Você está na página 1de 24

A LINGUAGEM BÉLICA DO FUTEBOL: SUAS

MANIFESTAÇÕES E SUAS IMPLICAÇÕES


DENTRO E FORA DOS CAMPOS

Autor: Carlos Renato Mascoto Rocha (UFF)


Orientadora: Solange Coelho Vereza
FUTEBOL
• UM FÊNOMENO DE POPULARIDADE E
ALCANCE.

• RELEVÂNCIA CULTURAL
PRATICADO EM TODOS OS
CONTINENTES.

• RELATIVA MARGINALIDADE
ACADÊMICA ATÉ HÁ POUCO TEMPO.
EXPRESSÕES MAIS VAGAS
RELACIONADAS AO CAMPO SEMÂNTICO
DA GUERRA
Em uma extremidade da escala encontram-se conceitos
metafóricos clássicos de guerra como:

capitão (substantivo agente), atacar (verbo de ação), tiro


(substantivo de atividade) e defensivo (adjetivo);

no outro extremo há expressões mais vagas ou gerais,


relativas à extensão desse mesmo domínio bélico em
palavras de luta, violência ou competição tais quais:

vencedor (substantivo agente), bater (verbo de ação), falha


(substantivo de atividade) e perigoso (adjetivo).
DIFERENÇAS, APROXIMAÇÕES E
GRADAÇÕES

• EXEMPLOS POR BELICOSIDADE

Em estreia de Cristovam, Flamengo e Fluminense duelam no Maracanã.


(ESPN Brasil, 31/05/2015)

Brasileirão: rodada tem duelos entre desesperados e esperançosos.


(Ivinotícias, 16/10/2010)

Drama, luta e glória: Batalha dos Aflitos completa 10 anos.


(Globoesporte, 26/112015)

Sete desesperados. Apenas três morrem.


(UOL ESPORTE. 03/11/03)
MAPEAMENTO
Domínio Fonte = GUERRA Domínio alvo = FUTEBOL
• (a) uma guerra • (a) um campeonato de futebol
• (b) a batalha • (b) o jogo de futebol
• (c) o campo de batalha • (c) o campo de futebol
• (d) a população de uma cidade, um país • (d) os torcedores de um clube, uma seleção
• (e) os soldados (combatentes) • (e) os jogadores
• (f) países (Estados, nações) • (f) clubes (times)
• (g) Generais (comandantes) • (g) técnicos de futebol
• (h) artilheiros • (h) atacantes goleadores
• (i) táticas de guerra • (i) táticas de jogo
• (j) vítimas (mortos) • (j) (clubes, times) derrotados
• (k) feridos • (k) Clubes (times) em desvantagem
• (l) Vencedores da guerra • (l) ganhadores do jogo (partida)
• (m) arrasar o adversário • (m) golear
• (n) fuzilar • (n) chutar com (violência) força contra o gol (a meta )
adversária
• (o) canhão • (o) chute potente desferido contra a meta adversária
• (p) bala (balaço) • (p) bola chutada em alta velocidade contra o gol
adversário
O corpus foi composto por 16 edições do diário especializado em
jornalismo esportivo Lance!, abrangendo o período de 1º a 16 de
agosto de 2016.

Excertos de seções variadas


Reportagens e crônicas sobre o futebol em geral
Análises das atuações dos jogadores e técnicos de futebol

Foram selecionados 196 excertos e identificadas 304 metáforas


linguísticas (ou índices linguísticos) licenciadas pela metáfora
conceptual FUTEBOL É GUERRA.
Para a análise do corpus, adotamos a categorização proposta por
Espíndola (2013), composta por quatro categorias, enriquecida por uma
proposição sugerida por esta pesquisa contendo mais duas categorias.

A categorização proposta por Espíndola (2013) consiste nas quatro


categorias, descritas a seguir:

1- o evento como um todo sendo denominado como guerra, luta,


duelo, disputa;
2- espaços próprios de guerra;
3- ações específicas dos envolvidos em uma partida de futebol;
4- instrumentos utilizados em uma guerra;
À proposta de Espíndola, adicionamos as duas categorias a seguir:

5- Agentes (atuantes) em uma guerra;


6- Conceitos estruturantes do domínio da GUERRA;

Em seguida, através de seu corpus, detalhamos a categorização e a


análise executada na pesquisa. Para tal, organizamos as metáforas
linguísticas em ordem cronológica dentro de cada uma das categorias
propostas.
ANÁLISE DO CORPUS

Análise da metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA nos textos do

jornal Lance!

