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Enfermaria Dr.

Garcia de Oliveira

Queimaduras

Ricardo Fonseca
Covilhã, 2014
Parte 1
Resumo Anátomo-Fisiológico
Nota Introdutória

1- Anatomia e Fisiologia da Pele

2-Dinâmica Capilar e dos fluidos


As queimaduras são lesões relativamente frequentes, acontecendo em qualquer
idade e sob diversas circunstâncias;

A maior parte delas são de pequenas dimensões, mas podem acarretar tal
gravidade que põem em risco a vida da pessoa que sofre a queimadura;

“ O seu tratamento deve ser correcto e o mais precoce possível, pois dele
depende não só o resultado funcional e estético como a sobrevida imediata”
(Manual VMER, 1999)
As queimaduras graves não devem ser encaradas como lesões cutâneas, mas
como trauma sistémico, que produzem grande desequilíbrio hidroeletrolítico e
hemodinâmico. Além disso, podem estar associadas a lesões em outros
sistemas, como os traumas abdominais fechados, os traumas de extremidades,
lesões inalatórias, etc. (Palhares, A; 2009)

Para além das consequências físicas, muitas vezes incapacitantes e debilitantes,


apresentam consequências psicológicas, sociais, relacionais e económicas.
1- Anatomia e Fisiologia da
Pele
Anatomia/Fisiologia da Pele

Reveste e delimita o organismo; Maior órgão do corpo humano; Pode ocupar


cerca de 15% do peso corporal (Curi, M., 2009). Contribui para a aparência e
identidade pessoal

Estruturas componentes:
Hipoderme (estrutura de suporte) :
-Localiza-se sob a derme; constituída por tecido conjuntivo laxo, contendo fibras
de colagénio e elastina;
-Responsável pela fixação da pele às estruturas subjacentes; local de
armazenamento de gordura;
- A hipoderme constitui-se como o maior reservatório energético do corpo
-Também designada por tecido celular subcutaneo ou fáscia superficial

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Estruturas componentes:
Pele
Derme
-formada por um tecido conjuntivo denso, irregular e com poucas células
adiposas. (Seeley, R. 1997); Contém vasos sanguíneos, terminações nervosas,
glândulas sudoríparas e sebáceas, vasos linfáticos e folículos pilosos
(TNCC,2006)
-divide-se em três camadas:
-derme reticular (ou profunda), que é a principal camada fibrosa, constituída
maioritariamente por feixes de colagénio grossos.
- derme papilar, que se apresenta bastante irrigada com capilares e feixes
de colagénio finos
- derme adventicial- dispõe-se em volta dos folículos pilossebáceos,
glândulas e vasos; é composta por feixes finos de colagénio.

Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele

Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele

Estruturas componentes:
Pele
Epiderme
-composta por epitélio de descamação estritificado, dividido em 5 camadas:
basal- composta por ceratinócitos, produzem as células das camadas mais
superficiais
espinhosa- composta por vários conjuntos de células agrupadas por
desmossomas; a camada basal e a espinhosa denominam-se, por vezes, por
estrato germinativo
granulosa- constituída por células repletas de grânulos de ceratina; camada
onde ocorre a morte das células.
translúcida- composta por células mortas transparentes.
córnea- constituída por inúmeras camadas de células de descamação
mortas; as células mais superficiais descamam.

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele

http://www.infoescola.com/anatomia-humana/epiderme/
Anatomia/Fisiologia da Pele

Estruturas componentes:
Pele
Epiderme
As células ceratinizadas possuem um invólucro proteico e estão repletas de
ceratina, o que confere a força estrutural;

Os espaços intercelulares encontram-se preenchidos com lípidos, contribuindo


para a impermeabilidade da epiderme em relação à água

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Estruturas componentes:
Pele

A cor da pele é determinada atraves da produção de melanina pelos


melanócitos, dentro dos melanossomas. O tamanho e distribuição dos
melanossomas determina a cor da pele.

A produção de melanina é determinada geneticamente, mas pode sofrer


influência hormonal ou através de radiação ultravioleta

O aumento do fluxo sanguíneo produz uma cor avermelhada na pele, a


diminuição do mesmo torna a pele pálida; se houver diminuição do aporte de
O2, a pele torna-se cianótica

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Estruturas componentes:
Pele espessa vs pele fina

Referem-se apenas à espessura da epiderme, não à espessura total da pele

A pele espessa possui as 5 camadas epiteliais; a derme sobre a pele espessa


produz impressões digitais ( palmas das mãos, plantas dos pés e ponta dos
dedos

A pele fina possui menos células por camada, e geralmente não apresenta
camada translúcida. Os pelos encontram-se neste tipo de pele.

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele
Protecção
- Barreira física que impede a entrada de microrganismos e corpos estranhos
para o organismo;
- Barreira de permeabilidade (especialmente a nível da prevenção de perda de
água)
- Protecção contra a abrasão
- Camada córnea da epiderme com pH 5,4-5,6 e manto lípídico com actividade
anti-bacteriana (Curi,M. 2009)
- Absorve parcialmente radiações UV e ionizantes
- Actividade imunológica, mediada pelas células de Langherhans, macrófagos e
mastócitos (Curi, M. 2009)

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele

Regulação da temperatura

- Através da dilatação das arteríolas da derme, flui mais sangue através da pele,
transferindo o calor dos tecidos mais profundos para a pele; O suor é
produzido como resposta ao excesso de calor produzido no corpo, e, à medida
que se evapora, o corpo perde calor;

- A vasoconstrição dos vasos sanguíneos, reduzem o fluxo de sangue para a


pele, diminuindo a temperatura da mesma. Caso a temperatura diminua abaixo
de 15º C, há vasodilatação, para ajudar a evitar danos teciduais causados pelo
frio

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele
Metabolização
Produção de Vitamina D
-Sintetizada quando a molécula 7-de-hidrocolesterol é exposta a radiação UV e
se converte em colecalciferol; esta substância é libertada na corrente sanguínea,
modificada por hidroxilação no fígado e nos rins, formando a vitamina D activa
(calciferol)
- A vitamina D estimula o consumo de cálcio e fosfato dos intestinos,
promovendo a sua libertação nos ossos e reduzindo a perda de cálcio a nível
renal, aumentando os níveis séricos destas substâncias, essenciais ao
metabolismo normal dos ossos, nervos e músculos.
- Metabolização de hormonas, como testosterona, progesterona, estrogénio e
glicocorticóides. (Curi, M. 2009)

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele

Sensação

- Presença de receptores sensoriais, como os receptores do tacto na epiderme,


as papilas na derme, receptores de dor, calor, frio e pressão na derme e em
tecidos mais profundos;

- Permitem uma resposta adequada ao meio; as sensações são conduzidas até


ao córtex cerebral através de fibras nervosas sensitivas.

Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele

Secreção

- Secreção das glândulas sebáceas forma manto lipídico antibacteriano,


emulsifica substâncias e forma barreira protectora;

- Secreção de ceratina, melanina e suor

Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele

Funções da pele

Excreção

-A pele remove pequenas quantidade de produtos, tais como ureia, ácido úrico e
amónia; comparativamente a outros órgãos de excreção, a quantidade eliminada
destes produtos através do suor é pouco significativa.
- Perda de água e sais minerais. Podem ser perdidas grandes quantidades
destes compostos, especialmente durante exercício físico intenso ou em
ambientes quentes. Estas perdas devem ser compensadas para manutenção da
homeostasia de fluidos e electrólitos.

Seeley, R. et al 1997
2-Dinâmica capilar e dos
fluidos
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Fluidos corporais. Formados por água, electrólitos, proteínas e substâncias de


compartimentos intra e extra-celulares.

