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Aula 3

Doenças zoonóticas
Introdução
 O que são zoonoses:
 Doenças que podem ser transmitidas dos animais aos seres humanos.
 Formas de transmissão:
 Por contato direto; Por alimentos; Por picadas de vetores; etc.
Didaticamente, existem dois grandes grupos de formas de
transmissão de zoonoses, sendo eles o Contato direto, quando o
animal provoca uma arranhadura ou mordida em um ser humano,
e o Contato indireto, quando temos algum elemento extra como
elo de ligação, permitindo a passagem de um microorganismo
patogênico entre o animal e a pessoa. Na transmissão por
contato indireto, podemos ter a participação de:
Alimentos;
Secreções;
Vetores;
Fômites.
Para melhor compreender as características das doenças que
estudaremos na sequência deste capítulo, é fundamental
compreender o significado de alguns conceitos importantes:
Portador assintomático;
Período de incubação;
Imunodeprimido;
Profilaxia.
Salmonelose
 Agente:
 Diferentes variedades de bactérias do gênero Salmonella sp.;
 Microorganismo com alto nível metabólico.

 Espécies afetadas:
 Rara em cães e gatos.
 Comum em frangos e seres humanos.
Características gerais
 Ao homem: alimentos contaminados.
Principalmente ovos, carne de frango.
Também por frutas/verduras/legumes.
 Ao frango: ração ou água contaminada,
ou por via intrauterina.
Sintomas
• Sintomas nos seres humanos:
• Diarreia, febre, dor de cabeça, náuseas, vômitos, cólicas abdominal.
• Intensidade e diversidade de sintomas é muito variável.
• Dura 4 a 7 dias, e a maioria se recupera com repouso e hidratação.
• Nos casos graves há diarreia intensa (necessário hospitalização).
• Raramente evolui para bacteremia. Quando ocorre, há chance de óbito.
Sintomas nos cães:
• Diarreia;
• Febre;
• Vômito;
• Desidratação;
• Perda de apetite;
• Mal estar;
• Prostração;
Sintomas em frangos jovens :
• Apatia;
• Anorexia;
• Diarreia esbranquiçada;
• Perda de peso
• Morte.
Sintomas em frangos adultos:
• Apatia;
• Queda na produção de ovos
• Redução na fertilidade;
• Anorexia;
• Diarreia.
Diagnóstico
O diagnóstico tem como base o histórico do caso, os sintomas e o exame de
fezes, a partir do qual é realizada cultura bacteriana. É indispensável fazer o
diagnóstico diferencial de outras patologias com sintomas parecidos como
gastrenterite viral e infecções parasitárias (amebas, giárdia, etc.).
Medidas de Profilaxia:
Lavar as mãos antes do preparo de alimentos;
Evitar o consumo de carnes mal passadas, especialmente de frango;
Evitar o consumo de ovos crus ou com gema mole;
Armazenar ovos sempre no refrigerador, nunca em temperatura ambiente;
Aquisição de aves (matrizes) apenas de criatórios livres de Salmonela;
Fornecer água para os frangos em bebedouros sem a possibilidade de
contaminação por fezes;
Abater e descartar as aves com exame positivo.
Tuberculose
• Tem como agente etiológico as bactérias Mycobacterium bovis,
Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium avium;
• Ambientes úmidos ou com pouca luminosidade elas encontram
condições de sobreviver por vários meses;
• Esse microorganismo foi isolado e identificado pela primeira
vez em 1882, pelo pesquisador alemão Robert Koch.
 Transmissão:
 90% dos bovinos se infectam por via respiratória (inalação de aerossóis);
 Também por via digestiva: água, pastagem ou ração contaminados.
 Animais doentes eliminam a bactéria por pelo ar, urina, leite e sêmen.
 Nos seres humanos a contaminação também se dá por via respiratória:
proximidade com pessoas infectadas, permanência em locais fechados e
pouco ventilados;
 Também é possível por ingestão de leite (cru) ou carne (mal passada).
 Consequências:
 Doença de desenvolvimento crônico;
 Disseminação rápida nos rebanhos;
 Potencial para perdas econômicas significativas;
 Perda de prestígio e credibilidade da fazenda;
 Estatísticas:
 Segundo a OMS, cerca de 30% da população mundial está infectada.
Sintomas
• Lesões nodulares:
• Podem localizar-se em qualquer órgão ou tecido;
• Costumam apresentar coloração amarelada;
• Cápsula fibrosa.
• Nos humanos:
• Tosse persistente (por mais de três semanas);
• Febre
• Produção de escarro
• Dispnéia
• Emagrecimento progressivo;
• Hemoptise.
Leptospirose
 Agente:
 Bactéria Leptospira sp.
 Sobrevive por semanas em ambiente úmido com pH neutro.
 Patologia conhecida como “a doença da urina rato”.
 Espécies afetadas:
 Mais frequentemente cães, pessoas e bovinos.
 Também ocorre em suínos e equinos.
 Rara em gatos.
 Transmissão:
 Por exposição à água contaminada por urina
de animais infectados.
 A Leptospira sp. penetra a pele (mesmo
íntegra); infecção também pelas mucosas.
 Alto risco após enchentes/alagamentos.
 Por ingestão de água, alimentos (ou ração)
contaminada pela urina.
 Sintomas em cães:
 Em geral: quadro agudo de febre, perda de apetite,
vômitos e diarreia;
 Complicações: Lesões nos rins (gerando urina de
cor marrom escura). Lesões no fígado (provocando
icterícia).

