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Ficha informativa 2

1.4 FERNANDO PESSOA


Mensagem
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Mensagem

O imaginário épico: exaltação patriótica

O Nacionalismo de Pessoa funda-se na ideia de pátria, enquanto nação ligada por


instituições comuns, tradições históricas e, sobretudo, por uma língua. Por essa
razão, Pessoa decidiu partilhar com o conjunto humano português que constituía a
pátria – «o que vem a ser uma Pátria? […], um conjunto humano tomando
consciência de si próprio como diferente dos outros conjuntos» […] – os usos, os
modelos morais, a arte, e sobretudo a memória coletiva. Acolheu-se a esse «ninho
de valores afetivos» e nele sentiu o pulsar de uma nação dilacerada, incapaz de
articular esforços e de congregar vontades. Uma nação que vivia voltada para trás
na veneração de um passado.
Foi essa pátria enrolada para dentro que Pessoa tomou em mãos transformar
numa nação «criadora de civilização». E no seu dinamismo patriótico intervém
ativamente com a sua palavra. […] Anuncia o poder do sonho com a sua
Mensagem: «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce». […]
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Mensagem

Obra ilusoriamente estática, mas, na verdade, atravessada de grande dinamismo


animado pela pena do poeta que, com o poder performativo1 da sua palavra,
ressuscita as personagens que nela desfilam e perante o olhar maravilhado e
extasiado dos Portugueses, espectadores dessa retrospetiva histórica, evoca
prospetivamente2 os feitos desses heróis do Portugal ido e transmuta 3 essa
audiência em atores do futuro do passado. Com ela, ambicionou criar um
movimento perpétuo e contínuo de influência/ação a ação/influência que levasse
à construção do Portugal futuro. Por isso, nesse altar faustosamente ornado, que
é a Mensagem, prestou o devido culto aos heróis nacionais desaparecidos e,
graças ao poder do seu verbo, fê-los regressar do Hades 4, para que transmitissem
a esse Ulisses que é o povo português a força anímica5 das suas almas.

1
Performativo: que, ao ser proferido, corresponde à ação a que se refere.
2
Prospetivamente: com os olhos postos no futuro.
3
Transmuta: transforma.
4
Hades: o reino dos mortos, o local para onde a alma das pessoas se dirigiria após a morte (mitologia grega).
5
Anímica: relativo a ou próprio da alma; psicológica; psíquica.
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Neste seu poema épico, ordena e simultaneamente dramatiza a história de


Portugal, tal o imaginário a construiu: da fundação de Portugal – «Brasão»,
símbolo de uma origem predestinada e representante de um património divino a
defender –, o poeta navegou até ao «Mar Português», símbolo de um Portugal
criador de civilização, para em seguida mergulhar no nevoeiro com «O
Encoberto», símbolo salvífico6 da nação (o que cada português tem oculto dentro
de si: o espírito do homem das descobertas), e, finalmente, deixar no ar, a
repercutir, o eco do seu «há de ser», imperativo de um futuro a cumprir. A nação
que ambicionava «criadora de civilização» não podia, na sua perspetiva, ser
constituída por um simples agregado humano, mas sim representar uma «alma
coletiva» capaz de congregar os ânimos e de lançar o desafio ao destino.

Luísa Medeiros, «Nacionalismo», in Fernando Cabral Martins (coord.), Dicionário de Fernando Pessoa
e do Modernismo Português, Lisboa, Editorial Caminho, 2008, pp. 502-503.

6
Salvífico: que salva; salvador
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CONSOLIDA

1. Elabora tópicos que sistematizem as ideias-chave do texto, organizando-os


sequencialmente.
• O Nacionalismo de Fernando Pessoa assenta no conceito de pátria como nação: conjunto
humano unido por instituições comuns, tradições históricas e, principalmente, uma língua.
• Intenção do poeta, com a Mensagem: transformação da sua pátria (que se encontrava num
estado de profunda letargia, incapaz de agir coletivamente, olhando apenas para o
passado) em «nação criadora de civilização» através do poder do sonho.
• Modo de cumprir esta missão, plena de vigor patriótico: evocação, através do poder da sua
escrita, com os olhos sempre postos no futuro, dos heróis passados de Portugal (exemplos
da vontade de mudança e da capacidade de ação), de modo a influenciar os portugueses,
transformando-os em agentes da construção do Portugal futuro.
• Poema épico dividido em partes ordenadas e dramatizadas: «Brasão» (a origem
predestinada e o património divino a defender); «Mar Português» (a capacidade criadora
de Portugal); e «O Encoberto» (envolto em nevoeiro, mas símbolo do espírito do homem
das descobertas que cada português encerra em si), parte que encerra o imperativo do
futuro a cumprir.
• Nação «criadora de civilização»: a que representa uma «alma coletiva», com capacidade de
agir coletivamente.

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