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DIREITO TRIBUTÁRIO II

Garantias e privilégios do CT, Administração Tributária e sigilo.


I) GARANTIAS E PRIVILÉGIOS (PREFERÊNCIAS) DO CT.

1) Considerações iniciais.

A) Significado. Art. 183, CTN. Prerrogativas de que dispõe a Administração Tributária para perseguir a satisfação do CT,
decorrentes de sua natureza ex lege. Normas de proteção especial ao CT, comparando com outras espécies de crédito, que
buscam aumentar a possibilidade de satisfação e conferem preferências para o recebimento pela FP.

B) Prerrogativas sob reserva de lei (art. 141, in fine, CTN). A utilização não pode ser dispensada pela autoridade fiscal, pois o
objetivo é facilitar a arrecadação tributária. Princípios da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse
público.

C) Caráter não exaustivo das prerrogativas do CT previstas no CTN (art. 183, caput, CTN). Podem ser instituídas outras
prerrogativas ao CT pelas leis dos Entes federados em prol de seus tributos.

D) Críticas ao p. único, do art. 183, CTN. É evidente que o CT não passa a ser civil, comercial, ou de outra natureza, somente
pelo fato de ter prerrogativas para satisfação. P.ex. uma garantia real não faz com que o CT deixe de ter natureza tributária para
ter natureza hipotecária.
2) Conceitos.

A) Sacha Calmon. I) Garantia. “(...) em acepção ampla, é tudo o que garante o CT, como por exemplo o dever de
informar o Fisco e o dever de documentar as operações tributáveis (obrigações acessórias) (...). Em acepção estrita, a
garantia envolve a segurança do CT e a responsabilidade das pessoas ao seu pagamento. II) Privilégio. “(...) vantagem
que a lei concede a determinada pessoa, ou classe de pessoas, com exclusão da generalidade (...). Em matéria tributária,
é privilégio, v.g., a exclusão dos créditos fiscais dos juízos universais e concentracionários (desnecessidade de habilitação
em falência, concordata, concurso de credores, inventário e arrolamento). III) Preferência. “(...) é, de certo modo,
modalidade de privilégio. Processualmente, a preferência dá à Fazenda Pública o direito de receber seus créditos antes
de outros credores em concurso.”

“Os conceitos de garantia, privilégio e preferência confundem-se na linguagem do objeto. Por isso mesmo, o CTN
trata-os agrupadamente, sem rigor técnico, e, muitas vezes, aparecem miscigenados.”

B) Claudio Carneiro. I) Garantia. “(...) a garantia nada mais é do que um mecanismo assecuratório do exercício de um
direito, no caso, o da FP em relação ao seu crédito respectivo.” II) Privilégios. “(...) os privilégios devem ser entendidos
como preferências do crédito, já que a expressão ‘privilégio’ poderia insinuar violação ao princípio da igualdade. (...) os
privilégios são as prerrogativas inerentes ao direito de satisfazer o seu crédito antes dos demais credores, ou seja, de
prioridade no recebimento do CT em relação aos demais créditos (...).”
3) Espécies de garantias do CT:

A) Responsabilidade patrimonial do sujeito passivo pelo CT (art. 184, CTN). Princípio da universalidade dos bens do devedor. Todos os
bens e rendas do sujeito passivo, espólio ou da massa falida respondem pelo CT, mesmo aqueles gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, ressalvados os bens, que por força de lei, sejam absolutamente impenhoráveis (art. 833, CPC; art.
10, Lei 6830/80 e arts. 3º e 4º, Lei 8.009/90). Art. 30, Lei 6.830/80. *As cláusulas particulares de impenhorabilidade não podem ser
opostas contra a FP.

B) Presunção de fraude (art. 185 e p. único, CTN). “Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu
começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.” Os
objetivos são viabilizar a recuperação judicial da empresa e minimizar as fraudes contra o Fisco. Os bens do devedor só se tornam
indisponíveis com a penhora, logo há necessidade de evitar que a execução seja frustrada.

**STJ. Presunção absoluta. Claudio Carneiro. Relativa, pois não há que se cogitar a intenção do sujeito passivo em fraudar o Fisco.
Ademais, o sujeito passivo pode demonstrar que reservou bens em seu patrimônio (p. único, art. 185, CTN).

