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Instituto Superior Politécnico de Songo

Engenharia Eléctrica

Máquinas Eléctricas I

GENERALIDADES E
TRANSFORMADORES

Agosto de 2018
1. GENERALIDADES

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1.1. A CONVERSÃO
ELECTROMECÂNICA DE ENERGIA

• A electricidade é a única forma de energia cujo controle, utilização e conversão em outras


formas de energia são relativamente fáceis, ela provavelmente continuará a ser a forma
principal de energia utilizada pelo homem.
• A primeira indicação da possibilidade de intercâmbio entre energia eléctrica e mecânica foi
apresentada por Michael Faraday em 1831. Esta descoberta é considerada por alguns como o
maior avanço individual no progresso da ciência para atingir o aperfeiçoamento final da
humanidade.
• A conversão electromagnética de energia relaciona as forças eléctricas e magnéticas do átomo
com a força mecânica aplicada à matéria e ao movimento. Como resultado desta relação, a
energia mecânica pode ser convertida em energia eléctrica, e vice-versa, através das
MÁQUINAS ELÉCTRICAS.

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Uma máquina eléctrica é um dispositivo que pode converter tanto a energia mecânica em
energia eléctrica como a energia eléctrica em energia mecânica. Quando tal dispositivo é
usado para converter energia mecânica em energia eléctrica, ele é denominado gerador.
Quando converte energia eléctrica em energia mecânica, ele é denominado motor.
O transformador é um dispositivo eléctrico que apresenta uma relação próxima com as
máquinas eléctricas. Ele converte energia eléctrica CA de um nível de tensão em energia
eléctrica CA de outro nível de tensão.
Em muitos casos é encontrada a seguinte classificação para as máquinas eléctricas:
• Máquina estática: transformador
• Máquinas eléctricas rotativas: gerador e motor, que podem ser de corrente contínua ou
de corrente alternada, segundo a figura a seguir.

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Figura 1 - Máquinas Eléctricas Rotativas
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• Todas as máquinas – tanto as rotativas quanto as estáticas – funcionam segundo a lei de
Faraday de indução electromagnética e a lei de Lenz.
• Nas máquinas rotativas, existe sempre uma parte fixa - estator - e uma parte móvel - rotor.
Nos geradores, o movimento de rotação do rotor provoca o aparecimento de uma f.e.m. no
estator. Nos motores, a aplicação de uma f.e.m. ao estator provoca o movimento de rotação
do rotor.
• Costumam também utilizar-se os termos indutor e induzido para representar a causa e o
efeito, respectivamente, de um gerador ou de um motor. No caso dos motores, o indutor é o
estator, provocando uma força de rotação induzida no rotor (sendo este o induzido).
• No cotidiano da vida moderna, esses três tipos de dispositivos eléctricos estão
presentes em todos os lugares. Nas casas, os motores eléctricos accionam refrigeradores,
geleiras, aspiradores de ar, processadores de alimentos, aparelhos de ar condicionado,
ventiladores e muitos outros electrodomésticos similares. Nas indústrias, os motores
produzem a força motriz para mover praticamente todas as máquinas. Naturalmente, para
fornecer a energia utilizada por todos esses motores, há necessidade de geradores. Os
transformadores auxiliam nesse processo, reduzindo as perdas energéticas entre o ponto de
geração da energia eléctrica e o ponto de sua utilização.
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Figura 2 – principais etapas do sistema eléctrico e as máquinas eléctricas

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• Por que motores e geradores eléctricos são tão comuns?
• A resposta é muito simples: a energia eléctrica é uma fonte de energia limpa
e eficiente, fácil de ser transmitida a longas distâncias e fácil de ser
controlada. Um motor eléctrico não requer ventilação constante nem
combustível na forma que é exigida por um motor de combustão interna.
Assim, o motor eléctrico é muito apropriado para uso em ambientes onde
não são desejáveis poluentes associados com combustão. Em vez disso, a
energia solar, energia térmica ou mecânica pode ser convertida para a forma
eléctrica em um local distanciado. Em seguida, a energia eléctrica pode ser
transmitida por longas distâncias até o local onde deverá ser utilizada e, por
fim, pode ser usada de forma limpa em todas as casas, escritórios e
indústrias.

