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Resposta de Sócrates a Cebes:

Sócrates começa por recuperar as teses de Cebes


relativamente à teoria da imortalidade da alma;
este concorda que a alma é resistente e divina e
que existe antes de nascermos, mas isso não
implica a sua imortalidade, apenas a sua longa
duração. O facto da alma ter entrado no corpo foi o
princípio da sua destruição.
Com este ponto de partida sócrates vai, então,
examinar as causas que dizem respeito à geração e
à destruição.
Sócrates faz uma regressão aos seus tempos da
juventude, em que tinha o desejo de conhecer a
ciência denominada de investigação da natureza,
para saber a causa de todas as coisas: porque é
que elas nascem, perecem e subsistem?
Daqui resultou a desilusão com o método dos
físicos, que se limitaram a descrever
mecanicamente os fenómenos.
Posteriormente entra em contacto com a filosofia
de Anaxágoras.
Falava da acção de um Espírito inteligente,
ordenador e causa de tudo o que existe “nous”.
Esta explicação era diferente da dos físicos e já
não confundia a causa com o efeito. No entanto,
teve de reconhecer que Anaxágoras se desviara na
direcção que parecia levar ao caminho da verdade
para cair na rotina da explicação física tradicional.
O saber verdadeiro não reside no mundo das
sensações, está nas ideias, como essência dos
seres. As verdadeiras causas são, então, as ideias.
Para chegar a esta conclusão Sócrates afirma ser
necessário adoptar uma nova metodologia:
método dialéctico ou hipotético-dedutivo.
Este método afirma que ao partirmos de um
princípio (hipótese) que julgamos ser
verdadeiro, devemos admitir como verdadeiro
tudo o que se afirma em concordância com ele.
Cebes seguira o caminho do erro e da ilusão; o
bom caminho é o da dialéctica e o da
consideração das Ideias como causa de todas
as coisas.
O Belo, o Bom, a Grandeza, existem em si, por si,
não são generalizações – o método hipotético-
dedutivo impõe que as coisas sensíveis se
chamem belas por concordarem com o Belo e não
por serem belas em si mesmas.
“É por causa do Belo que as coisas são belas.”
Nada mais as torna belas do que a presença ou a
participação daquele Belo.
Uma coisa só se explica cabalmente quando se liga,
ao que nela há de inteligível, isto é, à sua essência.
A Teoria da Participação procura estabelecer uma
relação entre o mundo das Ideias e o mundo
sensível, entre o mundo das coisas particulares,
múltiplas, diversas e em devir e o mundo
inteligível, da unidade, da permanência e da
identidade. Se só as Ideias são o que
verdadeiramente é, as coisas particulares só são o
que são por participação com o que
verdadeiramente é por si e em si e não em outro.
Se há coisas belas é porque participam do Belo; é
a própria Ideia de Belo que é o ser das coisas que
se dizem belas, por isso, só o belo (a Ideia) é o
que é (ser) e o ser das coisas belas é a própria
ideia de belo que é comum a todas as coisas belas
que participam da Ideia que é o seu ser, a sua
unidade e a sua causa.
Assim, qualquer coisa bela que exista no mundo
sensível, existe porque essa coisa participa da
ideia de Belo do mundo inteligível.
4ª PROVA DA IMORTALIDADE DA ALMA

Incompatibilidade dos opostos


Este argumento parte do pressuposto da existência
do mundo das Ideias e da interpretação da
causalidade como participação. Retomando o
argumento inicial Sócrates recorda que as coisas
contrárias devêm a partir das suas contrárias mas
os próprios contrários, os “contrários em si”, “os
contrários em nós” não podem tornar-se nos seus
contrários pois perante a aproximação de um
contrário o outro desaparece.
Os opostos não podem coexistir no mesmo sujeito.
A grandeza e a pequenez não existem
simultaneamente em Símias mas resultam da
comparação entre ele e os outros.
Os contrários em si não admitem na sua essência
o seu contrário.
A objecção de Cebes dizia que a alma dura, mas
não perdura imperecivelmente. Para refutar,
Sócrates, diz que: - os contrários não coexistem
nem podem coexistir num mesmo sujeito – o
corpo passa da vida à morte, mas isto não quer
dizer que a vida, como essência, devenha ou
possa devir do seu contrário.
a essência da alma consiste em ser vida, excluindo
intrinsecamente a morte, que é o contrário de
vida.
Não contradiz o 1º Argumento porque no primeiro
procura mostrar que a sucessão dos contrários era
a lei do universo - «uma coisa oposta tem origem
na que lhe é oposta». Aqui o recurso à lei cíclica
dos contrários pretende demonstrar que a
alteração das características físicas, como por
exemplo, a dos objectos que de quentes passam a
frios.
Naquele há um elemento imperecível que é a alma,
nestes, pelo contrário, quando o calor vem ocupar o
lugar do frio, este desaparece e perece - «o oposto
em si mesmo jamais poderá tornar-se no seu
oposto, tanto o que existe em nós como o que
existe na natureza».
O fogo é por natureza quente e seria contraditório
considerar possível a existência de fogo frio. A
incompatibilidade dos contrários diz respeito à
própria substância.
Exemplo da neve: «jamais a neve , enquanto tal, se
vier a acolher o quente, continuará a ser a mesma
neve como antes, ou seja, neve quente: bem pelo
contrário, quando o quente avança na sua direcção
ou bate em retirada ou perece».
Identicamente ao fogo, à neve ou ao número cinco,
a alma é por natureza vida, princípio ou causa de
vida, a substância cuja natureza ou atributo
essencial é a vida, aquilo que não admite no seu seio
o seu oposto, a morte, logo, aquilo que não é mortal.
O facto da alma ser imperecível decorre da
sua própria essência.
“Quando a morte sobrevém ao homem, é a
sua parte mortal (...) que morre, a outra, a
imortal, subtrai-se à morte e escapa-se a
salvo, isenta de destruição. (...) é um facto
que as nossas almas irão para o Hades.”
Apesar de não terem dúvidas relativamente aos
argumentos apresentados, Símias reconhece que
“por causa da magnitude do assunto e em atenção
à fraqueza humana”, mantém ainda algumas
reservas relativas à imortalidade da alma.
Platão acaba por reconhecer a insuficiência da sua
argumentação, pelo que recorre ao mito do
destino das almas.
O mito do destino das almas

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