Você está na página 1de 19

O PENSAMENTO

PÓS- COLONIAL
UMA TEORIA VIAJANTE
• Termo usado para definir um período marcado por
significativas mudanças politicas com a independência de
colônias europeias na Ásia e África – Novas identidades
nacionais e culturais.
• Declínio do Imperialismo Europeu (Francês e Inglês)
• Em termos teóricos evidenciam a importância de conceitos
como identidade, raça e etnicidade. Ênfase nas relações entre
poder e linguagem
• Questionamento do universalismo europeu - Alteridade e
pluralidade
• Adentrou o stablishment para trazer a tona questões marginais
ASPECTOS HISTÓRICOS
• Declínio do Império Europeu no pós-guerra – Novo mapa mundi.
• No século XIX, só a Abissinia (Etiopia) era independente. Ao longo do século XX, 32
países africanos se tornaram independentes
• Movmentos de independencia da India e da Argelia: Questionamento de conceitos
como nacionalidade, identidade e raça
• Conflitos entre Hindus e Muçulmanos – sete mil mortos – assassinato de Ghandi
(1948)
• 1948 – Independencia da India e do paquistão
• Guerra de independencia da Argelia (1954 – 1962): pieds-noir x FLN e o Movimento
Nacional Argelino
• Fanon: A violência como vetor de libertação
• Guerras fraticidas e ditaduras corruptas
• Do Colonialismo ao neocolonialismo – do poder político ao economico
• A libertação da India e da Argelia propiciaram as primeiras reflexões sobre a condição
do individuo pós colonial
PRINCIPAIS AUTORES
FRANTZ FANON
• Frantz Fanon nasceu na Martinica, ex-colônia caribenha francesa, em 20 de julho de 1925. Era
homem e negro. Aos dezoito anos, alistou-se às forças armadas francesas para combater o
nazismo. Foi homenageado por atos de bravura. Terminada a II Guerra Mundial, dirigiu-se a
Lyon, França, onde estudou medicina, filosofia e psiquiatria.

• Na experiência europeia deparou-se com o racismo antinegro francês. Ao mesmo tempo, que
avançava no conhecimento científico, filosófico, e literário, foi aprendendo a lidar com as
asperezas de ser negro e viver no contexto branco hostil. À duras penas teve que tomar
consciência dessa condição concluindo que “[...] o negro não é um homem. [...] O Negro é um
homem negro [...]”. (FANON, 2008, p. 26), explicando “que, devido a uma série de aberrações
afetivas, [o negro] se instalou no seio de um universo de onde será preciso retirá-lo”. (FANON,
2009, p. 26).

• Fato comum entre os negros da Martinica era imaginarem-se franceses. Em 1955 Fanon
publicou o artigo, Antilhanos e Africanos. Informa que na Martinica, ninguém queria saber de
ser negro. Pensavam que negro era àquele nascido na África ou no Senegal, por exemplo.
• Vivendo na metrópole passou pelo doloroso aprendizado que não era nem francês
e nem branco, mas, refletiu seriamente sobre a realidade do negro no mundo
branco e compreendeu: negro é uma invenção. Um rótulo, uma etiqueta, inventada
pelos colonizadores para categorizar os povos africanos de tez escura.

• Os africanos mesmos não sabiam o que era isto. Era a desqualificação


desumanizadora e alienadora. Tirava do homem e da mulher, a condição humana.
Colonizava a pátria deles. Escravizava a população. Tipificava a cultura, os códigos
simbólicos e as crenças.

• Na França as pessoas queriam livrar-se do vínculo com a negrura. Na Martinica,


também. Mas, Fanon, era um dos pretos que acessava o espaço branco do saber
intencionalmente elaborado. Tornava-se homem de ciência e notava como os
amigos usavam de artifícios para justificar a presença de uma pessoa negra nos
ambientes intelectuais.
“Chegue mais, quero lhe apresentar meu colega negro...
Aimé Cèsaire, homem negro, professor da Universidade...
Marian Anderson, a maior cantora negra... Dr. Cobb, o
descobridor dos glóbulos brancos, é um negro... Ei,
cumprimente aqui meu amigo martinicano (mas cuidado,
ele é muito susceptível)... A vergonha. A vergonha e o
desprezo de si. A náusea. Quando me amam, dizem que o
fazem apesar da minha cor. Quando me detestam,
acrescentam que não é pela minha cor. Aqui ou ali, sou
prisioneiro do círculo infernal”.
(FANON, Pele Negra Máscaras Brancas. p. 109).
• Longe da Martinica Fanon viveu doloroso movimento de acolhida da humanidade negra.
Assumiu-se negro. Alcançou consciência negra. Para além de rótulos e estereótipos
compreendeu que era preciso voltar ao humano. Doravante, passou a perseguir um novo
humanismo.

• Ciente da responsabilidade política conduziu intervenção intelectual por meio da práxis


política. Engajou-se nas movimentações pan-africanistas.

• Durante quase três anos desempenhou funções de Médico-Chefe de Serviço onde


desenvolveu prática considerada exemplar e transformadora, sendo apontado como
inovador na técnica de tratamento psiquiátrico, dentre outras contribuições.

