Você está na página 1de 41

MODERNISMO 1ª GERAÇÃO

OS ANOS 20 – FASE HEROICA

 Tinha como objetivo a reconstrução da cultura brasileira, com base


numa revisão crítica do passado histórico e das tradições culturais e
linguísticas do país.
 A discussão em torno do nacional, entretanto, foi marcada por
muitas divergências ideológicas entre os escritores, o que deu
origem à publicação de vários manifestos e ao surgimento e ao de
dois grupos antagônicos de escritores.
Manifesto Pau-Brasil (1924)
Movimento Pau-Brasil é um movimento nativista, que defendia a poesia brasileira de
exportação. Tal como o pau-brasil foi o primeiro produto brasileiro a ser exportado,
Oswald de Andrade desejava que a poesia brasileira se tornasse um produto cultural de
exportação; daí a escolha do nome do movimento.
São características do Movimento do Pau-Brasil:
 Revisão crítica do passado histórico
 Abandono do academicismo
 Valorização da identidade nacional
 Originalidade
 Linguagem coloquial e humorada
Movimento Verde-amarelo (1926) e Escola da Anta
 O Movimento Verde-Amarelo defendia o patriotismo em excesso e teve clara
tendência nazifascista.
 Em 1927 o Movimento Verde-Amarelo transformou-se na Escola da Anta, ou Grupo
Anta.
 Ufanismo é a característica que melhor define o movimento da Escola da Anta. Trata-
se de uma exaltação do Brasil e, ao mesmo tempo, hostilidade às proveniências
estrangeiras. A ideologia fascista - baseada no racismo - também estava presente nesse
manifesto.
 A Escola da Anta recebeu esse nome como representação da nacionalidade brasileira,
dado o contexto mítico desse animal na cultura tupi - principal tribo indígena
brasileira.
Movimento Antropofágico (1928)
 O termo antropofágico foi utilizado como associação ao ato de ruminar,
assimilar e deglutir. A ideia, portanto, era de transfigurar a cultura,
principalmente a europeia, conferindo assim, o caráter nacional.
 Oswald não se opõe drasticamente à civilização moderna e industrializada,
mas propõe um certo tipo de cautela ao absorver aspectos culturais de
outrem, para que a modernidade não se sobreponha totalmente às culturas
primitivas.
 Ele também propõe que haja maior cuidado ao absorver a cultura de outros
lugares, para que não se absorva o desnecessário e a cultura brasileira vire
um amontoado de fragmentos de culturas exteriores.
Linguagem e temática

O PROJETO MODERNISTA: Desintegração da linguagem


tradicional
 Uso da paródia, da piada e do sarcasmo;
 Liberdade de expressão + crítica do cotidiano +
linguagem coloquial + inovações vanguardistas.
 Busca da expressão nacional = a luta por um
abrasileiramento temático + delimitação de uma
cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.
 Perspectiva crítica + tom anárquico.
AUTORES DA 1ª GERAÇÃO
MODERNISTA
MANUEL BANDEIRA
A proximidade com a morte devido aos problemas de
saúde desde a adolescência sensibilizou-o.
O autor passou a observar a vida em seus aspectos
miúdos.
Sua obra poética se divide em três fases:
 Pós-simbolista: com traços ainda ligados ao espírito
decadentista do Simbolismo, como também à
musicalidade formal.
 Modernista: versos livres e brancos, vocabulário
coloquial (características modernistas).
 Pós-modernista: o poeta parece não estar preocupado
com tendências, escolhe a forma que melhor se adequa
às emoções que quer demonstrar.
Quanto aos temas, apesar de variados, há
três que o autor trata com frequência:
 Infância e saudade
 Amor
 Morte
 Temas do cotidiano
Os Sapos
Por Manuel Bandeira
Enfunando os papos, Vede como primo
Saem da penumbra, Em comer os hiatos!
Aos pulos, os sapos. Que arte! E nunca rimo
A luz os deslumbra. Os termos cognatos.
Em ronco que aterra, O meu verso é bom
Berra o sapo-boi: Frumento sem joio.
– “Meu pai foi à guerra!” Faço rimas com
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não Consoantes de apoio.
foi!”. Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
O sapo-tanoeiro, Reduzi sem danos
Parnasiano aguado, A fôrmas a forma.
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Poética
Estou farto do lirismo comedido Sifilítico
Do lirismo bem comportado De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
Do lirismo funcionário público com livro de fora
ponto expediente de si mesmo
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. De resto não é lirismo
Diretor.
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
Estou farto do lirismo que pára e vai
do amante exemplar com cem modelos de cartas
averiguar no dicionário o
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres,
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
Todas as palavras sobretudo os barbarismos O lirismo dos bêbados
universais O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
Todas as construções sobretudo as sintaxes O lirismo dos clowns de Shakespeare
de excepção
– Não quero mais saber do lirismo que não é
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
libertação.
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira
namorada.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
OSWALD DE ANDRADE
OSWALD DE ANDRADE
(1890 - 1954)