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2. TRANSFORMADORES

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• Um transformador é um dispositivo que converte, por meio da acção de um
campo magnético, a energia eléctrica CA de uma dada frequência e nível de tensão
em energia eléctrica CA de mesma frequência, mas outro nível de tensão. Ele
consiste em duas ou mais bobinas de fio enroladas em torno de um núcleo
ferromagnético comum. Essas bobinas (usualmente) não estão conectadas
directamente entre si. A única conexão entre as bobinas é o fluxo magnético comum
presente dentro do núcleo.
• Um dos enrolamentos do transformador é ligado a uma fonte de energia eléctrica
CA e o segundo (e possivelmente um terceiro) enrolamento do transformador
fornece energia às cargas. O enrolamento do transformador ligado à fonte de
energia é denominado enrolamento primário ou enrolamento de entrada e o
enrolamento conectado às cargas é denominado enrolamento secundário ou
enrolamento de saída. Se houver um terceiro enrolamento, ele será denominado
enrolamento terciário.
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• A transmissão de energia eléctrica desde os centros de produção aos numerosos
centros de consumo é tanto mais económica quanto mais alta for a tensão das
linhas, por que assim há menor corrente e consequentemente uma redução na
secção dos condutores.
• As tensões geradas nos alternadores das centrais eléctricas estão limitadas, por
considerações tecnológicas, a valores fixados entre 12 a 30 kV, que são insuficientes
para alcançar tal objectivo. Os transformadores permitem conciliar de forma
adequada estas necessidades, de tal forma que para reduzir as perdas na linha se
realiza primeiramente uma transformação que eleva a tensão de saída dos
alternadores a valores na ordem de 110 a aproximadamente 1000 kV, aos quais se
realiza o transporte, existindo nos receptores outros transformadores que realizam o
processo inverso, reduzindo a tensão até níveis que se considerem convenientes
para a distribuição e consumo desta energia.

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2.1. CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS
CONSTRUTIVOS DOS
TRANSFORMADORES
Existem vários critérios de classificação do transformador, e abaixo são apresentados
alguns destes critérios.
1. Quanto ao tipo
• Transformador de dois ou mais enrolamentos;
• Autotransformador.
2. Quanto à finalidade
• Transformador de potência;
o Transformador de força;
o Transformador de distribuição.
• Transformador de instrumentos.
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3. Quanto ao numero de fases
• Transformador monofásico e transformador polifásico.

O nosso estudo cinge-se essencialmente nos transformadores de potência e este tem


como funções:
• Isolar electricamente dois circuitos;
• Fazer o casamento de impedâncias entre uma fonte e a sua carga;
• Ajustar a tensão de saída de um estágio de um sistema à tensão de entrada do estágio
seguinte.

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PARA A PRÓXIMA AULA

• Constituição dos transformadores;


• O transformador ideal: relação de transformação; transformação de impedâncias;
• O transformador real, circuito equivalente do transformador real

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2.1. CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS
CONSTRUTIVOS DOS
TRANSFORMADORES (CONT.)

O transformador é constituído, principalmente, por: núcleo; enrolamentos e um sistema


de refrigeração.
1. Núcleo
• O núcleo é o sistema que forma o circuito magnético do transformador, constituído
normalmente por chapas de aço.
• Os transformadores de potência são construídos com um núcleo que pode ser de dois
tipos. Um deles consiste em um bloco rectangular laminado simples de aço com os
enrolamentos do transformador envolvendo dois lados do rectângulo. Esse tipo de
construção é conhecido como núcleo envolvido e está ilustrado na Figura 3a

15
Figura 3: (a) transformador de núcleo envolvido

16
O outro tipo consiste em um núcleo laminado de três pernas com os enrolamentos
envolvendo a perna central. Esse tipo de construção é conhecido como núcleo
envolvente e está ilustrado na Figura 3b.

Figura 3: (b) transformador de núcleo envolvente.

17
O circuito magnético é composto por colunas ou pernas, que são as partes onde são
montados os enrolamentos, e as culatras que são as partes que realizam a união entre as
colunas. Os espaços vazios entre as colunas e as culatras, pêlos quais passam os
enrolamentos, se denominam janelas de núcleo.
2. Enrolamentos
Constituem o circuito eléctrico do transformador; são feitos de condutores de cobre,
com secção circular (para diâmetros inferiores a 4mm) e ou de secção rectangular
quando se requerem secções maiores. Os condutores são cobertos por uma capa
isolante, que pode ser de verniz para transformadores de baixas potências, ou varias
camadas de fibra de algodão ou cinta de papel.

