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Immanuel Kant
E.E.B. Dom João Becker
Contextualização
Não podemos negar que o século XVIII, o Século das
Luzes, é um dos momentos mais importantes de
nossa história pois até hoje nos guiamos seguindo
cotidianamente os conceitos de cada um dos autores
que escreveram ou desenvolveram doutrinas
naqueles anos, os quais influenciados pela corrente
de pensamento Iluminista, também chamada de
Ilustração, dominante naquele contexto histórico,
onde a principal característica era creditar à razão a
capacidade de explicar racionalmente os fenômenos
naturais e sociais e a própria crença religiosa.
Entre eles encontramos o alemão Immanuel
Kant (1724 - 1804), sem dúvidas um dos
filósofos mais importante de todos os tempo,
o autor fundamental não do século das
luzes, mas sim da posterioridade e
sobretudo, de nosso dia a dia. Todos, sem
saber ou sem nos darmos conta aplicamos
seu pensamento lhe cedendo uma vigência
muito importante.
Suas contribuições nos temas relacionados ao
problema do conhecimento influenciaram
notavelmente na filosofia, já que sua síntese
especulativa denominada "criticismo" devido
sua proposta de realizar uma “crítica da
razão”, derivou o idealismo moderno e, em
geral, o pensamento contemporâneo.
Este criticismo desenvolvido por Kant tinha como intenção
resolver os antagonismos que surgiu de dois pensadores
anteriores, Descarte e Hume. Descarte por um lado defendia
o Dogmatismo racionalista (dogmatismo aqui é uma espécie
de fundamentalismo intelectual, diferente do usado
na religião) que procurava obter resultados, verdades certas,
indubitáveis em uma experimentação apoiando-se
unicamente nos princípios inatos da razão e sobretudo das
idéias, sem ser sujeitas a qualquer tipo de revisão crítica.
Isso quer dizer que essa posição filosófica defendia que as
verdades absolutas existem rechaçando de plano o
conhecimento obtido de próprias experiências, já que
confiavam cegamente na razão, desse modo
insistindo demasiado nos princípios metafísicos acabando
por não prestar atenção aos fatos ou argumentos que
pudessem pôr em duvida esses princípios. Assim,
acreditando que as experiências as únicas (ou principais)
formadoras das idéias, discordando, portanto, da noção de
idéias inatas.
Mas por outro lado, o ceticismo ou empirismo
radical do Hume procurava apoiar-se
unicamente nas experiências mas este dogma
tinha impossibilitado de se chegar a resultados
universais e verídicos passando a ser meras
hipóteses e probabilidades. Kant estudaria estas
duas escolas filosóficas e tentaria chegar a uma
forma que as conjugassem em uma só teoria,
limando as asperezas entre ambas. Dessa forma
nasce o criticismo kantiano que quer limitar a
capacidade do conhecimento, não quanto à sua
extensão, mas quanto à sua justificação em si,
levando o exame da razão por ela mesma
confrontando o pensamento e às práticas.
Kant reconheceu as contribuições e criticou as
posições tanto de Descartes como de Hume.
Estava de acordo com Hume de que não existem
idéias inatas e de que não existe na nossa razão
conteúdos que sejam "a priori". Mas discorda
da afirmação dos empiristas de que a mente
seria, originalmente, um "quadro em branco",
sobre o qual é gravado o conhecimento, cuja
base é a sensação. Ou seja, de que todas as
pessoas, ao nascer, o fazem sem saber de
absolutamente nada, sem impressão nenhuma,
sem conhecimento algum, e que todo o
processo do conhecer, do saber e do agir é
aprendido pela experiência, pela tentativa e erro.
Até então, havia-se tentado explicar o conhecimento
supondo que o sujeito deveria girar em torno do
objeto. Kant, então, inverteu os papéis, supondo que
o objeto é que deveria girar em torno do
sujeito. Copérnico havia feito uma revolução
análoga: como, mantendo a Terra firme no centro do
universo e fazendo os planetas girarem em torno
dela e o seus sistema num paralelo copernicano,
revela os limites e a real posição da mente em
relação aos objetos do seu conhecimento.
Demonstrando que vários fenômenos do
pensamento precisam ser explicados, porem não
atribui, como alguns, a causas independentes
externas, e sim, a leis essenciais que regem os
movimentos inerentes do pensamento.
