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DIREITO DE PROPRIEDADE

Direito de propriedade é o direito que a pessoa


física ou jurídica tem, dentro dos limites
normativos, de usar, gozar e dispor de um
bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de
reivindicá-lo de quem injustamente o detenha.
O direito real está elencado no artigo 1225.°
do Código Civil.
O nosso ordenamento protege a propriedade a
nível constitucional no artigo 82.° da CRM.
 
Características da propriedade 
Complexidade: pelo conceito legal de propriedade se
percebe porque se trata de um direito complexo; a
complexidade é justamente porque a propriedade é a soma
de três faculdades e mais esse direito de reaver de terceiros.
 Expliquemos estas três faculdades e este direito de reaver:
Uso – é o “jus utendi” (direito de usar), ou seja, o
proprietário pode usar a coisa, pode ocupá-la para o fim a
que se destina, ou seja, é a faculdade de o dono servir-se da
coisa e utilizá-la da maneira que entender mais conveniente,
podendo excluir terceiros de igual uso.
Ex: morar numa casa, usar um carro para trabalho ou lazer.
Fruição – é o “jus fruendi” (direito de gozar
ou usufruir) é o poder de perceber os frutos
naturais e civis da coisa e aproveitar
economicamente os seus produtos, ou seja, o
proprietário pode também explorar a coisa
economicamente, auferindo seus benefícios e
vantagens.
Ex: vender os frutos das árvores do quintal.
cont.
Disposição – é o “jus abutendi” ou "jus disponendi"
(direito de dispor), é o poder de abusar da coisa, de
modificá-la, reformá-la, vendê-la, consumi-la, e até
destruí-la, ou seja, é o direito de dispor da coisa, de
transferi-la ou aliená-la a outrem a qualquer título;
Ex 1.: vender, distribuir, doar acoisa.
            Exemplo 2: se eu sou dono de um quadro eu
posso pendurá-lo na minha parede (jus utendi),
posso alugá-lo para uma exposição (jus fruendi) e
posso também vendê-lo (jus abutendi).
Cont.
O dono pode também ceder a terceiros só o uso da coisa (Ex: direito real de
habitação do 1414); pode ceder o uso e a fruição (Ex: usufruto do 1394.° e
superfície do 1369.°); pode ceder só a disposição (Ex: contrato estimatório do
537). O proprietário tem as três faculdades, já o possuidor tem pelo menos
uma dessas três (1196, 1204).
            Além de ser a soma destas três faculdades, a propriedade produz um
efeito, que é justamente o direito de reaver a coisa (parte final do 1228). Como
se faz isso, como se recuperam nossos bens que injustamente estejam com
terceiros?
Reivindicação - "jus reivindicatio" (direito de reivindicar) é o direito de reaver a
coisa, de reivindicá-la das mãos de quem injustamente a detenha; ele envolve a
projecção específica da propriedade, que se perfaz pela "ação reivindicatória.
Esta é a ação do proprietário sem posse contra o possuidor sem título. Esta
ação serve ao dono contra o possuidor injusto, contra o possuidor de má-fé ou
contra o detentor.
 
Cont.
É direito absoluto: se o proprietário pode dispor,
pode abusar da coisa (jus abutendi), pode vendê-la,
reformá-la e até destruí-la. Esse absolutismo não é
mais pleno pois o direito moderno exige que a
coisa cumpra uma função social, exige um
desenvolvimento sustentável do produzir evitando
poluir.
Respeitar a função social é um limite ao direito de
propriedade; outro limite são os direitos de
vizinhança, que veremos em breve.
Cont.
Perpetuidade: os direitos de crédito prescrevem, mas a propriedade dura para
sempre, passa inclusive para nossos filhos através do direito das sucessões .
Quanto mais o dono usa a coisa, mais o direito de propriedade se fortalece. A
propriedade não se extingue pelo não-uso do dono, mas sim pelo uso de
terceiros. Então eu posso guardar meu relógio na gaveta que ele continuará
meu para sempre. Eu posso passar décadas sem ir ao meu terreno na praia.
Mas se alguém começar a usá-lo, poderá adquiri-lo pela usucapião.
 
