Você está na página 1de 66

o retrato, ontem e hoje

retrospetiva cruzada, entre arte e educação


retrato: como tem sido e como pode ser?
na arte, na vida e na escola
o retrato, ontem e hoje
práticas artísticas
Homo Zappiens: Growing up in a digital age (Veen, 2011)

Ela tem um olho perfeitamente gravado;
no outro, a pálpebra encontra-se descaída
e existe apenas uma ligeira abertura.
Talvez ela tivesse sido vítima de um acidente vascular cerebral
ou de uma paralisia, ou sido ferida de alguma maneira.
Seja qual for o caso, ela tinha um olho deformado.
E ela tem uma pequena covinha no seu queixo:


esta é uma imagem de uma mulher que habitou o mundo real.

Jill Cook, Ice age art at the British Museum was crafted by ‹professional› artists.
The Guardian, 24 de Janeiro de 2013. Consultado em 14 de abril de 2016 em
https://www.theguardian.com/science/2013/jan/24/ice-age-art-british-museum
Homo Zappiens: Growing up in a digital age (Veen, 2011)
“ Os Retratos de Fayum são verdadeiras relíquias arqueológicas,
artefactos de uma enorme riqueza histórica, material e plástica;
um registo da confluência entre as civilizações Egípcia, Grega e
Romana: egípcios no seu simbolismo e uso, gregos na sua
técnica pictórica e romanos pelo seu contexto social.


Ana Filipa Gomes, Memória do tempo: Tipologia de um retrato, p. 106.
Dissertação de Mestrado em Pintura apresentada à Universidade de Lisboa, pela Faculdade
de Belas-Artes, 2011.
Homo Zappiens: Growing up in a digital age (Veen, 2011)
“ O retrato é também um dispositivo afetivo
porque revelador e promotor de afetos.
Ter um retrato de alguém consigo indica uma especial devoção a
essa pessoa, de tal forma que quer transportar esse outro consigo,
tê-lo sempre diante dos olhos, por entre os dedos.
E essa presença do retrato alimenta e instiga o afeto.


Paulo Pires do Vale, Do afetivo: entre presença e ausência, in Do tirar polo
natural: Inquérito ao retrato português, 2018, p. 119
“ Representar > Reproduzir pela pintura, escultura, gravura, etc.
Trazer à memória, significar, simbolizar.

Recordar > Fazer vir à memória; lembrar.


"representar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
https://dicionario.priberam.org/representar [consultado em 21-10-2018].
"recordar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, 
https://dicionario.priberam.org/recordar [consultado em 21-10-2018].
“ cor, "coração"?
Como imaginar que neste verbo está escondida a palavra latina

Quem era este povo que, na longa história da evolução da sua língua,
se lembrou de transformar em metáfora o nome de um órgão do corpo humano,
cor, de lhe colocar um prefixo que sugere não só repetição,
mas também restauração, re-, e, por fim, tornar tal palavra um verbo,
em algo que denota acção: recordari?
Como se alguém hoje utilizasse a palavra "coração" e fizesse um verbo
como "recoraçar" - no sentido literal de "voltar a ter no coração".

Pedro Braga Falcão, Palavras que falam por nós, 2014, pp. 19-20
“ Trabalhando com a terra, Butades de Sícion, um oleiro,
foi o primeiro a inventar, em Corinto, a arte de modelar
retratos em argila, graças a sua filha.
Ela, apaixonada por um jovem
que partia para o estrangeiro,
traçou numa parede o contorno da sombra da sua face
à luz da lamparina.

Plínio, o Velho, citado por Paulo Pires do Vale, Do afetivo: entre presença e
ausência, in Do tirar polo natural: Inquérito ao retrato português, 2018, p. 115

Lourdes de Castro «tira do natural» as sombras (…)
Não são sombras fictícias, ou feitas de memória:
a presença física do retratado é fundamental,
do mesmo modo que o seu conhecimento dele.
Neles vemos os amigos em gestos comuns… (…)
a vida quotidiana, suspensa, valorizada.
E a simples sombra, se feita com atenção,
revela também a personalidade de cada um.

Paulo Pires do Vale, Do afetivo: entre presença e ausência, in Do tirar polo
natural: Inquérito ao retrato português, 2018, p. 117

Recolher estas sombras
é uma forma de troca amorosa.


