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Violência no

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Trabalho

Patrícia Charneca
Bianca Saggese
Mário
Cláudia Santamarina
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Saúde

 o processo saúde‑doença é um acontecimento coletivo, e não


simplesmente ou apenas individual.
 ter saúde não é uma simples ausência de doença; mas é ter uma atitude
alegre para com a vida e uma aceitação otimista das responsabilidades
que ela lhe impõe, uma vez que a vida tem tanto um sentido histórico e
social quanto biológico e existencial.
 o trabalho em sua conjugação contemporânea gera diferentes formas e
manifestações de violência, o que resulta em um processo de subjetivação
precarizado tanto para trabalhadores não qualificados como para os
altamente qualificados, que a cada dia disputam os empregos disponíveis.
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Lógica Capitalista

 “Os acidentes de trabalho e as manifestações de adoecimento


com nexo laboral não são fenômenos novos, mas processos
tão antigos quanto a submissão do trabalho às diferentes
formas de exploração.” (ANTUNES, R., PRAUAN, L. , 2015, p.
410)
 Século XX: Nova divisão internacional do trabalho
 Ascensão do capital financeiro: mudanças politicas econômicas
e sociais nos últimos 30 anos implantando estratégias
neoliberais, com estímulo à privatização e à produtividade
Lógica Capitalista
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 O mais importante é ultrapassar a meta e dar produtividade,

 Não se tolera os improdutivos,

 Não se tolera os críticos das jornadas extenuantes,

 Não se admite que adoeçam,

 Gera maior pressão moral e medo coletivo ante a política de flexibilização,

 Os trabalhadores são levados aos limites daquilo que um ser humano pode suportar moral e
fisicamente

São relações laborais que explicitam a plenitude das relações sociais competitivas,
individualistas, consumistas, sem respeito ou reconhecimento ao fazer do outro. Se na
aparência parecem distintas, na essência nos falam do mesmo fenômeno: da relação
antagônica entre capital e trabalho (BARRETO; HELOANI, 2015, p. 546)
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a intolerância

 tem raízes mais complexas


 é uma construção histórica
 e um produto cultural
 valoriza as diferenças biológicas e culturais entre os seres humanos
 afirma a superioridade de alguns sobre outros
 São os pobres, negros e pardos os que mais são objeto de variados
atos de intolerância, seja social ou laboral
 quando consideramos o outro como inferior, estamos considerando ‑o
apropriado para a servidão, a sujeição, a escravidão, a humilhação
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 Relações de poder: “Dessemelhantes a mim”


 Fragmentação das categorias profissionais e enfraquecimento
da coletividade e solidariedade dos trabalhadores e da
formação de sindicatos
 Ampla terceirização
 Perda de subjetivação e de autonomia a partir da
individualização do trabalho, onde se exige maior tempo de
trabalho sozinho e, cada vez, com maior especialização.

BARRETO, M., HELOANI, L., 2015


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 A intolerância possibilita e permite atitudes e comportamentos


que prejudicam grupos e pessoas tanto no mundo do trabalho
quanto socialmente, em qualquer setor ou ramo de atividade,
países e/ou continentes. Um bom exemplo são as agressões
perpetradas contra homossexuais, negros, judeus, os sem-teto
e imigrantes haitianos ou bolivianos nas ruas dos grandes
centros urbanos, originando um ciclo de terror que
silenciosamente avança entre os jovens brasileiros ante a
omissão sistemática das autoridades (Dias, 2013).
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 A intolerância reprime, por meio da coação ou da força, as ideias que


reprova, na medida em que outra convicção pode se voltar contra as
minhas.
 quando a intolerância torna-se imperativo categórico, a violência toma o
lugar da linguagem, desembocando em humilhações, discriminações,
desqualificações, indiferença e negação do outro enquanto SER de
direitos. O que é pior: o espírito colonial, internalizado em todos nós e
que ao longo dos séculos impôs sujeição aos nossos países, na
atualidade torna-se visível que o “império” já não tolera limites — nem
legal, nem moral, nem territorial.
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 para compreendermos os novos riscos que estão na origem da intolerância e que


autorizam a prática do assédio moral, é necessário levarmos em conta as tendências
atuais do mundo do trabalho, a saber: a permanente pressão dos empresários para
desregulamentar o trabalho e reduzir os direitos dos trabalhadores; a ampliação das
práticas flexíveis de contratação da força de trabalho; o aumento dos mecanismos
de individualização das relações trabalhistas, que leva à fragmentação dos laços
afetivos e de solidariedade, tornando-os gasosos, fluidos, deletáveis, atomizados e
desnecessários; o novo discurso empresarial, no qual se dissemina a crença de que
todos os trabalhadores são parceiros, empreendedores e colaboradores; o aumento
das terceirizações e quarteirizações, inaugurando uma nova rede de precarizações,
que eclode em subjetividades precarizadas; o aumento dos acidentes, doenças,
transtornos mentais e mortes no e do trabalho (acidentes fatais e suicídio).
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 para compreendermos os novos transtornos relacionados à


saúde, faz-se necessário entendermos a relação do trabalhador
com o meio ambiente, as condições de trabalho e as relações
laborais, pois sentir bem-estar é estar e ter harmonia no local
de trabalho; ser criativo e reconhecido no seu saber fazer, uma
vez que o bem-estar revela um estado dinâmico da mente com
as necessidades e expectativas do trabalhador e seu entorno
laboral.