Kant considera que não é o sujeito que, conhecendo, descobre as leis do
objeto, mas sim, ao contrário, que é o objeto, que é conhecido, que se adapta
às leis do sujeito que tem a faculdade de conhecer. "Até agora, admitia-se que
todo nosso conhecimento se devia regular pelos objetos, mas todas as
tentativas de estabelecer em torno deles alguma coisa a priori, por meio de
conceitos, com os quais se teria podido ampliar o nosso conhecimento,
assumindo tal pressuposto, não conseguiram nada. Portanto, finalmente,
faça-se a prova de ver se não seríamos mais afortunados nos problemas da
metafísica formulando a hipótese de que os objetos devem se regular pelo
nosso conhecimento, o que se coaduna melhor com a desejada possibilidade
de um conhecimento a priori, que estabeleça alguma coisa em relação aos
objetos antes que eles nos sejam dados. Aqui, é exatamente como na primeira
idéia de Copérnico, que, vendo que não podia explicar os movimentos celestes
admitindo que todo o exército de astros girasse em torno do espectador,
tentou ver se não teria melhor êxito fazendo girar o observador e deixando os
astros em repouso. Ora, na metafísica, pode-se pensar em fazer uma tentativa
semelhante (...)”. Com a sua "revolução", portanto, Kant supôs que não é a
nossa intuição sensível que se regula pela natureza dos objetos, mas que são
os objetos que se regulam pela natureza de nossa faculdade intuitiva.
Comparativamente, Kant supõe que não é o intelecto que deve se regular
pelos objetos para extrair os conceitos, mas, ao contrário, que são os objetos,
enquanto são pensados, que se regulam pelos conceitos do intelecto e se
coadunam com eles.
Para Kant, "O conhecimento começa com a experiência
mas não se origina nela”. Distinção esta, entre o “começo”
e a “origem”, importante para compreender sua crítica, sua
filosofia, a qual não consiste em desprezar a razão com
faculdade do conhecimento, mas avaliar
pormenorizadamente suas possibilidades e limites, visto
que a razão não posse idéias inatas, mas possui estruturas
a priori nas quais as impressões se organizam. Isso
significa que a explicação genética do conhecimento ao
modo de Hume, não lhe é totalmente satisfatória: resolver
a questão da origem não é resolver o problema da
validade; pois a experiência não pode por si só outorgar
necessidades e universalidade às proposições de que se
compõe a ciência e, em geral, a todo o saber que aspire a
ser rigoroso. E necessário perguntar, portanto, como a
experiência é possível, isto é, encontrar o fundamento da
possibilidade de toda experiência.
No seu trabalho “A Crítica da Razão Pura” tem precisamente como
objeto examinar essas condições da possibilidade da experiência,
que são idênticas às condições da possibilidade dos objetos da
experiência.Com vistas a isso, Kant se apóia na diferenciação de
duas afirmações ou julgamentos, o analítico e o sintético. Assinala
que o juízo analítico é aquele que pode realizar-se de maneira
universal que não tem nenhuma relação com a experiência. Quer
dizer que pode realizar uma análise por pura razão inata e com um
mínimo de conhecimento, apoiando-se no que seria algo, digamos,
“óbvio“. Por outro lado, temos os julgamentos sintéticos que são os
que terminam aumentando o conhecimento de uma pessoa, mas
para isso é inevitável que deveremos partir da própria experiência
sobre um fato particular. Isto quer dizer que este julgamento é a
posteriori da experimentação e não a priori como seria o julgamento
analítico.
O problema da ciência que compõe-se fundamentalmente de
proposições ou de juízos universais e necessários e, ainda por cima,
incrementa continuamente o conhecer. Mas, que tipos de juízos são
aqueles de que se vale o conhecimento? Daqui derivam as formas a
priori, que são as propriedades do intelecto que permitem conhecer,
e compreender.
A definição mais clara sobre isto seria:
“conhecido-o é o resultado da aplicação das
faculdades do intelecto ao objeto do
conhecimento“. Quer dizer que tudo o que se
conhece provém em parte do objeto conhecido,
mas ao mesmo tempo se alimenta da estrutura da
inteligência que conhece, relacionando assim as
duas correntes de Descartes e Hume em uma só
idéia, o idealismo subjetivo. Então o nosso
conhecimento sobre algo é o resultado do que já
sabemos sobre esse objeto empregando a razão,
e o que conhecemos logo através da experiência.
Em suma: "das coisas, nós só conhecemos a priori
aquilo que nós mesmos nelas colocamos" Agora,
então está claro qual é, para Kant, o fundamento
dos juízos sintéticos a priori: é o próprio sujeito
que sente e pensa, ou melhor, é o sujeito com as
leis da sua sensibilidade e do seu intelecto.
Kant ilustrou a razão, como a imaginava o
iluminismo. O iluminismo é o que liberta o
homem, leva o homem a se “iluminar”, usando seu
próprio entendimento. A razão só se limita por si
mesma, a razão é única para toda a humanidade,
fixa em sua natureza, e se desenvolve no tempo,
sob o comando de sua essência. Já a razão
ilustrada é tolerante, flexível e se opõe.
Na verdade o pensamento de Kant tentou ir
além e resumir o racionalismo e o empirismo.
Na sua crítica, ele quis libertar a alma do
determinismo, dotando-a de vontade própria,
propondo a virtude como ação universal, para
o desenvolvimento do homem, através da arte
e seu conhecimento. Com tudo isso Kant, sai
de uma encruzilhada e cria uma tripla
dificuldade para o idealismo: O idealismo
Transcendental, a incompatibilidade entre a
razão da teoria e a prática da razão e a “coisa
em si”.
