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O MUNDO
Desigualdades Sociais
Vermelho/ Verde Poder/Riqueza
CAPITALISMO
Ave-Marias
“Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;”
Trabalho mais ligeiro, mas, no
“Num trem de praça arengam dois dentistas;” entanto, maior reconhecimento
Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros, Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!
Vibra uma imensa claridade crua. Tomam por outra parte os viandantes;
De cócoras, em linha os calceteiros, E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Com lentidão, terrosos e grosseiros, Retinem alto pelo espaço fora,
Calçam de lado a lado a longa rua, Com choques rijos, ásperos, cantantes.
Como as elevações secaram do relento, Bom tempo. Os rapagões, morosos, duros, baços,
E o descoberto Sol abafa e cria! Cuja coluna nunca se endireita,
A frialidade exige o movimento; Partem penedos; cruzam-se estilhaços.
E as poças de água, como um chão vidrento, Pesam enormemente os grossos maços,
Refletem a molhada casaria. Com que outros batem a calçada feita.
Em pé e perna, dando aos rins que a marcha A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!
agita, Que espessos forros! Numa das regueiras
Disseminadas, gritam as peixeiras; Acamam-se as japonas, os coletes;
Luzem, aquecem na manhã bonita, E eles descalçam com os picaretes,
Uns barracões de gente pobrezita Que ferem lume sobre pederneiras.
E uns quintalórios velhos com parreiras.
E nesse rude mês, que não consente as flores,
Fundeiam, como a esquadra em fria paz, Homens de carga! Assim a bestas vão curvadas!
As árvores despidas. Sóbrias cores! Que vida tão custosa! Que diabo!
Mastros, enxárcias, vergas! Valadores E os cavadores pousam as enxadas,
Atiram terra com as largas pás. E cospem nas calosas mão gretadas,
Para que não lhes escorregue o cabo.
Eu julgo-me no Norte, ao frio - o grande agente!
Carros de mão, que chiam carregados, Povo! No pano cru rasgado das camisas
Conduzem saibro, vagarosamente; Uma bandeira penso que transluz!
Vê-se a cidade, mercantil, contente: Com ela sofres, bebes, agonizas;
Madeiras, águas, multidões, telhados! Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!
Negrejam os quintais, enxuga a alvenaria:
Em arco, sem as nuvens flutuantes, De escuro, bruscamente, ao cimo da barroca,
O céu renova a tinta corredia; Surge um perfil direito que se aguça;
E os charcos brilham tanto, que eu diria E ar matinal de quem saiu da toca,
Ter ante mim lagoas de brilhantes! Uma figura fina, desemboca,
Toda abafada num casaco à russa.
E engelhem, muito embora, os fracos, os tolhidos,
Eu tudo encontro alegremente exato. Donde ela vem! A atriz que tanto cumprimento
Lavo, refresco, limpo os meus sentidos. E a quem, à noite na plateia, atraio
E tangem-me, excitados, sacudidos, Os olhos lisos como polimento!
O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato! Com seu rostinho estreito, friorento,
Caminha agora para o seu ensaio.
Pede-me o corpo inteiro esforços na friagem
De tão lavada e igual temperatura!
Os ares, o caminho, a luz reagem;
Cheira-me o fogo, a sílex, a ferragem;
Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura.