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Garcia de Oliveira
Queimaduras
Ricardo Fonseca
Covilhã, 2014
Parte 1
Resumo Anátomo-Fisiológico
Nota Introdutória
A maior parte delas são de pequenas dimensões, mas podem acarretar tal
gravidade que põem em risco a vida da pessoa que sofre a queimadura;
“ O seu tratamento deve ser correcto e o mais precoce possível, pois dele
depende não só o resultado funcional e estético como a sobrevida imediata”
(Manual VMER, 1999)
As queimaduras graves não devem ser encaradas como lesões cutâneas, mas
como trauma sistémico, que produzem grande desequilíbrio hidroeletrolítico e
hemodinâmico. Além disso, podem estar associadas a lesões em outros
sistemas, como os traumas abdominais fechados, os traumas de extremidades,
lesões inalatórias, etc. (Palhares, A; 2009)
Estruturas componentes:
Hipoderme (estrutura de suporte) :
-Localiza-se sob a derme; constituída por tecido conjuntivo laxo, contendo fibras
de colagénio e elastina;
-Responsável pela fixação da pele às estruturas subjacentes; local de
armazenamento de gordura;
- A hipoderme constitui-se como o maior reservatório energético do corpo
-Também designada por tecido celular subcutaneo ou fáscia superficial
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Estruturas componentes:
Pele
Derme
-formada por um tecido conjuntivo denso, irregular e com poucas células
adiposas. (Seeley, R. 1997); Contém vasos sanguíneos, terminações nervosas,
glândulas sudoríparas e sebáceas, vasos linfáticos e folículos pilosos
(TNCC,2006)
-divide-se em três camadas:
-derme reticular (ou profunda), que é a principal camada fibrosa, constituída
maioritariamente por feixes de colagénio grossos.
- derme papilar, que se apresenta bastante irrigada com capilares e feixes
de colagénio finos
- derme adventicial- dispõe-se em volta dos folículos pilossebáceos,
glândulas e vasos; é composta por feixes finos de colagénio.
Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele
Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele
Estruturas componentes:
Pele
Epiderme
-composta por epitélio de descamação estritificado, dividido em 5 camadas:
basal- composta por ceratinócitos, produzem as células das camadas mais
superficiais
espinhosa- composta por vários conjuntos de células agrupadas por
desmossomas; a camada basal e a espinhosa denominam-se, por vezes, por
estrato germinativo
granulosa- constituída por células repletas de grânulos de ceratina; camada
onde ocorre a morte das células.
translúcida- composta por células mortas transparentes.
córnea- constituída por inúmeras camadas de células de descamação
mortas; as células mais superficiais descamam.
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele
http://www.infoescola.com/anatomia-humana/epiderme/
Anatomia/Fisiologia da Pele
Estruturas componentes:
Pele
Epiderme
As células ceratinizadas possuem um invólucro proteico e estão repletas de
ceratina, o que confere a força estrutural;
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Estruturas componentes:
Pele
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Estruturas componentes:
Pele espessa vs pele fina
A pele fina possui menos células por camada, e geralmente não apresenta
camada translúcida. Os pelos encontram-se neste tipo de pele.
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Protecção
- Barreira física que impede a entrada de microrganismos e corpos estranhos
para o organismo;
- Barreira de permeabilidade (especialmente a nível da prevenção de perda de
água)
- Protecção contra a abrasão
- Camada córnea da epiderme com pH 5,4-5,6 e manto lípídico com actividade
anti-bacteriana (Curi,M. 2009)
- Absorve parcialmente radiações UV e ionizantes
- Actividade imunológica, mediada pelas células de Langherhans, macrófagos e
mastócitos (Curi, M. 2009)
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Regulação da temperatura
- Através da dilatação das arteríolas da derme, flui mais sangue através da pele,
transferindo o calor dos tecidos mais profundos para a pele; O suor é
produzido como resposta ao excesso de calor produzido no corpo, e, à medida
que se evapora, o corpo perde calor;
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Metabolização
Produção de Vitamina D
-Sintetizada quando a molécula 7-de-hidrocolesterol é exposta a radiação UV e
se converte em colecalciferol; esta substância é libertada na corrente sanguínea,
modificada por hidroxilação no fígado e nos rins, formando a vitamina D activa
(calciferol)
- A vitamina D estimula o consumo de cálcio e fosfato dos intestinos,
promovendo a sua libertação nos ossos e reduzindo a perda de cálcio a nível
renal, aumentando os níveis séricos destas substâncias, essenciais ao
metabolismo normal dos ossos, nervos e músculos.
