum o uso de expressões como: “Esse é


um bom livro pra ti ler” em vez da forma “correta”, “Esse é um bom livro
para tu leres”.
• Mito º 6 – “O certo é falar assim porque se escreve assim”: aqui o autor
apresenta diferenças entre as diversas variantes no Brasil e a utilização da
linguagem formal (culta) e informal (coloquial).

“O certo é falar assim porque se escreve assim”

TEATRO

- Carioca: Tchi-atru

- Paulista: Tê-atru

- Pernambucano: Té-atru
• Mito nº7 – “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”:
aborda sobre o fenômeno da variação linguística e a subordinação da
língua à norma culta. Para ele, a gramática normativa passou a ser um
instrumento de poder e de controle.

Este mito é um dos mais difundidos. Tão comum é esta afirmação que
faz com que a cobrança do estudo da gramática seja feita.

O autor lança mão de vários exemplos que nos mostram o contrário.


Um deles é simples e direto e fala que, se a afirmação fosse verdadeira,
todos os gramáticos seriam excelentes escritores, e vice-versa.
• Mito nº 8 – “O domínio da norma culta é um instrumento de
ascensão social”: decorrente das desigualdades sociais e das
diferenças das variações em determinadas classes sociais. Assim, as
variedades linguísticas que não são padrão da língua são consideradas
inferiores.

“Se o domínio da norma-padrão fosse realmente um instrumento de


ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo
da pirâmide social” (p.89)

“O domínio da norma-padrão de nada vai adiantar a uma pessoa que


não tenha todos os dentes, que não tem casa decente pra morar, água
encanada...” (p.90)

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