Exclusividade: o proprietário pode proibir que terceiros se sirvam do seu
bem; a presunção é a de que cada bem só tem um dono exclusivo, mas nosso
ordenamento admite o condomínio (veremos condomínio em breve, e veremos
também como a lei facilita a extinção do condomínio justamente porque a
propriedade é um direito tão amplo e complexo que não é fácil ser exercido
por duas pessoas sobre uma única coisa).
Cont.
Elasticidade: a propriedade se contrai e se
dilata, é elástica; por exemplo, tenho uma
propriedade e cedo em usufruto para Euclides;
eu perco as faculdades de uso e de fruição,
minha propriedade antes plena (completa) vai
diminuir para apenas disposição e posse indireta;
mas ao término do usufruto, minha propriedade
se dilata e torna-se plena novamente.  
 
Sujeitos no  direito de propriedade

De um lado o sujeito ativo, o proprietário, qualquer


pessoa física ou jurídica, desde que capaz. O menor
pode adquirir mediante representação do pai ou do
tutor. Do outro lado o sujeito passivo
indeterminado, ou seja, todas as demais pessoas da
sociedade que devem respeitar o direito de
propriedade. 
Objecto no  direito de propriedade
O Objecto da propriedade é toda coisa
corpórea, móvel ou imóvel. Admite-se
propriedade de coisas incorpóreas como o
direito autoral e o fundo de comércio.
Ex: Bill Gates possui propriedade
incorpórea protegida pelo direito do autor
(os softwares).
 
 
Conteúdo do direito de propriedade (ARTIGO
1305º)

O proprietário goza de modo pleno e exclusivo


dos direitos de uso, fruição e disposição das
coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei
e com observância das restrições por ela impostas.
O direito de propriedade é tendencialmente
perpétuo.
 
Espécies de propriedade
a) Plena ou ilimitada: quando as três faculdades do domínio (uso,
fruição e disposição) estão concentradas nas mãos do proprietário e
não existe nenhuma restrição. 1231

b) Limitada:  subdivide-se em 1) restrita: quando a propriedade está


gravada com um ônus real, como a hipoteca e o penhor (direitos reais de
garantia que veremos no próximo semestre), ou quando o proprietário,
por exemplo, cedeu a coisa em usufruto para outrem e ficou apenas com
a disposição e posse indireta do bem; 2 ) resolúvel: propriedade
resolúvel é aquela que pode ser resolvida, ou seja, que pode ser extinta,
e só se tornará plena após certo tempo ou certa condição. Como? Na
hipótese de retrovenda do 505; na alienação fiduciária em garantia do
1361; no fideicomisso do 1953. Ver ainda o 1359.
 
Extensão da propriedade
Se a coisa é móvel, o poder varia de acordo com o tamanho da coisa (ex: uma
caneta, um carro, uma lancha, o dono sabe perfeitamente onde começa e termina
seu bem, é fácil de identificá-lo no espaço).

Mas se a coisa é imóvel surgem alguns problemas quanto ao limite vertical. O


limite horizontal do terreno será o muro, a cerca, o rio, etc. E o limite vertical
como Diziam os romanos “qui dominus est soli dominus est usque ad caelum et
usque ad inferos” (quem é dono do solo é dono até o céu e até o inferior). Mas
com a aviação e a importância estratégica dos minerais, o espaço aéreo e o
subsolo passaram a pertencer ao Estado, assim o dono não pode impedir que um
avião passe bem alto por cima de seu terreno, e nem pode explorar os recursos
minerais do subsolo. Portanto, o proprietário não pode impedir que o comboio
passe por baixo de seu terreno, mas pode impedir que o vizinho construa uma
garagem por baixo de sua casa; o proprietário não pode impedir o sobrevoo de
um avião lá no alto, mas pode impedir vôos rasantes sobre sua casa.
 
