Você está na página 1de 92

Parnasianismo

O que foi
• O Parnasianismo foi um movimento literário que
surgiu na França, na metade do século XIX e se
desenvolveu na literatura europeia, chegando ao
Brasil. Essa escola literária foi uma oposição ao
Romantismo, pois representou a valorização da
ciência e do positivismo.

• O nome “Parnasianismo” surgiu na França e deriva do


termo "Parnaso" que, na mitologia grega, era o monte
do deus Apolo e das musas da poesia. Na França, os
poetas parnasianos que mais se destacaram foram:
Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de
Banville e José Maria de Heredia.
PORTUGUÊS, 2º ANO
PARNASIANISMO

O Parnasianismo é uma Escola da


Literatura Brasileira ou um Movimento Literário
essencialmente poético, contemporâneo ao
Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que
se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na
França, e que chegou ao Brasil a partir de 1880
aproximadamente, convivendo com movimentos
do século XX.
O vocábulo Parnaso está relacionado à
figura mitológica que dá nome a uma montanha
na Grécia, onde, segundo a lenda, moravam
musas e o deus Apolo e era frequentemente
visitada pelos poetas em busca de inspiração.
PORTUGUÊS, 2º ANO
PARNASIANISMO
Origens
 Surgiu na França em 1896, com a publicação da revista
Le Parnasse Contemporain (que também deu origem ao
nome da Escola), e nela se destacavam poetas como
Baudelaire e Théophile Gautier.
 Em Portugal, esta corrente só começou a ser sentida
na segunda metade do séc. XIX e nunca chegou a ser
assumida de verdade.
 As ideias novas chegaram ao nosso país tardiamente. O
Parnasianismo foi colidindo com o Realismo, com o
Simbolismo, tendo como aspecto comum a todos eles a
renúncia ao sentimentalismo e ao egocentrismo
românticos.
Manifestações em Portugal
 Eça de Queirós e Antero de Quental chamavam
a atenção, nesta altura, para o papel
intervencionista do escritor, com a função de
interagir na cultura e no pensamento da
população, como uma missão social que lhe é
atribuída.

 Como parnasianos genuínos, temos a


considerar João Penha (1838 - 1919) que fez
coexistir a observação do real cotidiano com o
rigor rimático e que, como diretor da revista “A
Folha”, reuniu, em Coimbra, alguns escritores,
quer parnasianos, quer realistas, que formaram
o primeiro grupo de parnasianos, tais como:
Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Antero de
Quental, Teófilo Braga, entre outros.