O tamanho de todas as células é controlado pelo movimento dos fluidos entre os


compartimentos

A pressão gerada pelo movimento da água entre estes compartimentos designa-


se Pressão Osmótica; a actividade osmótica resultante é devido ao número de
partículas não difundíveis ( e não por causa do seu tamanho).
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

4 forças contribuem para o movimento do fluido através da membrana semi-


permeável:

Pressão hidrostática ou capilar- Força os fluidos a sair dos capilares na


terminação arterial;

Pressão osmótica de plasma colóide- puxa os fluidos para dentro do capilar na


terminação venosa; As proteínas, que são as únicas partículas dissolvidas no
plasma que não passam nos poros das membranas semi-permeáveis, são as
responsáveis por gerar esta pressão;

TNCC, 2006
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Cont.

Pressão de fluido intersticial livre- pode ser negativa (ligeiramente menor que a
pressão atmosférica) ou positiva; se negativa, retira os fluidos para fora do
capilar; se positiva força-os a entrar no capilar.

Pressão osmótica do fluido interticial- puxa o fluido para fora do capilar

Qualquer alteração que provoque perda da integridade da membrana capilar,


leva a redução na pressão osmótica e à perda de água intracapilar para o
interstício

TNCC, 2006
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Edema
- Acumulação anormal de líquidos no espaço intersticial ou em qualquer parte
do organismo ( Rocha, P. 2009).
- Pode ser secundária a traumatismo, pela libertação de histamina, que aumenta
a permeabilidade capilar;
- Pode ser causado pelo desequilíbrio no movimento de água para dentro ou
para fora dos capilares, entre a filtração e a osmose. Filtração excessiva pode
ser causada por coágulos ou insuficiência cardíaca congestiva.
- Pode ser causado por aumento da permeabilidade capilar, com perda de
plasma para o espaço intersticial, secundária a infecção bacteriana
(septicémia)
- Osmose insuficiente, provocando entrada de fluidos celulares para os
capilares, por défice de proteínas plasmáticas, especialmente albumina
(patologia hepática, renal, queimaduras, malnutrição)

Scanlon, V et al; 2007


Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Scanlon,V et al. 2007


Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Scanlon,V et al. 2007


Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos

Rocha, P. 2009
Parte 2
Classificação de Queimaduras
1- Definição de queimaduras
2- Dados epidemiológicos
3- Etiologia das queimaduras
4- Classificação das queimaduras (profundidade)
5- Cálculo da superfície corporal queimada
6- Classificação das queimaduras (severidade)
1-Definição das queimaduras
Queimaduras

Definição

“…um tipo de Ferida Traumática com as seguintes características específicas: rotura e


perda da camada exterior do tecido da superfície do corpo ou camadas mais profundas,
devida a lesões pelo calor resultantes de exposição a agentes térmicos, químicos,
eléctricos ou radioactivos; caracterizada por coagulação das proteínas das células,
aumento do metabolismo, perda da reserva de nutrientes nos músculos e no tecido
adiposo, perda de proteínas e compostos azotados; provoca grande dor, desconforto e
stress, com risco de choque e com risco de vida; necrose dos tecidos, infecção da ferida,
contracturas, escara hipotrófica com rigidez por espessamento, em que o doente fica
muito desfigurado. Os estádios são graduados de acordo com a gravidade, desde a
lesão superficial com a pele afectada e vermelha e dor na ferida devido à afecção das
terminações nervosas superficiais (queimadura de 1º grau) a profunda lesão do tecido,
pele vermelha ou branca com bolhas ou vesículas e dor na ferida (queimadura de 2º
grau) e, finalmente, à destruição do tecido com pele castanha, branca ou preta, perda de
sensação e de dor devido a lesões dos nervos (queimadura de 3º grau)”.

Conselho Internacional de Enfermeiros, 2001


Queimaduras

Definição
“São lesões coagulativas envolvendo diversas camadas do corpo , causadas
pelos vários tipos de agentes agressores”
Almeida,L; Júnior, C; 2005

“Pode ser definido como uma lesão dos tecidos orgânicos em decorrência de um
trauma de origem térmica. Podendo variar de uma simples flictena na pele, até
grave agressão, capaz de desencadear um grande número de respostas
sistémicas proporcionais à extensão e a profundidade dessas lesões”
Gomes; 2006 cit. P Ramos, F; 2007
Queimaduras

Definição

“Queimaduras são lesões dos tecidos orgânicos em decorrência de trauma de


origem térmica resultante da exposição ou contacto com chamas, líquidos
quentes, superfícies quentes, electricidade, frio, substâncias químicas, radiação,
atrito ou fricção”

Piccolo, N. et al; 2008


2-Dados epidemiológicos
Queimaduras

Breves dados epidemiológicos


- 5º Lugar em mortes acidentais (incêndios, inalação de substancias tóxicas)
(TNCC, 2006)
- Das causas de mortalidade por queimaduras por fogo, 75% relaciona-se com
inalação de fumo
- 75% da causa de óbito por queimaduras está relacionada com sépsis.
- Cerca de 2/3 das lesões são causadas em ambiente doméstico
- Lesões térmicas mais frequentes nas idades extremas de vida (<5 anos e >
65 anos)
- Acarretam grandes custos, quer pela hospitalização, quer pela perda de anos
de produtividade; lesões com alta morbilidade, mortalidade e taxa de sequelas
definitivas
- Em idosos, grande parte das queimaduras relacionam-se com fumadores,
aquecedores, lareiras e fogões
Queimaduras

Breves dados epidemiológicos


- Em Portugal, cerca de 2000 pessoas são atendidas anualmente em Hospitais,
devido a queimaduras (Silva, A.; 2006)
- Entre 1993 e 1999, 14797 pessoas com queimaduras foram atendidas em
hospitais
- Sexo masculino em maioria (59%)
- Média de idades 30 anos ( variação entre > 1 ano e 102 anos)
- Tempo médio de internamento: 15,5 dias; Máximo de internamento registado -
738 dias
- De entre os clientes queimados internados, 3,7% faleceram.
- Existem poucos dados epidemiológicos em Portugal relativamente a
queimaduras

Silva, A. cit. p Martinho, A. ; 2008


3-Etiologia das queimaduras
Queimaduras

Etiologia das queimaduras


- Queimaduras térmicas - causadas por gases, líquidos ou sólidos quentes (as
mais frequentes); Pode existir queimadura inalatória, por inalação de monóxido
de carbono ou fumo.
- Queimaduras químicas -causadas por ácidos ou bases (A abordagem
inadequada pode agravar as lesões)
- Queimaduras eléctricas – causadas por descarga eléctrica (podem causar
lesões internas extensas, embora lesões cutâneas pequenas);
- Queimaduras por radiação -causadas por raios ultravioleta (UV), por raios-X
ou por radiações ionizantes
- Queimaduras por atrito - causadas devido à fricção persistente, intensa e
constante de algum objecto (corda por exemplo)
- Queimaduras por agentes biológicos – Por acção de alguns animais (ex.
Medusa) ou algumas plantas. (Júnior, C; Almeida, L. ; 2008)

Fernandes, M. et al; 2011


Queimaduras

Etiologia das queimaduras

Vendramin, F. ; 2009
Queimaduras

Etiologia das queimaduras

Vendramin, F. ; 2009
Queimaduras

Etiologia das queimaduras

Vendramin, F. ; 2009
4-Classificação das queimaduras
(profundidade)
Watts, R; Affridi, N.; 2010
Gragnani, A.; 2007
Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

1º Grau ( Queimadura de Espessura superficial)


- Atinge apenas a epiderme;
- Eritematosa (por vasodilatação) e hipersensitiva (dolorosa)
- Empalidecem ao toque
- Geralmente de cicatrização rápida (5 a 7 dias); sem traços de fibrose

Alvernaz, C.; 2010


Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

2º Grau (destruição total da epiderme e parcial da derme)

