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ISCAL

AUDITORIA FINANCEIRA

MESTRADO EM AUDITORIA
14ª Edição – 2020-2021
Gabriel Correia Alves
ISCAL Mestrado Auditoria

Capítulo 1
Conceito e interesse público da auditoria

Gabriel Correia Alves


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ISCAL Mestrado Auditoria

Auditoria (Audit)

O objetivo de uma auditoria de demonstrações financeiras é o de habilitar o


auditor a expressar uma opinião sobre se as demonstrações financeiras estão
preparadas, em todos os aspetos materiais, de acordo com uma estrutura
conceptual identificada de relato financeiro.

Fonte: ISA 200

Gabriel Correia Alves


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Teorias relacionadas com a necessidade de auditoria

 Segundo Hayes, Dassen, Schilder and Wallage


▪ Policeman Theory
▪ Trabalho focado na deteção da fraude e na exatidão aritmética

▪ Lending Credibility Theory


▪ A principal função do auditor é proporcionar credibilidade à informação
financeira. Dá aos stakeholders confiança na gestão dos gestores. Contribui
para a redução da assimetria da informação.

▪ Theory of Inspired Confidence


• Teoria desenvolvida nos finais dos anos 20 por Limperg. Resulta da importância dos
stakeholders que exigem responsabilidade à gestão em troca das suas contribuições à
empresa. A informação pode não ser completa por via da possível divergência entre os
interesses da gestão e dos stakeholders, o que justifica a auditoria.
• O problema das expetativas.

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Teorias relacionadas com a necessidade de auditoria

 Segundo Hayes, Dassen, Schilder and Wallage


▪ Agency Theory (Autores iniciais: Watts e Zinmerman)
▪ Risco de agência: o interesse do agente diverge do interesse do principal.
Logo a informação tem de ser credível e, portanto, auditada. O agente é a
origem da procura de auditoria.
▪ O auditor é nomeado não apenas no interesse de terceiros mas também
no interesse de gestores.
▪ A gestão pretende otimizar as contribuições de terceiros (menores taxas de
juro; cotação mais elevada das ações; etc..)
▪ Temos, assim, o agente (gestor) e o principal (financiadores, investidores,
etc..)

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Teorias relacionadas com a necessidade de auditoria (Cosserat)

Agency theory

Os investidores confiam os seus recursos a gestores (agentes)

Information hypothesis

Os investidores exigem informação para avaliarem o retorno esperado e os riscos


associados às decisões de investimento.

Procuram informação auditada como forma de melhorar a qualidade da informação


em que se baseiam.

Esta hipótese realça o aumento da credibilidade da informação como um input para


a tomada de decisão.

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Teorias relacionadas com a necessidade de auditoria (Cosserat)

• Insurance hypothesis

A transferência da responsabilidade financeira pelos dados reportados para os


auditores diminui o prejuízo esperado de litigância (o seguro é um fator importante
na litigação).

Uma das razões pela qual gerentes e profissionais vêm a auditoria como seguro
prende-se com a boa aceitação da função auditoria pela sociedade.

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Necessidade de demonstrações financeiras auditadas

Alguns autores atribuem a necessidade de auditoria independente a quatro


fatores:

• Conflito de interesses

• Consequências (económicas e sociais decorrentes da tomada de


decisões);

• Complexidade (das operações e da preparação das DF)

• Distância (dificuldade de acesso aos registos contabilísticos)

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Benefícios sociais da auditoria (Boynton e Kell)

• Acesso ao mercado de capitais

• Menor custo de capital

• Desincentivo à ineficiência e à fraude

• Melhores controlos e operações mais eficientes

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Methodological Procedure in Auditing

1. Reconhecimento (aceitação) de um problema complexo (que corresponde à própria


auditoria)

2. Observação de factos relevantes para o problema

3. Subdivisão do problema complexo em problemas individuais (mais simples)

4. Determinação da prova (ou evidência) pertinente disponível para cada problema

5. Seleção ou definição das técnicas de auditoria aplicáveis e dos procedimentos


apropriados.

6. Execução de procedimentos para a obtenção de evidência.

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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Methodological Procedure in Auditing


7. Avaliação da prova ou evidência

a. Relativamente à pertinência e validade da mesma

b. Como indicador de quaisquer problemas adicionais.

c. Relativamente à sua adequação para a formação de julgamento.

8. Formação do julgamento

a. Sobre proposicões individuais;

b. Sobre o problema mais complexo.