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Segundo a disposição relativa dos enrolamentos de alta e baixa tensão, os enrolamentos
podem ser concêntricos ou alternados, segundo a figura 4.

(a) (b)

Figura 4: (a) enrolamentos concêntricos (b) enrolamentos alternados

19
Nos enrolamentos concêntricos as bobinas têm forma de cilindro circular coaxial (figura
4a). Geralmente, os condutores de baixa tensão são mais próximos da coluna, que é
mais fácil de isolar que o enrolamento de alta tensão, e entre ambas bobinas é
intercalado um cilindro isolante de papel.
Nos enrolamentos alternados (figura 4b) os enrolamentos se subdividem em secções, de
tal forma que os enrolamentos de alta e baixa tensão se sucedem alternadamente ao
longo da coluna.
Para minimizar o fluxo de dispersão, é frequente que em cada extremidade se coloque
meia bobina, que por questões de isolamento pertencem ao enrolamento de baixa
tensão.

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3. Sistema de refrigeração
Em um transformador, como qualquer outro tipo de máquina eléctrica, existem uma
série de perdas que transforma em calor e contribuem no aquecimento da máquina. Para
evitar que se atinjam altas temperaturas que podem afectar na vida útil do isolamento é
preciso aplicar no transformador um sistema de refrigeração adequado. Para potências
pequenas, a superfície externa da máquina é suficiente para efectuar a refrigeração do
transformador, dando lugar aos transformadores a seco.
Para potências elevadas se aplica como meio refrigerante o óleo, resultando nos
transformadores a óleo. O óleo tem uma dupla função de refrigerante e de isolante, e
deve possuir uma capacidade térmica e uma rigidez dieléctrica maior que a do ar.
Nestes transformadores, a parte activa é submetida em uma cuba de óleo mineral, com
radiadores fixados na sua superfície externa para a redução de calor por radiação e
convicção naturais.

21
Com o tempo, o óleo passa por um processo de envelhecimento e perde as suas
propriedades de refrigeração e isolação. Para atenuar este efeito, agregam-se ao óleo
produtos químicos inibidores e também se toda de um taque de expansão ou deposito
de óleo que tem a função de manter a cuba de óleo sempre cheia e absorver as
dilatações do óleo.
Os transformadores a seco são encapsulados em resina epóxi. Estes tipos de
transformadores são ideais para instalações que requerem grande segurança,
principalmente em locais de afluência pública, hospitais, centros comerciais, fabricas de
produtos combustíveis, minas, etc. apresentando as seguintes vantagens:
• Não propagam fogo;
• Não derramam produtos inflamáveis nem contaminantes em casos de avarias, como
ocorre no caso de transformadores a óleo;
• Requerem baixa manutenção;

22
23
2.2. TRANSFORMADOR IDEAL

Um transformador ideal é um dispositivo sem perdas com um enrolamento de entrada e


um enrolamento de saída. A Figura 5 mostra um transformador ideal.

24
Figura 5: (a) representação de um transformador ideal (b) símbolos de um transformador ideal
•O   transformador
mostrado na Figura 5 tem NP espiras de fio no lado do enrolamento
primário e NS espiras de fio no lado do secundário. A relação entre a tensão vP(t)
aplicada no lado do enrolamento primário do transformador e a tensão vS(t) produzida
no lado do secundário é

em que a é definido como a relação de espiras ou de transformação do transformador:

A relação entre a corrente que entra no lado primário do transformador e a corrente


que sai do lado secundário do transformador é

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•De  (1) e (3) pode-se escrever

A equação (4) verifica a definição fundamental de um transformador como dispositivo


que transfere energia de um circuito para o outro. Para um transformador ideal, a
potência fornecida no primário, é igual à potência entregue ao secundário , e esse dado
é muito usado para especificar o transformador.
A relação de transformação, , é um valor fixo (não constante) para qualquer
transformador dado (já construído), dependendo da sua aplicação. Consequentemente,
qualquer a corrente e tensão primária pode ser calculada através da corrente e tensão
secundária, respectivamente e vice-versa.