Limitação da propriedade
a) Limitação legal, em respeito ao interesse da
sociedade:  tal limitação legal se dá por força de leis de
direito privado (são os direitos de vizinhança) e por força
de leis de direito público  (ex: desapropriação, segurança
nacional, urbanização,  leis ambientais, a questão da
função social e da exploração dos minerais. Nas
limitações privadas existe reciprocidade  (um vizinho tem
que respeitar os limites do outro e vice-versa), já nas
limitações públicas não há reciprocidade (o particular não
pode desapropriar bens do Estado), mas sempre se pode
exigir indemnização e lutar na Justiça contra abusos dos
governantes.
CONT.
b) Limitação jurídica, em respeito ao direito natural: em
respeito ao que é justo para viver honestamente, não enganar os
outros e dar a cada um o que é seu. Exemplos de limitações
jurídicas: o abuso de direito.
c) Limitação voluntária, em respeito à autonomia privada:
tal limitação decorre da vontade do dono, ou seja, é o dono da
coisa que resolve limitá-la em troca de alguma vantagem
financeira, por exemplo: servidão de não construir mais alto
 para garantir vista e ventilação para o terreno de trás, se
dispondo os donos do terreno de trás a pagar por essa
vantagem;  o dono da coisa pode também limitar a propriedade
por motivo de ordem pessoal (ex: herança com inalienabilidade;
o pai deixa para o filho uma casa proibindo o filho de vendê-la
porque sabe que o filho é descontrolado e gasta tudo
Aquisição da
propriedade

Modos de aquisição ARTIGO 1316º


O direito de propriedade adquire-se por contrato, sucessão por morte,
usucapião, ocupação, acessão e demais modos previstos na lei.
 
Os Direitos reais de propriedade têm formas específicas de aquisição:
 
A ocupação;
 
A acessão.
 
Ocupação (art 1318.° do CC)
É um acto jurídico simples, pois dá-se por
simples acto de apreensão material de
coisas móveis sem dono e nesse momento.
Acessão (art. 1325.°)

Consiste na união ou incorporação, em coisa de


que é titular certa pessoa, de outra coisa pertença
de pessoa diferente.
Momento da aquisição (art. 1317.°)

O momento da aquisição do direito de


propriedade é:
a) No caso de contrato, o designado nos artigos
408 e 409;
b) No caso de sucessão por morte, o da abertura
da sucessão;
c) No caso de usucapião, o do início da posse;
d) Nos casos de ocupação e acessão, o da
verificação dos factos respectivos
Aquisição da propriedade imóvel   
1 – Registro: antigamente chamava-se de transcrição; é aquisição derivada. O
registro é o modo mais comum de aquisição de imóveis. Trata-se da inscrição
do contrato no cartório de registro do lugar do imóvel.  Existem cartórios de
notas onde se faz escritura pública, testamento, reconhecimento de firma, cópia
autenticada) e cartórios de registro de imóveis.
Cada imóvel (casa, terreno, apartamento) tem um número (matrícula) próprio e
está devidamente registrado no cartório de imóveis. O cartório de imóveis tem
a função pública de organizar os registros de propriedade e verificar
a regularidade tributária dos imóveis, pois não se podem registrar imóveis com
dívidas de impostos.
A função é pública, mas a atividade é privada, sendo fiscalizada pelo Poder
Judiciário.
O registro confirma o contrato e dá publicidade ao negócio e segurança na
circulação dos imóveis. A escritura pode ser feita em qualquer cartório de notas
do país, mas o registro só pode ser feito no cartório do lugar do imóvel.
2 – Aquisição da propriedade imóvel pela acessão

         É aquisição originária. Adquire-se por acessão tudo aquilo que adere ao
solo e não pode ser retirado sem danificação. Através da acessão a coisa
imóvel vai aumentar por alguma das hipóteses do art.1326.°).

a)      aluvião: é o acréscimo lento de um terreno ribeirinho; a parte do


terreno que aumenta passa a pertencer ao dono do terreno, (art. 1328.°)
c)      avulsão: difere da aluvião pois a avulsão é brusca: (art. 1329.°).

e)      construções e plantações: esta é a acessão humana, pois é o homem


que constrói e planta num terreno; a regra é o acessório seguir o principal,
então tais benfeitorias serão de propriedade do dono do terreno; porém, se o
dono do material e das sementes não for o dono do terreno surgirão
problemas sobre o domínio das acessões e indemnização ao prejudicado.
Para evitar enriquecimento ilícito do dono do terreno vai depender da boa-fé
ou da má fé  (art. 1333.° e 1334.° do CC) dos envolvidos, bem como vai
depender da espécie de benfeitoria.
 