Tempos Modernos: Chaplin.


https://www.youtube.com/watch?
v=4yl2L6pdSYg&ab_channel=FelipeGM
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 A partir dessa perspectiva, devemos considerar o espaço social do


trabalho como o lugar do trabalhador em permanente relação de
produção e enfrentamento. E nesse lugar há riscos psicossociais que
estão relacionados com o conteúdo do trabalho, com as
características e o desempenho das tarefas; com o ritmo e as metas
abusivas; com as tarefas sem sentido e as exigências excessivas;
com o despotismo fabril, hierarquias assimétricas e fechadas; com o
estilo de liderança, promoção e avaliações; com a falta constante de
diálogo e de respeito, reconhecimento e
 desconfiança.
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Definição de violência no trabalho por
Marie-France Hirigoyen

“Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por


comportamentos, palavras, atos, gestos,
escritos que possam trazer dano à personalidade,
à dignidade ou à integridade física ou
psíquica de uma pessoa,
pôr em perigo seu emprego ou
degradar o ambiente de trabalho” (p. 65).
Violências que atingem todos os setores
e categorias profissionais.

Todo assédio é discriminatório

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Gera:
desigualdades
discriminações
estigmatizações
conflitos para as relações laborais
problemas de saúde
abandono do trabalho
z Considerado uma violência perversa, o assédio moral
engloba:

 o isolamento  as agressões
 a atribuição de tarefas de menor valor  os insultos
 a indução ao erro  as intimidações
 o assédio sexual  o assédio moral
 a exclusão  o racismo
 as mudanças de horários e de atividades  a desqualificação
sem prévio aviso
 abusos de poder
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O Assédio Moral no Trabalho (AMT)

 está relacionado a abusos hierárquicos, à dominação e à


intencionalidade. Se manifesta através de perseguições e pressões
constantes, com agravos à dignidade e ao direito a um trabalho que
proporcione saúde física e mental

 Os riscos do AMT são muitas vezes invisíveis, visto que sua violência
nem sempre é física.
 (...) frequentemente, são as palavras e os gestos que tiram as forças das
pessoas. (ANDRADE; ASSIS, 2018)

 É complexo e tem múltiplas dimensões


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 “(...)os atos de violência ocorrem e se reproduzem no micro e


no macroespaço das relações de poder, nutrido e alimentado
pela cultura organizacional. Portanto, o assédio laboral resulta
de uma jornada de humilhações, sendo, deste modo, uma
forma de tortura psicológica, que ocorre tanto na exposição
direta como indireta aos atos negativos. Seu pressuposto é a
repetição sistemática dos atos que humilham, constrangem e
desqualificam, evidenciando um conflito entre o agente do
poder e seus subordinados.”
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O Assédio Moral no Trabalho (AMT)

 Multicausalidade: Violência cotidiana produto dos modos de


organização e administração capitalistas do trabalho sustentados
por uma cultura da intolerância, assim como das relações
interpessoais.
 Todas pessoas envolvidas no ambiente de trabalho são expostas
às distintas expressões de violência laboral, mesmo quando tal
prática é individualizada.
 A ausência do senso de coletividade e a precarização das relações
afetivas nos locais onde o assédio ocorre, favorece relações de
isolamento de violência, de cerco moral e intolerância.
BARRETO, M., HELOANI, L., 2015
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Consequências do AMT

 quadros de depressão
 ansiedade
 dificuldades no sono
 estresse pós-traumático
 suicídio
Questão de Gênero
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 as mulheres são as que mais sofrem com o assédio moral

 mulheres são mais suscetíveis a essas violências


 o trabalho masculino é mais valorizado que o feminino

 separação entre atividades consideradas femininas e atividades consideradas masculinas

 as mulheres não vivenciam a violência no trabalho da mesma forma que os homens

 há diferenciações no enfrentamento do AMT segundo o gênero

 as mulheres procuram mais ajuda

com as mulheres, os abusos e as agressões verbais estão nas piadas grosseiras sobre
vestuários e aparência física.

Com os homens, piadas relacionadas à virilidade, à capacidade de trabalhar e à manutenção da


subsistência familiar.
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O assédio moral passa também pela
discriminação racial.
 As mulheres negras são mais discriminadas, desempenham trabalhos precários e ganham
menores salários
 Caran et al. sinalizam a ausência de negros docentes na universidade, apontando a falta de
possibilidades de ascensão à docência no ensino superior.
 Fontes et al., em análise da literatura, demonstram a carência de estudos que tenham o gênero e
a raça como categorias centrais.
 Ter acesso à educação e ao mercado de trabalho constitui sério obstáculo para negros e pardos,
os quais representam 51,1% da população (IBGE)

Gaignard (2006 apud ANDRADE; ASSIS, 2018), ao tratar do racismo no trabalho, aponta que o
termo “raça” não é posto no sentido biológico, mas como relações sociais e hierárquicas expressas
em discriminações raciais no ambiente laboral. Assim, há a preocupação quanto às repercussões do
racismo na vida e na subjetividade dos trabalhadores e até mesmo na construção de estratégias
coletivas de defesa na relação entre as atividades e a subjetividade.

