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Na esfera da política, a Modernidade foi marcada pela formação do Estado Moderno

e dos discursos jurídico-políticos produzidos para justificar sua existência.

Esses discursos instituíram a divisão estanque entre espaço doméstico – definido


como pacífico – e o espaço internacional, tido como anárquico e sujeito à guerra.

Esse discurso dicotômico passou a dominar a reflexão sobre as identidades políticas


como se não houvesse alternativa futura ou passado histórico que a antecedesse.

Essa divisão é um dos alvos centrais da crítica dos autores vinculados ao “pós-
estruturalismo”.
Rob Walker – Inside/Outside: international relations as political theory (1993)

O princípio da soberania se articula a partir de uma série de oposições binárias


entre identidade e diferença

Produção ontológica voltada a justificar a existência do Estado (entendido


como o espaço da identidade, daquele que me é igual, do meu concidadão)

A imagem da alteridade é indispensável

Vincula-se a formação da subjetividade de cada indivíduo à constituição da


identidade do Estado -> nossa localização em um certo território define nossa
própria existência
A construção das teorias de RI estaria embasada numa certa leitura –
perspectiva e parcial – de autores clássicos da filosofia política:

- Tucídides, Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel, para os realistas


- Immanuel Kant, para os liberais

Localização de origens remotas de supostos “princípios universais”

Para o realismo e o liberalismo, “política” é sinônimo de “Estado”, que é


sinônimo de “paz”. Pelo avesso, nas RI, na ausência de um Estado, não haveria
“política”, mas o seu contrário, a “anarquia”.
Para Walker, no entanto, essas categorias não são opostas, mas coconstitutivas, ou
seja, não há “anarquia” – o outside – sem o Estado – o inside – e vice-versa

“a violência lá fora [outside] permite a paz e a justiça internamente [inside]” (p. 151)

A construção de uma imagem além do Estado como o espaço do caos, da violência e


da guerra permitiria defender o Estado como uma instituição salvadora e necessária.

O conceito de soberania necessita da existência constante e insuperável da


“anarquia” como imagem do medo a justificar sua própria existência

A anarquia como uma esfera de perigo e violência assume um papel fundamental na


preservação do Estado soberano como esfera de preservação da vida.
Para Walker, as décadas finais do século XX teriam demonstrado a dinamização
das RI, com novos atores, fluxos, ideias, problemas. Mesmo a temática clássica
da guerra teria enfrentado um redimensionamento significativo.

“As teorias de RI são mais interessantes como aspectos da política mundial


contemporânea que precisam ser explicados do que explicações da política
mundial contemporânea” (p. 6).

Atacar, portanto, o princípio da soberania política implicaria, também, confrontar


a soberania das teorias hegemônicas, evidenciando seus compromissos políticos,
a fim de expor sua parcialidade e suas limitações

modos de interpretação sem os quais o poder não pode ser exercido


Walker sinaliza para a necessidade de pensar uma “política mundial” na qual a
distinção entre “internalidade” e “externalidade” simplesmente não existe de forma
estanque.

Repotilizar as teorias de RI (não tratá-las como uma negação da política)

Walker enfatiza a urgência de que a heterogeneidade dos discursos sobre a política


mundial substitua o monocromatismo das teorias derivadas da dicotomia inside /
outside.

Atentar para as perspectivas ou discursos soterrados ou negligenciados

Ganhariam espaço as perspectivas e discursos que incorporam problemas para além


dos definidos para e pelo Estado
Pós-estruturalismo não se resume à crítica pela crítica -> propósitos produtivos
de suas pesquisas

Mesmo quando voltam aos clássicos é para expor como o realismo e o


liberalismo os enrijece

Os pós-estruturalistas não estão interessados em produzir novas ciências


positivistas, que se pretendem neutras e objetivas, mas sim, como diria Foucault
(1999, p. 14) “anticiências”:

rigorosas nos seus métodos, mas sem a meta de se


constituírem como ciências universais associadas – e a serviço – de um
poder político centralizado.

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