Imagem: CIA World Factbook / domínio público


Contextualizando na Europa
Consolida-se a Segunda Revolução
Industrial, período em que ocorre a formação de
conglomerados empresariais e a aliança entre as
indústrias e a ciência. Há um enorme processo de
urbanização e dos serviços públicos. Há, ainda,
um deslocamento da produção manual para a
mecânica que avança, aumentando o número de
operários.
Acirram-se as lutas de classes entre
patrões e trabalhadores, amplia-se a participação
Imagem: Eduarda7 / Creative Commons dos Sindicatos e dos Partidos Políticos nas
Attribution-Share Alike 3.0 Unported
relações sociais.
Uma parcela da burguesia busca mais
conforto material e incentiva a Ciência a novas
descobertas na área da tecnologia, como o
telefone, o cinema e a eletricidade. O
encantamento faz nascer a “Bele Époque”, e a “Art
Nouveau”.
Contexto histórico
• O Parnasianismo foi considerado, por alguns
autores, a poesia Realista. O contexto
histórico em que se desenvolve é o mesmo
do Realismo. (Segunda metade do século
XIX).
• França, Alemanha e Inglaterra eram os
grandes centros culturais e econômicos do
mundo.
• Nesse período há uma constante busca pelo
luxo: a belle époque europeia.
O Parnasianismo nos diferentes
campos das artes
• Música – destaca-se Richard Wagner (Tristão e
Isolda).
• Artes plásticas – Gustave Courbet.
• Acontece a “Exposição Universal” em Paris.
Nesse encontro, várias nações estiveram
reunidas para demonstrar a tecnologia que
possuíam. A Europa queria mostrar-se superior
aos outros continentes. A famosa “torre Eiffel” foi
construída para esse evento. A exposição era
uma demonstração do poder intelectual de
construir um monumento capaz de ser atemporal
além de ser uma grande obra de engenharia.
TORRE EIFFEL - Paris – França - Após um
concurso da construção de uma torre, para
comemorar o Centenário da Revolução Francesa,
em 1889, o engenheiro Gustave Eiffel, que
também era um construtor de pontes, foi
escolhido.
A torre que Gustave Eiffel construiu, tinha 300
metros de altura, apoiada em quatro pés. A tal
Torre foi construída em estrutura metálica na
base de rebites, tinha um peso no início de 7 700
toneladas de ferro, e hoje tem mais de 10 000 t.
devido o aumento do peso por conta do
acréscimo de um restaurante e de um museu.
A Torre Eiffel foi construída no centro de Paris no
campo de Marte. O governo francês queria
desmontá-la após o final de uma feira de
exposição.
O Parnasianismo no Brasil
• 1882 – Obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias
inaugura o movimento. (Pouca relevância
– questão cronológica).
• Essa obra e muitas outras dos escritores
parnasianos serão inspiradas em uma
coletânea francesa chamada “Parnasse
Contemporain” – mostrando um desejo de
imitação, por parte dos escritores
brasileiros da poesia francesa.
• O desejo de imitação dos poetas brasileiros
não era restrito à poesia. Os escritores de
nosso país queriam imitar a vida de luxo
francesa – o que no Brasil foi um falso luxo.
• Os escritores parnasianos fecham os olhos
para os problemas brasileiros e tentam
construir uma vida de requinte que, na
verdade, não existia.
• Foi uma tentativa de criar uma “belle époque”
no Brasil, esquecendo-se do mundo em que
se vive e criando uma poesia que ficou fora
da realidade.
Características do
Parnasianismo
• 1 – Arte pela arte
• Busca do culto à forma. Conteúdo não
tem tanta importância. A maioria dos
poemas parnasianos ocupam-se de
descrições (de objetos; do corpo da
mulher e até de um muro). A arte tem um
fim em si mesma. Não há preocupação
externa.
• 2 – Esteticismo
• Principais técnicas aplicadas nos poemas
parnasianos:
• A) Rima rica – Rimar palavras de diferentes
classes gramaticais.
• B) Métrica perfeita – A maioria dos poemas
parnasianos era escrita em versos decassílabos
(10 sílabas poéticas) ou em versos alexandrinos
(12 sílabas poéticas)
• C) Uso do soneto com chave de ouro – Poema
escrito em dois quartetos e dois tercetos
contendo um último verso (chave de ouro) que
encerra perfeitamente o significado geral do
poema.
• 3 – Racionalismo
• Assim como no Realismo, buscava-se a
objetividade, a impassibilidade e a
imparcialidade na escrita.
• 4 – Cultura greco-latina
• Mitologia + harmonia e
• equilíbrio.
• 5 – Universalismo
• O poeta parnasiano busca
• valores estéticos e morais que alcancem o
eterno e o absoluto. Visa criar uma obra de
caráter atemporal.
• 6 – Desvinculação da crítica social
• Poesia liberta de finalidade utilitária.
Fecha os olhos para o mundo e busca a
forma perfeita.
Autores e obras
• Alberto Oliveira
• O mais ortodoxo dos poetas
• parnasianos. Poesias voltadas
• à descrição de objetos (obras de arte, natureza,
figura feminina).
• Pouca variabilidade temática. Destacam-se os
poemas “O muro”, “Vaso chinês”, “Vaso grego”.
• Perfeccionismo na forma.
• Raimundo Correia