Podemos dizer que o referido poeta foi o maior representante da estética


modernista no que se refere às características estilísticas.
Dentre as características de sua poesia, destacam-se: 
 Linguagem espontânea, livre de apegos no que diz respeito à sintaxe.
 Predominância do coloquialismo e de uma crítica extremamente
irreverente. 
 Ruptura com “moldes” antes sacramentados por outras estéticas. 
 O verso livre, a linguagem coloquial e irônica e o predomínio de um
“português” genuinamente brasileiro tiveram seu momento subliminar. 
Pronominais 

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro 
Canto de regresso à pátria 

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo. 
O rei da vela
O Rei da Vela é um dos principais textos dramatúrgicos do
escritor Oswald de Andrade, ícone do Movimento
Modernista, desencadeado em 1922 na cidade de São Paulo.
Ela foi criada pelo autor em 1933 e lançada apenas em 1937.
Levada aos palcos, esta peça é encenada em 3 atos.
Foram necessários 30 anos para que O Rei da Vela fosse
finalmente representado em terras paulistas.
 Publicação: escrita em 1933 (quebra da bolsa
de valores, crise internacional, decadência da
aristocracia cafeeira paulista), publicação em
1937 e encenação em 1967 (ditadura).
 Peça teatral concebida segundo os princípios
do modernismo:
1) visão desmistificadora do Brasil;
2) paródia e uso constante da ironia;
3) personagens caricaturais;
4) em lugar do culto ao passado, o gosto
demolidor de todos os valores, sobretudo os
burgueses;
5) renega-se o tradicionalismo cênico, em busca
de soluções cênicas metalinguísticas;
6) espírito iconoclasta: forte teor satírico;
7) carnavalização do Brasil colonizado e
dependente do capital norte-americano: análise
marxista.
 Paródia do caso amoroso entre Abelardo e Heloísa,
casal trágico do séc.XIX: subtrai-se a paixão e
proclama-se que o matrimônio é um negócio.

 Abelardo: arrivista (explorador, ganacioso) que


lucra com dias atividades discutíveis, a agiotagem e
a fabricação de velas.
 Família do Coronel Belarmino, cheia de taras,
encarna a idéia caricata do desregramento
sexual dos ricos.

 Apesar do sócio de Abelardo I, Abelardo II, se


proclamar socialista, este não tem nenhuma
consistência ideológica.
 JAULA: endividamento, aprisionamento dos
devedores numa situação precária, dominação do
capitalista
 DENÚNCIA DA COMPRA DE BRASÕES:
falência da elite paulistana, que vive de aparências
 INTELECTUAL: lacaio que deve servir à
burguesia, por isso escreve biografias neutras
glorificando personagens da alta classe (Pinote)
 VELA: retrocesso econômico, degradação moral da
burguesia, decadência da aristocracia.
 Ex: Heloísa e o Americano aparentam ter um caso;
Abelardo e D. Cesarina, mãe de Heloísa, flertam; D.
Poloca e sua pose de fidalga virgem.
 Defesa do casamento burguês como maneira de
manter a fortuna através da herança.
1° ATO
 Enfoque na exploração empreendida por Abelardo I e no desespero dos
pedintes e devedores; trabalho = escritório de usura
2° ATO
 Reunião familiar, relações de conveniência e crítica aos vícios da alta
classe; lazer = ilha tropical na baía de guanabara, com a bandeira dos
EUA
3° ATO
 Falência, suicídio de Abelardo I e perpetuação da exploração através do
seu alter-ego Abelardo II
 Enquanto não se romper o estatuto colonial, e não se dar vez ao
proletário, o Brasil será explorado por capitalistas.
O teatro de tese apresenta-se como uma forma sistemática
do teatro didático, suportando uma tese no decorrer da ação
da história. Essas peças teatrais evidenciam uma tese
filosófica, política ou moral, tentando convencer o público
acerca da sua legitimidade, convidando-o a recorrer mais à
sua racionalidade do que à emotividade.
 A peça desvenda alguns recursos cênicos e dialoga com o
espectador, para que o público tome partido diante das
situações propostas.
MÁRIO DE ANDRADE
MÁRIO DE ANDRADE
(1893 - 1945)