Queimadura de espessura parcial superficial

Queimadura de espessura parcial profunda


Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

2º Grau - Queimadura de espessura parcial superficial (camada papilar da


derme)
- Lesões bastante dolorosas;
- Superfície eritematosa (hiperemiada);
- Empalidecem ao toque
- Presença de flictenas, que, no seu interior, apresentam uma superfície rosada
e húmida
- Cicatrizam completamente em cerca de 10-14 dias; embora por vezes possam
deixar zonas de descoloração cutânea

Alvernaz, C.; 2010


Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

2º Grau - Queimadura de espessura parcial profunda (camada reticular da


derme)
- Pele em redor seca e com coloração rosa pálido
- Dor moderada (dependendo do comprometimento vascular)
- Não empalidecem ao toque
- Podem existir flictenas, que no seu interior exibem uma superfície
esbranquiçada; podem evoluir para 3º grau por infecções, traumatismos ou
isquémia
-Pode haver diminuição da sensibilidade táctil
- A cicatrização é incompleta, em 25 ou 30 dias, deixando como sequelas
contracturas e cicatrizes hipertróficas
- Enxertos cutâneos estão indicados

Alvernaz, C.; 2010


Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

3º Grau - queimaduras de espessura total (atingem a pele e hipoderme,


podendo afectar tecidos mais profundos)
- A área queimada pode apresentar-se esbranquiçada, negra (carbonizada) ou
acastanhada; podem ser visualizados vasos trombosados (coagulados),
confere um aspecto marmóreo.
- Lesão seca, com textura semelhante a couro, inelástica.
- Geralmente indolores, por destruição total da pele e seu anexos
- Não cicatrizam espontaneamente, sendo necessário correcção cirúrgica e/ou
enxertos cutâneos, deixando cicatrizes significativas (Martinho, A.;2009)

Alvernaz, C.; 2010


Queimaduras de 3º grau

Queimaduras de 2º e 3º grau
Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

“A grande dificuldade prática está na diferenciação entre a queimadura de


segundo grau profundo e lesão de terceiro grau. Durante a própria evolução
da queimadura, uma infecção ou uma grave instabilidade hemodinâmica podem
provocar o aprofundamento da lesão, ou seja, uma queimadura de segundo
grau superficial pode evoluir para um segundo grau profundo ou terceiro
grau. Em decorrência disso, não devemos ser categóricos quanto ao
grau de queimadura em uma primeira avaliação, sendo de suma importância
a reavaliação do paciente decorridas 48-72 h da lesão.”

Gomes, D. et al; 2001


Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade

4º Grau – Envolvimento total da derme e hipoderme e tecidos profundos


(músculo, osso,…)

- Encontram-se descritas por alguns autores, como Alvernaz, C.;2010; Júnior e


Almeida; 2005; Morris, P.; 2000
- Lesão carbonizada, com necrose total, o tecido visível é negro
- Pode ocorrer mumificação do membro e exposição de tecidos profundos
- Mais frequente em queimaduras eléctricas
5-Cálculo da superfície corporal
queimada
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Regra dos 9 de Wallace

Cálculo de Lund Browder


Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Regra dos 9 de Wallace

Para cálculo rápido de queimaduras pequenas, localizadas ou


dispersas, pode utilizar-se a palma da mão do indivíduo queimado,
que corresponde aproximadamente a 1 % da superfície corporal
AEHLERT, 2007
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Regra dos 9 de Wallace

Vendramin, F.;2009
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Regra dos 9 de Wallace

- A mais utilizada para estimativa inicial

- Rápida avaliação

- Fácil memorização

- Não é o mais preciso


Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Cálculo de Lund Browder

Vendramin, F.;2009
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)
Cálculo de Lund Browder

http://www.emv.fmb.unesp.br/aulas_on_line/plastica/Queimados1/Tabela%20Lund-Browder.pdf
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)

Cálculo de Lund Browder

- Método mais preciso de cálculo da área corporal queimada

- Tem em conta as várias faixas etárias, com precisão, utilizando factores


ponderados

Queimaduras de 1º Grau não entram na


contabilização da superfície corporal queimada
6-Classificação das queimaduras
(severidade)
Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade

Factores utilizados para determinar a gravidade da queimadura

-Localização (mãos, pés, face e genitais são considerados locais críticos)


- Profundidade
- Extensão
- Idade da vítima (crianças e idosos têm maior risco)
- Presença de lesão pulmonar por inalação
- Presença de lesões associadas ( outros traumatismos)
- Doenças pré-existentes (Diabetes Mellitus, Insuficiência renal,…)

Silva,V. ;2006
Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade

Podem classificar-se como:

Baixa Gravidade (Pequeno Queimado)

Média Gravidade

Alta Gravidade (Grande Queimado)


Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade

Baixa Gravidade (Pequeno Queimado)

- Na maior parte das vezes, pode ser tratada em ambulatório

- Geralmente, não apresentam alterações hemodinâmicas ou outras


complicações

- Não atingem zonas críticas, em que pode haver compromisso funcional

- Têm muito bom prognóstico, as repercussões das lesões são locais

Representada por pessoas com queimaduras:


(1) de 1º grau, de qualquer extensão, em qualquer idade;
(2) de 2º grau, com menos de 15% de SCQ em pacientes entre 11 e 49 anos de
idade;
(3) de 2º grau, com menos de 10% de SCQ em crianças < 10 anos e adultos >
50 anos;
(4) de 3º grau, com menos de 2% de SCQ, em qualquer idade.
Alvernaz, C.; 2010
Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade

Média Gravidade

-Necessitam acompanhamento diário, podendo haver necessidade de


internamento hospitalar

-Não afectam locais onde possa haver perda funcional

- Têm bom prognóstico

- Representada por pessoas com queimaduras:


(1) de 2º grau, entre 15 e 25% de SCQ, em pacientes entre 11 e 49 anos de
idade;
(2) de 2º grau, entre 10 e 20% de SCQ, em crianças < 10 anos e adultos > 50
anos;
(3) de 3º grau, entre 2 e 10% de SCQ, em qualquer idade.

Alvernaz, C.; 2010


Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade

Alta Gravidade (Grande Queimado)

-Existe instabilidade hemodinâmica

-Exigem internamento, preferencialmente em unidades diferenciadas

-Têm mau prognóstico

Representada por pessoas com queimaduras:


(1) de 2º grau, com mais de 25% de SCQ, em pessoas entre 11 e 49 anos de idade;
(2) de 2º grau, com mais de 20% de SCQ, em crianças < 10 anos e adultos > 50 anos;
(3) de 3º grau, com mais de 10% de SCQ, em qualquer idade;
(4) Que afectam regiões anatómicas específicas, que representam sério risco de perda funcional ou
estética, tais como extremidades, face, olhos, órgãos genitais e pregas flexoras;
(5) por produtos químicos;
(6) eléctricas por energia de alta voltagem;
(7) complicadas por inalação ou trauma associado;
(8) de qualquer extensão, porém com presença de comorbilidades graves (cardiopatia isquémica,
DPOC descompensado,…).