• “Durante quase três anos dediquei-me totalmente ao serviço deste país e dos homens que
o habitam. Não poupei nem os meus esforços nem o meu entusiasmo. Nada houve na
minha ação (sic) que não exigisse como horizonte a emergência unanimemente desejada
de um mundo válido”. (FANON, Pele Negra Máscaras Brancas. p. 57)
• Fanon rompeu contrato com o governo francês e comunicou o pedido de
demissão. Desligado do hospital de Blida-Joinvile e expulso da Argélia pelo
governo francês (1957), o casal Fanon e o filho Olivier tiveram breve passagem
por Lyon, em seguida, foi a Túnis e se reuniu com militantes da Frente de
Libertação Nacional - (FLN). A entrega de Fanon aos compromissos
revolucionários foi enaltecida pelos correligionários, por ocasião do precoce
falecimento em consequência da leucemia que padeceu.

• Saído das Antilhas, o jovem Frantz Fanon alcançou a consciência negra e assumiu
postura de negritude. Apropriou-se da ciência, converteu-se à causa da libertação
popular, amou o povo argelino e com ele se comprometeu. Por fim, transcendeu
a circunscrição geográfica e projetou a necessidade de uma África liberta ao
mesmo tempo em que identificou que a libertação seria sustentada somente se
outros princípios fossem erigidos. Por isso, tornou-se intelectual orgânico que
proclamava insistentemente a necessidade de um novo humanismo.
• Ao concluir Pele Negra Máscaras Brancas, Fanon apontava a necessidade de um
novo olhar sobre o humano: “Desperto um belo dia e me atribuo um único
direito: exigir do outro um comportamento humano... Um único dever: o de
nunca, através das minhas opções, renegar minha liberdade.” (FANON, Peles
negras, máscaras brancas. p.189).

• A obra de Fanon articula uma análise psicológica e social do “problema do


homem de cor no mundo branco.” Todo o contexto da obra é um estudo que
esmiúça a devastação que o colonialismo realizou na psiquê das pessoas negras,
durante a diáspora caribenha e repercussões sócio-culturais que disso advieram.

• Linguagem, sexualidade, hierarquia social, literatura, pressupostos da psicanálise,


teorias filosóficas, entre outros, são aspectos que examina para revelar o danoso
legado do colonialismo particularmente sobre pessoas negras da Martinica.
• A última obra escrita por Fanon, Os Condenados Da Terra , apareceu uma década depois
de Pele Negra Máscaras Brancas. Ciente da gravidade da doença e do pouco tempo de
vida que restava, Fanon trabalhou velozmente para concluir Os Condenados Da Terra.

• O livro analisou o processo de colonização e o movimento de descolonização. Colono e


colonizado foram examinados no texto que expõe as estruturas e comportamentos de
ambas as personagens. Militante orgânico na luta de libertação argelina, articulado com
outras lideranças políticas e intelectuais do continente africano, Fanon pensou o processo
de descolonização e reforçou a tese da necessidade de 'um novo humanismo.

• Dirigiu-se a Roma para se encontrar com Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre, deixando
acertado que este, (Sartre), escreveria o prefácio de Os Condenados Da Terra. No prefácio
de Os Condenados Da Terra Sartre contextualiza o sentido da obra do amigo. Recorda que
por longo tempo a Europa foi a voz que enunciava o sentido de ser, do homem colonizado,
dos indígenas.
Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões
de habitantes, isto é, quinhentos milhões de
homens e um bilhão e quinhentos milhões de
indígenas. Os primeiros dispondo Verbo, os
outros pediam-no emprestado. Entre aqueles e
estes, régulos vendidos, feudatários de uma
falsa burguesia pré-fabricada serviam de
intermediários. (SARTRE, Os condenados da
terra, p. 3).
• Fanon, que se serve da linguagem do colono
para anunciar o fim do poderio e a libertação
dos colonizados

• Sartre constatou o desdém colonialista quanto


ao protesto e denúncias dos colonizados,
entretanto a história testemunha que a
enunciação de Fanon transcendeu a dele,
delimitação regional.
EDWARD SAID
• Edward Said nasceu em Jerusalém em 1935 e viveu o mandato britânico na Palestina
ocupada. Aos 12 anos, mudou-se com a família para a cidade do Cairo, no Egito. Seu pai,
cristão palestino, tinha emigrado para os Estados Unidos em 1911. Emigrou de forma
definitiva com sua família para esse país em 1951, após a resolução da ONU de 1947, que
dividia Jerusalém em duas partes: árabe e israelense.

• Aos 28 anos, em 1963, tornou-se professor da Universidade de Columbia - onde, em 1968,


ocorreram grandes protestos em favor da paz e contra a guerra do Vietnã - de literatura
comparada (inglesa e americana) desde a perspectiva dos estudos culturais.

