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AVALIAÇÃO FORMATIVA:

ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A


QUALIDADE DAS APRENDIZAGENS DOS
ALUNOS NA SALA DE AULA

Prof. Doutor Victor Manuel Fortes


Universidade de Cabo Verde, 12/2019
CONCEITO DE AVALIAÇÃO

“A avaliação é um processo contínuo e sistemático. Faz


parte de um sistema mais amplo, que é o processo de
ensino-aprendizagem, nele se integrando. Por isso, ela não
tem um fim em si mesma, é sempre um meio, um recurso, e
como tal deve ser usada. Não pode ser esporádica ou
improvisada. Deve ser constante e planeada, ocorrendo
normalmente ao longo de todo o processo, para reorientá-lo
e aperfeiçoa-lo”.
Haidt (2002)

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É necessário abandonar a pretensão de compreender o
ensino e aprendizagem como se fossem entidades separadas
e sem conexão entre si, como se fosse possível e razoável
explicar a aprendizagem dos alunos à margem da ação
educacional e de ensino de seus professores e,
inversamente, como se fosse possível entender e valorizar a
ação educacional e do ensino dos professores à margem de
sua incidência sobre a aprendizagem dos alunos.

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A exigência de considerar o ensino, a aprendizagem e a
avaliação como ingredientes de um mesmo processo
encontra sua justificativa na própria natureza da educação
escolar porque:

1. A educação escolar é basicamente uma prática social e


socializadora, mediante a qual procuramos estimular e
promover o desenvolvimento e a socialização de todos;

2. A educação escolar procura cumprir tal função,


facilitando o acesso dos alunos a uma série de saberes
culturais considerados essenciais para seu adequado
desenvolvimento e sua socialização, e a avaliação
aparece como o instrumento que permite valorizar se os
alunos realmente têm acesso a esses saberes;

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3. A natureza social da educação escolar e, mais
especificamente, sua função socializadora e de promoção
do desenvolvimento pessoal estão na base da dupla
vertente social e pedagógica da avaliação e dão conta de
sua importância para avaliar tanto se se cumpre o projeto
social e cultural que preside e orienta a educação escolar
quanto se a ação educacional e do ensino garante
efetivamente o acesso dos alunos aos saberes culturais
selecionados para fazer parte do currículo escolar;

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4. A avaliação das aprendizagens dos alunos é um
ingrediente fundamental da educação escolar e do
processo escolar de ensino-aprendizagem; os esforços
para melhorar a educação exigem necessariamente a
revisão e a melhoria das práticas de avaliação; um ensino
adaptador, isto é, um ensino que respeite a diversidade de
capacidades, interesses e motivações dos alunos, exige
uma avaliação “inclusiva”, isto é, práticas de avaliação que
também levem em conta a diversidade.

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Elementos da avaliação:

1. Critérios ou expetativas sobre as aprendizagens que se


pretende que os alunos realizem como consequência do
ensino - formulados habitualmente em termos de objetivos
ou critérios de avaliação;

2. Indicadores observáveis e sua validade, nas realizações


ou nas execuções dos alunos, cuja presença ou ausência -
ou cuja modalidade e grau de presença - possam ser
interpretadas como prova do nível do cumprimento das
expetativas do ensino.

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3. Objetividade da avaliação

Depende basicamente de dois fatores estreitamente


relacionados: o grau de clareza com que aparecem
definidos os critérios e os indicadores cujo contraste permite
formular um juízo de valor; e a precisão e a confiabilidade
dos procedimentos e dos instrumentos utilizados para
determinar a presença ou a ausência - ou a modalidade e o
grau da presença - dos indicadores nas produções dos
alunos.

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A avaliação formativa ou reguladora tem como finalidade
relacionar as informações relativas à evolução do processo
de aprendizagem dos alunos com as características da ação
didática, à medida que se desdobram e avançam as
atividades de ensino-aprendizagem. Portanto, o juízo de
valor resultante versa sobre o próprio desenvolvimento do
processo educacional e deve ser útil, em princípio, tanto para
ajudar o professor a tomar decisões que lhe permitam
melhorar a sua atividade docente como para ajudar os
alunos a melhorar sua atividade de aprendizagem.
A avaliação formativa ou reguladora tem como finalidade
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Nos ensinos primário e secundário, a atenção à diversidade
não é uma escolha, mas uma exigência iniludível, decorrente
de suas próprias finalidades e, para a implementação de
uma ação educacional que respeite o princípio de atenção à
diversidade, a avaliação é imprescindível. A ênfase deve ser
atribuída logicamente à função reguladora da avaliação. E
não apenas, no caso da avaliação formativa, mas também
da inicial e da sumativa.
Embora seja verdade que, em linhas gerais, essas são as
formulações refletidas pelas normas caboverdianas vigentes
sobre a avaliação da aprendizagem nos ensinos primário e
secundário, a realidade das práticas avaliadoras nas escolas
e nas salas de aula é infinitamente mais complexa e
matizada como consequência, em boa medida, da dupla
função, pedagógica e social, que acaba a avaliação sumativa
desempenhando inevitavelmente. Pois, o fenómeno social é
mais rico do que a lei, a vida mais rica do que os esquemas
e a realidade objetiva mais rica do que qualquer teoria.