Na análise do corpus foram identificadas, dentre as 304 metáforas linguísticas nele


encontradas, as seguintes categorizações:
- 26 ocorrências da categoria 1 (o evento como um todo sendo denominado como guerra, luta,
disputa, duelo);
- 25 ocorrências da categoria 2 (espaços próprios de guerra);
- 105 ocorrências da categoria 3 (ações específicas dos envolvidos em uma partida de futebol
(guerra);
- 25 ocorrências da categoria 4 (instrumentos utilizados em uma guerra ou termos derivados
deles);
- 48 ocorrências da categoria 5 (agentes atuantes em uma guerra);
- 74 ocorrências da categoria 6 (conceitos estruturantes do domínio da GUERRA).
1- O EVENTO COMO UM TODO SENDO
DENOMINADO COMO GUERRA, LUTA, DUELO,
DISPUTA

- Agora o rubro negro pega o Santos [...], rival direto na luta


pelo título. (Lance!, 1º de agosto de 2016, p.8)
- O Confronto contra o Vila Nova, no dia 30, tem boas chances
de ser realizado na colina. (Lance!, 3 de agosto de 2016, p. 10,
Vasco x Vila Nova)
- Esteve muito bem no combate pelo alto e na marcação em cima
de Nico (Lance!, 8 de agosto de 2016, p. 6, atuações,
Fluminense: Gum)
- Hoje, haverá a última atividade no CT antes do duelo contra o
atlético PR. (Lance!, 5 de agosto de 2016, p. 8)
2- ESPAÇOS PRÓPRIOS DE GUERRA
- O Cruzeiro segue penando, tem as companhias de Santa Cruz,
Curitiba e América na zona da degola. Lance!, 1º de agosto de
2016, p. 3)
- Foi importante na ligação entre os setores de defesa e ataque.
(Lance!, 1º de agosto de 2016, p. 9, atuações, Flamengo:
William Arão)
- [...] Quase não foi visto no campo de ataque. (Lance!, 3 de
agosto de 2016, p.9, atuações, Vasco: Henrique, p.9)
- Desses, três ocupam no momento a zona de rebaixamento
(América MG, Coritiba e Cruzeiro), um é o primeiro fora da
degola (Figueirense). (Lance!, 5 de agosto de 2016, p.2)
3- AÇÕES ESPECÍFICAS DOS
ENVOLVIDOS EM UMA PARTIDA DE
FUTEBOL
- Sacou Ábila e colocou William ao lado de Rafael Sóbis para [...] contra-atacar.
(Lance!, 1º de agosto de 2016, p. 7, Santos x Cruzeiro)
- Errou todas as vezes que precisou usar os pés e cometeu o pênalti que matou o
jogo. (Lance!, 1º de agosto de 2016, p.14, atuações, Botafogo: Vagner)
- Luís Ricardo espera que, agora, o grupo consiga vitimar outro rival. (Lance!, 3 de
agosto de 2016, p.12)
- Arão comandou o meio de campo e teve passe livre pelo lado direito, o que fez
com que o Santos recuasse suas linhas. (Lance!, 4 de agosto de 2016, p.5)
- Contra um time muito desfalcado, o Flamengo deveria arriscar mais e conquistar
os três pontos. (Lance!, 4 de agosto de 2016, p. 6. Atuações, Flamengo, Zé Ricardo,
Técnico da equipe)
- Aos poucos, o Sport foi ganhando terreno. (Lance!, 4 de agosto de 2016, p.16)
4- INSTRUMENTOS UTILIZADOS EM
UMA GUERRA;

- Estopim da crise. (Lance!, 2 de agosto de 2016, p.11)

