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ESTÉTICA CINEMATOGRÁFICA

EM SALA DE AULA:
JANELAS E CAMINHOS
PROF. JEAN PAUL D’ANTONY
“PARADIGMA-PADRÃO”

• De início, pegamos carona em dois conceitos antagônicos de Matthew Lipman


(2001) que achamos pertinente para essa discussão.

• O primeiro, o conceito de “paradigma-padrão”, é uma ação de estímulo-resposta,


preocupada em estabelecer perguntas estáticas, pré-estabelecidas, para resultados
programados, neste caso não existe problematização. Ocorre “quando os problemas
não são explorados em primeiro lugar, nenhum interesse ou motivação é criado, e
aquilo que continuamos chamando de educação é uma charada e um simulacro”
(Lipman, 2001, p.31).

• Esse problema abarca a questão: para que serve o cinema?


“PARADIGMA-REFLEXIVO”
• O processo de aprendizagem da análise fílmica requer uma reeducação do olhar :

• Analisar um filme não é mais vê-lo, é revê-lo e, mais ainda, examiná-lo


tecnicamente. Trata-se de uma outra atitude com relação ao objeto-filme, que, aliás,
pode trazer prazeres especificos: desmontar um filme é, de fato, estender seu
registro perceptivo e, com isso, se o filme for realmente rico, usufruí-lo melhor
(VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 12).

• Agindo através de um olhar problematizador, em contrapartida ao “paradigma-


padrão”, passamos a agir em consonância com o segundo conceito de Lipman que é
o “paradigma-reflexivo”.
• Nesse encontro opera o processo educacional, ampliando a ação da aprendizagem
para a ação do aprender a pensar através da investigação, definida por Lipman
como “perseverança na exploração autocorretiva de questões consideradas, ao
mesmo tempo, importantes e problemáticas” (1990, p.37).

• Não existe verdades procuradas nesse processo, mas verdades em desfazimento,


verdades decompostas para se associar à ideia grega de Kinesis, de onde se origina
a palavra “cinema”, que significa “movimento” e que conduz ao dinamismo
criativo.
• DENTRO E FORA DA SALA DE AULA a leitura cinematográfica é uma via de
mão dupla no status da recepção, porque explora e redimensiona a estética
cinematográfica à medida que explora e redimensiona a experiência do sensível e
de novas construções epistemológicas do indivíduo-discente consigo e com a
coletividade, de maneira crítica-criativa, saindo da horizontalidade do olhar diante
da tela para escavar novas verdades da recepção.
• Com uma boa mediação, o aluno-espectador que já possui sua bagagem cultural, sua
biblioteca cultural, conseguirá transitar para o lugar do protagonista e reconstruir sua
própria história a partir da avaliação do que assiste. A experiência com os filmes pode
resultar numa armadilha não raro frequente, pois ouso dizer que ele é um livro feito de
imagens-movimentos e imagens-tempo, sonorizados, jogados numa tela à frente que
nos toma pelo braço e nos joga dentro daquilo que se projeta com um grau forte de
realidade. Realidade aqui no sentido de que aquilo que a pessoa está vendo ‘é’, mais
do que ‘parece ser’”: um compósito de sensações que nos envolve e nos redimensiona.

• Sem os cuidados iniciais, e me refiro a um ajuste epistemológico do educador, o debate


dessa experiência torna-se pobre e pouco significativo para a aprendizagem crítica. O
desafio posto para aluno está em abrir-se para novas interlocuções diante do filme,
ampliando não apenas suas zonas de sensibilidade e cognitivas mas, certamente,
dilatando suas habilidades criativas no que diz respeito à imersão no seu próprio
imaginário através do que se assiste, seja de uma ficção seja de um documentário.
Assim, o cinema atingiria de forma bastante plena suas possibilidades educativas.
• O uso do filme proporciona ao estudante entender que a tela “conta-nos a história
humana superando as formas do mundo exterior – o espaço, o tempo e a
causalidade; e ajustando os acontecimentos às formas do mundo interior – a
atenção, a memória, a imaginação e a emoção” (MÜNSTERBERG apud
AUMONT et al., 1995, p. 226).
“Na realidade, todo espectador, de acordo com sua individualidade, a seu próprio modo, e a
partir da urdidura e trama de suas associações, todas condicionadas pelas premissas de seu
caráter, hábitos e condição social, cria uma imagem de acordo com a orientação plástica
sugerida pelo autor, levando-o a entender e sentir o tema do autor. É a mesma imagem
concebida e criada pelo autor, mas esta imagem, ao mesmo tempo, também é criada pelo
espectador” (Eisenstein, 1947/2002, p. 29).
O aproveitamento interdisciplinar de qualquer filme é, não só legítimo, como desejável,
demonstrando que a arte não existe isolada, mas indissociavelmente ligada a tudo. Contudo,
insistimos na perspectiva de que "didatizar" ou "escolarizar" o cinema é empobrecê-lo e negar
sua própria natureza e importância.