• Vivendo nos EUA, passou a ter consciência das representações e dos diferentes modos de
percepção utilizados pelo colonizador para controlar os povos colonizados. Esta relação entre
o ideal colonizador e o real colonizado mostra uma preocupação com os processos narrativos
de legitimação do sistema de império do colonizador. Na leitura do romance de Conrad, a
imagem das trevas fica associada à imagem revertida do eurocentrismo como luz, projeto
civilizador.
• Nas suas obras Orientalismo (1978), A questão da Palestina (1979) e Cobrindo o Islã
(2007), Said vai desconstruindo o discurso tecido pelos orientalistas europeus e
estadunidenses durante os séculos XVIII e XIX, do imaginário deturpado do Outro.
Assim, o oriental, o árabe e/ou o muçulmano, levou Said a examinar a relação entre
o Ocidente e Oriente: os sistemas colonizadores e as culturas colonizadas.

• Said faz uma crítica contrapontual ao discurso acadêmico colonial eurocêntrico,


que generaliza e estereotipa a imagem de Oriente sob o nome de “orientalismo”,
uma área de estudo que abarca filólogos e historiadores especializados nas línguas
orientais e suas letras desde uma ótica colonialista.

• Said faz uma crítica contrapontual à linguagem exótica horizontal “orientalista” do


romantismo e às descrições naturalistas que continuam vivas hoje nos discursos
lineares essencialistas que promovem choque de civilizações, dividindo o mundo
em blocos com fronteiras religiosas e raciais rígidas.
• Said se revela principalmente na sua consciência crítica do Orientalismo que,
enquanto se apresentava como um conhecimento esclarecido de pensamento
iluminista, tinha ligação direta com as práticas de poder do colonialismo. A
imagem colonialista coloca o Oriente e seus povos como inferiores diante do
colonizador.

• No artigo O orientalismo reconsiderado, Said reafirma sua intenção de


desenvolver uma crítica oposicional, que traz para o campo acadêmico um olhar
diferenciado de vozes marginalizadas. Para ele, o colonizador criou uma
consciência falsa do Oriente, numa tentativa de diferenciação que servia os
interesses do colonialismo.

• Said analisou uma série de discursos literários, políticos e culturais nos quais
encontrou um denominador comum: a representação dos povos não europeus
como bárbaros
• Em Cultura e Imperialismo (1995), Said analisou como os propósitos imperialistas
influenciaram as grandes narrativas literárias inglesas e francesas e ajudaram a
concretizar preconceitos colonialistas defendidos pela política imperialista de
países como a Inglaterra, França e Estados Unidos.

• O intelectual especular cria consciência crítica do imperialismo e sua relação com


os conflitos e os hibridismos. O imperialismo cultural está prestes a apropriar-se de
elementos de culturas periféricas para reutilizá-los a partir das culturas
hegemônicas.

• Imperialismo significa pensar, colonizar, controlar terras que não são nossas, que
estão distantes, que são possuídas e habitadas por outros. Para resistir o
imperialismo, emerge uma luta ideológica que tenta restaurar uma comunidade
estilhaçada.
• Em Reflexões sobre o exílio: e outros ensaios, Said relata diferentes pontos na sua trajetória:
longe de onde nasceu, esse entrelugar lhe possibilita uma crítica ambivalente de diferentes
formas de exílio. Afirma que “nascemos nele, ou ele nos acontece”. Um sofrimento, uma
solidão que surge como resultado da fragmentação incurável do ser humano que se separa
do seu lar. No exílio, toda a narrativa do triunfo que o homem produz serve como uma
maneira de tentar superar este sofrimento.

• O exílio cria uma solidariedade comunitária exagerada e acaba alimentando paradoxalmente


o vínculo afetivo à sua procedência. O exilado começa a recriação do seu ser no novo
entrelugar somente quando consegue reconstruir sua narrativa identitária, não a partir de
supostas “origens” estáveis, mas da descontinuidade que caracteriza o exílio. Nesse sentido, o
exilado desenvolve uma consciência dialogante para recriar uma subjetividade ativa e não
sentir marginalizado.

• Said dialoga com o pensamento filosófico político de António Gramsci, especialmente nas
suas palestras Representação do intelectual, nas quais contextualiza como os intelectuais
representam a si mesmos e como desempenham a sua função.
• À maneira de Michel Foucault (1926- 1983), Said dá ênfase à necessidade de desenvolver uma
linguagem crítica do eurocentrismo como produto do conhecimento positivista do século XIX.

• No artigo “Humanismo e crítica democrática” (2007), Said dialoga com os estudos pós-
estruturalistas de Michel Foucault e insiste que o humanismo democrático precisa desenvolver
uma crítica oposicional do eurocentrismo na ordem e na genealogia do discurso epistemológico
no século XIX.

• Para Said, o humanismo crítico se realiza no autoconhecimento acompanhado pela autocrítica.


Para o crítico palestino, o humanismo democrático não parte de uma verdade única que
elimina diferentes formas de pensar, mas da diversidade entre as culturas, o que não cria
conflitos entre as verdades essencializadas diante da crescente complexidade do mundo.

• Na visão do Said, as culturas podem coexistir não em base de uma essência, mas na forma de
um dialogo que procura entender a diversidade humana

Você também pode gostar