- Metabolização de hormonas, como testosterona, progesterona, estrogénio e
glicocorticóides. (Curi, M. 2009)
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Sensação
Seeley, R. et al 1997
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Secreção
Curi, M. 2009
Anatomia/Fisiologia da Pele
Funções da pele
Excreção
-A pele remove pequenas quantidade de produtos, tais como ureia, ácido úrico e
amónia; comparativamente a outros órgãos de excreção, a quantidade eliminada
destes produtos através do suor é pouco significativa.
- Perda de água e sais minerais. Podem ser perdidas grandes quantidades
destes compostos, especialmente durante exercício físico intenso ou em
ambientes quentes. Estas perdas devem ser compensadas para manutenção da
homeostasia de fluidos e electrólitos.
Seeley, R. et al 1997
2-Dinâmica capilar e dos
fluidos
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos
TNCC, 2006
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos
Cont.
Pressão de fluido intersticial livre- pode ser negativa (ligeiramente menor que a
pressão atmosférica) ou positiva; se negativa, retira os fluidos para fora do
capilar; se positiva força-os a entrar no capilar.
TNCC, 2006
Anatomia/Fisiologia
Dinâmica capilar e dos fluidos
Edema
- Acumulação anormal de líquidos no espaço intersticial ou em qualquer parte
do organismo ( Rocha, P. 2009).
- Pode ser secundária a traumatismo, pela libertação de histamina, que aumenta
a permeabilidade capilar;
- Pode ser causado pelo desequilíbrio no movimento de água para dentro ou
para fora dos capilares, entre a filtração e a osmose. Filtração excessiva pode
ser causada por coágulos ou insuficiência cardíaca congestiva.
- Pode ser causado por aumento da permeabilidade capilar, com perda de
plasma para o espaço intersticial, secundária a infecção bacteriana
(septicémia)
- Osmose insuficiente, provocando entrada de fluidos celulares para os
capilares, por défice de proteínas plasmáticas, especialmente albumina
(patologia hepática, renal, queimaduras, malnutrição)
Rocha, P. 2009
Parte 2
Classificação de Queimaduras
1- Definição de queimaduras
2- Dados epidemiológicos
3- Etiologia das queimaduras
4- Classificação das queimaduras (profundidade)
5- Cálculo da superfície corporal queimada
6- Classificação das queimaduras (severidade)
1-Definição das queimaduras
Queimaduras
Definição
Definição
“São lesões coagulativas envolvendo diversas camadas do corpo , causadas
pelos vários tipos de agentes agressores”
Almeida,L; Júnior, C; 2005
“Pode ser definido como uma lesão dos tecidos orgânicos em decorrência de um
trauma de origem térmica. Podendo variar de uma simples flictena na pele, até
grave agressão, capaz de desencadear um grande número de respostas
sistémicas proporcionais à extensão e a profundidade dessas lesões”
Gomes; 2006 cit. P Ramos, F; 2007
Queimaduras
Definição
Vendramin, F. ; 2009
Queimaduras
Vendramin, F. ; 2009
Queimaduras
Vendramin, F. ; 2009
4-Classificação das queimaduras
(profundidade)
Watts, R; Affridi, N.; 2010
Gragnani, A.; 2007
Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade
Queimaduras de 2º e 3º grau
Queimaduras
Classificação das Queimaduras quanto à profundidade
Vendramin, F.;2009
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)
- Rápida avaliação
- Fácil memorização
Vendramin, F.;2009
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)
Cálculo de Lund Browder
