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TEXTO E TEXTUALIDADE

MARIA DA GRAÇA COSTA VAL


O que é texto?

TEXTO - ocorrência linguística


falada ou escrita, de qualquer
extensão, dotada de unidade
sociocomunicativa, semântica e formal
“O que as pessoas têm para dizer umas
às outras não são palavras nem frases
isoladas, são textos.”
O que é texto?

 Texto: “unidade de linguagem


em uso, cumprindo uma função
identificável num dado jogo de
atuação sociocomunicativa”
O texto será bem compreendido
quando avaliado sob três aspectos:

I - pragmático: atuação informacional e


comunicativa;
II - semântico-conceitual: coerência;
III - formal: coesão.
TEXTUALIDADE
 Chama-se textualidade ao conjunto de
características que fazem com que um texto seja
um texto, e não um apenas uma sequencia de
frases.
 Fatores responsáveis pela textualidade: coerência,
coesão, intencionalidade, informatividade,
aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade.
FATORES PRAGMÁTICOS

Tipos de fala, contexto de situação, intenção


comunicativa, características e crenças do
produtor e receptor.

Intencionalidade – fator pragmático -


Redator/produtor/emissor.
Satisfazer os objetivos que tem em mente numa
determinada situação comunicativa: informar,
impressionar, alarmar, convencer, pedir,
ofender, etc.
Aceitabilidade

– fator pragmático - Receptor/recebedor/leitor


(a quem? Para quem?)
Conjunto de ocorrências de um texto coerente,
capaz de levar o leitor a adquirir conhecimentos
ou a cooperar com os objetivos do produtor. A
aceitabilidade depende da autenticidade –
qualidade, veracidade.
Informatividade

Trata da quantidade de informação para que o texto


seja compreendido com o sentido que o redator
pretende.
Não é possível nem desejável que o texto explicite
todas as informações necessárias; é preciso que deixe
inequívocos os dados para o receptor compreender a
mensagem.
O nível de informação ideal é o mediano, no qual se
alternam ocorrências de processamento imediato, que
falem do conhecido, mas que trazem informação.
Intertextualidade

Concerne aos fatores que fazem a utilização de


um texto dependente de outro(s) texto(s).
Inúmeros textos só fazem sentido quando
entendidos em relação a outros textos que
funcionam como contexto, pois um discurso
constrói-se através de um já-dito em relação a
outros textos, que funcionam como seu
contexto.
Situacionalidade

Diz respeito aos elementos responsáveis


pela pertinência e relevência - importância
da informação – do texto quanto ao
contexto em que ocorre. É a adequação do
texto à situação sociocomunicativa. Esse
item pode, realmente, definir o sentido do
discurso e, normalmente, orienta tanto a
produção quanto a recepção.
COERÊNCIA
 Fator fundamental da textualidade;
 Envolve não só aspectos lógicos e
semânticos, mas também cognitivos.
 “Um discurso é aceito como coerente
quando apresenta uma configuração
conceitual compatível com o
conhecimento de mundo do
recebedor.”
Coerência textual
Um texto é coerente quando é possível interpretá-lo.
Estudar a coerência de um texto é, pois, estudar as
condições de sua interpretabilidade. Essas condições
podem estar ligadas diretamente ao texto, como o
conhecimento e o uso adequado dos recursos léxicos e
gramaticais da língua. Se alguém ouvisse ou lesse coisas
como:

Quem tem uma foto importada de 1000 cc, que


custa US$ 20.000, não vai expô-la ao trânsito de uma
cidade como São Paulo. .

Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais


forte dos lutadores.
Mas a coerência de um texto depende também de
outros fatores, como os elementos contextualizadores
que são data, local, assinatura, elementos gráficos
etc. “ancoram” um texto em uma situação
comunicativa determinada. Imagine o seguinte texto
contextualizado de duas maneiras diferentes:

Hoje, eu, o rei, convido todos a comparecer em


massa, para assistir ao massacre de Israel.