- O feito é inesperado até para o mais otimista dos corintianos,


mas o trunfo da equipe é ter uma artilharia pulverizada entre
muitos atletas do elenco. (Lance!, 2 de agosto de 2016, p.14)

- Assim, Cueva ajeitou para Mena cruzar e Chavez soltar um tiro


em cabeçada para marcar. (Lance!, 5 de agosto de 2016, p.11)
5- AGENTES (ATUANTES) EM UMA GUERRA
- Nos minutos finais, os três atacantes alviverdes travaram um duelo
com o goleiro do Botafogo. (Lance!, 1º de agosto de 2016, p. 12,
Botafogo x Palmeiras)
- Inimigos íntimos. Reinaldo e William Pottker, autores dos gols da
noite, quase foram contratados pelo Botafogo nesta temporada.
(Lance!, 5 de agosto de 2016, p.5)
- Temos condições de brigar nas primeiras posições, mas para isso
precisamos encaixar umas duas ou três vitórias para entrar de vez no
pelotão de cima. (Lance!, 6 de agosto de 2016, p.9, Entrevista: Cícero)
O argentino Mancuello foi o herói da vitória do Flamengo sobre o
Atlético PR. (Lance!, 7 de agosto de 2016, p.5)
6- CONCEITOS ESTRUTURANTES DO
DOMÍNIO DA GUERRA

- É muito inteligente taticamente. (Lance!, 1º de agosto de 2016, p.16,


Jorginho, técnico do Vasco sobre o atacante Éderson.)
- São dez vitórias, três empates e quatro derrotas, com 33 pontos somados
[...] (Lance!, 2 de agosto de 2016, p.7)
- Ao todo, são nove jogadores no departamento médico [...]. Apesar do alto
número de baixas, a chapecoense está confiante que sairá de minas com um
bom resultado. (Lance!, 8 de agosto de 2016, p.16)
- Outra falha que o Flamengo precisa consertar é o poder de reação durante
os jogos. (Lance!, 9 de agosto de 2016, p.4)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, R. Futebol levado a riso: Lições do bobo da corte, Verus Editora, Campinas,
2006.
ARISTÓTELES. Poética. Tradução: SOUZA, E. de, Editora Globo, Porto Alegre,
1996.
BANDINI, P. DART, J. Has football ever started a war? The Guardian online.
Disponível em:
<http://www.theguardian.com/football/2007/feb/21/theknowledge.sport >: Acesso em:
23 de julho. 2015.
BERGH, G. (Mid-Sweden University), Football is War: A case study of minute-by-
minute football commentary. Veredas on-line, – Metáforas na Linguagem e no
Pensamento. Temática – 2/2011, P. 83-93 – PPG Linguística/UFJF – Juiz de Fora,
2011. Disponível em: < http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2011/05/artigo -72.pdf>:
Acesso em 26 de agosto de 2015.
CARVALHO, S. N. de. A metáfora conceitual: uma visão cognitivista. Disponível
em:http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno12 -04.html: Acesso em: 23 de
julho de 2015.
CHAPANGA, E. “An Analysis of the War Metaphors Used in Spoken
Commentaries of the 2004 Edition of the Premier Soccer League (PSL) Matches in
Zimbabwe.'” Zambezia 31.1 (2004): 62-71. University of Zimbabwe Publications,
2004. Disponível em: http://www.ir.uz.ac.zw/handle/10646/512: Acesso em 23 de
agosto de 2015.
COHEN, Ted. “Metaphor and the cultivation of intimacy”. In: S.Sacks (ed.) On
Metaphor. The University of Chicago, Chicago, 1979.
CORACINI, M. J. Um fazer persuasivo: o discurso subjetivo da ciência . São Paulo:
Educ.: Campinas: Pontes, 1991.
DA MATTA, Roberto e outros. Universo do futebol: Esporte e Sociedade Brasileira .
Pinakotheke, Rio de Janeiro, 1982.

DEBRUN, M. Futebol, paixão e participação. In: A Conciliação e Outras


Estratégias. Brasiliense, São Paulo , 1983.