C) “Penhora” on line (art. 185-A, CTN). Se o sujeito passivo, devidamente citado no processo de execução fiscal, não pagar nem
apresentar bens à penhora no prazo legal e não serem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens
e direitos comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, a órgãos e entidades que promovem registros de transferência
de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim
de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial. D) Garantias indiretas. Prova de quitação de tributos (art. 191 a
art. 193, CTN)
ESPÉCIES DE PRIVILÉGIOS:

1) Regra geral. Art. 186, caput, CTN (LC 118/05). Casos de cobrança coletiva de créditos, como falência, recuperação judicial,
liquidação de sociedades, inventários e arrolamentos. O CT não prefere: a) créditos extraconcursais (art. 84, Lei 11.101/05 e art. 188,
CTN); b) importâncias passíveis de restituição (art. 85 e art. 86, Lei 11.101/05); c) crédito trabalhista (até 150 salários mínimos e o
crédito decorrente de acidente de trabalho, e; d) créditos com garantia real no limite do valor do bem gravado (reivindicação de
instituições bancárias).

2) Autonomia do executivo fiscal (art. 187, caput, CTN). Em relação ao crédito comum, cabe ao credor buscar a satisfação do seu
direito por meio de ação de cobrança. Em tese, a cobrança judicial do CT não se sujeita ao concurso de credores ou à habilitação em
falência, recuperação judicial, inventário ou arrolamento. *Regra ineficaz. Independentemente da existência de concurso de
credores, na falência a FP não poderá preterir a ordem de preferência do art. 186, CTN e do art. 83, da Lei 11.101/05.

3) Concurso de preferência entre p. j. de Direito Público (art. 187, p. único, CTN). É constitucional? 1) Viola o princípio federativo
(autonomia). Não há hierarquia entre os entes federativos. 2) STF, antes da CF/88. Súmula 563. Compatível com a Constituição.
Hipótese de planejamento tributário. Em função da repartição de receita, a União recebendo em primeiro lugar, prestigiará o pacto
federativo. Tutela dos interesses nacionais. Prevalência sobre os interesses regionais e locais.

4) Processo de inventário e arrolamento (art. 189, caput, CTN). No curso do processo de inventário ou arrolamento o CT prefere a
qualquer crédito habilitado, bem como a outros encargos do monte devidos pelo de cujus ou seu espólio. Inventariante é
responsável pelas dívidas tributárias do de cujus (art. 134, IV, CTN). Preferência geral e absoluta do CT. O inventariante tem a
obrigação de informar as dívidas do autor da herança.
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA:

1) Conceito e atividades (fiscalização, dívida ativa e certidões negativas – divisão em capítulos). É ramificação da Administração Pública.
Traduz especialização da atividade da Administração Pública concernente à gestão da constituição do CT, das funções de arrecadar e fiscalizar
tributos, da organização e do funcionamento das repartições fazendárias e de toda a atividade fiscal. Art. 145, § 1º, CRFB. Art. 37, XXII, CRFB.
Art. 167, IV, CRFB. *A melhoria da fiscalização melhora a arrecadação, permitindo que o Estado aumente a receita para realizar despesas
públicas voltadas à satisfação das necessidades coletivas.

2) Fiscalização (art. 196 a 200, CTN e art. 37, XXII, CR). Conjunto de atos que visam, sobretudo, a controlar o cumprimento das obrigações
principais e acessórias. Visam estimular o cumprimento espontâneo da legislação tributária e punir o seu descumprimento. A maior
importância é obter receita. Poderes gerais e poderes específicos de fiscalização (art. 6º a 8º e art. 194, CTN). Competência do Ente
federativo para legislar sobre a respectiva fiscalização. A legislação tributária deve fixar os poderes e os deveres específicos a ela inerentes.
Poder dever do Estado, que visa impedir a sonegação fiscal. Pessoas que gozam de imunidade ou isenção se submetem à fiscalização (poder
da Administração tributária) e devem cumprir as obrigações acessórias.

3) Inafastabilidade dos atos de fiscalização (art. 195, caput, CTN). O Código Comercial (arts. 17, 18 e 19) previa que o sigilo dos livros
comerciais que, segundo o STF, era inaplicável ao Fisco. Súmulas 439, 323 e 70, STF. *Claudio Carneiro. Livros de caráter obrigatório é que
estão abrangidos pela regra (p. único). Exceto se a fiscalização, ao abrir o termo de fiscalização, encontrar livros facultativos ou qualquer outro
documento de interesse do Fisco, caso em que poderá ser apreendido e analisado para fins de autuação fiscal.

3) Poder de requisição das autoridades fiscais (art. 197, I a VII e p. único, CTN). Em função da atividade, determinadas pessoas e entidades
possuem informações relevantes para o Fisco. Obrigação de prestar informações às autoridades fiscais de que disponham, relativas a bens,
negócios ou atividades de terceiros. *P. único. Preservação do sigilo profissional (médicos, psicólogos, advogados etc.).
Deveres das autoridades fiscais:

1) Dever de sigilo (art. 198, caput, CTN). Sigilo Fiscal.

