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Auto da Barca do Inferno

Gil Vicente

Porto Editora
Texto dramático
São textos dramáticos os textos que se integram
na forma literária do drama (palavra de origem
grega que originalmente significava “ação”), ou
seja, servem para serem representados
teatralmente.

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Pág.238

1. Categorias do texto dramático


Os textos dramáticos apresentam quatro categorias:

Agentes da ação, que podem ser classificados


personagens quanto ao relevo, à composição e aos
processos/modos de caracterização.

Lugar, ambiente, meio social/cultural em que


espaço se passa a ação.

Momento/época em que decorre a ação.


tempo

Sucessão de acontecimentos, em torno de


ação um conflito e com vista a um desenlace.
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2. Estrutura do texto dramático


A ação apresenta dois tipos de estrutura:

interna externa

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Exposição – apresentam-se as personagens e os


antecedentes da ação;
Estrutura
Conflito – representam-se as peripécias que constituem a
interna ação;
Desenlace – dá-se a conhecer a conclusão da ação.

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Pág.239

Ato – parte da ação que ocorre num mesmo local (a


alteração do espaço implica a alteração de ato);
Cena – parte da ação que ocorre com as mesmas
Estrutura personagens (dá-se a mudança de cena sempre que uma
externa personagem inicia ou termina a sua intervenção na
ação).

Nota: O texto dramático pode estar escrito em prosa ou em


verso. Se for escrito em verso, o texto dramático obedece a
uma determinada estrutura estrófica, métrica e rimática.

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3. Modalidades do texto dramático


O texto dramático divide-se em duas modalidades textuais:
as falas das personagens – texto principal, podendo ocorrer
sob a forma de:

– diálogo: falas/réplicas entre duas ou mais personagens;


– monólogo: fala de uma personagem consigo própria;
– aparte: fala de uma personagem para o público.

as indicações cénicas ou didascálias – texto secundário,


consistindo em informações do dramaturgo (geralmente
grafadas em itálico e/ou dentro de parênteses) sobre os
sentimentos, a entoação, a movimentação das personagens,
o contexto espaciotemporal em que decorre a ação, o
guarda-roupa, o cenário e os adereços, os efeitos de
sonoplastia ou luminotecnia, …
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Pág.230

Gil Vicente

 Gil Vicente é considerado, por muitos estudiosos, o


primeiro grande percursor do modo dramático
(teatro) em Portugal.

 A sua obra dramática é uma das mais importantes


do século XVI.

 As suas peças teatrais apresentam um retrato do


quotidiano da época, recebido através das falas das
personagens e das relações que estabelecem entre
si.

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As peças vicentinas

Autos Recebem a influência de Juan del Exs.:


pastoris Encina. Auto da Fé
Diálogos de pastores, que se combinam Auto de Mofina Mendes
com alegorias, com funções em peças
profanas ou religiosas.
Autos de Teatro de ensinamentos morais e Exs.:
moralidade religiosos. Auto da Alma
Peças religiosas alegóricas, que são Auto da Feira
um pretexto para a sátira ou Auto da Barca do Inferno
caricatura profana.
Farsas Episódios cómicos colhidos em flagrante Exs.:
na vida da personagem típica. Quem tem farelos?
Há ainda as farsas mais desenvolvidas, Farsa dos Almocreves
com princípio, meio e fim. Auto da Índia
Farsa de Inês Pereira

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As peças vicentinas

Autos Meras encenações de episódios Exs.:


cavaleirescos sentimentais cavaleirescos. D. Duardos
Amadis de Gaula
Autos Alegorias de conjunto, à roda ou
alegóricos dentro das quais se desenvolvem
de tema episódios de farsas, cenas de amor, Ex.:
profano cânticos ou até bailados. Cortes de Júpiter
Algumas alegorias exigem uma
cenografia vistosa e complicada.

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O teatro de Gil Vicente

OS TIPOS DE CÓMICO

• “Ridendo castigat mores” (A rir castigam-se os costumes) –


esta máxima coaduna-se com as peças de Gil Vicente, dado que a
crítica vicentina é extensiva a toda a sociedade, ainda que de modo
indireto, de uma forma cómica.