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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POSTULATES

 Postulates are assumptions that do not lend themselves to direct verification. The
propositions deduced from the postulates of a given system, however, can be
directly verified and such verification bears evidence of the truth of the postulates
themselves.
• They provide the basis for making inferences which are valid and useful to the
extent that the postulates themselves satisfy the needs of the particular discipline.
Once we accept the postulates we can draw propositions from them. They provide a
basis for thinking about problems and for arriving at solutions.
• The postulates, once accepted as useful and valid, may at a later date be challenged and
even demonstrated to be invalid. As noted earlier, postulates cannot be directly verified.
Neither can they be proved untrue, or they would have no usefulness. That means that
when a postulate can be proved untrue, it has lost its value as a postulate and must be
discarded.

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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General Characteristics of Postulates

1. Essenciais ao desenvolvimento de qualquer discipla intelectual

2. Pressupostos que por si só não conduzem a uma verificação direta.

3. Constituem as bases para o exercício de inferências;

4. Constituem o ponto de partida para a construção de uma estrutura teórica;

5. Suscetíveis de mutabilidade em função do avanço do conhecimento.

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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Tentative Postulates of Auditing

1. As demonstrações financeiras e os dados contabilísticos são verificáveis;

2. Não existem necessariamente conflitos entre o auditor e a administração da


entidade auditada;

3. As demonstrações financeiras e toda a informação publicada e sujeita a


verificação estão livres de de erros intencionais e outras irregularidades;

4. A existência de um sistema de controlo interno elimina a probabilidade de


irregularidades;

5. A aplicação consistente dps pcga gera uma representação razoável da posição


financeira e dos resultados da entidade

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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Tentative Postulates of Auditing

6. Na ausência de evidência em contrário, o que se considerou válido na entidade


auditada é passível de extrapolação para o futuro.

7. Ao examinar os dados contabilísticos e financeiros com o propósito de expressar


uma opinião independente, o auditor atua exclusivamente como auditor.

8. O estatuto do auditor independente impõe adequadas obrigações.

Fonte: The Philosophy of Auditing, Mautz and Sharaf, AAA, 1961

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Postulados de auditoria (Mautz e Sharaf)

Os oito postulados de Mautz e Sharaf baseiam-se em três pontos fundamentais:

• Natureza dos fenómenos contabilizados, relatados e auditados; (postulados 1, 4, 5


e 6)

• Comportamento ético dos gestores; (postulados 2 e 3)

• Comportamento dos auditores (postulados 7 e 8)

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Postulados de auditoria (David Flint)

1. A condição essencial para uma auditoria é que exista uma relação de


responsabilidade – de prestação de contas - ou uma situação de responsabilidade
pública,

 Relação de conduta entre duas ou mais partes perfeitamente identificáveis;

 Necessidade de credibilizar a informação por que se é responsável, a fim de ser


usada por terceiros que podem não ser constantes ou identificáveis;

 Dimensão de interesse público ;

 Necessidade de dar autenticidade à informação ou a demonstrações feitas


influenciando ações de terceiros.

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Postulados de auditoria (David Flint)


2. A questão da responsabilidade é tão dispersa, complexa e importante para o
cumprimento/desempenho do dever poder ser demonstrado sem o processo de
auditoria;
3. As caraterísticas distintivas essenciais da auditoria são a independência do estatuto
do auditor e a sua liberdade de investigação e relato dos constrangimentos/reservas.
4. As questões relativas à auditoria (conduta, desempenho, realização, registo de
acontecimentos e verificação de factos) são suscetíveis de comprovação por
evidência.
5. Podem ser estabelecidos padrões de responsabilidade por aqueles que são
responsáveis. A conduta efetiva, o desempenho, etc. podem ser avaliados e
comparados com tais padrões com referência a critérios estabelecidos. O processo de
mensuração/avaliação e comparação requerem especial competência e exercício de
julgamento.
6. O significado e a intenção das DF e outras, bem como os dados que são auditados
são suficientemente claros para que a credibilidade que lhes é atribuída, como sendo
resultado de uma auditoria, seja claramente expressa e transmitida.
7. Uma auditoria produz um benefício económico ou social

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Postulados de auditoria (Tom Lee)

Postulados Básicos (Justifying Corporate Audit Postulates)


1. A qualidade da informação expressa nas DF da generalidade das organizações
empresariais carece de suficiente credibilidade sem verificação formal e validação de
modo a poder ser usada com plena confiança pelos acionistas e outros utilizadores no
processo de prestação de contas.

