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TRANSTORNO

S
ALIMENTARES

PISSCO VIII
Grupo A
Estudo de Caso:
MSV, 20 anos, sexo feminino, com diagnóstico de anorexia nervosa
desde os 17 anos. Apresenta-se desnutrida, IMC de 16kg/m²,
desidratada (+/4+) anêmica e amenorreica há 1 ano. Possui
histórico de dietas restritivas, dificuldade de aceitação do seu
diagnóstico (não se considera abaixo do peso), não-aceitação de
tratamentos propostos há 2 anos e várias tentativas de suicídio.
Somente aos 20 anos aceitou acompanhamento psicoterápico
(terapia individual e em grupo).
Na primeira entrevista individual a mãe informou que MSV faz
terapia desde os 2 anos de idade, por indicação da escola (seus
desenhos eram sempre muito escuros; comia apenas sentada à
mesa da professora e nunca com outras crianças).
Ao ficar sozinha com a terapeuta, testou-a de diferentes modos,
acusando-a de querer usá-la como objeto de estudo, para, em
seguida, abandoná-la. Quando a terapeuta coloca-se disponível
para trabalhar com ela, após algum tempo de silêncio, dá-lhe uma
florzinha de arame, feita por ela, o que demonstra habilidades
manuais que, como tudo em si, desvaloriza.
Relações familiares: relação simbiótica com a mãe, permeada por
situações conflitivas. Apesar dos castigos físicos sofridos, também
foi muito mimada. Não conheceu o pai.
Escolaridade: frequentou a escola até o 1º colegial e abandonou
após repetência. Não quer estudar, pois sentiu-se “destratada” por
professores. Sente medo de estar entre muita gente e de andar
sozinha na rua.
Sexualidade: duas relações heterossexuais sem prazer. É
apaixonada por uma garota com quem nunca manteve relações
sexuais. Já foi agredida por sua homossexualidade pela mãe e no
bairro onde morava.
Drogas: já fez uso de maconha e cocaína. Relata não utilizar
nenhuma droga atualmente.
No início do tratamento, apresentava-se sempre vestida com jeans,
camisetas pretas, boné, escondendo parcialmente seu rosto.
Como atividade de apresentação ao grupo foi utilizada técnica
expressiva: cada um deveria escolher as duas cores que mais o
atraíssem no momento e criar algo para se apresentar ao grupo.
Fez desenho abstrato e versos. Nas sessões iniciais mostrava-se
desconfiada, falando pouco.
Na terceira sessão traz poema que aborda um “eu” desiludido,
cansado de não ser ouvido, mas com um novo “eu” mais
esperançoso nascendo. Participava cada vez mais das sessões.
Aos poucos passou a aceitar interferências.
No evoluir do tratamento diversifica a cor das camisetas, o cabelo
está bem cuidado, diz ter engordado um pouco. Mostra-se cada vez
mais integrada, comentando fatos de sua vida. Fala cada vez mais
livremente de sua sexualidade.
Traz sonhos para a terapia, nos quais aparecem medo de rejeições,
sensações de pânico e situações de proteção sufocante.
Relata mudanças na sua relação com a comida: está alimentando-
se melhor e gostando de comer, inclusive com o grupo, além de não
se incomodar de sentir fome. Voltou a menstruar há 2 meses.
Verbaliza que sente raiva e não suporta a mãe. Ao mesmo tempo
sente-se devedora, pois sempre foi cuidada por ela.
Volta a estudar e sente-se bem na escola. Sai com amigos e voltou
a namorar. Conseguiu trabalho e sente-se satisfeita.
ANOREXIA
NERVOSA
Anorexia Nervosa
Derivação do termo grego para “perda de apetite”
• o termo é errôneo - perda do apetite costuma ser rara até o fim do transtorno
(constantemente pensando em comida – receitas e refeições para outros)

• Síndrome nervosa caracterizada por 3 critérios essenciais:


