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e a ditadura militar
Carlos Fico
Principais vertentes interpretativas do golpe
o Politologia – baseada na perspectiva da ciência política norte-americana, tenta explicar, em termos quase
nominais, as crises políticas de países como o Brasil;
o Memorialística – predominante no que poderia se chamar de primeira fase de estudos sobre o período,
cresce a partir da distensão política patrocinada pelo governo de Ernesto Geisel. A partir dela, emergiria a
maioria das visões estereotipadas, dando da perspectiva dos militantes quanto dos militares.
Controvérsias
A mencionada “moderação” de Castelo Branco – visto como “legalista” e “moderado”, seu perfil serviu para
adjetivar um conjunto de militares que partilharam uma formação intelectual mais refinada. Na contramão
desse olhar, é possível compreender que Castelo Branco foi complacente com a linha dura.
A ideia de que a tortura era uma atividade dedicada aos subalternos, praticantes de excessos que teriam
constituído um modo desvirtuado de levar a cabo a repressão. Como se sabe, esse sistema implantou uma
polícia política bastante complexa no país – que mesclava polícia civil, militar das três forças e até
bombeiros e polícia feminina – e foi responsável pelos principais episódios de tortura e extermínio.
Controvérsias
O SNI foi criado ainda em 1964, com propósitos mais modestos do que os que assumiria a partir de março
de 1967, quando, de reprodutor de informações para subsidiar as decisões do Presidente da República,
transformou-se, sob a chefia do general Emílio Garrastazu Médici, em cabeça de uma ampla rede de
espionagem.
A ideia de que a censura teria sido mais branda no período: para Carlos Fico, não houve apenas uma censura
durante o regime militar, mas duas – uma oficial, a censura das diversões públicas, e uma não-oficial, a
censura política.
Controvérsias
A análise da história do Brasil no período vista apenas sob o viés da ditadura militar. Em relação à censura
das diversões públicas, sobressaíram-se os conflitos com os setores mais conservadores da sociedade.
Quase todos os militares remanescentes do golpe (pois muitos foram afastados em 1964) estavam
identificados com uma “utopia autoritária”, mas sua adesão ao projeto variava conforme prevalecesse uma
ou outra dimensão. Assim, foram constantes os choques entre algumas dessas instâncias, mas algum grau de
violência era admitido em todos os graus de informação.
Produção recente
A maior parte da nova produção sobre a ditadura advém dos debates da Nova História e da emergência da
história dos Annales.
O abandono do marxismo leva a uma revisão crítica das discussões sobre ditadura, na medida em que
passam a ser colocadas em questão discussões relacionadas ao indivíduo, seu cotidiano, suas emoções, sua
“mentalidade”, sua “trajetória de vida”, etc.
Para os estudos que passariam a se desenvolver sobre o tema, cabe pensar a importância da abertura de
acervo de documentos sigilosos sobre o período, tais como os do DOPS, da Divisão de Segurança e
Informações do Ministério da Justiça e ao material da Divisão de Censura de Diversões Públicas.
Causas do golpe
Três correntes de pensamento sobre as causas do golpe: as tentativas de teorização da Ciência Política, as
análises marxistas e a valorização do papel dos militares.
The calculus of conflit: impasse in Brazilian politics and crisis of 1964, tese de doutoramento de Wanderley
Guilherme dos Santos, defendida na Universidade de Standford, nos Estado Unidos da América, em 1979 – o
modelo teórico de “competição política e cálculo do conflito”, defendendo que a dispersão de recursos de
poder entre atores polarizados pode levar a um colapso do sistema político, “resultante de sua cadente
capacidade operacional”.
Para ele, grupos radicalizados no interior de cada partido não sustentavam acordos políticos: “coalizações ad
hoc, articuladas para impedir a adoção de políticas e não para servir como coalizões governamentais,
tornam-se, em tais condições, um resultado altamente improvável”.
Causas do golpe
Combate nas trevas, de Jacob Gorender, publicado em 1987, é a análise marxista mais conhecida sobre o
golpe, defendendo que este seria resultado não apenas do esgotamento do modelo de substituição de
importações, mas seria, segundo ele, “a primeira crise cíclica nascida no processo interno do capitalismo
brasileiro e revelou precisamente o seu amadurecimento”.
Em outras palavras, segundo ele, o pré-64 engendrou uma “real ameaça à classe dominante brasileira e ao
imperialismo”.
Causas do golpe
1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe, de René Armand Dreifuss, defendida na
Universidade Glasgow, na década de 1980 – defende que o domínio econômico do capital multinacional na
economia brasileira não encontrava uma correspondente na política.
A análise de Fico aponta as problemáticas de todas essas visões e compreende a necessidade de uma nova
análise a respeito desse momento político brasileiro, necessidade que seria retomada em 2014, quando dos
50 anos do golpe de 1964 e de uma nova leva de produções historiográficas.