» Filosofa acerca dos seus conflitos e


desilusões. Postura pessimista diante
da existência.
» Principais poemas “Mal secreto”; “As
pombas” – metáfora dos sonhos
humanos.
» Poeta da melancolia meditativa.
• Olavo Bilac
• Joga o sentimento na poesia
• parnasiana.
• Amor platônico ou espiritual X
• amor sensual.
• Poesias eróticas (mulheres nuas). “Via
láctea” – só quem ama tem a possibilida
• de de falar com as estrelas.
• “LÍNGUA PORTUGUESA” – Olavo Bilac

• Última flor do Lácio, inculta e bela, Vocabulário:


• És, a um tempo, esplendor e sepultura: Lácio - Lácio é uma região
• Ouro nativo, que na ganga impura na Itália central onde se
• A bruta mina entre os cascalhos vela… falava Latim
Ganga – Impureza contida
nos minérios
• Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Canglor – Som estridente
• Tuba de alto clangor, lira singela,
de trombetas
• Que tens o trom e o silvo da procela
Trom - Som de canhão
• E o arrolo da saudade e da ternura!
Procela – Tormenta no mar,
tempestade
• Amo o teu viço agreste e o teu aroma Arrolo – Canto de
• De virgens selvas e de oceano largo! adormecer crianças
• Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Viço – Força e exuberância
vegetativa
• Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
• E em que Camões chorou, no exílio
amargo,
• O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Estrutura do poema
• O poema está estruturado em quatorze versos decassílabos,
também chamados de Heroicos, com dez sílabas métricas cada
um. Possui quatro estrofes , agrupadas em dois quartetos (quatro
versos) e dois tercetos (três versos), podendo portanto, ser
classificado como um Soneto, que é marcado por essa forma fixa
(Dois quartetos e dois tercetos com versos decassílabos e de
conteúdo lírico)

• As rimas do poema são interpoladas ou opostas, do tipo ABBA. São


perfeitas ou soantes quanto à coincidência sonora, pois há
correspondência completa de sons, como no caso: BELA/VELA;
SEPULTURA/IMPURA.

• Quanto à Morfologia, há a ocorrência de rimas ricas, pois a maioria


pertence a classes gramaticais diferentes, como em: bela (adjetivo),
vela (verbo), sepultura (substantivo), impura (adjetivo).
• autor, Olavo Bilac, foi personagem marcante na
vida política do país, um verdadeiro nacionalista
comprometido com a luta por uma identidade
nacional. Por isso é possível afirmar que ao
discorrer sobre a Língua Portuguesa, o poema
será um hino de enaltecimento à Língua Pátria.

• Somando-se a isso o contexto histórico em que o


poema foi escrito, marcado por grandes
conquistas políticas, como a mudança de regime
do Imperialismo para a República, é coerente
perceber que os versos trazem a marca dessa
afirmação cívica, em que a Língua representa,
segundo o autor, a maior prova de cidadania.
• No campo semântico, é possível notar logo no primeiro verso a
comparação que o autor faz da língua com uma flor. “Última flor do
Lácio, inculta e bela”. Historicamente a língua portuguesa foi a
última a ser formada do Latim Vulgar, falado na região do Lácio, na
Itália. Para isso, o autor se utilizou da Metáfora como figura de
linguagem. Língua é igual a flor.

• Outro recurso de linguagem utilizado pelo autor é o paradoxo, que


consiste em uma declaração aparentemente verdadeira que leva a
uma contradição lógica, como no verso: “És a um tempo , esplendor
e sepultura”. Esse recurso permite ao autor relacionar o esplendor
de uma língua que estava nascendo com uma outra que vai
morrendo, no caso, o Latim, que com a ascensão da nova língua,
vai entrando em desuso.