1. Um comportamento: inanição autoinduzida até um grau significativo
2. Uma psicopatologia: busca incessante por magreza ou um medo mórbido de engordar
3. Uma sintomatologia fisiológica: presença de sinais e sintomas resultantes da inanição

• Pode ou não estar associada a distúrbios de imagem corporal (qd presente –


perturbadora)
Tema principal: ênfase altamente desproporcional colocada na
magreza como uma fonte vital, são excessivamente
preocupadas com o peso, alimentos e a forma do corpo

Muito mais prevalente em mulheres (10 a 20x)

ANOREXIA
NERVOSA Início na metade da adolescência (14 e 18 anos): 0,5 a 1% das
meninas adolescentes

Países desenvolvidos e profissões que requerem magreza


(modelo/bailarina)
65% associada a
depressão

35% fobia social


Comorbidade

25% transtorno
obsessivo-
compulsivo
Etiologia
• Fatores biológicos
• Opioides endógenos, alterações bioquímicas, alterações neuroendócrinas
• Fatores sociais
• Sociedade com ênfase na magreza e exercício, relações problemáticas com os pais, interesses
vocacionais (luta e ballet)
• Fatores psicológicos e psicodinâmicos
• Substituem as preocupações adolescentes normais por outras preocupações, que são semelhantes
a obsessões, com a alimentação e o ganho de peso.
• Carecem de um senso de autonomia e individualidade (corpo sob controle dos pais)
• Não conseguiram se separar psicologicamente de suas mães (intrusivas e não empáticas) ->
destruí-la
• Desejos orais -> ávidos e inaceitáveis
Diagnóstico – DSM V
A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um
peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero,
trajetória do desenvolvimento e saúde física.
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento
persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso
significativamente baixo.
C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são
vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na
autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do
baixo peso corporal atual.
Diagnóstico – DSM V
Dois subtipos:

• Tipo restritivo: últimos 3 meses, o indivíduo não se envolveu em episódios


recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vômitos
autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).
• perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou
exercício excessivo
• Tipo compulsão alimentar purgativa: últimos três meses, o indivíduo se
envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa
Nível mínimo de gravidade - (IMC)

Leve: IMC ≥ 17 kg/m²


Diagnóstico Moderada: IMC 16-16,99 kg/m²
– DSM V
Grave: IMC 15-15,99 kg/m²

Extrema: IMC < 15 kg/m²


Características Clínicas
• Muitos tem ataques de compulsão alimentar – à noite, em segredo, vomitos autoinduzidos
• Abusam de laxantes, diuréticos, exercícios ritualísticos
• Escondem comida pela casa
• Carregam grandes quantidades de doces
• Durante a refeição: se livram da comida, bolsos, pequenos pedaços e reorganizam o
prato
• Comportamento obsessivo-compulsivo, depressão e ansiedade
• Rígidos e perfeccionistas
• Pobre ajustamento sexual
Características Clínicas
Agravamento: sinais físicos
• Hipotermia (em torno de 35° C), edema dependente, bradicardia, hipotensão e lanugem, e
os pacientes apresentam uma variedade de alterações metabólicas
• Alcalose hipocalêmica (vômitos, purgativos e diuréticos)
• Prejuízos na diurese
• Alterações eletrocardiográficas (ECG)
• Dilatação gástrica
• Reservados, negam seus sintomas e resistem ao tratamento
• Exame do estado mental: indivíduo alerta, com conhecimentos sobre nutrição e
preocupado com alimentos e peso
Complicado – negação dos sintomas, sigilo dos
rituais, resistência em procurar tratamento
Doença clínica

Transtornos depressivos
Diagnóstic
Transtorno de sintomas sintomáticos
o
Diferencial Esquizofrenia

