Você está na página 1de 6

O eclipse da narrativa

Paul Ricoeur
 A reação desconfiada da historiografia de língua francesa com a
filosofia, quase sempre associada àquela de matriz hegeliana,
esquecendo, sob muitas vezes, a filosofia crítica da história
(Raymond Aron, Wilhelm Dilthey, Max Weber, etc.).

 Por sua vez, a filosofia neopositivista em adequar às explicações


em história aos modelos que supostamente definem o saber
científico, a unidade profunda de seu projeto e seus resultados.

 Apesar de bastante diferentes, as duas correntes possuem em


comum a negação do caráter narrativo da história tal como a
escrevemos hoje.
 O acontecimento histórico como um conceito eclipsado em uma
historiografia que renegava a “história factual”.

 No sentido ontológico, entende-se como acontecimento histórico


O eclipse do o que se produziu efetivamente no passado.
acontecimento
na  Antes mesmo da publicação das obras de Marc Bloch e Lucien
Febvre, o filósofo Raymond Aron, em sua obra Introdução à
historiografia filosofia da história (1938) dissolvia o primado do senso comum e o
caráter absoluto do acontecimento.
francesa
 O livro de Aron, em seu tempo, é revolucionário por indicar que o
passado, concebido como a soma do que efetivamente aconteceu,
está fora do alcance do historiador.
 As contribuições das obras dos Annales, especialmente Apologia
da história ou o ofício do historiador, de Marc Bloch, diferem em
muito daquelas de Aron, voltando-se muito mais para a
perspectiva da “análise histórica” como forma de combater o
O eclipse do narrativismo da chamada “história tradicional”.

acontecimento
 No entanto, o grande manifesto dos Annales, para Paul Ricoeur, é
na O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Felipe II, de
historiografia Fernand Braudel, que arruína a noção tradicional de
acontecimento.
francesa
 Com essa obra, termos como história política, história factual e
história-narrativa são colocados como sinônimos e todos vistos
como o tipo de historiografia a ser combatida.
 A tradição epistemológica do Círculo de Viena, filha do positivismo –
O eclipse da nesse caso, a narrativa é solapada diante de uma perspectiva
filosófica que entende que a “compreensão” não necessariamente
compreensão: precisa vir da “explicação”.

o modelo  Nesse sentido, a nomologia é aqui tomada como uma busca das leis
“nomológico” que regem um saber científico, de forma que o processo explicativo-
narrativo poderia ser capaz de diluir a compreensão da verdade.
na filosofia
analítica de  Buscou-se, assim uma “função das leis gerais na História”, ou seja,
língua inglesa modelos de explicação que regessem o saber histórico, o que foi
combatido pelo historiador Paul Veyne que, ao contrário, lutou para
que a história continuasse a ser conduzida por uma narrativa, uma
intriga.
 Para Paul Ricoeur, tanto os historiadores dos Annales quanto os
filósofos analíticos de língua inglesa, apesar de partirem de
O eclipse da matrizes epistemológicas diferentes, e até rivais entre si, tinham
como ponto comum o combate à narrativa como uma questão
compreensão: central em história.
o modelo
“nomológico”  No entanto, seria possível eclipsar a narrativa do saber histórica,
retirar do argumento seu estatuto de centralidade no interior
na filosofia desse saber?
analítica de
 Na contramão dessas duas perspectivas, a obra de Paul Ricoeur
língua inglesa fundamenta seu argumento na relação entrelaçada entre tempo e
narrativa, sendo um percebido em função da outra.

Você também pode gostar