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Três ordens de fatores, dentre várias outras, que impedem
uma avaliação promotora de aprendizagem significativa nas
nossas salas de aula:
1. Uma estruturação curricular, principalmente no ensino
secundário, que, não se articulando às condições das
escolas, dificulta a transdisciplinaridade ou até mesmo
interdisciplinaridade.
2. Fraco domínio ou conhecimento teórico das abordagens
do processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente,
das teorias e práticas de avaliação com que o próprio
professor trabalha.
3. As ações de muitos professores na sala de aula baseiam-
se em crenças fortemente sedimentadas, que alimentam
“hábitos de resistência” a uma mudança mais profunda no
seu fazer, quais sejam:
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“Ensinar é falar”;
“Professor fala e aluno ouve”;
“Aprender é reproduzir”;
“Errar é o contrário de acertar”;
“Bom aluno é aluno obediente”;
“Só se ensina seguindo-se a fórmula: Início – Meio – Fim”;
“Avaliação é instrumento de manutenção do poder”;
“Indisciplina é sempre falta de respeito”;
“Preciso arrumar o conteúdo para que o aluno aprenda”;
“Construir conhecimento dá muito trabalho”;
“Isso tudo é muito bonito, mas, na prática, a teoria é outra”
“E a bagunça, quem controla?”;
“E como fica o currículo?”
 
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Uma real avaliação deve conter em si, três princípios
essenciais:

1. Deve provocar a ação docente. Os resultados são


indicativos de necessidades de correção de rota;

2. Deve estar sempre ao serviço do sucesso. O ato de


avaliar é o ato de subsidiar o alcance de resultados
desejados, logo, avaliar é mobilizar-se para garantir o
alcance dos objetivos;

3. Deve estar comprometida com a Ética. A avaliação tem


que estar comprometida com a aprendizagem de todos. Não
podemos achar normal que alguns alunos não aprendam. O
compromisso ético da avaliação configura-se a partir dessa
premissa.
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Como imprimir uma ação eficaz que transforme essa
avaliação que só constata numa real avaliação, que ajude a
promover a aprendizagem?

1. Envolvendo os professores em todos os processos que


tenham a ver com quaisquer revisões ou reformas
curriculares;
2. Promovendo uma melhor e mais consistente formação de
professores, tanto inicial como contínua, baseada numa
pedagogia culturalmente relevante;
3. Criando condições e incentivando as escolas para uma
gestão mais descentralizada do currículo;

4. Transformando as reuniões de coordenação dos


professores em verdadeiros espaços de formação contínua,
nas suas diversas dimensões;
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5. Criando condições e exigindo para que cada professor:
“Pare de dar aulas!”
“Pare de dar respostas!”
“Persiga a aprendizagem profunda!”
“Procure novas formas de desafiar os alunos!”
“Pare de dar tantas instruções!”
“Eleve a autoestima do aluno!”
“Promova a interação entre os alunos!”
“Centre a sua atividade na produção, individual e coletiva,
escrita, oral e de cálculos dos alunos”
“Conceba o trabalho coletivo ou de grupo de alunos como
uma técnica de aprendizagem das ciências e de produção de
conhecimentos, e não como estratagema de obtenção de
notas” etc. 17
“A promoção da aprendizagem significativa fundamenta-se
num modelo dinâmico, no qual o aluno é levado em conta,
com todos os seus saberes e interconexões mentais. A
verdadeira aprendizagem dá-se quando o aluno (re)constrói
o conhecimento e forma conceitos sólidos sobre o mundo, o
que vai possibilitá-lo agir e reagir diante da realidade.
Cremos, com convicção e com o respaldo do mundo em que
nos inserimos, que não há mais espaço para a repetição
automática, para a falta de contextualização e para a
aprendizagem que não seja significativa”.

Júlio Furtado (s/d)

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OBRIGADO PELA ATENÇÃO

Referencias bibliográficas
César Coll, Álvaro Marchesi, Jesús Palacios & colaboradores. Desenvolvimento psicológico
e educação: Psicologia da educação escolar; Capítulo 22, pp. 370-385. V. 2, 2 a edição;
Artmed, 2004.
Furtado, Júlio (s/d). As desaprendizagens do professor; O desafio de promover
aprendizagem significativa. www.juliofurtado.br
Haidt, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral (2002). 19

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