segundo a CF de 1988 A família, em relação à organização social, é a primeira expressão humana, levando-se em conta que a mesma surgiu com o próprio homem e, o modelo familiar foi resultante do desenvolvimento social e cultural dele, tendo, portanto, como função básica reproduzir e defender seus membros. Desta forma, nosso objetivo com esse conteúdo é fazer uma abordagem acerca do conceito de família, mostrando sua evolução história em relação a sociedade, destaca-se nesse conceito a sua evolução após a Revolução Industrial, já que foi por meio desta que a afetividade passou a ser o principal elo entre os integrantes do mesmo núcleo familiar, também foi feito uma análise das espécies de famílias existentes. Neste contexto não podemos esquecer da Constituição de 1988 que trouxe em seu texto como fundamento da nossa República o princípio da dignidade da pessoa humana, e como objetivos a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária, promovendo o bem de todos e coibindo qualquer forma de discriminação. Outro ponto fundamental da nossa Carta Magna é a proteção dada pelo Estado à família, que é a base de qualquer sociedade; além mais por meio da Constituição é possível a pluralidade de famílias. Dessa forma, mesmo a Constituição sendo o norte para o ordenamento jurídico, foi preciso o julgamento conjunto da ADPF 132 – RJ e da ADI 4.277 – DF pelo STF para que houvesse o reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, com os mesmos direitos e deveres dos casais heteroafetivos. A família é a base da sociedade e como tal tem amparo legal e direitos garantidos pela Constituição. Por mais que tenha sofrido, ao longo dos anos, transformações em sua construção social, o seu princípio basilar permanece imutável, tanto quanto os laços de afetividade e o vínculo derivado desse sentimento. A sociedade durante muito tempo discriminou mulheres, crianças, idosos, estrangeiros, entre outros, o direito de família, por seu turno, na constância do Código de 1916 era bastante elitista, onde os interesses patrimoniais se sobrepunham aos pessoais, e as diferenças de direitos entre homem e mulher e entre filhos era gritante. Entretanto, com a Constituição Federal de 1988 as desigualdades foram amenizadas e com o Código Civil de 2002 a legislação autoritária deu lugar a leis bastante atuais e inovadoras. O que é valido para uma época, nem sempre é compatível com a próxima geração e as vindouras; hoje muita coisa mudou; para melhor, levando a civilização ao aperfeiçoamento de seus ideais. A Constituição, por sua vez, oferece um amparo à família, criança, adolescentes e idosos, consubstanciados entre os artigos 226 a 230. Garante direitos inerentes ao ser humano e ligado com os direitos fundamentais também consagrados na nossa Carta Magna. Com base nas mudanças trazidas pela nova Constituição Federal e Código Civil que, apontamos as mais perceptíveis transformações, que acompanharam as mudanças de toda uma geração. Mudanças estas que foram discutidas durante todo um século e que só constaram no papel como normas positivadas em fins do século XX e início do XXI. Atualmente a família tradicional, formada pelo pai, mãe e filhos não é a única possibilidade, nem o casamento é regra para que uma família se inicie. Famílias paralelas, reconstituídas, monoparentais, multiparentais ou mesmo unipessoais encontram respaldo na lei, doutrina e jurisprudência, posto que o direito deve atender aos anseios sociais. A Constituição já reconheceu a união estável como entidade que detém os mesmos direitos do casamento, bem como a igualdade entre cônjuges e filhos. Constituição de 1988 O legislador constituinte, ao elaborar as normas que regem principalmente a família e a sua formação teve como princípio o fato da família ser o início de toda a sociedade. “A fase atual é marcada pela passagem da Constituição para o centro do sistema jurídico, de onde passa a atuar como o filtro axiológico pelo qual se deve ler o direito civil. Há regras específicas na Constituição, impondo o fim da supremacia do marido no casamento, a plena igualdade entre os filhos, a função social da propriedade. E princípios que se difundem por todo o ordenamento, como a igualdade, a solidariedade social, a razoabilidade” É na Constituição Federal que a família encontra respaldo e a moldagem que deu origem ao Código de 2002, bem como as características inovadoras que trouxeram proteção às mais diversas formações familiares. Código Civil e pelas leis vigentes até fins do século XX foram aniquilados, mostrando mais uma vez que o direito acompanha a evolução natural da sociedade e a socorre conforme suas necessidades, positivando as mais diversas relações entre os seres humanos. A Constituição torna iguais homens e mulheres baseando-se no princípio da isonomia, assim sendo, pai e mãe têm os mesmos direitos e deveres sobre a criação dos filhos e a manutenção da família, que juntos decidem começá-la; ou em separado, como é