• O poeta exalta a língua, mesmo com o fato de ainda não estar bem
elaborada como as outras que anteriormente também derivaram do
Latim. Isso é percebido nos seguintes versos: “ Ouro nativo que na
ganga impura/ a bruta mina entre os cascalhos vela”, ou seja,
mesmo ainda com impurezas, existe uma mina preciosa que espera
para ser lapidada.
• O poema segue enaltecendo a beleza da língua, comparando-a com
canções, orações, sons de instrumentos musicais. Para isso, o autor faz
uso da sinestesia, que é um recurso de linguagem em que se estabelece
uma relação de planos sensoriais diferentes, como em: clangor (som),
aroma (olfato) , oceano largo (visão). Além disso a menção das florestas
brasileiras são uma menção também ao idioma recém criado, como as
selvas ainda não exploradas pelo homem branco. Ao citar os oceanos,
percebe-se também uma referência à forma como a língua chegou ao
Brasil, por meio das caravelas.

• Certamente a forma em que o autor deixa mais claro seu amor pela língua
é quando faz uso do vocativo repetidas vezes: “Amo-te, ó rude e doloroso
idioma” Rude, pois ainda precisava ser aprimorado e doloroso pois não
seria tarefa fácil implantá-lo em solo brasileiro, pois implicaria antes de
tudo, na destruição de outras culturas, como aconteceu com o Latim.

• O último terceto, o autor finaliza enfatizando as sensações que a língua


pode trazer. Tanto na doce voz de uma mãe que chama por seu filho, como
no choro daqueles que sentem a tristeza de não poder estar na pátria
amada, como no caso de Camões, citado pelo autor, que exilado escreveu
“Os Lusíadas”, uma epopeia escrita em Português, contando os feitos
grandiosos de Portugal durantes as grandes conquistas no mar.
Contextualizando no Brasil
No Brasil , a segunda metade do século XIX
é marcada pela Abolição da Escravatura, em
1888, e pela Proclamação da República, em 1889.
Observa-se crescimento econômico pela
produção do café, intensificação do poder político
na região Sudeste e célere desenvolvimento da
urbanização.
Abertura ao crescimento da Aristocracia, ao
culto ao luxo e ao requinte, tornando os
cafeicultores os maiores consumidores de
produtos de arte do período, transformando-os em
objetos raros e preciosos.
Nesse formato, a Poesia Parnasiana e sua
Imagem: CIA World Factbook / domínio público
proposta preciosista se ajustam facilmente e dão
margem à reflexão sobre uma Instituição que
organize a expressão artística. Em 1897, cria-se a
Academia Brasileira de Letras, fundada pela elite
dos escritores da época.
PORTUGUÊS, 2º ANO
PARNASIANISMO
Parnasianismo

O Parnasianismo é a manifestação poética da época


do Realismo, embora ideologicamente se distancie da
prosa dos realistas e naturalistas. É a estética da “arte
pela arte”, ou da “arte sobre a arte”, que mantém seus
poetas à margem das grandes transformações do final do
século XIX e início do XX. A nova estética se manifesta a
partir do final da década de 1870, prolongando-se até a
Semana de Arte Moderna (em alguns casos chegou
mesmo a ultrapassar o ano de 1922, isso sem considerar o
Neoparnasianismo). .
A poética parnasiana, numa postura anti-romântica,
baseava-se no binômio objetividade temática / culto da
forma. A objetividade temática surge como negação ao
sentimentalismo romântico, numa tentativa de atingir a
impassibilidade e a impessoalidade. Opunha ao
subjetivismo decadente o universalismo – daí resultar uma
poesia carregada de descrições objetivas e impessoais.
Retoma-se a Antiguidade Clássica e seu racionalismo e
formas perfeitas. Surge a poesia de meditação, filosófica,
mas artificial. .
O traço mais característico da poética parnasiana é o
culto da forma: a forma fixa dos sonetos, a métrica dos
versos alexandrinos (12 sílabas poéticas) e decassílabos
perfeitos, a rima rica, rara e perfeita.
Os escritores desse período defendiam a ideia da
arte literária como ofício, procurando objetivar a
experiência íntima num plano mais universalista, para
que a técnica não sucumbisse ao sentimentalismo
excessivo dos românticos. Fiéis a esse ideário, os
parnasianos procuraram – pela última vez de maneira
tão intencional na História da Literatura – os ideais
clássicos de beleza, antropocentrismo, equilíbrio,
harmonia, materialismo, objetividade e contenção
emocional, com a finalidade de atingir o universalismo
platônico, ou seja, de que uma verdade é tanto mais
verdadeira quanto mais pessoas acreditarem nela.