Alvernaz, C.; 2010


Parte 3
Fisiopatologia
1- Fisiopatologia

2- Implicações hemodinâmicas
Fisiopatologia

-Surge queimadura quando a pele se vê confrontada com maior energia que


aquela que pode absorver

-Não obstante a causa, as reacções sistémicas e localizadas são semelhantes


Fisiopatologia

Quando há lesão grave por queimadura, a área afectada apresenta:


- Zona de coagulação
Área de lesão irreversível
-Zona de estase
Défice no fluxo sanguíneo, por estase dos capilares e das pequenas
veias
Esse défice de fluxo sanguíneo, juntamente com a formação de edema,
leva a agravamento da lesão
A recuperação é variável: pode haver recuperação ou agravamento;
relacionada com a pronta intervenção
- Zona de hiperémia
Vasodilatação e fluxo de sangue aumentado, pela resposta inflamatória
Rodeia a zona de estase
Geralmente recupera, cicatrizando por si própria

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


Fisiopatologia

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


Fisiopatologia

Agressão do tecido

Pele Exposição do Colágeno Liberação de Substâncias


Vasoativas

Vaso

Júnior, C. e Almeida, L.; 2005


Fisiopatologia

Extravasamento de Plasma
(Eletrólitos , Proteínas e etc)

Júnior, C. e Almeida, L.; 2005


Fisiopatologia

Vendramin, F. ; 2009
Fisiopatologia

Vendramin, F. ; 2009
Fisiopatologia

Estas reacções são:

- Locais, se SCQ <20%

- Sistémicas, se SCQ >20%


Fisiopatologia

O processo de formação de edema, a perda de fluidos e electrólitos


intravasculares e o aumento da permeabilidade capilar leva a 2 riscos no doente
queimado:

1- Choque hipovolémico (Burn Shock)


O aumento da permeabilidade capilar, juntamente com a diminuição do volume
circulante, leva a diminuição do débito cardíaco e consequente má perfusão
tecidual

2- Perda de electrólitos
Fisiopatologia

Débito cardíaco diminui devido a:


-aumento da resistência vascular periférica
- Diminuição do volume intravascular
- Aumento da viscosidade sanguínea
Baixo débito cardíaco e aumento da permeabilidade capilar levam a diminuição
da função do SNC
A resposta do SNA (simpático) leva a hipoperfusão renal, o que, junto com a
diminuição do plasma circulante e aumento do hematócrito, pode levar a
insuficiência renal
Se não houver reposição volémica, inicia-se um quadro de choque hipovolémico
(burn shock)
Fisiopatologia

Perda da Barreira Mecânica da pele

Alterações no Sist. Imune Invasão de Bactérias

Diminuição da ação Fagocítica Aumento do


e da atividade Diminuição número
Bactericida dos Neutrófilos das Ig de cel. Ts

Risco de Sépsis – Choque Séptico

Júnior, C. e Almeida, L.; 2005


Fisiopatologia

A nível imunitário:

-Dá-se diminuição das imunoglobulinas (IgG e IgA)


- Diminuição dos Linfócitos T Helper
- Aumento dos Linfócitos T supressores
- Migração de Leucócitos comprometida
- Alteração no processo de fagocitose

Vendramin, F.;2009
Fisiopatologia

Resposta metabólica

Fase de refluxo (ebb phase ou fase de choque)

Fase de fluxo (flow phase)

Fases da resposta metabólica do organismo a uma agressão, descritas por


Cuthbertson (1942)
Fisiopatologia

Fase de refluxo (ebb phase ou fase de choque)


- Duração aproximada de 72 horas
Caracteriza-se por:
- Hipometabolismo
- Diminuição do consumo de O2
- Diminuição do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo periférico
- Hipotermia
- Libertação de substâncias vasoactivas (Prostaglandinas, Leucotrienos)
- Normo ou hiperglicemia
- Discreta proteólise

Gonçalves, T.; 2006


Fisiopatologia

Fase de fluxo (flow phase)


Quadro hipermetabólico de intensidade e duração variáveis de pessoa para
pessoa, dependendo de factores como da extensão e profundidade da SCQ,
presença de infecções e eficácia do tratamento inicial (Wolfe, 1996 cit. p
Gonçalves, T.; 2006)
- Hipermetabólica
- Aumento do consumo de O2
- Hiperglicémia (insulinorresistência; hiperinsulinémia; hiperlactacémia)
- Lipólise (hipertrigleciridémia)
- Proteólise
- Febre
- Taquicardia
Fisiopatologia

Fase de fluxo (flow phase)

-Hipotensão
- Dispneia
- Oligúria
- Edemas/Anasarca
- Imunossupressão
- Perda de oligoelementos ( ferro, cobre, zinco)
- Libertação de hormonas (catecolaminas, ACTH, cortisol, glucagon)

Gonçalves, T.;2006
Fisiopatologia

Necessidade de recuperação
 Cicatrização de Feridas
Resposta Metabólica(2ª Fase)  Necessidades circulatórias
 Necessidades respiratórias
 Fluxo Proteico
Aumento do Catabolismo Proteínas
e Glicogenólise
Uso das reservas energéticas Lipólise de Triglicérideos

ADH Risco de Acidose


GH Metabólica
Libertação de Hormonas ACTH – Cortisol
Glucágon
Catecolaminas

Júnior, C. e Almeida, L.; 2005


Fisiopatologia

A partir de 15% de SCQ, a resposta à agressão surge como:


Fase inicial (entre as primeiras 6-24 h)
- Aumento da permeabilidade capilar
- Acumulação de fluidos na lesão
- Possibilidade de choque por hipoperfusão tecidual

Fase de estabilização
-Dá-se uma resposta inflamatória sistémica
- Hipermetabolismo proporcional à SCQ, que se mantém até à cicatrização
- Imunodepressão

Arthurson; 1996 cit. P Gonçalves, T.;2006


Fisiopatologia

Resposta circulatória

Fase hipovolémica (nas primeiras 24h)

Fase diurética (inicia-se nas 48 a 72 horas)


Fisiopatologia

Fase hipovolémica (nas primeiras 24h)

- Deslocação do líquido intravascular para o espaço intersticial, na área


circundante à lesão
- Vasodilatação (provocando consequentemente hipotensão e aumento da
frequência cardíaca)
- Hemoconcentração motivada pela perda de fluidos
- Edemas generalizados devido ao excesso de líquido intersticial
Fisiopatologia

Fase diurética

- Recuperação da integridade vascular, com regresso do fluido intersticial ao


espaço intravascular
- Risco de sobrecarga cardíaca e edema pulmonar agudo
- Hipoproteinémia
- Hipoperfusão tecidual
2-Implicações hemodinâmicas
Implicações hemodinâmicas
Respiração

- Risco de hipoxémia, motivado por FiO2 reduzido, causado pela combustão de


fogo
- Risco de asfixia, com diminuição de O2 e aumento de CO2 no organismo, por
falta de O2 no meio ou inalação de substâncias tóxicas, geralmente CO
- Queimaduras circunferenciais no tórax podem desencadear insuficiência
respiratória, por falta de compliance na expansão torácica
- Aumento da FR resultante do aumento do metabolismo; taquipneia pode levar
a alcalose respiratória; Inalação de ar quente pode aumentar a hiperventilação,
levando a agravamento da alcalose respiratória
-Há aumento da resistência vascular pulmonar (secundária à libertação de
catecolaminas)
- Um sobre-aporte de fluidos na fase inicial da “fluid ressuscitation” pode causar
edema pulmonar (Bongard, F.;2002)
Implicações hemodinâmicas
Respiração

Lesões por inalação


Importante factor de mortalidade e morbilidade;
Alta causalidade com causas de óbito

- CO é 200 a 300 vezes mais afim para a hemoglobina que o O2; dá-se
diminuição no transporte de O2;
- CO liga-se à mioglobina (pigmento muscular que transporta O2, podendo levar
a hemorragia ou necrose do miocárdio (TNCC,2006)
- Hipóxia tecidular, uma vez que O2 não é libertado nas células
- CO não afecta pO2, mas sim a Sa O2, que aparecerá diminuída na GSA
- SpO2 de avaliação imprecisa, não diferencia oxi de carboxihemoglobina
- Como PaO2 não sofre alteração, os quimioreceptores não são estimulados a
aumentar a ventilação

Watts, R; Affridi, N.; 2010


Implicações hemodinâmicas
Respiração

Indicadores de lesões por inalação


-Queimaduras faciais ou na cavidade oral
- Pelos nasais chamuscados
- Fuligem na boca, narinas ou laringe
- Rouquidão ou estridor
- Dificuldade respiratória
- Sinais de hipoxémia
- Coloração cutânea vermelho cereja
- Lábios com coloração cutânea normal ou palidez

