Qualquer tomada de decisão está conectada a uma posição teórica. Por isso é que a
gente precisa pensar teoricamente nossa prática, isto é, a prática e a teoria não estão
dissociadas. O fato de não refletirmos sobre a nossa prática permite com que nos
tornemos alienados daquilo que nós mesmos produzimos e permite que tomemos
atitudes ecléticas (que se contradizem e que não possuem coerência; por exemplo:
pró-vida contra o aborto e defesa da pena de morte).
Modelo crítico ou radical
Radical tem a ver com ir à raiz, ou seja, buscar a origem, a ontologia. A análise da
sociedade passa por entender a história, e portanto, o início que explica o que
vivemos no contemporâneo. Radical, portanto, não é ser extremado, mas buscar a
origem ou a raíz da sociedade. O serviço social que segue esse modelo também é
chamado em alguns momentos de estrutural ou marxista.
Modelo crítico ou radical
A partir dessas bases, o serviço social crítico argumenta que a raiz da desigualdade
está na sociedade. Por essa razão, a intervenção não deve ser individual, mas
conjuntural. Ela deve apontar para as estruturas sociais de determinação da vida.
Essa perspetiva entende que a função do serviço social não é a de adaptar a pessoa
a um meio. Está comprometido com uma forma de intervenção libertadora (também
chamada de empoderadora ou emancipadora); trabalha para contribuir com a
consciência dos sujeitos, mas também atua para mudar as estruturas de dominação
através da participação comunitária, do advocacy, da educação popular, etc.
Modelo crítico ou radical
Algumas categorias teóricas são importantes para este modelo: classe social,
ideologia, trabalho, história, etc. Posteriormente, os movimentos raciais e feministas
trazem para o debate outras categorias de opressão importantes e que passam a ser
utilizadas pelo serviço social crítico (género, raça/etnia, sexualidade, etc.)
Teoria marxista: uma introdução
A dialética-crítica é herdeira da
dialética hegeliana, mas contém uma
crítica a esta.
Método de análise
da realidade: Enquanto Hegel acreditava que o
movimento tese-antítese-síntese se
dialética-crítica originava do pensamento em direção
à realidade, a dialética-crítica entende
que a realidade social origina o
pensamento, que volta para a
realidade como “concreto pensado”.
“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de guia para os
meus estudos, pode ser formulado, resumidamente, assim: na produção social da
própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade; essas relações de produção correspondem a um grau
determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade
dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base
real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da
vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que
determina sua consciência” (Marx, 1859 [2008], p. 47).
Tese Antítese
Enquanto para
Hegel o pensamento
surge do abstrato, Síntese
para Marx ele surge
a partir da vida Resultado da contradição entre tese e
material que antítese, uma conclusão. O pensamento
condiciona a que foi elaborado a partir da vida
consciência dos objetiva volta agora para a realidade
sujeitos. para poder transformá-la.
O materialismo-histórico é a teoria de
Marx: materialista porque olha para a
Teoria que vida objetiva, concreta, determinada
fundamenta o por condições materiais; e histórica
porque busca a origem, a raiz.
método: materialista
Possui algumas categorias centrais: a
e histórica historicidade, a totalidade e a
contradição.
“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade;
não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas
oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem
empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu,
precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente
em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de
guerra e as roupagens [...]. Sobre as diferentes formas da propriedade, sobre as condições
sociais da existência se eleva toda uma superestrutura de sentimentos, ilusões, modos de
pensar e visões da vida distintos e configurados de modo peculiar. Toda a classe os cria e
molda a partir do seu fundamento material e a partir das relações sociais
correspondentes.” (Marx, 1852 [2011], p. 25-60).
A relação entre indivíduo e sociedade
é determinada pela sua condição de
classe. Há duas classes antagônicas em “As premissas de que partimos não
luta: dos trabalhadores (ou constituem bases arbitrárias, nem
proletariado, que constitui a classe dogmas; são antes bases reais de que
dominada) e dos detentores dos meios só é possível abstrair no âmbito da
de produção (ou burguesia , que imaginação. As nossas premissas são
constitui a classe dominante). os indivíduos reais, a sua ação e as
suas condições materiais de
A classe dominante produz uma existência, quer se trate daquelas que
ideologia dominante (superestrutura – encontrou já elaboradas quando do
justiça, política e cultura) que é falsa, seu aparecimento quer das que ele
reproduzida como interesse de todo o próprio criou. Estas bases são portanto
conjunto da sociedade. A classe verificáveis por vias puramente
dominada (estrutura - economia) empíricas” (Marx & Engels, 1845
produz e reproduz a economia mas [2001], p. 10).
não detém depois os resultados do
que foi socialmente produzido.