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Para indicar a polaridade, os transformadores utilizam a convenção do ponto ou da
marca. Os pontos (pequenas marcas circulares) que aparecem em uma das terminações
de cada enrolamento da Figura 5 indicam a polaridade da tensão e da corrente no lado
do enrolamento secundário do transformador, e, função da tensão e da corrente no
primário.
A relação é a que segue:
1. Se a tensão primária for positiva no terminal com ponto (marca) do enrolamento,
em relação ao terminal sem ponto, então a tensão secundária também será positiva
no terminal com ponto. As polaridades de tensão são as mesmas em relação aos
pontos de cada lado do núcleo.
2. Se a corrente primária do transformador fluir para dentro do terminal com ponto
no enrolamento primário, então a corrente secundária fluirá para fora do terminal
com ponto no enrolamento secundário.

27
•Transformação
  de impedância em um transformador
A impedância de um dispositivo ou de um elemento de circuito é definida como a razão
entre a tensão fasorial no dispositivo e a corrente fasorial que está através dele:

Uma das propriedades interessantes de um transformador é que, como ele altera os


níveis de tensão e corrente, ele altera também a razão entre a tensão e a corrente e,
portanto, a impedância aparente de um elemento, ver a figura 6.

28
Figura 6: (a) Definição de impedância. (b) Alteração de impedância em um transformador

29
•Se 
a corrente secundária for denominada IS e a tensão secundária, VS, então a
impedância da carga é dada por

A impedância aparente do circuito primário do transformador é

Como a tensão primária pode ser expressa como e a corrente primária por , então, a
impedância aparente do primário é

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2.3. TRANSFORMADOR REAL

Naturalmente, os transformadores ideais não podem ser construídos na realidade. O que


pode ser construído são transformadores reais – duas ou mais bobinas de fio fisicamente
enroladas em torno de um núcleo ferromagnético, como mostrado na figura 7

Figura 7 - Diagrama esquemático de um transformador real em vazio

31
•O   princípio
de funcionamento do transformador é baseado na lei de Faraday, expressa
pela equação

Embora hermeticamente acoplado pelo núcleo de ferro, uma pequena porção de fluxo
disperso é produzida nos enrolamentos primário e secundário, e , respectivamente,
além do fluxo mutuo, , como mostra a figura 8.

32
Figura 8 – fluxos próprios e mútuos de um transformador

33
•O  fluxo
disperso primário, , produz uma reactância indutiva primária e o fluxo disperso
secundário, , produz uma reactância indutiva secundária, .
Além disto, os enrolamentos primário e secundário são constituídos de condutores de
cobre, que têm certa resistência. A resistência interna do enrolamento primário é e do
secundário é , assim pode se dizer que as impedâncias internas do primário e do
secundário são respectivamente

Assim, as f.e.m induzidas no primário e secundário são dadas por

Note que a tensão aplicada ao primário, , é maior que a fem induzida no enrolamento
primário, , e que a fem induzida no enrolamento secundário, , é maior que a tensão nos
terminais do secundário, . Assim, para um transformador real carregado, podemos
escrever
34
2.4. CIRCUITO EQUIVALENTE DE UM
TRANSFORMADOR
•Qualquer
  modelo exacto do comportamento de um transformador deve ser capaz de levar em
consideração as perdas que ocorrem nos transformadores reais. Os itens principais que devem
ser incluídos na construção de tal modelo são
1. Perdas no cobre (): as perdas no cobre são as perdas devido ao aquecimento resistivo nos
enrolamentos primário e secundário do transformador. Elas são proporcionais ao quadrado da
corrente nos enrolamentos.
2. Perdas por corrente parasita: as perdas por corrente parasita são perdas devidas ao
aquecimento resistivo no núcleo do transformador. Elas são proporcionais ao quadrado da
tensão aplicada ao transformador.
3. Perdas por histerese: as perdas por histerese estão associadas à alteração da configuração dos
domínios magnéticos no núcleo durante cada semiciclo.
4. Fluxo de dispersão: os fluxos e que escapam do núcleo e passam através de apenas um dos
enrolamentos do transformador são fluxos de dispersão. Esses fluxos que se dispersaram
produzem uma indutância de dispersão nas bobinas primária e secundária. Seus efeitos devem
ser levados em consideração. 35
PARA A PRÓXIMA AULA

• Circuitos equivalentes reais e aproximados de transformadores


• Ensaios de transformadores;
• Regulação de tensão e eficiência de transformadores;
• Diagrama fasorial de transformadores.