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


Implicações hemodinâmicas
Respiração

Intoxicação por monóxido de carbono

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


Implicações hemodinâmicas
Respiração

Intoxicação por monóxido de carbono

- É muito importante determinar os níveis de carboxi-hemoglobina


- Deve administrar-se 100% de oxigénio até diminuir os níveis de carboxi-
hemoglobina abaixo de 15%; O2 a 100% aumenta o ritmo de difusão de CO
- Terapia hiperbárica acarreta controvérsia: embora tenha utilidade em situações
isoladas de intoxicação de CO, complica o processo cicatricial
Implicações hemodinâmicas
Respiração

Lesão por inalação


- Acima da glote:
É o tipo de lesão mais frequente, causada pela dissipação de calor nos tecidos.
Leva frequentemente a obstrução; o edema que se forma pode permanecer
entre 2 a 4 dias
Entubação orotraqueal recomendada
- Abaixo da glote
Pneumonia química, por inalação de produtos tóxicos (amónia, enxofre,
aldeídos,…)
Gravidade e imprevisibilidade dos sintomas relacionado com a quantidade e tipo
de produto inalado
Implicações hemodinâmicas
Respiração

Hall, J. et al; 2005


Implicações hemodinâmicas
Circulação

-A resposta cardiovascular inicial manifesta-se por diminuição do débito cardíaco


e aumento da resistência vascular periférica, seguida de aumento de débito
cardíaco e diminuição da resistência vascular periférica durante a fase de fluxo

- A quebra no débito cardíaco é proporcional à SCQ e relacionada com a perda


de fluidos do espaço intravascular para o extravascular

- A correcção volémica melhora a performance cardíaca, à medida que corrige a


hipovolémia; Este aumento do débito cardíaco é, inicialmente, dirigido à zona em
redor da área queimada (Bongard, F.;2002)
Implicações hemodinâmicas
Renal

- Na fase inicial, o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular são


reduzidas em proporção à SCQ e ao défice de volume intravascular.

- Um atraso ou inadequação na fluidoterapia pode causar perfusão renal


inadequada e conduzir a necrose tubular aguda e insuficiência renal

- Verifica-se uma resposta diurética no período de reabsorção dos edemas; esta


resposta está condicionada pela possível perda de fluidos pela área da lesão
ou pela demorada reabsorção de edema em pessoas com extensas áreas
queimadas

- Drogas excretadas pelos rins tendem a ter semi-vidas mais curtas

Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Gastrointestinal e hepática

- Pode ocorrer íleo paralítico em pessoas com SCQ>25%, como resultado de


hipovolémia e resposta hormonal (retomam-se os movimentos peristálticos em
3 a 5 dias)
- Aconselha-se entubação nasogástrica para descompressão gástrica
- Descrevem-se lesões focais isquémicas no estômago e duodeno, que
requerem profilaxia, a fim de evitar evoluírem para ulceração (úlcera de
Curling)
- Pode ocorrer translocação de bactérias intestinais.
- Um aumento de aminotransferases ocorre em queimaduras cuja SCQ>50%
- Pode ocorrer hiperbilirrubinémia e elevação de enzimas hepáticas, num padrão
de colestase, sintomas estes que são muitas vezes associados a sépsis ou
falência multiorgânica

Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Gastrointestinal e hepática

Úlcera de Curling

- Ulceração aguda com hemorragia digestiva, com elevada taxa de mortalidade


(cerca de 70%)

- Tem como factores predisponentes a ventilação mecânica, sépsis, choque,


coagulopatia, insuficiência renal, icterícia, baixo pH gástrico

- Instituição de nutrição entérica diminui a sua ocorrência para < 5%

Burns, R. cit. P Gonçalves, T.;2006


Implicações hemodinâmicas
Sistema Nervoso

- Verificados sintomas inespecíficos, como ansiedade e desorientação

- Sintomas mais específicos associados a queimaduras eléctricas ou trauma


mecânico

- Sinais e sintomas, como desorientação, obnubilação ou convulsões podem


indicar hipoxémia, desequilíbrio hidro electrolítico, sépsis ou farmaco-
toxicidade

Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Sistema Endócrino

- Verifica-se padrão hipometabólico inicial, seguido hipermetabolismo


- Aumento sérico de catecolaminas, glucagon e cortisol
- Diminuição da insulina e triiodotironina
- Insulino-resistência periférica e marcado balanço azotado negativo
- Sepsis exacerba a resposta hipermetabólica
- Contudo, se quadro séptico prolongado, falência multiorgânica caracterizada
por hipometabolismo poderá acontecer.

Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Sistema Hematopoiético

- Destruição de glóbulos vermelhos em proporção à SCQ e profundidade das


lesões
- Em queimaduras de espessura total, GV coagulam imediatamente, juntamente
com os vasos implicados
- Perda de 8-12% de GV por dia, motivada por hemólise das células danificadas
pela lesão, trombose microvascular nas zonas de isquémia, que evoluem para
necrose e consecutivas colheitas de sangue para controlo analítico
- Após fluidoterapia, níveis séricos de plaquetas, fibrinogénio e factor V e VIII
aumentam para valores acima do normal
- Aumento dos níveis de eritropoietina, coincidente com anemia pós
queimadura.

Bongard, F.;2002
Parte 4
Abordagem Inicial
1- Abordagem Inicial
avaliação primária
avaliação secundária

2- Queimaduras específicas
queimaduras químicas
queimaduras eléctricas
1-Abordagem Inicial
Avaliação primária
Abordagem inicial

A queimadura é um tipo específico de trauma

A abordagem deverá ser similar à utilizada em vítimas de trauma


Abordagem inicial

Abordagem imediata
- Promover a abordagem em segurança e tentar identificar o mecanismo de
lesão
- Avaliação sumária do grau de consciência (AVPU- Alert; Verbal; Pain;
Unresponsive)
- Parar o mecanismo de queimadura
- Extinguir o processo de queimadura nas roupas e removê-las, visto que estas
conservam o calor e podem continuar a causar lesão térmica nos tecidos
(evitar hipotermia, aquecendo a vítima)
- Pessoas com queimaduras eléctricas devem ser separadas do ponto de
contacto com a fonte eléctrica, de modo a minimizar riscos para o socorrista

Alvernaz, C.; 2010


Abordagem inicial

Abordagem imediata

- Arrefecer a zona de queimadura com água corrente durante pelo menos 20


minutos
- A temperatura preferencial da água será 15º (titular entre os 8º e os 20 º)
- O arrefecimento é eficaz até 3 horas após a lesão.
- Deve evitar-se a hipotermia; se temp <35º, deve parar-se o arrefecimento
- O gelo não deve ser usado para arrefecimento (vasoconstrição, hipotermia,
queimaduras frost bite)
- Toalhas molhadas só em último caso, renovadas a cada 30 segundos

Connoly, S. 2011
Abordagem inicial

Abordagem imediata
- Se for uma queimadura causada por agente químico, toda a roupa
contaminada deve ser removida e deve iniciar-se lavagem com quantidade
abundante de água
- Assegurar via aérea permeável e administração de O2 suplementar
(entubação orotraqueal precoce se suspeita de lesão por inalação)
- Aplicação de água nas lesões apenas indicada em queimaduras de 2º grau
- Cobrir as lesões com compressas frescas ou cobrir a pessoa com lençóis
limpos, que não libertem fibras

Alvernaz, C.; 2010


Abordagem inicial
Avaliação primária

A- Via aérea com controlo da cervical


- Avaliar a permeabilidade da via aérea
- Despistar indícios de lesão por inalação
- Entubação orotraqueal precoce, em pessoas com queimaduras extensas