 Sintomas em ratos:
 Estão adaptados à bactéria: não manifestam sinais
ou lesões.
 Sintomas em humanos:
 Mais comum: mal estar, febre aguda, dor de cabeça, náuseas, dores
musculares, especialmente na panturrilha.
 Em geral é autolimitada (melhora em 3 ou 4 dias).

 Casos graves: alterações renais, hemorragias, dano


hepático (que pode resultar em Icterícia), meningite
e coma.
 Medidas de Profilaxia:
 Controle de roedores: telas em aberturas + armadilhas + veneno.
 Atenção às medidas básicas de higiene e limpeza.
 Evitar acúmulo de lixo (para não atrair ratos).
 Usar luvas e botas de borracha em ambientes de risco.
 Manter limpas as vasilhas de alimento e água dos cães.
 Vacinar os cães anualmente, ou semestralmente, conforme o risco.
Giardíase
 Agente:
 Protozoário Giardia lamblia (Giardia duodenalis).
 Patologia comum e com aumento de prevalência na região sul do BR.

 Espécies afetadas:
 Mais frequente em seres humanos e cães.
 Também pode ocorrer em felinos, bovinos, ovinos, caprinos, suínos
equinos.
 Transmissão:
 Por contaminação fecal-oral.
 Uma vez ingerido, ele evolui para forma capaz de causar sintomas e se
reproduzir (Trofozoito).
 Animais doentes eliminam a forma infectante (cisto) pelas fezes.
 Os cistos sobrevivem em alimentos vegetais, água, ambientes úmidos.
 Começa nova produção de cistos.
 Doença mais frequente em crianças ou indivíduos imunodeprimidos.
CICLO DA Cistos presentes nas
GIARDÍASE fezes contaminam
água ou alimentos
 Sintomas no ser humano:
 Diarreia persistente, flatulência, náusea e vômitos, desidratação, cólica
abdominal, fraqueza e perda de peso.
 Alguns pacientes permanecem assintomáticos.

 Sintomas nos cães:


 Fezes moles ou pastosas (com odor fétido), vômitos, dor abdominal,
desidratação e perda de peso. Não é comum redução no apetite.
 Também pode gerar indivíduos sem sintomatologia da doença.
 Medidas de Profilaxia:
 Educação sanitária nas escolas e junto à comunidades carentes.
 Adoção de hábitos de higiene e preservação da saúde: lavagem das mãos
antes de preparar alimentos, lavagem dos alimentos de origem vegetal
antes do consumo, etc.
 Desinfecção e limpeza do ambiente onde o animal vive.
 Cobrar do poder público a realização de obras para fornecimento de água
potável e recolhimento/tratamento de esgotos e dejetos.
Toxoplasmose
 Agente:
 Protozoário Toxoplasma gondii.
 Parasita de distribuição mundial.
 Espécies afetadas:
 Mais frequentemente gatos.
 Também cães, bovinos, aves, seres humanos.
 Transmissão aos gatos:
 Ingestão de cistos presentes na carne de ratos,
bovinos, aves, etc.

 Transmissão aos seres humanos:


 Ingestão de alimentos vegetais contaminados, ou carne contaminada e
mal passada, ou água contaminada.

