Você está na página 1de 16

ST10.

Ciência e circulação de
saberes em espaços imperiais:
artefatos, viagens e natureza,
séculos XVI ao XIX

26 de novembro de 2020

Para inglês ver: a presença inglesa no hemisfério sul a partir da


percepção de Charles Darwin (1831-1836)

Bruno Alves Valverde


IFMG
DPCT/UNICAMP 1
▪ Charles Darwin (1809-1882)
1. Introdução ▪Origem das Espécies: polêmicas e
origens
▪A viagem do Beagle (1831-1836):
envelope imperial
▪Fonte: correspondência com J. S.
Henslow (1796-1861).

O que essa correspondência


revela acerca da presença
britânica no Sul?

Botofogo Bay. Conrad Martes, ilustrador do Beagle.


2
2. Os olhos do
• Séc. XV e XVI: embarcações como envelopes
império imperiais (LAW, 1984).
• Séc. XVII e XVIII:
• Ciência (PRATT, 1999).
• Política (DUARTE, 2013).
• Economia (PASSETI, 2014).
• Religião (DESMOND, MOORE, 1995)

3

4
3. Circulação de
saberes
Agora estou morando em Botafogo, uma vila a alguns
3.1: Contingências quilômetros da cidade, e poderei permanecer um mês mais. O
e infraestrutura Beagle voltou para a Bahia e vai me buscar quando voltar.
Existe um importantíssimo erro na longitude da América do
Sul, esta segunda viagem foi realizada para resolver isso
(Darwin Correspondence Project, letter nº 171).

5
3. Circulação de
saberes
Um amigo espanhol em Entre Rios prometeu me enviar uma
3.1: Contingências carga de ossos; se eles chegarem aqui: o Sr. Lumb
e infraestrutura gentilmente se ofereceu para enviá-los a você - deixo isso
como uma orientação para ele, e ele adicionará o nome de
Navio, data, porto & c ou o que for necessário (Darwin
Correspondence Project, letter nº 216).

6
Como você teve o prazer de se expressar de maneira tão gentil
3. Circulação de pelos meus maus serviços prestados a você durante a sua estadia
saberes aqui, posso garantir que, independentemente do seu valor
pessoal, que considero intrínseco, não considero que tenha feito
3.2 Relações mais do que qualquer inglês deve fazer pela promoção de
diplomáticas qualquer fim científico que possa tender ao engrandecimento
de seu país e ficarei verdadeiramente feliz em qualquer período
futuro que possa, por qualquer meio que esteja ao meu alcance,
servi-lo ou promover seus pontos de vista de maneira científica -
rogo, escreva-me quando você chegar ao Chile e também na
Inglaterra em algum período futuro, talvez eu consiga alguns
espécimes interessantes para você (Darwin Correspondence
Project, letter nº 231

7
3. Circulação de
saberes

3.3 Cruz e (...) agora chegamos à Austrália: o novo Continente é realmente


Civilização um lugar maravilhoso. Roma antiga poderia gabar-se de tal
colônia; ela merece se classificar entre as 100 maravilhas do
mundo, como mostra a força gigante da nação mãe (Darwin
Correspondence Project, letter nº 295).

8
3. Circulação de
saberes
É admirável observar o que os missionários aqui (no Taiti) e na
3.3 Cruz e Nova Zelândia efetuaram - acredito firmemente que são
Civilização homens bons trabalhando por uma boa causa. (...) Durante o
restante de nossa viagem, visitaremos lugares geralmente
reconhecidos como civilizados. e quase todos sob a bandeira
britânica (Darwin Correspondence Project, letter nº 295).

9
É uma longa jornada entre 500 e 600 milhas, através de um
3. Circulação de distrito, até muito recentemente nunca penetrado, exceto pelos
saberes índios e nunca por um inglês. Agora existe uma sangrenta guerra
de extermínio contra os índios. O exército cristão está acampado
3.3 Espada e no rio Colorado (...). O general Rosas deixa a cada 10 ou 15
Civilização léguas, 5 soldados e uma tropa de cavalos. Quando eu estava no
Colorado o general me deu uma ordem para (tomar
emprestado) esses cavalos. (...). Os cavalos etc. eram todos
gratuitos. Minha única despesa (cerca de 20 libras) foi contratar
um companheiro de confiança (Darwin Correspondence Project,
letter nº 215).

10
3. Circulação de
saberes
Em nossa chegada às Falklands, todos ficaram muito surpresos ao
3.3 Espada e ver a bandeira inglesa içada. Esta nossa nova ilha, mas é um lugar
Civilização desolado, deve ser de grande importância para o transporte (Darwin
Correspondence Project, letter nº 204).

11
Quando essa carta vai embora, eu não sei, pois esse pequeno palco
3. Circulação de de discórdia foi envolvido recentemente por uma cena terrível de
saberes assassinato e atualmente há mais prisioneiros do que habitantes. Se
um navio mercante for fretado para levá-los ao Rio, vou enviar
3.3 Espada e algumas amostras (especialmente minhas poucas plantas e sementes)
Civilização (Darwin Correspondence Project, letter nº 238).