Alvernaz, C.; 2010


Abordagem inicial
Avaliação primária

B- Ventilação / Respiração (Breathing)


- Providenciar O2 em alta concentração
- Avaliar a eficácia da ventilação
- Despistar intoxicação por CO ou outros gases
- Providenciar suporte ventilatório para doentes com entubação OT
- Despistar lesões traumáticas no tórax
- Despistar presença de queimadura circunferencial no tórax (Escarotomia
indicada)

Alvernaz, C.; 2010


Abordagem inicial
Avaliação primária

Hall, J. et al; 2005


Abordagem inicial
Avaliação primária

C- Circulação com controle de hemorragia


- Canalizar 2 acessos periféricos de grande calibre (14 ou 16G), evitando as
áreas queimadas
- Iniciar fluidoterapia (preferencialmente lactato de Ringer)
- Avaliar a função circulatória (despistar queimaduras circulares nos membros,
que podem necessitar escarotomia)

Alvernaz, C.; 2010


Abordagem inicial
Avaliação primária

D- Disfunção neurológica

-Avaliar grau de consciência segundo Escala de Coma de Glasgow

-Avaliar a resposta pupilar

-Avaliar défices neurológicos e motores

- Despistar sinais de TCE


Abordagem inicial
Avaliação primária

E- Exposição com controlo de temperatura


- Retirar a roupa (ter em atenção que roupa demasiado aderente pode agravar a
lesão – devem ser retiradas de forma criteriosa e controlada)
- Retirar adereços (anéis, pulseiras, fios,…)
- Depois de expostas, envolver as queimaduras em compressas limpas ou
lençóis limpos; de seguida, envolver a pessoa em cobertores, para prevenir
hipotermia
- Avaliar a profundidade, extensão e áreas afectadas; avaliar a etiologia da
queimadura; determinar a gravidade da mesma
- Iniciar analgesia, quando indicado – morfina 0,1 mg/Kg de 4/4 horas ev ou
meperidina 25-50 mg/ 10cc SF 0,9% em ~ 2 minutos, de 4/4 horas; Ketamina
0,3-0,7 mg Kg IM se não houver acessos vasculares (dor inversamente
proporcional à profundidade da queimadura)

Alvernaz, C.; 2010


Manual VMER; 1999
Abordagem inicial
Avaliação primária

F- Fluid Ressuscitation
Tem como objectivo manter o funcionamento adequado dos órgãos vitais e
prevenir complicações
Cálculo da necessidade de fluidos relacionada com a SCQ e o peso corporal
Frequentemente utilizada a fórmula de reposição de Parkland:

2-4 ml x Peso Corporal x % SCQ

50% do volume calculado administra-se nas primeiras 8 horas


Restantes 50 % administrados nas 16 horas subsequentes

Utilizados cristalóides (preferencialmente Lactato de Ringer) como solução de


reposição

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


F-Fluid Ressuscitation

Fluidos devem ser administrados a ritmo contínuo ao invés de bólus

Deve avaliar-se a resposta da pessoa à fluidoterapia e ajustar-se em


conformidade

Crianças e idosos podem ter maiores necessidades de fluidos

Avaliação da reposição volémica feita através do débito urinário (0,5 a 1 ml/ kg/
hora ou 30 a 50 cc/h)

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


F- Fluid Ressuscitation

Nas segundas 24 horas


-Permeabilidade capilar regressa progressivamente ao normal
-São iniciados fluidos colóides (para minimizar a necessidade de volume)

Necessário em queimaduras extensas


Calcula-se como:
Albumina 5%: 0,5 ml x peso corporal x %SCQ

Watts, R. ; Afridi, N; 2010


F- Fluid Ressuscitation

Concentrado de eritrócitos indicado se:

- Hgb <8 g/dl ou hematócrito < 25, em crianças com SCQ >10% e adultos com
SCQ >20%

-Antes de excisão ou enxertia, para atingir hematócrito >25

Piccolo, N. et al; 2008


Vendramin, F. ; 2009
F- Fluid Ressuscitation

Lesão eléctrica ou trauma mecânico mioglobinúria

IRA

-Aumentar aporte de fluidos (devido ao dano tecidual)


- Perfundir Manitol 12,5 g em cada litro de soro
- Adicionar Bicarbonato de Sódio (50 mEq) em cada litro de soro
- Manter diurese 75 -100 ml/h no adulto; na criança: 2ml/ Kg/ h

Watts,R.; Affridi,N.: 2011


1- Abordagem Inicial
Avaliação secundária
Abordagem inicial

Avaliação secundária
- Exame completo cefalocaudal (head to toe)
Obter a história clínica e do mecanismo de lesão

-A- Alergias

- M- Medicação
- P- Antecedentes Pessoais (Past Medical Story)
- L- Última ingestão de alimentos ou líquidos (Last Meal or drink)
- E- Eventos relacionados com a lesão

Watts,R.; Affridi,N.: 2011


Cuidados

- Exame físico
- Controlo analítico e GSA; Raio X tórax
- Algaliação
- Entubação naso-gástrica
- Manutenção da circulação periférica
- Analgesia / Sedação
- Cuidados às lesões
- Antibioterapia profilática não indicada
- Profilaxia do tétano
- Abordagem Nutricional
Monitorização

Frequência cardíaca- > 130 ppm – perfusão inadequada


Em idosos ou portadores de patologia cardíaca- Fc não traduz efectivamente a
perfusão

Pressão arterial- a sua avaliação pode estar comprometida; considerar


monitorização invasiva (Swan-Ganz) em doentes de risco

Perfusão periférica- avaliação com Doppler; considerar escarotomia

Temperatura- Evitar hipotermia

GSA e controlo analítico completo


2- Queimaduras específicas
Queimaduras específicas

Queimaduras químicas

Queimaduras eléctricas
Queimaduras químicas

Causadas por:
Ácidos
Bases
Compostos orgânicos

Severidade determinada por:


Agente
Quantidade e concentração
Duração do contacto
Grau de penetração nos tecidos
Mecanismo de acção

Queimadura por bases são mais graves que queimaduras por ácidos

TNCC; 2006
Queimaduras químicas

Demling, R. et al; 2010


Queimaduras químicas

Demling, R. et al; 2010


Queimaduras químicas

- Usar luvas e roupa de protecção adequada


- Remover as roupas afectadas
- Escovar suavemente a pele se agente for em pó
- Irrigar copiosamente a área afectada (30 min se ácido; bases requerem
tempos de irrigação mais prolongados).
- Não utilizar neutralizantes reacção exotérmica

agravamento da lesão

Watts,R.; Affridi,N.: 2011


Queimaduras eléctricas

A electricidade é conduzida pelo corpo, transformando-se em calor, causando


dano tecidual

São lesões mais graves do que aparentam na primeira abordagem

A pele pode estar intacta (excepto zona de entrada e saída)

Podem existir danos internos graves (necrose), pela passagem da corrente


eléctrica entre os locais de entrada e saída.