Relato: https://www.youtube.com/watch?v=7Lj2tu--
aK0&ab_channel=RedeTVT
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A noção de consubstancialidade em Kergoat é importante para o


estudo das relações sociais e do trabalho. Para autora, o desafio é
não somente entrelaçar as categorias raça, gênero e classe, mas a
partir “das relações sociais que fabricam tais categorias, rastrear
os processos que estão na origem da produção de grupos e
pertencimentos objetivos e subjetivos” (2016, p. 21 apud
ANDRADE; ASSIS, 2018).
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Segundo Dejours

o aumento das doenças decorrentes de perseguições deve-se


sobretudo à diminuição das redes de solidariedade entre a
classe trabalhadora, ocasionando o que chama de “patologias da
solidão”
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Assédio Sexual

 o assédio sexual deve ser entendido como violência de gênero.


 As mulheres são as mais expostas, principalmente aquelas das camadas
populares e com menos de 25 anos.
 As profissões majoritariamente femininas estão mais propensas ao
assédio sexual
 Para a compreensão do assédio sexual e da violência contra a mulher, é
preciso considerar a noção de patriarcado, que configura a submissão e
subordinação da mulher ao homem, e também o machismo, entendido
como um conjunto de representações de um sistema ideológico que
configura o sexismo: dominação, exploração, sujeição, inferioridade das
mulheres e privilégios para os homens.
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O estudo de Andrade e Assis (2018) parte das categorias


sociológicas de gênero e raça para a compreensão da
organização do trabalho, fazendo uma revisão bibliográfica
analisando a produção científica brasileira nas áreas de educação
e saúde, as dimensões de gênero e raça estão presentes nas
análises e, entre suas conclusões destaca que:
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 A perspectiva do AMT para além das relações de dominação


entre homens e mulheres foi observada somente em duas
pesquisas da área da saúde, oque sugere que a classe social e
as relações de poder entre os grupos profissionais devem ser
consideradas em futuras investigações, assim como a
contribuição de Kergoat sobre a consubstancialidade das
relações sociais.

 A educação sexista, o machismo e a violência de


gênero devem ser abordados em futuras pesquisas
sobre AMT. Não foram encontrados estudos que
analisassem diferenças do AMT segundo gênero.
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 Com relação a raça/etnia, apenas dois estudos analisaram sua


ligação com o AMT. Um relata a discriminação racial, o outro, a
ausência de negros como docentes no ensino superior. É
importante que pesquisas abarquem esta dimensão para
entender de que modo a violência no trabalho atinge
diferentemente negros, pardos e brancos.
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Como pontua Dejours (2009, apud ANDRADE; ASSIS, 2018) , o


trabalho é criador, e pode favorecer ora os sofrimentos, ora os
prazeres.

Nessa dinâmica, a desestruturação da vida psíquica pode


repercutir na saúde. São necessários programas e uma legislação
específica para prevenir a violência ocupacional e a violência de
gênero, o racismo e o abuso de poder.
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 Cabe investigar o clima organizacional na lógica dos afetos e


relacionamentos humanos, ou seja, as pressões que dissolvem
a sociabilidade interferindo na identidade e processos de
subjetivação no trabalho. Cabe compreender como as emoções
tristes, os mecanismos de defesa e negação que estão
presentes no assédio laboral (e tidos por muitos como naturais,
inatas e irracionais e, portanto, do campo do fingimento),
surgem e se mantêm, tendo reflexos negativos no cotidiano do
trabalho e ampliando-se no âmbito familiar.
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Prevenção e Estratégias

 são necessárias políticas de prevenção e coibição da violência.


 as ocorrências devem ser denunciadas.
 é preciso que os profissionais saibam identificar o AMT e evitá-lo
 a organização, a gestão e as condições de trabalho são centrais
para compreender o modo como a competividade e a busca pelas
metas de desempenho podem contribuir para o adoecimento
 São necessários programas e uma legislação específica para
prevenir a violência ocupacional e a violência de gênero, o racismo
e o abuso de poder
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Referências

 ANDRADE, C. B.; ASSIS, S. G. de. Assédio moral no


trabalho, gênero, raça e poder: revisão de literatura. Revista
Brasileira de Saúde Ocupacional, [S. l.], v. 43, p. 1–13, 2018.
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 BARRETO, Margarida; HELOANI, Roberto. Violência, saúde e
trabalho: a intolerância e o assédio moral nas relações
laborais. Serviço Social & Sociedade, n. 123, p. 544-561, 2015.

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