(Literatura sem segredos, volume 7, Clenir Bellezi de


Oliveira, Escala Educacional, São Paulo, 2007 – 1ª
edição)
Arte pela arte
Preferência pelo soneto
clássico
Métrica regular
Metrificar ou escandir um verso
é fazer sua divisão fonológica,
ou seja, pelo som. Observe:
Texto I
Canção do Exílio (fragmento)

Mi nha te rra tem pal mei (ras)

on de can tao sa bi á
as a ves quea qui gor jei (am)

não gor jei am co mo lá

Gonçalves Dias
Para fazer a escansão de um poema, basta
utilizarmos dois procedimentos: :

1. Contar somente até a última sílaba tônica;


;
2. Unir as vogais (quando uma palavra
termina por vogal (ou é uma vogal) e a
palavra seguinte inicia-se – ou é – uma
vogal).
Medidas mais conhecidas

5 sílabas – redondilha menor medidas


7 sílabas – redondilha maior } populares
10 sílabas – decassílabo (heróico)
12 sílabas – dodecassílabo (alexandrino)
13 ou mais – bárbaro

Obs.: Versos livres são aqueles que não


possuem metrificação regular
Note que a metrificação é
utilizada ainda hoje, a fim de
garantir o ritmo de músicas
contemporâneas e populares.
Seu Jorge
Burguesinha
Texto II
Burguesinha

Vai no cabeleireiro
No esteticista
Malha o dia inteiro
Pinta de artista
Saca dinheiro
Vai de motorista
Com seu carro esporte
Vai zoar na pista
Final de semana
Na casa de praia
Só gastando grana
Na maior gandaia
Vai pra balada
Dança bate estaca
Com a sua tribo
Até de madrugada
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha...
Só no filé
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha...
Tem o que quer
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha...
Do croissant
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha...
Suquinho de maçã

Seu Jorge
Chico Buarque
Construção
Texto III
Construção

Amou daquela vez como se fosse a última


Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Chico Buarque
Vocabulário culto
Referência à Antiguidade
clássica e à mitologia grega
Enjambement
ou
Cavalgamento
Analogias do ato de escrever a
outras formas de arte
Metalinguagem
Inversões sintáticas
Descritivismo
Contenção emocional
Afastamento de questões
políticas, sociais, religiosas,...
Principais autores

Olavo Bilac
Alberto de Oliveira
Raimundo Correia
 Nasceu no Rio de Janeiro, em 1865.
 Bilac foi um poeta brilhante. Aliou uma
destreza técnica de perito à sutileza de espírito,
ao olhar lírico dos grandes poetas. Apesar de ter
escrito poemas absolutamente parnasianos, na
maior parte de sua produção o que se vê é o rigor
formal aliado a uma sensibilidade quase em
tudo romântica. Em muitos momentos, ele
questiona a eficiência da palavra para expressar
os estados da alma.
 Morreu em 1918.