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O teatro de Gil Vicente

OS TIPOS DE CÓMICO

Gil Vicente recorre aos seguintes processos:

o emprego da ironia, blasfémias, calão,


cómico de linguagem
etc. pelas personagens provoca o riso;
a inadaptação das personagens às
cómico de situação circunstâncias em que se encontram
torna-se cómica;
a personalidade e/ou o comportamento
cómico de caráter
das personagens suscitam o riso.

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Auto da Barca do Inferno


a) Auto de moralidade

O Auto da Barca do Inferno (1517) é um auto de moralidade,


já que, através de uma representação alegórica* (barcas do Anjo
e do Diabo), Gil Vicente transmite ensinamentos morais e
religiosos.

*Alegoria – metáfora ou imagem que permite


representar, de forma concreta, uma realidade
abstrata.
Ex: Anjo = Bem; Diabo = Mal
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Auto da Barca do Inferno


b) Estrutura externa

O Auto da Barca do Inferno, como era usual no


teatro medieval, não apresenta divisões em atos ou
cenas. Apresenta apenas um ato - cenário: o rio e o
cais, onde estão ancoradas duas barcas; não contém
divisão externa, mas pode ser dividido em cenas à
maneira clássica, sempre que entra ou sai uma
personagem de cena.
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b) Estrutura externa

O Auto da Barca do Inferno encontra-se


escrito em verso.

As estrofes são, geralmente, oitavas,


com o seguinte esquema rimático:
ABBAACCA (rima interpolada e empare-
lhada).

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b) Estrutura externa

Quanto à métrica, predomina a redondilha maior


(versos de sete sílabas métricas):
DIA. Não entras cá, vai-te d’i! A
A cadeira é cá sobeja: B
cousa qu’esteve na igreja B
não se há de embarcar aqui. A
Cá lha darão de marfim, A
marchetada de dolores, C
com tais modos de lavores, C
que estará fora de si… A

Auto da Barca do Inferno, vv. 168-175

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Auto da Barca do Inferno


b) Estrutura externa

Em resumo…

Estrutura estrófica: oitava

Estrutura rimática: ABBACCA

(rima interpolada e emparelhada)

Estrutura métrica: Redondilha maior (que es|ta|rá| fo|ra |de |si…|)

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Auto da Barca do Inferno


c) Estrutura interna
O auto inicia-se com o Anjo, o Diabo e o seu Companheiro em cena e
continua com o desfile de diferentes personagens, nomeadamente:

o Fidalgo e o seu Pajem o Judeu

o Onzeneiro
o Corregedor e o Procurador

o Parvo Joane
o Enforcado

o Sapateiro
os quatro Cavaleiros
o Frade e a Moça

a Alcoviteira e as suas Moças


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Auto da Barca do Inferno
c) Estrutura interna
As personagens vão, post mortem, entrando num cenário onde dominam duas
barcas e respetivos arrais, do Inferno e do Paraíso, e são protagonistas de vários
quadros que apresentam, regra geral, uma estrutura interna constituída por:

breve apresentação da
Exposição
personagem;

Diálogo personagem com Anjo e


Conflito Diabo / julgamento feito pelo
Diabo e/ou pelo Anjo;

sentença proferida pelo Diabo


Desenlace e/ou pelo Anjo, que condena ou
salva as almas recém-falecidas.
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Auto da Barca do Inferno


c) Estrutura interna
A peça mostra-nos diferentes personagens-tipo* que
se sucedem num cais onde estão ancoradas duas
barcas.
Deste modo, este auto não tem uma ação única e
linear, mas um conjunto de miniações, sempre com
uma personagem principal e as figuras alegóricas do
Anjo e do Diabo.

*representam uma classe socioprofissional


denunciados e satirizados por Gil Vicente.
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Auto da Barca do Inferno
c) Estrutura interna
• As miniações:
 assemelham-se a um julgamento no tribunal, em
que há dois ou três advogados de acusação
(Diabo, Anjo e/ ou Parvo), mas nenhum de defesa
– a alma é responsável pela sua própria defesa;

 estrutura semelhante: cada um dos protagonistas


vai desfilando pelo cais, todos (à exceção do
Judeu) tentam entrar no Paraíso, embora tenham
de se conformar com o seu destino, rumo ao
Inferno, perante a recusa ou o silêncio do Anjo.
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