Risco de síndrome compartimental (necessidade de escarotomia ou fasciotomia)


Queimaduras eléctricas

Resistência tecidual à passagem da corrente eléctrica

-nervos
-vasos sanguíneos
-mucosas Menor resistência, são mais
afectados
-músculos

-pele
-tendões Maior resistência, são menos
-gordura afectados
-osso
Queimaduras eléctricas

Natureza e gravidade das lesões dependem de:

- voltagem, amperagem e resistência

- Tipo de corrente (Corrente alternada (CA) ou Corrente contínua (CC))

- Superfície de contacto

- Trauma associado (ex. queda de grandes alturas)

- Localização da fonte de corrente eléctrica

- Duração do contacto com a mesma

TNCC, 2006
Queimaduras eléctricas

Corrente de Corrente de
Baixa Voltagem Alta Voltagem

Corrente Corrente
Alternada Contínua
Queimaduras eléctricas

Alta voltagem (> 1000 volts)

- Lesões extensas e profundas

- Necrose tecidular

Baixa voltagem (< 1000 volts; corrente doméstica entre 110-220 volts)

- Lesões menos extensas. Semelhantes a queimaduras térmicas


Queimaduras eléctricas

Corrente alternada

- Mais perigosa, estímulo repetitivo (vítima “agarrada à corrente”)

- Maior tempo de contacto, risco de maior lesão

- Contracções musculares tetânicas

- Risco de Fibrilhação ventricular/ assistolia


Queimaduras eléctricas

Corrente contínua

- Espasmo muscular único, vítima projectada

Risco de TCE, fracturas

- Maior probabilidade de lesão fechada

- Menor tempo de contacto


Queimaduras eléctricas

Risco de arritmias Necessidade de monitorização


electrocardiográfica (24 h)

Risco de Insuf. Renal (mioglobinúria)

Aumentar aporte de fluidos (superior à estimativa da fórmula de Parkland devido


ao dano tecidual); gerir conforme débito urinário

Perfundir Manitol 12,5 g em cada litro de soro

Adicionar Bicarbonato de Sódio (50 mEq) em cada litro de soro


Manter diurese 75 -100 ml/h no adulto; na criança: 2ml/ Kg/ h

Considerar hemodiálise se não houver resposta a fluidoterapia

Se mioglobinúria refractária por >6 horas considerar desbridamento/amputação


do membro (Alvernaz, C.; 2010)
Queimaduras eléctricas

Vigilância da circulação periférica

Monitorizar coloração cutânea, preenchimento capilar, pulsos periféricos


Escarotomia ou fasciotomia se necessário
Queimaduras eléctricas

Lesão por relâmpago

-100 milhões de volts e 200 000 amperes

- Considerada corrente contínua

- Lesão ocorre por:


Contacto directo
Onda de choque entre a pessoa e um objecto

Watts,R.; Affridi,N.: 2011


Parte 5
Abordagem terapêutica
1- Abordagem terapêutica

2- Abordagem cirúrgica

3- Outras abordagens

4- Tratamento das queimaduras (breve abordagem)

5- Sequelas das queimaduras


1- Abordagem terapêutica
Abordagem terapêutica

- Métodos de desbridamento – acelerar o processo de cicatrização, minimizando


sequelas funcionais e estéticas

Autolítico

Enzimático

Cirúrgico – método mais rápido e eficaz para remover tecido necrosado e


resíduos; melhora a circulação local e diminui risco de infecção;

Mecânico – Fricção com compressas (risco de danos para o epitélio),


hidroterapia, lavagem

Biológico – Larvas de Lucilia sericata

Kavanagh, O. et al; 2005


Abordagem terapêutica

Agentes tópicos

- Sulfadiazina de Prata 1% (ou composto com Nitrato de cério) - acção


desbridante de tecidos necrosados e antibacteriano

-Hidrogel

- Apósitos impregnados de prata

- Gentamicina 0,1% - acção antibacteriana

- Neomicina + Bacitracina – acção antimicrobiana

- Colagenase – acção desbridante enzimática

- Ácidos gordos essenciais (ác. Linoleico, ác. Caprílico, vitamina A e E) – acção


de protecção cutânea e cicatrizante

Ferreira, E. et al; 2003


Abordagem terapêutica

Hidrogel

- Humedece o leito da ferida, para migração celular

- Promove desbridamento autolítico

- Reidrata zonas secas, reduzindo a dor e não afetando a granulação ou


epitelização

- Pode causar maceração

- Quando cessa a sua ação, pode aderir ao leito da ferida, secando-a

Burns Service Education Committee, 2012


Abordagem terapêutica

Alginatos

- Indicada para lesões com grande quantidade de exsudado

- Transforma-se em gel em contacto com exsudado

- Hipoalergénico, ajuda a controlar a dor local

- Não aconselhada em lesões pouco ou moderadamente exsudativas, por risco


de desidratação da mesma

- Possui ação hemostática

Burns Service Education Committee, 2012


Abordagem terapêutica

Hidrocolóides

- Indicado para lesões com pouco ou moderado exsudado

- Necessita humedecimento do leito da ferida/escara (p.ex com hidrogel)

- Promove autólise, granulação e epitelização, Mantém as trocas gasosas e é


impermeável

- Não aconselhada em lesões infectadas ou com presença de fungos

- O gel formado pela sua ação pode ser confundido com sinais de infeção

Burns Service Education Committee, 2012


Abordagem terapêutica

Apósitos impregnadas de prata

- Libertação controlada de prata, prevenindo infeção, pelas compressas


impregnadas de prata nanocristalina

- Deve ser humedecida com água esterilizada, ou secundada por uma gaze
gorda

Burns Service Education Committee, 2012


Abordagem terapêutica

Sulfadiazia de prata

- Anteriormente, tratamento de 1ª linha. Atualmente, preferível a utilização de


apósitos impregnados de prata

- Libertação argêntica não controlada e semivida de 16 horas

- Controla sinais de infeção pela ação da prata.

- Tem ação pró-inflamatória, podendo mascarar sinais de celulite dos bordos

Burns Service Education Committee, 2012


Abordagem terapêutica

Produtos naturais

- Mel – acção cicatrizante

- Papaína – desbridante enzimático

Ferreira, E. et al; 2003


Abordagem terapêutica

Soluções anti-sépticas

- Polivinil Pirrolidona Iodada (Iodopovidona) – bactericida, favorece a


cicatrização; sem citotoxicidade; utilização prolongada pode levar a absorção
excessiva de iodo

- Clorhexidina- largo espectro de acção; baixa toxicidade

Ferreira, E. et al; 2003


Abordagem terapêutica

Substitutos temporários de pele

- Origem animal- enxertos, membrana amniótica, colagénio

- Substâncias sintéticas (silicone, poliuretano,…) - Opsite®, Tegaderm®,


Epigard®, Duoderm®

- Substâncias orgânicas combinadas com material sintético - Biobrane®,

Ferreira, E. et al; 2003


Abordagem terapêutica

Substitutos temporários de pele

Cultura de células

-Consistem na síntese laboratorial de ceratinócitos cultivados

-Funciona como substituto dérmico

Gragnani, A.; 2007


2- Abordagem cirúrgica
Abordagem cirúrgica

Escarotomia

- Corte efectuado na pele e tecido subcutâneo

- Tem como objectivo melhorar a circulação


(evitar síndrome compartimental)
Abordagem cirúrgica

Fasciotomia

- Cortes efectuados na pele, que vão até ao músculo

- Executados nos membros, em sequência de lesão por passagem de corrente


eléctrica

Tem como objectivo melhorar a circulação (evitar síndrome compartimental)


Abordagem cirúrgica

Broncoscopia

-Em suspeita de lesões por inalação ou queimadura da face

- Tem finalidade diagnóstica e terapêutica


Abordagem cirúrgica

Excisão

- Indicada em lesões de 2º grau profundas, de 3º grau ou com infecção

- Tem como objectivo remover a escara ou tecido queimado até se atingir tecido
viável

- Realizada por fases, de 10 a 15% da área corporal

- Realizada 48 a 72 horas após a queimadura, após controlo hemodinâmico do


doente
Abordagem cirúrgica

Excisão

- Tangencial
Remoção progressiva do tecido queimado, até haver indícios do tecido viável,
com sangramento difuso; hemorragia liberta citoquinas, benéficas ao processo
inicial de cicatrização

- Até à gordura
Toda a espessura da lesão é removida, até ao tecido subcutâneo

- Até à fascia
Toda a espessura da lesão é removida até à fascia exclusive
Abordagem cirúrgica