 Olavo Bilac foi um dos mais louvados poetas de seu tempo, e ainda hoje tem
prestígio. Foi um artífice da palavra, sabendo conjugar o rigor formal
parnasiano com grande expressividade, obtendo efeitos imagéticos e ritmos
interessantes, depositando no último terceto de seus sonetos a síntese de
suas ideias, a chamada “chave de ouro”.
Seus temas mais frequentes são:
Amor sensual: vazado em um erotismo que oscila entre o
explícito e o requintando; essa sensualidade não vulgariza o amor,
que sempre aparece como sentimento nobre e transcendente.
O nacionalismo: em que o autor revela seu conservadorismo;
episódios da história do Brasil e suas personagens são frequentes
nessas poesias.
A mitologia greco-latina: assiduamente abordada pelo poeta.
A metalinguagem: eleição da própria poesia como tema poético,
está entre as preferências de Bilac.
O índio: aparece em sua obra como um eco romântico tardio.
Um certo decadentismo da vida e das coisas é também uma
das tônicas de sua poesia.
 Nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 1857.
 Em seu primeiro livro, Canções Românticas, a influência do
Romantismo é nítida, mas, apesar disso, nota-se que ele prioriza o
rigor formal e já apresenta certa contenção emocional; a partir de
Meridionais, abraça o ideário parnasiano ao qual se manteria fiel, e
há algumas notas simbolistas em suas obras finais. Isso não
impediu que ele fosse tido pela crítica como o mais radical dos
nossos parnasianos.
 Morreu em Niterói, em 1937.
 Nasceu no Maranhão (baía de Mongúcia), em 1860.
 Seu livro de estreia, Primeiros Sonhos, traz poemas sentimentais, ainda
sob influência romântica. A partir do segundo, Sinfonias, Raimundo Correia
rendeu-se aos ideais da estética parnasiana, tornando-se um de seus
melhores representantes em língua portuguesa, não apenas pelo apurado
requinte formal, mas também pela profundidade com que desenvolveu seus
temas.
 Soube driblar a impessoalidade proposta pelo
Parnasianismo e atingir o universalismo,
desenvolvendo temas sociais e, sobretudo,
filosóficos: a busca de uma verdade essencial e
imorredoura, os conflitos da condição humana,
etc. Seus poemas têm uma suavidade e uma
melancolia acalentadas pela influência de
Schopenhauer, pensador alemão que acreditava que
a arte é a sublimação da dor, e o sofrimento é
inerente à condição humana.
 Morreu em Paris, em 1911, de problemas renais.
 
Texto IV
Profissão de fé (fragmento)

Invejo o ourives quando escrevo:


Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Torce, aprimora, alteia, lima


A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,


Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever - tanta perícia,


Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena


Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Olavo
Bilac
Texto V
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que a forma se disfarce o emprego


Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício.

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,


Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Olavo
Bilac
Texto VI
Via Láctea - Soneto XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac
Texto VII
Oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verso antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Carlos Drummond de
Andrade
Texto VIII
Soneto
Penicilina puma de casapopéias
Que vais peniça cataramascuma
Se partes carmo tu que esperepéias
Já crima volta pinda cataruma.

Estando instinto catalomascoso


Sem ter mavorte fide lastimina
És todavia piso de horroroso
E eu reclamo – Pina! Pina! Pina!
Casa por fim, morre peridimaco
Martume ezola, ezole martumar
Que tua para enfim é mesmo um taco.

E se rabela capa de casar


Estrumenente siba postguerra
Enfim irá, enfim irá pra serra.

Millôr
Fernandes
Momento Musical
Rosa -
Pixinguinha
Texto VIII
Tu és Rosa
Divina e graciosa
Tu és
Estatua majestosa A forma ideal
Do amor Estatua magistral
Por Deus esculturada Oh! Alma perenal
E formada com o ardor Do meu primeiro amor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Sublime amor
Que na vida Tu és
É preferida pelo beija-flor De Deus a soberana flor
Se Deus Tu és
Me fora tão clemente De Deus a criação
Aqui neste ambiente
De luz Que em todo coração
Formada numa tela Sepultas o amor
Deslumbrante e bela O riso, a fé e a dor
O teu coração Em sândalos olentes
Junto ao meu, lanceado, pregado Cheios de sabor
E crucificado
Sobre a rósea cruz Em vozes tão dolentes
Do arfante peito teu Como um sonho em flor
És
Láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
E todo resplendor
Da santa natureza
Perdão
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh! Flor
Meu peito não resiste
Oh! Meu Deus quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te um dia ao
Pé do altar
Jurar
Aos pés do onipotente
Em preces comoventes
De dor
E receber a unção
De tua gratidão
Depois, de remir, meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de te envolver
Até meu padecer
De todo o fenecer

Você também pode gostar