“A primeira condição de toda a história
humana é evidentemente a existência Ao produzirem os seus meios de
de seres humanos vivos. O primeiro existência, os homens produzem
estado real que encontramos é então indiretamente a sua própria vida
constituído pela complexidade material. A forma como os homens
corporal desses indivíduos e as produzem esses meios depende em
relações a que ela obriga com o resto primeiro lugar da natureza, isto é, dos
da natureza. [...] Toda a historiografia meios de existência já elaborados e
deve necessariamente partir dessas que lhes é necessário reproduzir [...]. A
bases naturais e da sua modificação forma como os indivíduos manifestam
provocada pelos homens no decurso a sua vida reflete exatamente aquilo
da história. Pode-se referir a que são. O que eles são coincide
consciência, a religião e tudo o que se portanto com a sua produção, isto é,
quiser como distinção entre os tanto com aquilo que produzem como
homens e os animais; porém, esta com a forma como produzem. Aquilo
distinção só começa a existir quando que os indivíduos são depende
os homens iniciam a produção dos portanto das condições materiais da
seus meios de vida, passo em frente sua produção” (Marx, 1845 [2001], p.
que é consequência da sua 10-11).
organização corporal.
Marx procura desvendar as relações de
produção e de reprodução entre os
sujeitos, mediadas pelo modo de
produção econômica que é o
capitalismo.
Essa análise está contida nas tuas
teorias políticas sobre a economia: a
teoria do valor e a teoria da mais-valia.
De acordo com ele, toda mercadoria
tem valor: i) de uso (sua utilidade,
correspondente ao trabalho concreto -
a forma que a força de trabalho
assume); e ii) de troca (quantidade de
trabalho abstrato, socialmente
necessário para a sua produção).
Teoria da mais-valia
O valor criado no processo produtivo (propriedade do capitalista) é superior ao valor da força de
trabalho (como mercadoria). Há portanto, força de trabalho que ao final não é paga na forma salário.
Esse excedente é mais-valia e se transforma em lucro quando sai do nível da produção e vai para o nível
da comercialização.
produzida em um
tempo de trabalho
específico (x) +
forças produtivas
específicas (y) Na esfera da produção, a mais-valia, é A mais-valia pode ser relativa se ela
extraída através da exploração da força de aumenta de maneira indireta, quando o
uma parte do trabalho. O capitalista obtém a mais-valia desenvolvimento das forças produtivas
trabalho é paga através da venda da mercadoria na esfera (por exemplo, aquisição de mais máquinas)
através do salário (z) da circulação, lucrando sobre ela e torna mais barata a mercadoria para o
mas outra parte se reinvestindo outra parte no processo de sustento do trabalho assalariado, tornando
torna trabalho produção. A mais-valia pode ser absoluta assim maior a parte do capital na massa do
excedente e não é quando ela aumenta de maneira direta valor.
paga (tornando-se a através do prolongamento da jornada de
mais-valia). trabalho (x’) ou da redução do salário (-z).
O serviço social crítico a partir do
marxismo
Modelo crítico ou radical
O serviço social crítico aponta a questão de classe como principal dominação e sobre
a qual devemos atuar. Ao realizar essa análise a partir da estrutura económica, essa
perspetiva permite que os assistentes sociais críticos/radicais considerem que a
emancipação humana só pode ser alcançada a partir da superação do capitalismo.
O serviço social crítico constrói uma prática que representa um compromisso com os
setores populares dominados. Toma partido, assim, da classe trabalhadora.
A relação entre assistente social e usuário é caracterizada por ser uma relação
baseada em princípios democráticos de igualdade, equidade, confiança e respeito.
Estudo de caso prático:
Corrigan, Philip & Leonard, Peter (1978). Social work practice under capitalism. A marxist approach. Reino Unido: Palgrave Macmillan.
Freire, Paulo (1968). Pedagogia do oprimido. Alemanha: Verlag Herder.
Gramsci, Antonio (1960). Escritos políticos. Vol. 1. Lisboa: Seara Nova, 1976.
Healy, Karen (2000). Trabajo social: perspectivas contemporáneas. Madrid: Ed. Morata e Fundación Paideia.
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Leonard, Peter (1984). Personality and ideology: towards a materialist understanding of the individual (critical texts in social work and the
welfare state). Canadá: Palgrave.
Referências
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Paulo: Hucitec.
Marx, Karl (1852). O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
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Marx, Karl & Engels, Friedrich (1845). A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2001.
Payne, Malcolm (1995). Teorías contemporáneas del trabajo social. Una introducción crítica. Barcelona: Paidós.
Saffioti, Heleieth Iara Bongiovani (1976). A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Editora Vozes.
Souza, Maria Luiza (1987). Desenvolvimento de comunidade e participação. São Paulo: Cortez Editora.
Viscarret, Juan Jésus (2014). Modelos y métodos de intervención en trabajo social. Madrid: Alianza Editorial.