http://www.emv.fmb.unesp.br/aulas_on_line/plastica/Queimados1/Tabela%20Lund-Browder.pdf
Queimaduras
Cálculo da superfície corporal queimada (SCQ)
Silva,V. ;2006
Queimaduras
Classificação das queimaduras em relação à severidade
Média Gravidade
Média Gravidade
2- Implicações hemodinâmicas
Fisiopatologia
Agressão do tecido
Vaso
Extravasamento de Plasma
(Eletrólitos , Proteínas e etc)
Vendramin, F. ; 2009
Fisiopatologia
Vendramin, F. ; 2009
Fisiopatologia
2- Perda de electrólitos
Fisiopatologia
A nível imunitário:
Vendramin, F.;2009
Fisiopatologia
Resposta metabólica
-Hipotensão
- Dispneia
- Oligúria
- Edemas/Anasarca
- Imunossupressão
- Perda de oligoelementos ( ferro, cobre, zinco)
- Libertação de hormonas (catecolaminas, ACTH, cortisol, glucagon)
Gonçalves, T.;2006
Fisiopatologia
Necessidade de recuperação
Cicatrização de Feridas
Resposta Metabólica(2ª Fase) Necessidades circulatórias
Necessidades respiratórias
Fluxo Proteico
Aumento do Catabolismo Proteínas
e Glicogenólise
Uso das reservas energéticas Lipólise de Triglicérideos
Fase de estabilização
-Dá-se uma resposta inflamatória sistémica
- Hipermetabolismo proporcional à SCQ, que se mantém até à cicatrização
- Imunodepressão
Resposta circulatória
Fase diurética
- CO é 200 a 300 vezes mais afim para a hemoglobina que o O2; dá-se
diminuição no transporte de O2;
- CO liga-se à mioglobina (pigmento muscular que transporta O2, podendo levar
a hemorragia ou necrose do miocárdio (TNCC,2006)
- Hipóxia tecidular, uma vez que O2 não é libertado nas células
- CO não afecta pO2, mas sim a Sa O2, que aparecerá diminuída na GSA
- SpO2 de avaliação imprecisa, não diferencia oxi de carboxihemoglobina
- Como PaO2 não sofre alteração, os quimioreceptores não são estimulados a
aumentar a ventilação
Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Gastrointestinal e hepática
Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Gastrointestinal e hepática
Úlcera de Curling
Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Sistema Endócrino
Bongard, F.;2002
Implicações hemodinâmicas
Sistema Hematopoiético
Bongard, F.;2002
Parte 4
Abordagem Inicial
1- Abordagem Inicial
avaliação primária
avaliação secundária
2- Queimaduras específicas
queimaduras químicas
queimaduras eléctricas
1-Abordagem Inicial
Avaliação primária
Abordagem inicial
Abordagem imediata
- Promover a abordagem em segurança e tentar identificar o mecanismo de
lesão
- Avaliação sumária do grau de consciência (AVPU- Alert; Verbal; Pain;
Unresponsive)
- Parar o mecanismo de queimadura
- Extinguir o processo de queimadura nas roupas e removê-las, visto que estas
conservam o calor e podem continuar a causar lesão térmica nos tecidos
(evitar hipotermia, aquecendo a vítima)
- Pessoas com queimaduras eléctricas devem ser separadas do ponto de
contacto com a fonte eléctrica, de modo a minimizar riscos para o socorrista
Abordagem imediata
Connoly, S. 2011
Abordagem inicial
Abordagem imediata
- Se for uma queimadura causada por agente químico, toda a roupa
contaminada deve ser removida e deve iniciar-se lavagem com quantidade
abundante de água
- Assegurar via aérea permeável e administração de O2 suplementar
(entubação orotraqueal precoce se suspeita de lesão por inalação)
- Aplicação de água nas lesões apenas indicada em queimaduras de 2º grau
- Cobrir as lesões com compressas frescas ou cobrir a pessoa com lençóis
limpos, que não libertem fibras