Paulo Pires do Vale, Do afetivo: entre presença e ausência, in Do tirar polo
natural: Inquérito ao retrato português, 2018, p. 117
Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus, 63 a.C. – 14 d.C.
Presidentes da República Portugueses, Mário Soares, por Júlio Pomar, 1992,
Jorge Sampaio, por Paula Rego, 2006 e Cavaco Silva, por Barahona Possolo, 2016
Annie Leibovitz, família real inglesa, 2016
Alexandre Farto [Vhils], moradores do bairro 6 de maio, 2017
Cristiano Ronaldo em anúncio da KFC
Dina Golstein, Fallen Princesses, 2007-2009
James Mollison (1973-), What refugees carry with them (2015)
James Mollison (1973-), Where children sleep (2007-2009)
Marta de Menezes, Protaic selfportrait, 2001
Marta de Menezes, Immortality for two, 2014
Bill Viola, Nantes Triptych, 1992, video, 29’46’’, Tate Modem, Londres
Kamil Kotarba (1990-) , Hide and Seek (2015)
Eric Pickersgill (1986-), Removed, 2014-2016
and the lack of human interaction in current times.
and the lack of human interaction in current times.
o retrato, hoje
na vida de crianças e jovens
Homo zappiens: growing up in a digital age (Veen, 2007)
Homo zappiens: growing up in a digital age (Veen, 2011)
Homo zappiens: growing up in a digital age (Veen, 2011)
o retrato, hoje
nas escolas que frequentam
Retratos realizados por alunos de Rita Fernandes, Educação Visual, 8º ano, 2009-2010
Retratos realizados por alunos de Rita Fernandes, Educação Visual, 8º ano, 2009-2010
Trabalho das máscaras de gesso, 8º ano, Educação Visual, Escola Secundária com 3.º ciclo do Ensino Básico
Marquês de Pombal, Lisboa, Fig. 8, in Maria Ana Ávila Simões, 2010
Vista geral da sala de Oficina de Expressão Plástica, durante a modelação de bustos, 8º ano,
Escola Secundária com 2º e 3º Ciclos Gil Vicente, in Sílvia Prazeres Moreira, 2011, p. 71
Retratos realizados por alunos de Ricardo Ramos, Desenho A, 12º ano, 2011-2012
Fonte: Ramos, R. (2012). Retrato e autorretrato: uma estratégia de ensino em Desenho A, 12º ano.
Lisboa: Relatório de PES em EAV, Universidade de Lisboa.
Retratos de colegas de perfil, realizados por alunos do ensino secundário de Carla Tavares, 2009-2010
Desenho de cabeça, realizado por um aluno da Academia de Belas-Artes de Lisboa, 1903
Ficha de trabalho de uma unidade sobre o retrato, 8º ano, Educação Visual, Rita Fernandes, 2010
Retrato de um colega, por um aluno do 8º ano, Educação Visual, Maria Ana Ávila Simões, 2010
Leonardo da Vinci, Estudo das proporções da cabeça e do olho, c. 1489
“ Al observar los contenidos y ejercicios que se proponen (…)
una das preguntas pertinentes que podemos hacernos
cuando, quién
es sobre su origen histórico:
y porqué se inventó ese ejercicio?


Ricardo Marín Viadel, Actas da III Jornadas d’História de l’Educació Artística,
1998, p. 26
rastrear el origen

En la mayoría de los casos es posible
del ejercicio durante centenares de años. (…)
La mayoría de las editoriales publican nuevos manuales casi
cada [año] (…) por lo que cabria esperar una constante novidad.
Pero esto no es así. Lo que nos encontramos es
una asiduidad y fidelidad impressionantes
a unos pocos modelos o patrones. ”
Ricardo Marín Viadel, Actas da III Jornadas d’História de l’Educació Artística,
1998, p. 26
o retrato, ontem
academias de belas-artes
Desenho de estampa, olhos e orelhas em diferentes posições, in Odoardo Fialetti,
Il vero modo et ordine per dissegnar tutte le parte et membra del corpo humano,
1608. Estampas 2 e 4, British Museum. Fonte: http://www.britishmuseum.org
“ O ensino, que passa a fazer-se em Academias –
que vão surgindo na Europa ao longo dos séculos XVI,
XVII e XVIII –, baseia-se no retomar
dos modelos ou obras dos grandes mestres
e tem como objecto quase exclusivo
o estudo da figura humana nua,
em diversas posturas e atitudes.

Margarida Calado, Desenhar o corpo: uma metodologia constante na arte ocidental,
in Azevedo Tavares (Org.), Representações do corpo na ciência e na arte.
Lisboa: Fim de século, 2012, p. 116
“ Como metodologia para a iniciação ao desenho,
Leonardo da Vinci propunha que se começasse
pelas partes para se chegar ao todo:
primeiro desenhar olhos, bocas e narizes
para se chegar à cabeça, depois as extremidades do corpo,
as mãos e os pés, e, por conseguinte, os braços e as pernas,
e finalmente o tronco.