12
▪Beagle agente do imperialismo britânico ao capturar (poderia
4. Considerações ser também: observar, coletar, batizar, cristianizar...) o mundo
conclusivas para sua majestade.
▪ Beagle compunha uma rede que possibilitou a Grã-Bretanha
impor seu domínio e influência sobre os mares e territórios no
século XIX, o que assemelha sua atuação a das embarcações
portuguesas como analisadas por Law.
▪ Beagle seria então um envelope, com uma série de atores
humanos e não-humanos sob a bandeira britânica. Assim, o ele
acionou britânicos em todo o hemisfério sul, fez circular
saberes entre esses locais e Londres e foram os olhos imperiais
que permitiram a Grã-Bretanha ver o mundo.

13
ALENCASTRO, L. de. Vida privada e ordem privada no Império. In: ______. (Org.) História da vida privada
no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997

5. Referências  ALONSO, A. Métodos qualitativos de pesquisa: uma introdução. In: Métodos de pesquisa em Ciências Sociais:
Bloco Qualitativo. São Paulo: Sesc São Paulo/CEBRAP, 2016. Disponível em:

bibliográficas <https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/uploads/BibliotecaTable/9c7154528b820891e2a3c20a3a4
9bca9/322/1507668143662883762.pdf>. Acesso em 30 mai. 2019.
 ALMEIDA, J. Reimagining the Transatlantic, 1780–1890. Farnham, UK: Ashgate, 2011
 BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977.
 BASILE, M. Revoltas regenciais na Corte: o movimento de 17 de abril de 1832. Anos 90, v. 11, n. 19, p. 259–
298, 1 dez. 2004.
 BEHE, Michael. A caixa-preta de Darwin. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1997
 BIZZO, N.. Darwin- do telhado das Américas à teoria da evolução. São Paulo: Odysseus Editora, 2002.
 By land, sea and air: 500 years of delivering the mail. Royal Mail Group. Londres, 03 de maio de 2016.
Disponível em: <http://500years.royalmailgroup.com/features/by-land-sea-and-air-500-years-of-
delivering-the-mail/>. Acesso em 17 de jun. de 2019.
 DARWIN CORRESPONDENCE PROJECT. Disponível em: <http://www.darwinproject.ac.uk>. Acesso em 14 de
maio de 2019.
 DARWIN, C. Journal of researches into the natural history and geology of the countries visited during the
voyage of H.M.S. Beagle round the world, under the Command of Capt. Fitz Roy, R.N. 2d edition.
London: John Murray, 1845.
DARWIN, C. A origem das espécies. Tradução de Joaquim Dá Mesquita Paul. Porto: Lello & Irmão
Editores, 1961.
DARWIN, C. As cartas de Charles Darwin: uma seleta, 1825-1859. 2000 (Editadas por Frederick
Burkhardt). São Paulo, Editora da Unesp.
14
DARWIN, F. (Org.) The life and letters of Charles Darwin, including na autobiographical chapter. Londres: John Murray, 1887. 3v.
 DESMOND, A. MOORE, J. Darwin: a vida de um evolucionista atormentado. São Paulo, Geração Editorial. 1995.
DUARTE, R. H. Between the National and the Universal: Natural History Networks in Latin America in the Nineteenth and Twentieth Centuries.
5. Referências Isis, v. 104, n. 4, p. 777–787, 2013.
 FOUCAULT, M.. As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1966.

bibliográficas GOULD, S. Evolution as Fact and Theory, May 1981. In: Hen's Teeth and Horse's Toes. New York: W. W. Norton & Company, 1994, pp. 253-
262. 
 LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa. São
Paulo: Editora UNESP, 2017.
 LAW, J. On the methods of long-distance control: vessels, navigation and the Portuguese route to India. The Sociological Review, v. 32, p.
234–263, 1 maio 1984. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1467-954X.1984.tb00114.x. Acesso em 22 jun.
2020.
LAW, John. Notes on the theory of the actor-network: Ordering, strategy, and heterogeneity. Systems practice, v. 5, n. 4, p. 379-393, 1992.
MARTINS, M. V. De Darwin, de caixas-pretas e do surpreendente retorno do criacionismo”. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 8, n.
3, p. 739–756, dez. 2001.
MONTGOMERY, William. Editing the Darwin Correspondence: A Quantitative Perspective. The British Journal for the History of Science, v.
20, n.1, Jan. 1987, pp. 13-28, Londres. Disponível em <https://www.cambridge.org/core/journals/british-journal-for-the-history-of-
science/article/editing-the-darwin-correspondence-a-quantitative-perspective/7C20AE4F3545676B73114B41F4B8991D#fndtn-
information>. Acesso em 10 Abr.2019.
 
PASSETTI, G. O Brasil no relato de viagens do comandante Robert FitzRoy do HMS Beagle, 1828-1839. História, Ciências, Saúde-
Manguinhos, v. 21, n. 3, p. 911–930, set. 2014.
 
PODGORNY, I. Fossil dealers, the practices of comparative anatomy and British diplomacy in Latin America, 1820-1840. The British Journal
for the History of Science, 46, p. 647-674.
 
PRATT, M. Os Olhos do Império: relatos de viagem e transculturação. São Paulo: EDUSC, 1999.
 
VEAK, Tyler. Exploring Darwin’s Correspondence: Some Important but Lesser Known Correspondents and Projects (2003). Faculty
Publications and Presentations. 12. Disponível em: https://digitalcommons.liberty.edu/lib_fac_pubs/12. Acesso em 09 abr. 2019.

15
Obrigado
Meus contatos
▪bruno.valverde@ifmg.edu.br

▪@brunovalverde

16

Você também pode gostar