Excisão

-Procedimentos que causam hemorragia significativa, requerendo reposição de


volume sanguíneo (500 ml por 5% de área excisada)

- Excisão requer cobertura da área com auto, homo ou heteroenxertos, ou


substitutos artificiais da pele

Gragnani, A.; 2007


Abordagem cirúrgica

Enxertos

- Quando não existe epitelização espontânea da zona afectada

- Após remoção de tecido necrosado, após viabilização do leito receptor, ao qual


o enxerto será fixado

Gragnani, A.; 2007


Abordagem cirúrgica

Enxertos

Autoenxertos – Remoção da pele do próprio indivíduo para aplicação da área


queimada

Homoenxertos – Aplicação da pele de cadáveres humanos na área queimada

Heteroenxerto – Aplicação de pele de indivíduos de outras espécies (ex: porco);


Abordagem cirúrgica

Campos, D. et al; 2009


Abordagem cirúrgica

Retalhos

- Utilizados em lesões profundas, com exposição de estruturas diferenciadas


onde um enxerto não conferisse cobertura suficiente/ eficiente

- Retalhos livres (microcirúrgicos) proporcionam tecido vacularizado, com


características semelhantes à área receptora, potenciando melhoria estética e
funcional

Milcheski, D. et al; 2010


Abordagem cirúrgica

Retalhos

Podem ser:
-melhor preenchimento de cavidades
-miocutâneos melhor controlo de infecção
-Musculares - quando
existam desbridamentos
extensos (Ex. Q.Eléctrica)

-Cutâneos boa adaptação local


-Fasciocutâneos - cobertura fina e
adequada, como desejável nas
extremidades

Milcheski, D. et al; 2010


Milcheski,D. et al; 2010
Abordagem cirúrgica

Cirurgia reparadora/reconstrutiva

- Visa a recuperação funcional de partes do corpo que possuem alterações ou


deformidades

- Melhorar o aspecto de cicatrizes hipertróficas e quelóides

- Consistem em correcção de retracções cicatriciais, enxertos ou retalhos para


creconstrução

- Preparação para cirurgia plástica envolve preparação psicológica prévia

Zamarian, W.; 2010


Abordagem cirúrgica

Cirurgia reparadora/reconstrutiva

Para redução ou correcção de cicatrizes:

- zetaplastia- tracção dos tecidos, transformando uma cicatriz linear em “Z”

- W-plastia- quebra nas zonas de força da cicatriz

- Recessão intralesional- para diminuir a largura e espessura de um quelóide

- Recessão seriada- para diminuir, de forma progressiva, a largura e espessura


da cicatriz

Zamarian, W.; 2010


Abordagem cirúrgica

Cirurgia reparadora/reconstrutiva

- Retração mentotorácica- retracção de brida que impede a extensão da cabeça

- Retracção cicatricial dos dedos das mãos

- Retracção das axilas e cotovelos


Zamarian, W.; 2010
- Correcção de deformidades envolvendo as mamas

Oliveira, C.; 2010


Abordagem cirúrgica

Cirurgia reparadora/reconstrutiva
Tratamentos adjuvantes

- Laser

- Corticosteróide intralesional e tópico

- Terapia compressiva

- Radioterapia de baixa intensidade (Braquiterapia)

- Placas de silicone

- Imunossupressores

Zamarian, W.; 2010


3- Outras abordagens
Outras abordagens

Balneoterapia

“…procedimento que consiste na realização de banhos, tendo como principal


objectivo a limpeza e remoção de tecidos desvitalizados, para evitar infecções e
ajudar na formação de pele nas áreas queimadas superficiais. Contudo para
lesões profundas de espessura total ou parcial, são necessários enxertos
cutâneos. O sucesso deste tratamento, cujo significado se pode traduzir numa
correcta limpeza das áreas queimadas, evitando a dor e o desconforto ao
doente, depende não só da actuação de uma equipa, como também de uma
afectação de recursos que um bom planeamento torna possível.”

Silva, Nunes e Santos,2003 cit. P Martinho, A.;2008


Outras abordagens

Balneoterapia

- Contribui para a limpeza e desbridamento da lesão

- Diminui o número de microrganismos

- Minimiza a dor e o trauma psicológico (pode ser utilizada analgesia/sedação


neste procedimento)

- Indispensável na abordagem ao doente queimado

- Pode ser por imersão ou utilizando chuveiros

- Material deve ser cuidadosamente desinfectado e manipulado para evitar


contaminação

Martinho, A.;2008
Outras abordagens

Terapia hiperbárica

- Administração de O2 a 100% numa pressão 2 a 3 vezes superior à pressão


atmosférica ao nível do mar

- Aumenta a Pa O2 e a pressão tecidular de O2

- Efeito anti-infecioso, anti-edematoso, anti-isquémico e pró-cicatrizante

- Estimulação da angiogénese e melhoria da resposta imunitária e recuperação


do processo de fagocitose

- Indicada em queimaduras eléctricas e de 2º e 3º grau

Melo, F. et al, 2011


4- Tratamento das queimaduras
(breve abordagem)
Tratamento das queimaduras (breve abordagem)

Queimaduras de 1º Grau

- Lavagem com água

- Aplicação de pomada tópica hidratante/ cicatrizante

- Anti-inflamatórios, se necessário

Alvernaz, C.; 2010


Tratamento das queimaduras (breve abordagem)

Queimaduras de 2º Grau - Espessura Superficial

- Lavagem com água ou soro fisiológico

- Utilização de anti-séptico

- Flictenas pequenas podem ser mantidas; desbridar as de maiores dimensões


(Kavanagh,S.;2003)

- Aplicação de agente tópico (Sulfadiazina de prata, acetato de mafenide,


apósitos impregnados de prata)

- Aplicação de penso oclusivo

- Analgésicos e anti-inflamatórios, se necessário

Alvernaz, C.; 2010


Tratamento das queimaduras (breve abordagem)

Queimaduras de 2º Grau - Espessura profunda

- Limpeza com água ou soro fisiológico

- Utilização de anti-séptico

- Flictenas pequenas podem ser mantidas; desbridar as de maiores dimensões


(Kavanagh,S.;2003)

- Aplicação de agente tópico (Sulfadiazina de prata, acetato de mafenide)

- Aplicação de penso oclusivo

- Analgésicos e anti-inflamatórios, se necessário

- Pode existir necessidade de desbridamento e enxertia

Alvernaz, C.; 2010


Tratamento das queimaduras (breve abordagem)

Queimaduras de 3º Grau

- Limpeza com água ou soro fisiológico

- Utilização de anti-séptico

- Aplicação de agente tópico (Sulfadiazina de prata, acetato de mafenide,


apósitos impregnados de prata)

- Aplicação de penso oclusivo

- Desbridamento

- Necessidade de desbridamento e enxertia

- Abordagem multidisplinar

Alvernaz, C.; 2010


Cuccurulo, S. ; 2004
Burns Service Education Committee, 2012
5- Sequelas das queimaduras
Sequelas das queimaduras

- Discromias – alterações na cor da pele (Hipocromia, Apocromia, Hipercromia)

- Cicatrizes hipertróficas- desordenamento das fibras de colagénio; manifesta-se


com coloração avermelhada e textura endurecida

- Quelóides – apresenta-se de forma semelhante às anteriores; hiperprodução


de fibras de colagénio

Vendramin, F. ; 2009
Sequelas das queimaduras

- Cicatrizes retrácteis em articulações (bridas)- cicatrizes que limitam a função,


localizadas em áreas de movimento (articulações, pescoço, face, membros)

- Úlcera de Marjolin – neoplasia maligna que ocorre sobre úlceras crónicas,


fístulas ou cicatrizes (em especial de queimaduras)
2% de cicatrizes de queimaduras poderão redundar em degeneração maligna
(Linsingen, R. et al; 2005)

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