2) Exceções:

i) requisição da autoridade judiciária (art. 198, § 1º, I, CTN);

ii)solicitação de autoridade administrativa (art. 198, § 1º, II, CTN), e;

*Intercâmbio de informações sigilosas. § 2º, art. 198, CTN. Processo regularmente instaurado e entrega de informações pessoalmente à
autoridade solicitante, mediante recibo que formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo.

**Se o contribuinte for autuado com base em informação concedida sem lei ou convênio será nula a autuação. REsp 310210

iii) divulgação de informações (art. 198, § 3º, I, II e III, CTN). Sigilo fiscal não é absoluto. Autoriza a divulgação de informações.

*Quebra do sigilo bancário. Cinco ADI’s contra o art. 6º, LC 105/2001. O Fisco vem promovendo sem ordem judicial, contrariando a tendência do
STF. Art. 5º, XII, CRFB. RE 389.808/PR. Judiciário e CPI. Por outro lado não é absoluto. Legislador na contramão da jurisprudência do STF ao
ampliar as hipóteses de quebra de sigilo, ampliando os poderes do Fisco. **Claudio Carneiro. O sigilo bancário não é absoluto, porém a
flexibilização da quebra por autoridades fazendárias de ofício viola a CRFB. Devassa ao sigilo das informações dos contribuintes sob a guarda de
instituições financeiras. ***STF. Inicialmente, entendeu que o art. 6º, da LC 105/01 seria constitucional. Nos RE 387604/389808, entendeu que a
quebra do sigilo só pode ser decretada por ordem judicial, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. A RFB não tem poder
de decretar de ofício quebra de sigilo bancário do contribuinte. P. da dignidade humana e inviolabilidade às informações do cidadão/intimidade.
CASO CONCRETO
Em dificuldade para saldar seus débitos, inclusive tributários, a sociedade comercial Irmãos Tavares & Cia. Ltda., decidiu cerrar suas portas
sumariamente, deixando de dar baixa regular em seus registros e obrigações comerciais e fiscais. Tomando conhecimento do fato, fiscais da
Receita Federal verificaram não ter sido recolhido o Imposto de Renda dos dois últimos exercícios, tendo em consequência procedido ao
lançamento. Notificada regularmente a empresa, na pessoa de seu sócio-gerente, deixou de defender-se administrativamente, correndo o
processo administrativo-fiscal à revelia e culminando com a inscrição do crédito tributário em dívida ativa e imediato ajuizamento da execução
fiscal. Alertado por seu antigo contador, o sócio-gerente aliena vários bens sociais. Pergunta-se: a) São válidos esses atos de alienação? Em que
circunstâncias? b) Pode a Fazenda Pública requerer a falência da sociedade? c) É possível ao fisco determinar à instituição bancária que lhe
forneça os dados das movimentações da sociedade e do sócio gerente para buscar identificar as irregularidades, independente de autorização
judicial?
Resposta. No que tange à letra a, a resposta deverá fundar-se no art. 185 e seu parágrafo do CTN, que estabelece a presunção de fraude à
execução dos atos de alienação e oneração de bens do sujeito passivo da obrigação tributária, praticados após a inscrição do respectivo crédito
em dívida ativa, salvo se remanescerem bens ou rendas suficientes para garantir a execução fiscal. Assim, os atos do sócio-gerente alienando bens
sociais são nulos de pleno direito, a não ser que haja reservado outros bens sociais bastantes para assegurar a execução. No que tange à letra b, o
entendimento predominante é de que a Fazenda Pública não tem nem legitimidade nem interesse. Na linha da legislação tributária e da doutrina
especializada, a cobrança do tributo é atividade vinculada, devendo o fisco utilizar-se do instrumento afetado pela lei à satisfação do crédito
tributário, a execução fiscal, que goza de especificidades e privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em tais
créditos. Afigura-se impróprio o requerimento de falência do contribuinte comerciante pela Fazenda Pública, na medida em que esta dispõe de
instrumento específico para cobrança do crédito tributário. Ademais, revela-se ilógico o pedido de quebra, seguido de sua decretação, para logo
após informar-se ao Juízo que o crédito tributário não se submete ao concurso falimentar, consoante dicção do art. 187 do CTN. (STJ, REsp
287.824/MG). Ademais, o Enunciado 56 da I Jornada de Direito Comercial do CJF diz que “a Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse
de agir para requerer a falência do devedor empresário”. No que tange à letra c, deve trabalhar a decisão do STF sobre a constitucionalidade da LC
105/2001, no sentido de que a norma não resulta em quebra de sigilo bancário, mas sim em transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal,
ambas protegidas contra o acesso de terceiros. A transferência de informações é feita dos bancos ao Fisco, que tem o dever de preservar o sigilo
dos dados, portanto não há ofensa à Constituição Federal. (RE 601314, ADIs 2386, 2390, 2397 e 2859)

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