 Transmissão aos bovinos, suínos, aves, ovinos, etc.:


 Ingestão de pasto, ração, água contaminada.
 Transmissibilidade do gato:
 A forma contaminante é denominada oocisto.
 É gerada apenas no trato gastrointestinal dos gatos.
 São eliminados com as fezes.
 Tornam-se infectantes no meio ambiente, após 1 a 5 dias.
 Eliminação começa 10 dias após infecção inicial.
 Eliminação dura apenas 1 a 2 semanas.
Carne crua
Risco de transmissão
transplacentária se a 1º
infecção ocorrer durante
a gestação.
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Água/Vegetais/Legumes

Oocisto
CICLO DA TOXOPLASMOSE
 Sintomas nos gatos: Raramente se manifestam.
 Quando ocorrem: enterite, alterações do SNC e lesões neuromusculares.
 Sintomas em humanos:
 Raramente ocorrem.
 Quando se manifestam: febre, mal-estar, aumento de linfonodos.
 Sinais confundidos com um resfriado (somem em poucos dias).
 A maioria das pessoas já se contaminou, mas nem sabe disso.
 Em pacientes imunocomprometidos: manifestações de doença do SNC.
 Sintomas em humanos: Mulheres gestantes...
 Se for o 1º contato com o T. gondii: há grande risco para o feto.
 Chance de aborto ou nascimento de fetos mortos.

 Aqueles bebês que vem a termo,


podem nascer com cegueira,
hidrocefalia, convulsões e deficiência
intelectual.
 Medidas de Profilaxia:
 Não comer carnes mal passadas.
 Não dar carne crua/mal passada aos gatos.
 Limpar a caixa de areia dos gatos diariamente.
 Usar pazinha/luva ao limpar a caixa de areia.
 Lavar bem legumes e verduras antes do consumo.
 Lavar as mãos antes de cozinhar.
Raiva
 Agente:
 Vírus do gênero Lyssavirus.

 Espécies afetadas:
 Qualquer animal mamífero.
 A cada ano são registrados 40 mil óbitos de bovinos, em todo o BR.
 Aumento recente do nº de casos em cães e gatos.
 Transmissão:
 Pela mordida de um animal contaminado.
 Segundo a OMS, 99% dos casos humanos
resultam de mordida de cão.
 Cães/gatos: principalmente por agressão
de outros cães e gatos.
 Bovinos/Equinos: por mordidas de cães e
morcegos.
 Papel dos Morcegos:
 Não devem ser foco de extermínio,
pois exercem papel biológico
importante (disseminação de
sementes, polinização de flores,
controle da população de ratos e
insetos).
 A grande maioria são morcegos de
espécies insetívoras ou frugívoras.
 Evolução:
 Após a mordida o vírus é inoculado no músculo.
 Fica se multiplicando até atingir alta carga viral.
 Migra para o nervo mais próximo e depois para a medula espinhal.
 Pela medula, alcança o SNC: desencadeia os sintomas clássicos.
 Vírus se propaga para outros órgãos e se aloja nas glândulas salivares.
 Período de incubação:
 Varia conforme o local da mordida e carga viral inoculada;
 Seres humanos: média de 60 dias; Cão/gato: média de 20 a 60 dias;
 Sintomas em cães e gatos:
 Primeiro sinal: prurido no local da
mordida.
 Quando afeta o SNC: Paralisia na
glote, dificuldade de engolir,
salivação, alteração na tonalidade
do latido.
 Sintomas em cães e gatos:
 Alterações comportamentais: Agressividade gratuita, contra objetos,
pessoas e animais.
 Na fase final: Contrações musculares involuntárias, incoordenação,
paralisia de membros posteriores, convulsões e morte.
 Óbito: ocorre 3 a 4 dias após os 1ºs sintomas (no máximo em 10 dias).
 Sintomas em morcegos:
 Paralisia das asas e/ou agitação (morcegos voando de dia).
 Sintomas em bovinos/equinos:
 Disfagia, inquietude, tremores e
incoordenação muscular,
paralisia de membros
posteriores.
 Óbito em 3 a 5 dias.
 Sintomas em seres humanos:
 Inicial: sensibilidade no local da lesão (formigamento, dormência);
 Acometimento do SNC: Insônia e aerofobia, hidrofobia salivação;
 Mudança comportamental (fica introvertido ou agitado);
 Alucinações, ansiedade, hipersensibilidade sensorial;
 Paralisia progride para vários músculos (incluindo o diafragma);
 Óbito em poucos dias.
Medidas de Profilaxia:
• Lavar o ferimento de mordida com água e sabão;
• Usar telas nas portas/janelas em locais com presença de morcegos;
• Notificação obrigatória às autoridades sanitárias;
• Vacinação de cães/gatos: dose única;
• Controle da população de morcegos: captura e aplicação de pasta
vampiricida.
• Aplicação de anticoagulante ao redor das lesões em bovinos/equinos.
 Profilaxia Ativa:
 Peculiaridade da Raiva: aplicar vacina após contaminação.
 Aplicação da vacina quanto mais cedo possível.
 Ensina o sistema imunológico a combater o vírus, antes que ele chegue no
SNC.
 Não possui contra indicações para mulheres grávidas.

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