•assinado: Imperador Tito, Jerusalém, ano 70


•assinado: Pelé, Rio de Janeiro, 1995.
Conhecimento de mundo: O texto fala
sobre o quê?
Conhecimento partilhado: Necessário
para a compreensão do texto - emissor e
receptor devem ter um conhecimento de
mundo com certo grau de similaridade,
constituindo o conhecimento
compartilhado.
COESÃO
 Coesão é a manifestação linguística
da coerência; advém da maneira
como os conceitos e relações
subjacentes são expressos na
superfície textual.
 Constrói-se através de mecanismos
gramaticais e lexicais.
COESÃO
 COESÃO GRAMATICAL: pronomes
anafóricos, artigos, elipse,
concordância, correlação entre os
tempos verbais, conjugações, etc
 Estabelece relação entre os
elementos expressos na frase
(referenciais) ou relações de sentido
ou sequência entre frases (coesão
sequencial)
COESÃO
 Coesão lexical: reiteração,
substituição e associação.
 Reiteração: retomada através de
um cognato;
 Substituição: hiperonímia,
hiponímia;
 Associação: processo cognitivo.
Conectividade textual

 “Pedro vai buscar bebida. A


Sandra tem que ficar com os
meninos. A Tereza arruma a
casa. Hoje eu vou precisar
da ajuda de todo mundo.”
 A conectividade se constrói
não no nível gramatical, mas
no nível semântico-cognitivo.
Conectividade textual
 “No rádio toca um rock. O rock é um
ritmo moderno. O coração também
tem ritmo. Ele é um músculo oco
composto de duas aurículas e dois
ventrículos.”

 Os recursos coesivos não são


suficientes para a conectividade
textual.
Conectividade textual
 A máquina parou. Está faltando
energia elétrica.
 Choveu. O chão está molhado.

 Paulo saiu. João chegou.


 Paulo saiu assim que João chegou.
 Paulo saiu, porque João chegou.
Exercícios
1- Todos nós já deparamos com propagandas como esta:

Não se deixe explorar pela concorrência!


Compre na nossa loja.

Esse tipo de propaganda acaba por induzir o cliente a outra


coerência, embora a intenção comunicativa seja diferente.
Qual? Explique por que essa propaganda é potencialmente
prejudicial ao comerciante que a utiliza.
Exercício
2- Estabeleça as inferências necessárias para a compreensão textual.

a) Na cidade, todos os prédios com mais de três andares ficam na


praça da matriz. O Zé Carlos disse que morava no 6º andar. Logo, o
Zé Carlos....
b) As marcas dos pneus ficaram a um metro e noventa de distância.
Nenhum carro tem uma bitola tão larga. Portanto, as marcas de pneus
...
c) Nenhum político de expressão é demagogo. Nosso prefeito é um
grande demagogo, o que leva a concluir que....
d) Todo universitário tem QI superior a 70. Mas alguns universitários
são estúpidos. Logo, um QI superior a 70 não garante que ....
e) Nenhum bolo de aniversário comprado em confeitaria custa hoje
menos de 30 reais. Se o João gastou menos de 30 reais com o bolo de
aniversário do
irmãozinho, então...
f) Na véspera do concerto, o banco mandou um convite para cada um
dos clientes com mais de 5 mil reais na carteira de investimentos. Se
o Zé Carlos não foi convidado, é que...
g) Só quem conheceu o Godofredo antes de ele ficar rico sabe que ele
tinha apelido de “Almôndega”. O Zé Carlos vive chamando o
Godofredo de Almôndega, logo...
h) Para ser diplomata, era preciso ter o curso do Itamaraty, ou ter se
notabilizado por uma obra artística considerada de grande expressão.
Não me consta que o poeta Vinicius de Moraes tivesse feito o curso
do Itamaraty. Logo, sua obra...
3- Nos fragmentos abaixo ocorrem algum tipo de incoerência. Tente
identificar e explicar o tipo de incoerência que você vê. Faça outro
texto corrigindo essas incoerências

Conheci Sheng no primeiro colegial e aí começou um


namoro apaixonado que dura até hoje e talvez para sempre.
Mas não gosto de sua família: repressora, preconceituosa,
preocupada em manter as milenares tradições chinesas. O
pior é que sou brasileira, , detesto comida chinesa e não sei
comer com pauzinhos. Em casa, só falam chinês e de chinês
eu só sei o nome do Sheng.
No dia do seu aniversário, já fazia dois anos de namoro,
ele ganhou coragem e me convidou para jantar em sua casa.
Eu não podia recusar e fui. Fiquei conhecendo os velhos,
conversei com eles, ouvi muitas histórias da família e da
China, comi tantas coisas diferentes que nem sei. Depois
fomos ao cinema eu e o Sheng.
Era meia noite. O sol brilhava. Pássaros
cantavam pulando de galho em galho. O
homem cego, sentado à mesa de roupão,
esperava que lhe servissem o desjejum.
Enquanto esperava, passava a mão na faca
sobre a mesa como se acariciasse tendo ideias,
enquanto olhava fixamente a esposa sentada a
sua frente. Esta, que lia um jornal, absorta em
seus pensamentos, de repente começou a
chorar, pois o telegrama lhe trazia notícia de
que o irmão se enforcara num pé de alface.

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