DIÁRIODEPERNABUCO.COM.BR. Náutico e Santa Cruz empatam em 2x2 e se


complicam no Estadual, Diário de Pernambuco online, 1º de fevereiro de 2009.
Disponível em:
<http://www.old.diariodepernambuco.com.br/esportes/nota.asp?materia=200902011807
48>. Acesso em 30 de agosto de 2015.

DE FREITAS JR, M. A.. O Futebol como objeto de estudo das ciências sociais: a
urgência de novas abordagens, Revista Digital EFDeportes.com. Disponível
em :<http://> http://www.efdeportes.com/efd94/sociais.htm.

FIFA.COM. History of Football – The Origins. Disponível em:


<http>://www.fifa.com/about-fifa/who-we-are/the-game/

FOOTBALL BIBLE.COM. Soccer encyclopedia, guide for begginners & fans. Who
invented football. Disponível em: http://www.football-bible.com/soccer-info/who-
invented-football.html.

FERREIRA, L.C. A conceitualização da violência no Futebol. Antares (UFMG),


Vol.4, nº7, Jan./Jul. 2012.
GRUPO PRAGGLEJAZ. PIM: Um método para identificar palavras usadas
metaforicamente no discurso. Trad. Dalby Dienstibach Hubert. In: Cadernos de
Tradução: Linguística Cognitiva. Siqueira M. (org.). n. 25, jul./dez-2009 Revista do
Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, n. 25, 2009, p. 77-
120.
KÖVECSES, Z. Metaphor: A Pratical Introduction. Oxford University Press, Nova
Iorque, 2002.
LAKOFF, G. Women, fire and dangerous things: what categories reveal about the
mind. Chicago and London. The University of Chicago Press, Chicago, 1987.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metaphors We Live By, The University Chicago
Press, Chicago, 1980.
MARTINI, D. M. Esporte e Guerra: Campinas, 2009.
NOGUEIRA, A. México 70. Releituras. Disponível em:
http://www.releituras.com/anogueira_mexico70.asp. Acesso em: 30 de agosto de 2015.
ORTONY, A. Metaphor and Thought, Cambridge U. Press, Cambridge, 1993
PRAGGLEJAZ GROUP, MIP: A Method for Identifying Metaphorically Used Words
in Discourse, Metaphor and Symbol, 22(1), p. 1-39, Laurence Erlbaum Associates,
2007.
PICHONELLI, M. O time é de guerreiros. Mas quem é o inimigo? Carta Capital,
Revista digital. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-time-e-de-
guerreiros-mas-quem-e-o-inimigo-7553.html. Acesso em 30 de agosto de 2015.
RÍMOLI, C. O time de guerreiros do Fluminense orgulhou o Brasil. R7. Disponível
em: < http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/o-time-de-guerreiros-do-fluminense-
orgulhou-o-brasil-essa-classificacao-e-dedicada-aos-trogloditas-do-argentino-juniors-e-
a-muricy-ramalho-21042011/>. Acesso em 30 de agosto de 2015.
SEDDON, P. Football Talk. Robson Books, London, 2004.
RINALDI, W. Futebol: Manifestação cultural e ideologização. Revista da Educação
física/UEM, volume 11, nº1, p. 167-172, Maringá, 2000.

SUN, L. A Cognitive Study of War Metaphors in Five Main Areas of Everyday


English: Politics, Business, Sport, Disease and Love. Kristianstad University, 2010.
SPORTV FUTEBOL, Cruzeiro faz nova vítima, goleia o Náutico e se aproxima
ainda mais do título. Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/360659_cruzeiro-
faz-nova-vitima-goleia-o-nautico-e-se-aproxima-ainda-mais-do-titulo. Acesso em 30 de
agosto de 2015.
TOOTS. The Soccer Wars: Honduras and El Salvador, 1969. Disponível em: <
http://www.soccerblog.com/2006/04/the-soccer-wars-honduras-and-e.htm>. Acesso em
23 de julho. 2015.
VEREZA, S. Anotações e seminários realizados durante o curso: Metáfora e
Metonímia na Interface entre Cognição e Discurso (Mestrado). Niterói, UFF.
1°semestre, 2015.
VIANA, N. Notas sobre o significado político do futebol, Revista Espaço Acadêmico,
nº 111, Agosto de 2010.

Você também pode gostar