Aqui nos cumpre analisar qual o sentido mais próprio do
termo "transcendental", que atravessa de um lado a
outro a Crítica da razão pura. O qual é usado
freqüentemente e foi definindo pelo próprio filósofo
como: "Chamo “transcendental” todo conhecimento que
não se relaciona com objetos, mas sim com o nosso
modo de conhecer os objetos, enquanto for possível a
priori". Os modos de conhecer os objetos a priori pelo
sujeito são a sensibilidade e o intelecto; portanto, Kant
chama de transcendentais os modos ou as estruturas da
sensibilidade e do intelecto. Essas estruturas, portanto,
enquanto tais, são a priori, precisamente porque são
próprias ao Sujeito e não do objeto, mas são estruturas
de tal natureza que representam as condições sem as
quais não é possível nenhuma experiência de nenhum
objeto. O transcendental, portanto, é a condição de se
conhecer os objetos.
Ora, para a metafísica clássica, transcendentais
eram as condições do ser enquanto tal, ou seja,
aquelas condições sem as quais o próprio objeto
deixa de existir. Depois da revolução proposta
por Kant podemos ver que existe somente o
objeto-em-relação-ao-sujeito: transcendental é
aquilo que o Sujeito põe nas coisas no ato
mesmo de conhecê-las. Conhecimento
transcendental pode denominar a forma como
os fenômenos sociais são assimilados pelo
sujeito, e este aplica a sua razão para poder
normatizá-los com a melhor identidade possível
ao perfil do Estado que se vive.
Kant viabilizou na sua filosofia a ciência e a
religião. O que traz margem para se pensar
que se seus conceitos fossem relegados a
uma teoria impraticável. Pois deixava as duas,
a ciência e a religião, livres para validar suas
teses, visto da impossibilidade de provas
efetivas e seguras, poderia certamente abrir
caminhos para a especulação da fé e da
ciência, no entanto sua filosofia tornou-se
bastante estudada e discutida, o que
comprova que a natureza contraditória em sua
filosofia, abre tantas possibilidades tanto de
um lado(ciência) como de outro(fé).
Kant partiu para destruir a metafísica, e
destruiu, isto numa interpretação simplória,
no entanto percebeu que sem ela o homem
perderia o rumo e diante dessa constatação,
"inventou" uma condição ideal para alocar a
metafísica, sem destruir seu trabalho
anterior, aboliu a razão da moral.
É ambíguo, como freqüentemente se diz
destruir para construir, no entanto o que Kant
considerou como despercebida na primeira
"Crítica" retomou na segunda. Na "Crítica da
Razão Pura" disse que as verdades que tinham
sido consideradas como de maior nível no
conhecimento humano não tinham um
fundamento na metafísica, isto é, no raciocínio
puramente especulativo. Na "Crítica da Razão
Prática" quer dizer que estas verdades
permanecem sobre uma sólida base moral, e
estão, então, à margem de toda disputa e do
clamor das disputas metafísicas.
Contudo para finalizar o texto, uma reflexão é
necessária: se Kant dá abertura ao idealismo,
cuja centralidade se faz também no subjetivismo,
foi sua teoria responsável também por gerar o
individualismo presente hoje na sociedade pós-
moderna? Claro que a intenção do subjetivismo
de Kant não era essa. O sujeito transcendental
em Kant (sujeito aquele que não está mais na
órbita, mas no centro, conforme já discorrido
anteriormente) é uma estrutura que se encontra
em toda a humanidade. É nesse sentido de algo,
digamos, universal, presente como estrutura em
todos, que Kant chama de transcendental.
Portanto, a interpretação dada posteriormente
ao subjetivismo transcendental kantiano de
algo que leva ao individualismo parece-nos,
para os que se aprofundam na teoria do
filósofo, algo anacrônico. A teoria kantiana é
justamente buscar uma universalidade para
sua teoria do conhecimento. A propensão ao
individualismo nasceu depois, não é, por
assim dizer, uma preocupação kantiana a
priori.
Críticos e historiadores não estão de acordo quanto ao
posto do Kant entre os filósofos. Alguns avaliam suas
contribuições à filosofia tão altamente que consideram suas
doutrinas ser a culminação de todo o havido antes dele.
Outros, pelo contrário, consideram que ele fez um mau
ponto de partida quando assume em seu criticismo da
razão especulativo que se houver algo universal e
necessário em nosso conhecimento deve provir da mente
mesma, e não do mundo real externo. Estes oponentes do
Kant consideram, além disso, que enquanto ele pôs o
talento sintético capacitando-o para construir um sistema
de pensamento, faltou-lhe na qualidade analítica pela qual
o filósofo é capaz de observar o que atualmente acontece
na mente. E em um pensador que reduz toda a filosofia a
uma exame do conhecimento a carência da habilidade de
observar o que atualmente ocorre na mente é um defeito
sério. Mas, seja o que for pode ser nossa estimativa do Kant
como filósofo, não podemos desvalorizar sua importância.