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O circuito equivalente exacto de um transformador real
É possível construir um circuito equivalente que leva em consideração todas as
imperfeições principais dos transformadores reais. Essas imperfeições serão analisadas
uma de cada vez e seus efeitos serão incluídos no modelo do transformador apresentado
na figura 9.

Figura 9 - Modelo de um transformador real


37
Embora a Figura 9 mostre um modelo acurado de um transformador, ele não é muito
útil. Na prática, para analisar circuitos contendo transformadores, normalmente, é
necessário converter o circuito inteiro em um circuito equivalente, com um único nível
de tensão. Portanto, na solução de problemas, o circuito equivalente deve ser referido a
seu lado primário ou a seu lado secundário, conforme a figura 10.

Figura 10: (a) Modelo de transformador referido ao nível de tensão do primário. (b)
Modelo de transformador referido ao nível de tensão do secundário
38
Circuitos equivalentes aproximados de um transformador
O ramo de excitação nos circuitos apresentados na figura anterior, torna o modelo
equivalente do transformador complexo tornando a solução do circuito também
complexa.
O ramo de excitação tem uma corrente muito pequena em comparação com a corrente
de carga dos transformadores e é apenas cerca de 2-3% da corrente a plena carga, no
caso de transformadores de potência típicos. Com isso, pode-se elaborar um circuito
equivalente simplificado que funciona quase tão bem quanto o modelo original. O ramo
de excitação é simplesmente deslocado para a frente do transformador e as impedâncias
primária e secundária são deixadas em série. Essas impedâncias são simplesmente
somadas, criando os circuitos equivalentes aproximados das Figuras 11a e b.
Em algumas aplicações, o ramo de excitação pode ser inteiramente desconsiderado sem
causar erro sério. Nesse caso, o circuito equivalente do transformador reduz-se aos
circuitos simples das Figuras 11c e d.
39
Figura 11: Modelos aproximados de transformador. (a) Referido ao lado primário; (b)
referido ao lado secundário; (c) sem ramo de excitação, referido ao lado primário; (d) sem 40

ramo de excitação, referido ao lado secundário.


•  
Determinação dos valores dos componentes do modelo de
transformador
É possível determinar experimentalmente os valores das indutâncias e resistências do
modelo de transformador. Uma aproximação adequada desses valores pode ser obtida
com apenas dois testes ou ensaios, o ensaio a vazio e o ensaio de curto-circuito.
No ensaio a vazio ou de circuito aberto, um enrolamento do transformador é deixado
em circuito aberto e o outro enrolamento é conectado à tensão nominal plena de linha.
Analise o circuito equivalente na Figura 10. Nas condições descritas, toda a corrente de
entrada deve circular através do ramo de excitação do transformador. Os elementos em
série e são pequenos demais, em comparação com e , para causar uma queda de
tensão significativa, de modo que essencialmente toda a tensão de entrada sofre queda
no ramo de excitação. As conexões para o ensaio a vazio são mostradas na Figura 12.

41
Figura 12 - Ligações para o ensaio de transformador a vazio ou de circuito aberto

Uma tensão plena de linha é aplicada a um lado do transformador. A seguir, a tensão de


entrada, a corrente de entrada e a potência de entrada do transformador são medidas. A
partir dessa informação, é possível determinar o factor de potência da corrente de
entrada e consequentemente a magnitude e o ângulo da impedância de excitação

42
•O   modomais fácil de calcular os valores de e é primeiro verificar a admitância do
ramo de excitação. A condutância da resistência de perdas no núcleo é dada por

e a susceptância do indutor de magnetização é dada por

Como esses dois elementos estão em paralelo, suas admitâncias somam-se e a


admitância total de excitação é

O módulo da admitância de excitação (referida ao lado do transformador usado para a


medida) pode ser encontrado a partir da tensão e da corrente do ensaio a vazio (VZ) ou
de circuito aberto:

43
•O   ângulo
da admitância pode ser encontrado a partir do conhecimento do factor de
potência do circuito. O factor de potência (FP) a vazio é dado por

e o ângulo do factor de potência é dado por

O factor de potência está sempre atrasado em um transformador real, de modo que o


ângulo da corrente sempre está atrasado em relação à tensão em graus. Portanto, a
admitância é

Comparando as Equações (17) e (21), é possível determinar os valores de e referidos ao


lado de baixa tensão directamente dos dados do ensaio a vazio.