A usucapião (art1318.° conjugado
com o art. 1294.°)

É modo de aquisição
da propriedade pela posse prolongada sob determinadas
condições. Não só a propriedade se adquire pela
usucapião, mas outros direitos reais como superfície,
usufruto e servidão predial também.
A usucapião exige posse prolongada (elemento
objetivo) com a vontade de ser dono (animus domini -
elemento subjetivo).
 
Aquisição da propriedade móvel

Quanto à propriedade móvel, esta se adquire pela:


 
Tradição: é a entrega efetiva da coisa móvel feita pelo proprietário-
alienante ao adquirente, em virtude de um contrato, com a intenção de
transferir o domínio. A tradição completa o contrato, pois tenda em vista a
importância da propriedade para o direito, é necessário que, para se desfazer
de um bem, além de um contrato, a coisa seja concretamente entregue ao
adquirente (ex: comprador, donatário), confirmando o contrato  (art. 224.°
do CC). Com a tradição, o direito pessoal decorrente do contrato, torna-se
direito real. O alienante (vendedor, doador) tem que ser dono da coisa, e
essa alienação pode ser gratuita (doação) ou onerosa (compra e venda). O
contrato tem que ser válido para eficácia da tradição.
 
CONT.
Ocupação: ocupar é se tornar proprietário de coisa móvel sem dono ou
de coisa abandonada. Ressalto que ocupar coisa imóvel sem dono ou
abandonada gera posse e não propriedade, posse que pode virar propriedade
pela usucapião, como já vimos. Essa diferença é porque as coisas imóveis têm
mais importância econômica do que as móveis, então a aquisição dos imóveis
pela ocupação exige mais requisitos. (art. 1318.° do CC).
 
Achado do tesouro: São quatro os requisitos do tesouro: ser antigo, estar
escondido (oculto, enterrado), o dono ser desconhecido e o descobridor ter
encontrado casualmente (sem querer). O tesouro se divide ao meio com o dono
do terreno. Se o descobridor estava propositadamente procurando o tesouro
em terreno alheio sem autorização, não terá direito a nada (art. 1324.°).
 
 
CONT.
Especificação: ocorre quando alguém manipulando matéria-prima de
outrem  (ex: pedra, madeira, couro, barro, ferro), obtém espécie nova 
(ex: escultura, sapato, boneco, ferramenta). Esta coisa nova pertencerá ao
especificador/artífice que pelo seu trabalho/criatividade transformou
a matéria prima de outrem em espécie novo. Mas o especificador/artífice
terá que indemnizar o dono da matéria-prima. Se a matéria-prima é do
especificador não há problema. A lei faz prevalecer a
inteligência/criatividade/o trabalho intelectual/manual sobre a matéria-
prima.
 
Usucapião de coisa móvel: Aplica-se aos móveis e também aos
semoventes bens suscetíveis de movimento próprio, como um boi, um
cavalo, etc. Esta usucapião de móveis mantem os mesmos fundamentos e
requisitos da usucapião de imoveis. (art. 1298.°).
idem
Perda da propriedade móvel e
imóvel 
O Código Civil não disciplina num capítulo específico a matéria
relativa a perda da propriedade, tanto para os móveis como para os
imóveis, portanto iremos nos socorrer ao art. 1267.° do código civil que
se refere da perda da posse, invertendo-a:

 a) Abandono: é um gesto, um comportamento  inequívoco de se


desfazer da coisa (nota: os loucos e os menores não podem abandonar,
pois não podem dispor de seus bens); atenção para não confundir coisa
abandonada (res derelictae) com coisa perdida (res amissa), pois a coisa
perdida deve ser devolvida ao dono, já a coisa abandonada pode ser
apropriada pela ocupação.
CONT
Perecimento da coisa: não há direito sem objeto, e o
objeto do direito real é a coisa; se a coisa se extingue,
perece também o direito real. (ex: anel que cai no mar;
terreno que é invadido pelo mar; carro que sofre um
incêndio); o perecimento pode ser voluntário (ex: o dono
destruir seu relógio).

Execução: assunto de processo civil; se dá a perda da


propriedade, pois o Juiz retira bens do devedor e os
vende em leilão para satisfazer o credor; é perda
involuntária. E mais outros previstos no artigo
supramencionado
FIM

GRATIA (OBRIGADO)

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