É nessa linha que se posicionam Teixeira & Lopes (2003, p. 11) quando reconhecem A
constatação da importância do cinema por si só, qual seja, a necessidade de "formarmos" a
sensibilidade e as capacidades das crianças e jovens para melhor usufruírem e sentirem esta
arte e outras, não desconhece nem desconsidera seu caráter pedagógico e até mesmo
didático.

TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro & LOPES, José de Sousa Miguel. Apresentação. In: (orgs.). A
escola vai ao cinema (2a ed.). Belo Horizonte: Autêntica, 2003 (9-24). TEIXEIRA, Inês Assunção
de Castro & LOPES, José de Sousa Miguel. Apresentação. In: (orgs.). A escola vai ao cinema (2a
ed.). Belo Horizonte: Autêntica, 2003 (9-24).
O QUE É A EXP. ESTÉTICA E COMO FUNCIONA

Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995) enfatiza a historicidade inerente a cada subjetividade,
considerando o movimento de constituição de identidades e singularidades a partir de
múltiplas relações, fluxos e agenciamentos mediados por signos. Toda essa dinâmica foi
caracterizada pelos autores como “processos de subjetivação”. Quando falam em processos
de subjetivação, Deleuze e Guatari pensam no conjunto de matérias e funções que
envolvem desde necessidades biológicas do organismo às mais diversas dimensões da
cultura. São códigos socialmente ordenadores que, de algum modo, estruturam nosso
comportamento.
Diz Guatarri, em Caosmose:

“O paradigma estético processual trabalha com os paradigmas científicos e éticos (...)


instaura-se transversalmente à tecnociência porque os [processos de desenvolvimento desta]
são, por essência, de ordem criativa e tal criatividade tende a encontrar a do processo
artístico (...) tem implicações ético-políticas porque quem fala em criação fala em
responsabilidade da instância criadora em relação à coisa criada(...) mas essa escolha ética
não mais emana de uma enunciação transcendente, de um código de lei ou de um deus único
e todo-poderoso (...) a própria gênese da enunciação encontra-se tomada pelo movimento de
criação processual.” (Guattari, 1992: 136-137)
A SALA DE AULA E O CINEMA

Conhecer a linguagem cinematográfica como mais um elemento constitutivo de sua


formação; analisar produções cinematográficas, estabelecendo o diálogo entre a narrativa do
cinema, os conhecimentos adquiridos ao longo da escolaridade básica e dos demais
conhecimentos; Incorporar a arte do cinema ao seu repertório cultural, ampliando, assim,
sua potencialidade no exercício de uma postura crítica e reflexiva na vida e no trabalho.
(SEE/SP, 2010a)].
Educação,
Cinema e Estética:
elementos para uma
reeducação do olhar.

Ver filmes, analisá-los, é a vontade de entender a nossa sociedade massificada, praticamente


analfabeta e que não tem uma memória da escrita. Uma sociedade que se educa por imagens
e sons, principalmente da televisão, quase uma população inteira [...] que não tem contato
com a escrita, a reflexão com a escrita. E também a vontade de entender o mundo pela
produção artística do cinema (Almeida, 1994, p. 12).
O que percebo no cinema não é apenas o que vejo, não é apenas o que me é mostrado no
recorte do quadro, através da mediação da câmera. A minha percepção depende
fundamentalmente do que eu adivinho na percepção do outro, do que eu suponho que o
outro vê (ou não) e do que eu suponho que o outro sabe (ou não) que eu vejo. (MACHADO,
2007, p. 97)
o cinema constitui-se em uma matriz social singular de percepção, elaboração e
transmissão de saberes e fazeres, possibilitando distintas formas de apreensão,
compreensão e representação do mundo. Nesses termos, enquanto uma modalidade
integrante do conhecimento humano, o cinema orienta e explica percursos individuais e
grupais formados em ambiências em que a imagem em movimento constitui e possibilita
aprendizados que passam a compor o estoque de experiências da sociedade (SILVA, 2010,
p. 161-162).
REFERÊNCIAS

APOLINÁRIO, Juciane Riacarte. Cinema: historicidades, interpretações, representações e


sensibilidades. In: Buriti, Iranilson. (ORG.). Identidades e sensibilidades: o cinema como
espaço de leituras. Campina Grande, Paraíba: Eduepb, 2012.
AUMONT, Jaques. A estética do filme. 7.ed. São Paulo: Papirus, 2009.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São
Paulo: Martins Fontes, 1977.
BERNARDET, Jean Claude. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2006.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto
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CITELLI, Adilson (org). Outras linguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rádios,
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DUARTE, Rosália. Cinema & educação. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
FERREIRA, Aurélio. (2016). Dicionário da Língua Portuguesa. Retirado de
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FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão e educação: fruir e pensar a TV. 2 ed. Belo Horizonte:
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GALENO, Alex. et al. Brasil em tela: cinema e poética do social. Porto Alegre: Sulina, 2008.
GUSMÃO, Milene de Cássia Silveira. Dinâmicas do cinema no Brasil e na Bahia: trajetórias
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LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. Construção do saber: manual de metodologia da
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