44
No ensaio de curto-circuito, os terminais de baixa tensão do transformador são
colocados em curto-circuito e os terminais de alta tensão são ligados a uma fonte de
tensão variável, como mostrado na Figura 13. A tensão de entrada é ajustada até que a
corrente no enrolamento em curto-circuito seja igual ao seu valor nominal. A tensão, a
corrente e a potência de entrada são novamente medidas.

Figura 13 - Ligações para o ensaio de transformador em curto-circuito.


45
•Durante
  o ensaio de curto-circuito, a tensão de entrada é tão baixa que uma corrente
desprezível circulará no ramo de excitação. Se a corrente de excitação for ignorada,
toda a queda de tensão no transformador poderá ser atribuída aos elementos em série do
circuito. O módulo das impedâncias em série, referidas ao lado primário do
transformador, é

O factor de potência da corrente é dado por

e está atrasado. Portanto, o ângulo da corrente é negativo e o ângulo de impedância total


é positivo:

46
•Assim,
 

A impedância em série é igual a

47
2.5. REGULAÇÃO DE TENSÃO E
EFICIÊNCIA DE UM TRANSFORMADOR
•  
Como um transformador real tem impedância em série em seu interior, a tensão de saída
de um transformador variará com a carga, mesmo que a tensão de entrada permaneça
constante. Para comparar convenientemente os transformadores nesse aspecto, costuma-
se definir uma grandeza denominada regulação de tensão (RT). Regulação de tensão a
plena carga é uma grandeza que compara a tensão de saída do transformador a vazio
(vz) com a tensão de saída a plena carga (pc). Ela é definida pela equação

Como a vazio, temos , a regulação de tensão também pode ser expressa como

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•Usualmente,
  é uma boa prática ter uma regulação de tensão tão baixa quanto possível.
Para um transformador ideal, . No entanto, nem sempre é uma boa ideia ter uma baixa
regulação de tensão – algumas vezes, os transformadores com regulação de tensão
elevada e alta impedância são usados deliberadamente para reduzir as correntes de falta
em um circuito.

49
O diagrama fasorial de um transformador
Para determinar a regulação de tensão de um transformador, é necessário compreender
as quedas de tensão em seu interior. Considere o circuito equivalente simplificado do
transformador da Figura 11b. Os efeitos do ramo de excitação sobre a regulação de
tensão do transformador podem ser ignorados, de modo que apenas as impedâncias em
série precisam ser consideradas. A regulação de tensão do transformador depende tanto
do valor das impedâncias em série como do ângulo de fase da corrente que flui através
do transformador. A maneira mais fácil de determinar o efeito das impedâncias e dos
ângulos de fase da corrente sobre a regulação de tensão no transformador é examinar
um diagrama fasorial, um gráfico das tensões e correntes fasoriais presentes no
transformador.
Em todos os diagramas fasoriais que se seguem, assume-se que a tensão fasorial V_S
está no ângulo 0° e que todas as demais tensões e correntes adoptam essa tensão fasorial
como referência.

50
•  

Aplicando a lei das tensões de Kirchhoff ao circuito equivalente da Figura 11b, a tensão
primária pode ser encontrada como

Um diagrama fasorial de um transformador é simplesmente uma representação visual


dessa equação.
51
(a) (b)

(c)
Figura 14 - Diagrama fasorial de um transformador operando com um factor de potência (a) atrasado, (b)
unitário e (c) adiantado.

52
•Eficiência
  de um transformador
Um transformador também pode ser comparado e avaliado em relação à sua eficiência.
A eficiência de um dispositivo é definida pelas equações

Essas equações aplicam-se a motores e geradores e também a transformadores.


Os circuitos equivalentes facilitam os cálculos de eficiência. Como foi dito
anteriormente, há três tipos de perdas presentes nos transformadores: Perdas no cobre
(), Perdas por histerese e Perdas por corrente parasita.
Como a potência de saída é dada por

a eficiência do transformador pode ser expressa por

53
PARA A PRÓXIMA AULA

• Transformador Trifásico;
• Formas de ligação de um transformador trifásico.