D- Disfunção neurológica
F- Fluid Ressuscitation
Tem como objectivo manter o funcionamento adequado dos órgãos vitais e
prevenir complicações
Cálculo da necessidade de fluidos relacionada com a SCQ e o peso corporal
Frequentemente utilizada a fórmula de reposição de Parkland:
Avaliação da reposição volémica feita através do débito urinário (0,5 a 1 ml/ kg/
hora ou 30 a 50 cc/h)
- Hgb <8 g/dl ou hematócrito < 25, em crianças com SCQ >10% e adultos com
SCQ >20%
IRA
Avaliação secundária
- Exame completo cefalocaudal (head to toe)
Obter a história clínica e do mecanismo de lesão
-A- Alergias
- M- Medicação
- P- Antecedentes Pessoais (Past Medical Story)
- L- Última ingestão de alimentos ou líquidos (Last Meal or drink)
- E- Eventos relacionados com a lesão
- Exame físico
- Controlo analítico e GSA; Raio X tórax
- Algaliação
- Entubação naso-gástrica
- Manutenção da circulação periférica
- Analgesia / Sedação
- Cuidados às lesões
- Antibioterapia profilática não indicada
- Profilaxia do tétano
- Abordagem Nutricional
Monitorização
Queimaduras químicas
Queimaduras eléctricas
Queimaduras químicas
Causadas por:
Ácidos
Bases
Compostos orgânicos
Queimadura por bases são mais graves que queimaduras por ácidos
TNCC; 2006
Queimaduras químicas
agravamento da lesão
-nervos
-vasos sanguíneos
-mucosas Menor resistência, são mais
afectados
-músculos
-pele
-tendões Maior resistência, são menos
-gordura afectados
-osso
Queimaduras eléctricas
- Superfície de contacto
TNCC, 2006
Queimaduras eléctricas
Corrente de Corrente de
Baixa Voltagem Alta Voltagem
Corrente Corrente
Alternada Contínua
Queimaduras eléctricas
- Necrose tecidular
Baixa voltagem (< 1000 volts; corrente doméstica entre 110-220 volts)
Corrente alternada
Corrente contínua
2- Abordagem cirúrgica
3- Outras abordagens
Autolítico
Enzimático
Agentes tópicos
-Hidrogel
Hidrogel
Alginatos
Hidrocolóides
- O gel formado pela sua ação pode ser confundido com sinais de infeção
- Deve ser humedecida com água esterilizada, ou secundada por uma gaze
gorda
Sulfadiazia de prata
Produtos naturais
Soluções anti-sépticas
Cultura de células
Escarotomia
Fasciotomia
Broncoscopia
Excisão
- Tem como objectivo remover a escara ou tecido queimado até se atingir tecido
viável
Excisão
- Tangencial
Remoção progressiva do tecido queimado, até haver indícios do tecido viável,
com sangramento difuso; hemorragia liberta citoquinas, benéficas ao processo
inicial de cicatrização
- Até à gordura
Toda a espessura da lesão é removida, até ao tecido subcutâneo
- Até à fascia
Toda a espessura da lesão é removida até à fascia exclusive
Abordagem cirúrgica
Excisão
Enxertos
Enxertos
Retalhos
Retalhos
Podem ser:
-melhor preenchimento de cavidades
-miocutâneos melhor controlo de infecção
-Musculares - quando
existam desbridamentos
extensos (Ex. Q.Eléctrica)
Cirurgia reparadora/reconstrutiva
Cirurgia reparadora/reconstrutiva
Cirurgia reparadora/reconstrutiva
Cirurgia reparadora/reconstrutiva
Tratamentos adjuvantes
- Laser
- Terapia compressiva
- Placas de silicone
- Imunossupressores
Balneoterapia
Balneoterapia
Martinho, A.;2008
Outras abordagens
Terapia hiperbárica
Queimaduras de 1º Grau
- Anti-inflamatórios, se necessário
- Utilização de anti-séptico
- Utilização de anti-séptico
Queimaduras de 3º Grau
- Utilização de anti-séptico
- Desbridamento
- Abordagem multidisplinar
Vendramin, F. ; 2009
Sequelas das queimaduras