o caso de pais que criam seus filhos sozinhos, com ou sem a ajuda do companheiro. Essa igualdade também se estende aos filhos, havidos ou não durante o casamento. Essa igualdade abrange também os filhos adotivos e aqueles havidos por inseminação heteróloga (com material genético de terceiro). as expressões filho adulterino ou filho incestuoso, as quais são discriminatórias. Também não podem ser utilizadas, em hipótese alguma, as expressões, filho espúrio ou filho bastardo. Apenas para fins didáticos utiliza-se a expressão filho havido fora do casamento, já que, juridicamente, todos os filhos são iguais. Diante do reconhecimento dessa igualdade, como exemplo prático, o marido/companheiro pode pleitear alimentos da mulher/companheira ou vice- versa. .... Além disso, um pode utilizar o nome do outro livremente, conforme convenção das partes (art. 1.565, § 1º, do CC). 2. O atual conceito de família A família é a base da sociedade, sendo que é em seu seio que o indivíduo nasce, se desenvolve e tem os primeiros contatos com seus semelhantes, com regras morais, entre outros. Venosa diz que,
“entre os vários organismos sociais e jurídicos, o conceito, a compreensão e a extensão de família são os que mais se alteraram no curso dos tempos. Nesse alvorecer de mais de um século, a sociedade de mentalidade urbanizada, embora não necessariamente urbana, cada vez mais globalizada pelos meios de comunicação, pressupõe e define uma modalidade de família bastante distante das civilizações do passado”. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 17. Segundo Diogo de Calasans Melo Andrade, conforme já dito, para que haja uma família não é necessária a existência de casamento,
“Atualmente, a idéia de família não está vinculada a de matrimônio, uma vez que é possível a reprodução sem sexo, sexo sem matrimônio e matrimônio sem reprodução. Hoje o direito de família vincula-se à noção de afeto e interesses comuns, independentemente do sexo dos parceiros. Com a isonomia entre homens e mulheres, com o surgimento do divórcio e com a proteção dos filhos tidos fora do casamento, este deixou de ser o fundamento da família, dando lugar a outras formas de entidades familiares, tais como as uniões homoafetivas”. Hoje é possível falar em vários tipos de entidades familiares, quais sejam alguns exemplos a recomposta, a monoparental, unipessoal, paralela, entre outras. Segundo Fachin, que em seu artigo cita a historiadora francesa Michelle Pierrot, comenta um artigo da autora publicado no Brasil: “Engana-se os que dizem que a família está em decadência”. Designamos por decadência aquilo que sobre nossos olhos deitamos atenção e espelham alguns valores com os quais eventualmente podemos não concordar. Disse ela: ‘Desataram-se alguns nós, mas o ninho familiar continua mais presente, atual e tendo mais sentido que antes, eis que recupera na sua dimensão sociológica o valor socioafetivo das relações. Eventualmente, em determinados casos, sendo até mais preponderante que a vinculação consanguínea’” A partir de meados do século XX o divórcio é aceito não só pela legislação, como também pela sociedade e hoje o matrimonio não é a peça fundamental para se originar uma família como foi no passado. 3. Tipos de famílias Quanto aos novos tipos de família, temos alguns exemplos, que serão analisados, de forma breve, em nossa aula. Na pós-modernidade, “A cara da família mudou. O seu principal papel, de dar suporte emocional ao indivíduo, foi substituído por um grupo menor, em que há flexibilidade e eventual intercambialidade de papéis e, indubitavelmente, mais intensidade no que diz respeito a laços afetivos”. Está hoje consagrada, no entender de Rui Geraldo Camargo Viana, a família com pluralidade de tipos, que numa concepção moderna pode ser traduzida como uma realidade social De forma sintética, a família pode ser entendida “como sendo o grupo de pessoas unidas por relação conjugal ou parental, permeada por afeto e interesses comuns, onde o homem inserido e protegido tem a possibilidade de desenvolver plenamente sua personalidade e potencialidades”. “O conceito de família tomou outra dimensão no mundo contemporâneo, estendendo-se além da família tradicional, oriunda do casamento, para outras modalidades, muitas vezes informais, tendo em vista o respeito à dignidade do ser humano, o momento histórico vigente, a evolução dos costumes, o diálogo internacional, a descoberta de novas técnicas científicas, a tentativa da derrubada de mitos e preconceitos, fazendo com que o indivíduo possa, para pensar com Hanna Arendt - sentir-se em casa no mundo”. Diversas são as formas de família que vigem na atualidade. O conceito tradicional mudou, abarcando formas novas. Podemos antever que o modelo prevalente de formação familiar é a família nuclear, ou seja, composta pelos pais e sua prole. Os arranjos familiares obedecem a uma enorme gama de tipos, a saber: família matrimonial, família formada na união