2. A função de auditoria, enquanto parte do processo de prestação de contas e de


atribuição de responsabilidades, através da sua verificação e validação da
informação reportada aos acionistas e outros utentes, é mais procurada na
generalidade das situações empresariais.

3. A verificação e confirmação da qualidade da informação financeira reportada aos


acionistas e outros utentes são melhor conseguidas através da regulação na
generalidade das situações.

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Postulados de auditoria (Tom Lee)

Postulados Básicos (Justifying Corporate Audit Postulates)


4. Na generalidade das situações, a qualidade da informação financeira expressa nas
demonstrações reportadas aos acionistas e outros utentes pode ser satisfatoriamente
validada através do processo de verificação de uma auditoria externa.

5. Na generalidade das situações os acionistas e outros utentes com legítimo interesse


não estão em posição de poderem verificar e atestar pessoalmente a qualidade das
demonstrações financeiras que lhes são apresentadas.

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Postulados de auditoria (Tom Lee)

Postulados comportamentais (Behavioural Corporate Audit Postulates)


1. Não existem quaisquer conflitos de interesse entre o auditor e a gestão que possam
criar obstáculos à verificação e confirmação da qualidade das demonstrações
financeiras reportadas aos acionistas e outros utentes.
2. Não existem restrições legais ou regulamentares que não sejam razoáveis para os
auditores que os impeçam de verificar e atestar a qualidade das demonstrações
financeiras reportadas aos acionistas e a outros utentes interessados.
3. O auditor exerce a sua função de forma devidamente independente, tanto
mentalmente como fisicamente, de modo a verificar e a validar com suficiente
objetividade a qualidade da informação financeira reportada.
4. O auditor é suficientemente habilitado e experimentado para conduzir de forma
competente a função de verificação e validação da qualidade das demonstrações
financeiras reportadas.
5. O auditor é responsável, enquanto profissional qualificado, pelo seu trabalho de
auditoria e pela emissão de opinião sobre a qualidade da informação financeira
relatada.

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Postulados de auditoria (Tom Lee)

Postulados funcionais, ou seja, relacionados com a atividade de auditoria (Functional


Corporate Audit Postulates)
1. A qualidade primordial das DF, na perspetiva da auditoria, é interpretada,
principalmente, em termos da sua relevância e credibilidade, existindo padrões
(normas) através dos quais o auditor pode aferir tais atributos.

2. Existem evidências suficientes e fiáveis capazes de permitir ao auditor suportar de


forma apropriada uma opinião de auditoria sobre a qualidade das DF reportadas; e o
auditor pode obter e avaliar tais evidências em tempo e custo razoáveis.

3. A informação incluída nas demonstrações financeiras apresentadas aos acionistas e


outros utentes está isenta de fraudes e erros relevantes.

4. A relevância e a credibilidade/fiabilidade das demonstrações financeiras reportadas


aos acionistas e a outros utentes pode-lhes ser significativamente transmitida através
do auditor.

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Auditoria versus exame simplificado

Auditoria (audit)
• O objetivo de uma auditoria de demonstrações financeiras é o de habilitar o
auditor a expressar uma opinião sobre se as demonstrações financeiras estão
preparadas, em todos os aspetos materiais, de acordo com uma estrutura
conceptual identificada de relato financeiro.
Fonte: ISA 200

Exame simplificado ou revisão limitada (review)


• O objetivo de um exame simplificado é o de habilitar um auditor a
declarar se, na base de procedimentos que não proporcionam todas as
provas que seriam exigidas numa auditoria, algo chamou a sua atenção que
o possa levar a crer que as demonstrações financeiras não estão
preparadas, em todos os aspetos materiais, de acordo com a estrutura
conceptual de relato financeiro aplicável (segurança negativa).
Fonte: ISRE 2400

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Auditoria obrigatória por via da lei ou dos estatutos

Revisão legal das contas (em Portugal) Certificação legal das contas

Auditoria voluntária ou contratual

Revisão voluntária das contas (em Portugal) Relatório de auditoria

AS DIFERENÇAS DE EXPETATIVA

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Tipos de auditoria e de auditores

Auditoria Financeira, Externa ou Independente


(Statutory Auditor/Revisor Oficial de Contas)
Auditoria Interna
(Certified Internal Auditor/Auditor Interno Certificado)
Auditoria de Sistemas de Informação
(Certified Information Systems Auditor)
Auditoria Operacional
Auditoria de Gestão
Auditoria Estratégica e Previsional
Auditoria Informática
Auditoria Forense
Auditoria dos Relatórios de Sustentabilidade

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