Luísa Arruda, Imagens do corpo na Academia de Belas-Artes: métodos de aprender o desenho,
in Azevedo Tavares(Org.), Representações do corpo na ciência e na arte.
Lisboa: Fim de século, 2012, p. 141
Veloso Salgado, Exame final da 2.ª cadeira de desenho do Natural, Panejamentos e Cabeça, 1883
Marques da Silva, Exame de passagem da 2.ª cadeira do 4º ano - Desenho de Modelo Vivo, 1894
Silva Gomes, Exame de passagem da 2.ª cadeira do 4º ano - Desenho de Modelo Vivo, 1899
“ Os alunos começavam pelo desenho linear,
com o traçado de linhas rectas e figuras geométricas,
com e sem o auxílio dos instrumentos técnicos
de Desenho (régua, esquadro e compasso).
Posteriormente, aprendiam a contornar,
copiando estampas de cabeças, narizes, bocas, olhos


e extremidades do corpo humano (pés e mãos).

Alberto Faria, A colecção de Desenho Antigo da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa (1830-1935):


Tradição, formação e gosto. Dissertação de Mestrado em Museologia e Museografia,
apresentada à Universidade de Lisboa pela Faculdade de Belas-Artes, 2008:80.
Retratos de Palyart desenhados pelos alunos, in O ensino do desenho na escola
primária, 1916; Calvet de Magalhães, Aprenda a desenhar, 1956, p. 170, Fig. 74
O retrato psicológico (à direita), Areal & Moreira, Visualmente, 2012, p. 60
Calvet de Magalhães, Aprenda a desenhar, 1956:1 Figg. 66
Betâmio de Almeida, Compêndio de Desenho para o 1º ciclo liceus, 1964, págs. 15, 96
Calvet de Magalhães, Aprenda a desenhar, 1956, Figura 66
A proporção do rosto, Areal & Moreira, Visualmente, 2012, pp. 50-51
?
o retrato, amanhã
como pode ser

?
“ Solidão, ontem e hoje
Assente em trabalhos de artistas diversos, tais como:

Automat (1927) e Excursion into Philosophy (1959) de Edward Hopper


Removed (Pickersgill, 2014) e Hide and Seek (Kotarba, 2015)

A aprendizagem do retrato: história e didáticas, in Veiga (Coord.),


O Ensino como Fator de Envolvimento numa Escola para Todos, 2016
Automat (1927) e Excursion into Philosophy (1959), Edward Hopper (1882-1967)
Removed, 2014-2016, Eric Pickersgill (1986-)
http://www.removed.social
Hide and Seek (2015), Kamil Kotarba (1990-)
http://www.ignant.de/2015/09/23/kamil-kotarba-explores-the-lack-of-human-
interaction-in-the-digital-age
“ Identidade de género:
que mulheres somos
e que mulheres queremos ser?
Assente em trabalhos como Fallen Princesses


de Dina Golstein, 2007-2009

O retrato amanhã: como pode ser


Dina Golstein, Fallen Princesses, 2007-2009
“ Identidade pessoal e coletiva:
onde nos situamos no mundo?
Assente em trabalhos como
Where children sleep e What refugees carry with them
de James Mollison (2007-2009 e 2015)

A aprendizagem do retrato: história e didáticas, in Veiga (Coord.),
O Ensino como Fator de Envolvimento numa Escola para Todos, 2016
“ Identidade pessoal e coletiva:
onde nos situamos no mundo?
Assente em trabalhos como
Where children sleep e What refugees carry with them
de James Mollison (2007-2009 e 2015)

O retrato amanhã: como pode ser
Where children sleep (2007-2009), Mollison (1973-)
What refugees carry with them (2015), Mollison (1973-)
“ Identidade coletiva:
o quão perenes somos
Assente em trabalhos como
Nantes Triptych, de Bill Viola, 1992
Immortality for two, de Marta de Menezes, 2014

O retrato amanhã: como pode ser
Bill Viola, Nantes Triptych, 1992, video, 29’46’’, Tate Modem, Londres
Marta de Menezes, Immortality for two, 2014
“ The problem of school arts:
how to close the gap between
the professional arts world (or worlds)
and arts in schools
(there is also the question of
how to close the gaps between arts and home,
arts in the community and arts in schools).

Rachel Mason, Working topic: training of teachers/professors: ideas for discussion.
UNESCO: LEA International, 2001:1.
“ La educación permite a las culturas perdurar mediante
la transmisión de conocimientos y valores a las nuevas generaciones.
Si las culturas no consiguen transmitir su legado, desaparecen.
No obstante, una cultura es una identidad viva que necessita
tener la capacidad de adaptarse a nuevas situaciones y de cambiar,
necesita personas capaces de imaginar outras maneras de viver
y de comportarse. Las culturas que no logran desarrollar
la posibilidad de imaginar, se estancan o desaparecen.

Arthur Efland, Infancia y cultura visual, in Belver, Acaso & Merodio (Eds),
Arte infantil y cultura visual, Madrid: Eneida, 2005, p. 66
obrigada!
a.sousa@belasartes.ulisboa.pt

Você também pode gostar