estável, concubinária, monoparental, unilinear, homoafetiva, famílias recompostas, mosaico, pluriparental, anaparental, eudemonista, paralela, com suas peculiares repercussões no campo do direito, tendo todas elas em comum o desejo de inserção e de proteção do ser humano, em um locus onde possam desenvolver suas potencialidades e peculiaridades, tendo em vista o princípio constitucional do primado da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, podemos perceber que a formação atual da família obedece aos ditames pessoais, às liberdades individuais, em frontal valorização dos direitos da personalidade e dos direitos humanos. Entretanto, a Constituição Federal, regula a formação familiar em seus artigos 226 e 227, reconhecendo a proteção de três modalidades de família: a família matrimonial, a família formada na união estável – ambas com a nítida prevalência da dualidade de sexos e a família monoparental. Além da família matrimonial, da família formada na união estável, da família monoparental e da família formada por pessoas do mesmo sexo, que serão largamente estudadas nesta obra em capítulos próprios, iremos nos deter, em novos conceitos de família, que também se apresentam na pós- modernidade: a família anaparental, a família pluriparental, a família eudemonista e a família paralela. Então vamos os tipos de família: a) Família monoparental
É aquela em que a criança vive com apenas um dos pais, seja em virtude de divórcio ou falecimento, ou mesmo famílias formadas por pai e mãe, que ao não viverem juntos, continuam tendo poder familiar sobre os filhos. b) Família pluriparental É aquela em que a criança tem contato com muitas pessoas, como no caso de divórcios e novos casamentos, o que faz com que novas pessoas e famílias ingressem no cotidiano antes habitado apenas pelo menor e seus genitores. c) Família Anaparental A denominada família anaparental, não regulada pelo legislador, pode ser definida como a relação familiar baseada na affectio e na convivência mútua entre pessoas que apresentem grau de parentesco. O exemplo mais clássico recairia sobre os casos em que duas irmãs – via de regra, solteiras ou viúvas – residam juntas e assim amealhem um patrimônio comum. d) Famílias paralelas Ocorre tal espécie de família quando há, ao mesmo tempo relacionamento, um de casamento ou união estável com uma pessoa e outro relacionamento, caracterizado também de união estável envolvendo um mesmo indivíduo. É o caso do marido/esposa que possui um amante, e)Família - A união estável Ocorre tal espécie de família quando A União estável por sua vez, representa a feição informal da família, através da qual a generalização do fato social fez com que fosse reconhecida juridicamente. f) Família homoparental Nessa formação familiar um ou ambos os genitores do menor são homossexuais e, com a aprovação pelo Conselho Nacional de Justiça da Resolução nº 175/2013, os casais homossexuais que vivem em união estável podem se casar e ter os mesmos direitos dos casais heterossexuais, inclusive no que cabe aos filhos. Família Punaluana - Nesse tipo de organização familiar proibiu-se a união sexual entre irmãos carnais. A família punaluana indicou os graus de parentesco, apresentando as designações sobrinhos e sobrinhas, primos e primas, uma vez que não poderia existir união sexual entre irmãos e irmãs h) Família Design facilidades da internet, nesse tipo de formação familiar, as pessoas se unem no intuito único de ter uma relação que gere filhos, seja de forma natural ou reprodução assistida e, posteriormente criarão a criança como se fossem pais divorciados O sonho da paternidade ou maternidade, hoje, pode ser resolvido de diversas formas, algumas mais convencionais, outras mais exóticas e pouco conhecidas. Enfim, como se viu são diversas as possibilidades de formação familiar, importando, simplesmente que as pessoas sejam respeitadas e a dignidade humana respeitada. O princípio constitucional da dignidade passou a servir de base nas relações da família, o que implicou efetivamente na consolidação da valorização do indivíduo, integrante da instituição familiar, devendo ser respeitado e atendido nas suas necessidades mais gritantes. A dignidade da pessoa humana é colocada no ápice do ordenamento jurídico e encontra na família a base apropriada para o seu desenvolvimento. As relações familiares são funcionalizadas em razão da dignidade de cada indivíduo. Considerações finais
Atualmente o conceito de família no Brasil passa por inúmeras mudanças e assim sendo a sociedade e as normas positivadas passam por constantes adaptações. Cabe a cada cidadão se conscientizar do seu papel diante da sociedade e agir de forma coerente, sabendo de seus direitos e exigindo que sejam respeitados, bem como cumprindo suas obrigações para com toda a nação; afinal de contas o direito não nasce do dia para a noite e sim evolui junto com a sociedade, sua cultura, sua forma de agir e pensar e as suas necessidades.