Bulimia nervosa

Condições raras - hiperatividade do nervo vago


Plano de tratamento abrangente

Hospitalização
• 1ª preocupação – recuperar estado nutricional
• 20% abaixo do peso esperado para sua altura (IH), e peso 30% abaixo
do esperado (HP) - 2 a 6 meses
• TP – maioria resiste, critica, discute
• I compulsória – risco de morte
Tratamento • Manejo hospitalar

Terapia individual (TCC, psicoterapia dinâmica) e familiar

Farmacoterapia
• Não existe melhora definitiva medicamentosa ainda
• Anti-histamínicos e antisserotonérgicos
• Amitriptilina, clomipramina, pimozida e clorpromazina, fluoxetina
• Condição depressiva deve ser tratada
BULIMIA
NERVOSA
Episódios de compulsão alimentar combinados com
formas inapropriadas de interromper o ganho de
peso - purgação ou exercícios em excesso

Bulimia Desconforto físico é acompanhado de sentimentos


Nervosa de culpa, depressão ou autoindignação

Em geral mantêm um peso corporal normal


Epidemiologia
• Mais prevalente do que anorexia nervosa
• 1 a 4% em mulheres jovens
• Mais comum em mulheres do que em homens
• Início mais no fim da adolescência, pode ocorrer no começo da idade
adulta
• Por vezes têm uma história de obesidade
Etiologia
• FATORES BIOLÓGICOS
• Serotonina e a norepinefrina
• Elevação dos níveis de endorfina
• Maior frequência em parentes em 1º grau

• FATORES SOCIAIS
• Pessoas com alto desempenho, respondem às pressões sociais de ser esbeltas
• Pessoas deprimidas, têm maior depressão familiar (mais conflitos)

• FATORES PSICOLÓGICOS
• Dificuldades com as demandas da adolescência
• São mais extrovertidas, irritadas e impulsivas
• Dependência de álcool, furtos em lojas e labilidade emocional (tentativas de suicídio)
Diagnóstico
(1) Episódios de compulsão alimentar ocorrem com relativa frequência
(1x/semana ou mais) por pelo menos 3 meses;
(2) São praticados comportamentos compensatórios depois da compulsão
alimentar para impedir o ganho de peso (vômito autoinduzido, abuso de
laxativos, diuréticos, enemas, abuso de eméticos (80%) e, menos comumente,
dieta severa com exercícios extenuantes (20%));
(3) O peso não é reduzido de forma drástica;
(4) Paciente tem medo mórbido de obesidade, um ímpeto incessante pela
magreza, ou ambos, e uma autoavaliação desproporcional que depende do peso e
da forma corporal.
Características Clínicas
• Compulsão alimentar precede o vômito em cerca de um ano
• Vômito – induzido
(1) Reduz a dor abdominal e sensação de inchaço
(2) Permite que continuem a comer
(3) Conteúdo ácido – esmalte dos dentes

Subtipos: purgativo/não purgativo


• Depressão pós episódio
• Pessoas com altas taxas de transtornos do humor e transtornos do controle de impulsos,
uso de substâncias e transtornos de personalidade
Doença neurológica

Tumores do sistema nervoso central

Diagnóstico Síndrome de Klüver-Bucy

Diferencial Síndrome de Kleine-Levin

Transtorno da personalidade borderline e


outros transtornos mistos da personalidade

Transtorno bipolar II
Tratamento
Ambulatorial

Psicoterapia
• turbulenta e prolongada
• TCC, psicoterapia dinâmica

Hospitalização
• suicidalidade e abuso de substância, distúrbios eletrolíticos e metabólicos

Farmacoterapia – AD
• ISRS (fluoxetina)
• Imipramina, desipramina, trazodona e inibidores da monoaminoxidase (IMAOs)
Referências

https://www.scielo.br/pdf/fractal/v20n2/05.pdf
Benjamin J. Sadock. Virginia A. Sadock. Pedro Ruiz. COMPÊNDIO DE
PSIQUIATRIA. Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica.
Obrigado (a)!

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