 Principal líder teórico do Modernismo


 Narrativas: MACUNAÍMA = rapsódia (episódio épico
= motivos populares) primitivista do “herói sem
nenhum caráter” = sátira à linguagem usual = obra
composta por uma sequência de lendas variadas e
justapostas, mescladas com ações ora realistas, ora
fantásticas, tudo de forma mais ou menos caótica.
MÁRIO DE ANDRADE
 Poesia = Paulicéia desvairada = primeira obra
com elementos modernizadores = inovações
técnicas = valorização da realidade de São Paulo.
MODERNISMO 2ª FASE
A POESIA MODERNA
O GRUPO DA TRADIÇÃO LÍRICA
 Resulta da síntese entre as inovações modernistas e o
melhor da tradição lírica ocidental, fundindo a linguagem
renovadora em temas clássicos e universais. Predomina a
subjetividade, e reafirma-se o velho poder da inspiração, nos
moldes românticos. Maior expoente = MANUEL BANDEIRA =
outros = Cecília Meireles + Vinícius de Morais, Mário
Quintana, e outros...
GRUPO DA MODERNIDADE

RADICAL
Oposição ao confessionalismo e ao subjetivismo da lírica
tradicional. O mundo torna-se mais importante do que o eu-
lírico. Há uma grande desconfiança quanto às possibilidades
comunicativas da linguagem e rejeita-se a inspiração,
privilegiando-se a técnica e a carpintaria poética = Maior
expoente = CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE + Murilo
Mendes - João Cabral de Melo Neto - os Concretistas e outros
MANUEL BANDEIRA
(1886 - 1968)

 Fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana + Clima de


desejo insatisfeito e amargurado + A poesia para ele
representou “toda a vida que podia ter sido e que não foi” +
Tema dominante = a preparação para a morte + Poeta do
cotidiano = descobre o lirismo em tudo o que é irrisório e
banal = simplicidade.
CECÍLIA MEIRELES
(1901 - 1964)

 Forte herança simbolista + Predomina os sentimentos de


perda amorosa e solidão + Temática da passagem do tempo
+ Romanceiro da Inconfidência = visão dramática e lírica da
sociedade mineira do século XVIII, de suas principais figuras
humanas e da Inconfidência.
MARIO QUINTANA
(1906 - 1994)
 Herança simbolista + Independência poética + Linguagem
simples + Ironia e Humor + Poeta = Trivial + Realista +
Sentimental + Metafórico + Irreverente + Surrealista + Seus
poemas são “quintanares” = vida passada a limpo através da
imaginação + Poemas em prosa
JORGE DE LIMA
(1893 - 1953)

 Sua carreira poética inicia-se sob o signo parnasiano +


Apresenta uma fase nordestina, caracterizada pelo registro
poético da realidade existencial, cultural e histórica da
região + Valorização da religiosidade de substrato católico -
Teve ainda uma fase de celebração da cultura negra, de seus
ritmos e costumes.
MURILO MENDES
(1901 - 1980)

 Lírica de inspiração modernista, em que predomina o humor +


Dimensão religiosa, requintada e quase hermética +
Linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações
e uso de símbolos e alegorias.
VINÍCIUS DE MORAIS
(1913 - 1980)

 I - Fase neo-simbolista = conotações místicas + II Fase


moderna = aproximações do cotidiano + Características
principais = Tendência ao verbalismo, contida pelo uso
freqüente do soneto + Tema dominante = O AMOR + Lírica
comprometida com o cotidiano.
CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE (1902 - 1987)
 Temas básicos = a poesia social + a reflexão existencial (o
eu e o mundo) + a poesia sobre a própria poesia + poesia do
passado + do amor + do cotidiano + da celebração dos
amigos + A presença do gauche + O humor sutil, quase
sempre corrosivo + A solidão + A incomunicabilidade + A
lógica misteriosa da existência + O fluir do tempo + Perdas e
ganhos na vida do homem + Luta contra morte...
JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1999)

 Reflexão sobre o fazer poético + Poesia entendida como


esforço em busca de síntese, do despojamento total - Cão
sem plumas = perfeição da linguagem mesclada a uma
temática social = o rio Capibaribe e a população miserável
que lhe habita as margens - Morte e vida severina = trajetória
de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral...

Você também pode gostar