(Simão e narrador) e construção do herói romântico 1. Em que época viveu Camilo Castelo Branco?
Camilo viveu no século XIX, atravessou toda
a época romântica e assistiu ao triunfo da escola realista. 2. Que circunstâncias da vida do autor terão dado origem à escrita da obra? Esta obra terá sido escrita em 15 dias, aquando da permanência de Camilo na Cadeia da Relação do Porto, por ter cometido adultério. A ideia de escrever a obra veio-lhe de ter consultado, na cadeia, o livro de registos de entradas referente a um seu tio, Simão Botelho, que havia sido degredado para a Índia. 3. De que modo o narrador conferiu à obra um cunho biográfico?
Para acentuar o caráter verídico do seu
relato, o narrador recorre à transcrição de documentos, à referência a datas, à sua memória em relação às coisas da sua família, explicitando fontes. 4. Quais são os momentos fundamentais da narrativa passional? Estes são os momentos fundamentais da narrativa: • 1779, antecedentes da família de Simão, infância e adolescência do herói; • em 1803, Simão até aí rebelde, muda o seu comportamento por amor a uma vizinha, Teresa; • o seu amor é clandestino, porque proibido pelas respetivas famílias que se odeiam; • o pai de Teresa pretende casá-la com o seu primo Baltazar; 4. Quais são os momentos fundamentais da narrativa passional? (cont.) • Teresa opõe-se à vontade do pai e prefere ingressar num convento; • João da Cruz, amigo e protetor de Simão, tem uma filha, Mariana, que, apesar de apaixonada por Simão, possibilita a troca de correspondência entre os dois amantes; • Simão mata Baltazar e entrega-se à justiça; • Simão é preso e deportado para a Índia, na companhia de Mariana que entretanto perdera o pai; 4. Quais são os momentos fundamentais da narrativa passional? (cont.) • Teresa, encerrada num convento, morre ao ver Simão partir; • Simão morre na viagem e Mariana suicida-se, lançando-se ao mar. 5. Quem é o protagonista da obra?
O protagonista da obra é Simão. Não é uma
personagem marcada pelo destino, é alguém que escolhe o seu destino e que não morre por amor, mas pela sua dignidade. 6. Simão é um herói romântico?
Simão apresenta várias características que
permitem considerá-lo um herói romântico: é rebelde, marginal e violento antes de amar; vive pelo sentimento e pelo instinto; é insatisfeito, buscando o absoluto da justiça, do amor; é incompreendido e marginalizado pela sociedade; é um herói que causa a perdição daqueles que o amam; é excessivo no amor e no ódio. A obra como crónica da mudança social; relações entre personagens; o amor-paixão 1. Como agruparias as personagens da obra?
As personagens da obra podem agrupar-se
em dois grandes grupos opostos: os que se amam e os que se odeiam. 2. O amor-paixão é o aspeto mais relevante da obra? Os temas do amor e da morte estão presentes nesta obra. Simão vive por Teresa um amor intenso que o transforma e que acaba por se metamorfosear em sofrimento. Por outro lado, o amor não correspondido de Mariana por Simão é também determinante na obra: é um amor que regenera, protege e conduz à morte. Contudo, para além da importância do amor-paixão, a obra apresenta uma vertente de observação de costumes e de crítica social marcante. 3. Em que medida a obra surge como uma crónica da mudança social que se adivinha? A narrativa passional é apenas um dos aspetos desta obra. Amor de Perdição deve ser lida como uma obra em que a observação de costumes e a crítica social adquirem um papel relevante de denúncia de comportamentos autoritários dentro da família, de corrupção na justiça, de incumprimento dos preceitos religiosos, nos conventos. 3. Em que medida a obra surge como uma crónica da mudança social que se adivinha? (cont.)
Assim, muito mais do que uma novela
passional, esta é uma obra de rutura com a tradição e de anúncio da implantação, na sociedade portuguesa, dos novos valores da Revolução Francesa. Linguagem, estilo e estrutura: o narrador; os diálogos; a concentração temporal da ação 1. Como caracterizas a linguagem utilizada na obra? Em algumas situações a linguagem é culta, erudita, com períodos longos e sentenciosos, mas noutras é viva, popular, corrente e despojada, feita de períodos curtos, expressões populares e castiças. Na realidade, predomina a linguagem concisa, com pouco recurso à adjetivação, semelhante à linguagem cinematográfica. 2. De que modo se verifica a concentração temporal na obra? A narrativa é linear e é apresentada em ritmo rápido de 1779 a 1803. A partir do encontro entre Simão e Teresa adquire um ritmo mais lento, mas próprio da novela. Não há, no entanto, praticamente ações secundárias, o que contribui para a concentração temporal da ação principal com sucessivas peripécias. Os diálogos apresentados são concisos e há poucas descrições.