54
2.6. TRANSFORMADOR TRIFÁSICO

Actualmente, quase todos os principais sistemas de geração e distribuição de potência


no mundo são sistemas CA trifásicos. Assim, é necessário compreender como os
transformadores são utilizados nesses sistemas.
Os transformadores são circuitos trifásicos que podem ser construídos de uma ou duas
maneiras. Uma forma é simplesmente tomar três transformadores monofásicos e liga-
los em um banco trifásico. Outra forma é construir um transformador trifásico que
consiste em três conjuntos de enrolamentos que envolvem um núcleo comum. Esses
dois tipos de construção de transformadores são mostrados nas Figuras 15 e 16.

55
Figura 15 - Banco de transformadores trifásicos composto de transformadores independentes.
56
Figura 16 - Transformador trifásico enrolado em um único núcleo de três pernas.

57
Actualmente, ambas as formas (de três transformadores separados ou de um único
transformador trifásico) são usados em aplicações práticas. Um transformador trifásico
apenas é mais leve, menor, de custo mais baixo e ligeiramente mais eficiente. Por outro
lado, o uso de três transformadores monofásicos separados tem a vantagem de que cada
unidade do banco pode ser substituída individualmente no caso de ocorrer algum
problema. Uma empresa de energia eléctrica precisa manter de reserva em estoque
apenas um único transformador monofásico para dar suporte às três fases,
potencialmente economizando dinheiro desse modo.
Para os transformadores trifásicos, os cálculos de impedância, regulação de tensão,
eficiência e outros similares são realizados tomando uma fase de cada vez. Para isso,
são usadas exactamente as mesmas técnicas que já foram desenvolvidas para os
transformadores monofásicos.

58
•  
Ligações em um transformador trifásico
Um transformador trifásico consiste em três transformadores, separados ou combinados
em um núcleo. Os primários e os secundários de qualquer transformador trifásico
podem ser ligados independentemente nas chamadas configurações estrela (Y) ou
triângulo (). Isso significa que um banco de transformadores trifásicos pode ser
montado conforme um total de quatro configurações possíveis de ligação:
1. Estrela-estrela (Y–Y)
2. Estrela-triângulo (Y– )
3. Triângulo-estrela ( –Y)
4. Triângulo-triângulo ( – )

59
A Ligação Estrela-Estrela
A ligação Y–Y de transformadores trifásicos está mostrada na Figura 17.

Figura 17 - Ligações de um transformador trifásico em Y-Y 60


•Em
  uma ligação Y–Y, a relação entre a tensão de fase no primário de cada fase do
transformador e a tensão de linha é dada por

A tensão de fase no secundário relaciona-se com a tensão de linha no secundário por

Portanto, a razão de tensão total no transformador é

A ligação Y–Y tem dois problemas muito sérios que fazem com que seja pouco usada
na prática:
1. Se as cargas no circuito do transformador estiverem desequilibradas, as tensões
nas fases do transformador podem se tornar gravemente desequilibradas.
2. As tensões das terceiras harmónicas podem ser elevadas.

61
•A  Ligação Estrela-Triângulo
A ligação de transformadores trifásicos está mostrada na Figura 16.

Figura 18 - Ligações de um transformador trifásico em Y- Δ 62


•Nessa
  ligação, a tensão de linha do primário relaciona-se com a tensão de fase do
primário através de , ao passo que a tensão de linha do secundário é igual a tensão de
fase do secundário, . A razão de tensões de cada fase é

de modo que a relação total entre a tensão de linha no lado primário do banco e a tensão
de linha do lado secundário do banco é

A ligação não apresenta problemas com as componentes de terceira harmónica em suas


tensões, porque elas são suprimidas por uma corrente que circula no lado . Essa ligação
também é mais estável em relação a cargas desequilibradas, porque o lado redistribui
parcialmente qualquer desequilíbrio que possa ocorrer.

63
A Ligação Triângulo-Estrela

Figura 19 - Ligações de um transformador trifásico em Δ-Y


64
•Em
  uma ligação , a tensão de linha do primário é igual à tensão de fase do primário , ao
passo que as tensões do secundário relacionam-se através de . Nessa ligação de
transformador, portanto, a razão de tensões de linha para linha é

65
A ligação triângulo-triângulo

  Figura 20 - Ligações de um transformador trifásico em Δ-


66
•Em
  uma ligação – , temos , de modo que a relação entre as tensões de linha do
primário e do secundário é

Esse transformador não apresenta nenhum deslocamento de fase e não tem problemas
de cargas desequilibradas ou harmónicas.

67
FIM

68

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