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SOBRE A SOLIDÃO

OS ENSAIOS – MICHEL MONTAIGNE


QUAL O OBJETIVO DE MONTAIGNE?

1. APAZIGUAR O ESPÍRITO DO LEITOR

2. EXPLICAR O QUE É A SOLIDÃO

3. EXPLICAR PORQUE NÃO DEVEMOS TEMER A SOLIDÃO

4. MOSTRAR COMO PARTIR PARA O RETIRO PLENAMENTE


COMO ELE DEFINE O HOMEM?

Se é verdadeiro o dito de Bias, que “a pior parte é a maior”, ou o que


diz o Eclesiástico, que “entre mil não há um bom”, então, o contágio é
muito perigoso na multidão. (p. 113)
ONDE SE PODE VIVER A SOLIDÃO?

Não é que o sábio não possa viver feliz em qualquer lugar, e nem mesmo sozinho na
multidão de um palácio; mas, se puder escolher, dela fugirá, até da vista, diz Bias. (p.
114)

São a razão e a prudência que eliminam as preocupações, não um lugar aberto sobre a
vasta extensão do mar. A ambição, a cupidez, a indecisão, o medo e as concupiscências
não nos abandonam só por termos mudado de paisagem. (p. 114)
O QUE É PRECISO FAZER PARA FICAR
SOZINHO?

Se primeiramente não nos aliviamos, a nós e a nossa alma, do peso que a oprime, movê-
la a esmagará mais ainda [...] Causa-se mais mal do que bem ao doente fazendo-o mudar
de lugar. [...] Por isso não basta mudar de lugar, é preciso remover os atributos do povo
que existem em nós, é preciso sequestrar a si mesmo e reaver a si mesmo. (p. 115)
QUAL É A VERDADEIRA SOLIDÃO?

[...] essa é a verdadeira solidão, e que pode ser desfrutada no meio das cidades e das
cortes dos reis; mas a desfrutamos mais convenientemente à parte. Ora, já que decidimos
viver sós e dispensar companhia, façamos com que nosso contentamento dependa de nós:
libertemo-nos de todos os laços que nos prendem aos outros, conquistemos de nós
mesmos o poder de viver sós, em conhecimento de causa, e assim vivermos a nosso
gosto. (p. 116)
QUAL O VERDADEIRO TESOURO QUE
DEVEMOS LEVAR CONOSCO?

Eis o que é escolher direito os tesouros que podem escapar do estrago e escondê-los em
lugar aonde ninguém vá e que só possa ser revelado por nós mesmos. É preciso ter
mulheres, filhos, bens e sobretudo saúde, se possível, mas não se apegar a eles de
maneira que nossa felicidade disso dependa. É preciso reservar um canto todo nosso,
todo livre, e lá estabelecer nossa verdadeira liberdade e nosso principal retiro e solidão.
(p. 116)
POR QUE NÃO DEVEMOS TEMER A
SOLIDÃO?

Temos uma alma capaz de recolher-se em si mesma; ela pode se fazer companhia, tem
com que atacar e com que se defender, com que receber e com que dar: não temamos
nessa solidão embotar-nos em uma penosa ociosidade. Nesses locais solitários sê para ti
mesmo a multidão. (p. 117)
QUAIS OS RISCOS DE BUSCAR A REPUTAÇÃO,
A GLÓRIA E O RECONHECIMENTO?

Quem não troca de bom grado a saúde, o repouso e a vida pela reputação e pela glória? A
mais inútil, vã e falsa moeda que há em circulação entre nós? Nossa morte não nos
amedrontava o suficiente, encarreguemo-nos ainda da de nossas mulheres, de nossos
filhos e de nossos serviçais. Nossos negócios não nos davam trabalho suficiente, cuidemos
também, para nos atormentarmos e quebrarmos a cabeça, dos de nossos vizinhos e
amigos. (p. 117)
O QUE DEVEMOS FAZER NO FIM DA
VIDA?

Já vivemos bastante para o outro, vivamos para nós ao menos neste fim de vida,
voltemos para nós e para nosso bem-estar nossos pensamentos e intenções [...] há que
desatar essas obrigações tão fortes, e doravante amar isto ou aquilo, mas só desposar a si
mesmo; isto é, que o restante seja nosso, mas não unido e colado de modo que não
possamos soltá-lo sem nos esfolarmos e arrancar um pedaço de nós mesmos. (p. 118)
COMO DEVEMOS NOS OCUPAR NESSE
MOMENTO DE RETIRO?

A ocupação que se deve escolher para uma vida como essa deve ser uma ocupação não
penosa nem aborrecida, do contrário inutilmente pretenderíamos ter ido em busca de
repouso. Isso depende do gosto particular de cada um: o meu não se acomoda de jeito
nenhum aos afazeres domésticos. Os que os apreciam devem dedicar-se a eles com
moderação, pois, do contrário, a administração doméstica torna-se um ofício servil. (p.
119)
POR QUE É PERIGOSO SE AFOGAR NOS
LIVROS?

Os livros são agradáveis, mas se por frequentá-los perdermos, por fim, a alegria e a
saúde, nossas melhores qualidades, abandonemo-los: sou dos que pensam que seus frutos
não podem compensar essa perda [...] deve dar adeus a toda espécie de trabalho,
qualquer que seja sua aparência, e fugir em geral das paixões que impedem a
tranquilidade do corpo e da alma, e escolher o caminho mais consoante a seu
temperamento. (p. 121)
POR QUE ABANDONAR O DESEJO DE
GLÓRIA E RECONHECIMENTO?

Lembrai-vos daquele a quem se perguntava com que finalidade se esforçava tanto numa
arte que só podia chegar ao conhecimento de poucas pessoas: ‘Bastam-me poucos’,
respondeu, ‘basta-me um, basta-me nenhum’. Ele disse a verdade: vós e um companheiro
sois teatro suficiente um para o outro, ou vós para vós mesmos. Que o público vos seja
um, e um vos seja todo o público.
SEJA SEU PRÓPRIO MOTIVO DE
FELICIDADE

Por que, indo contra suas leis, vamos fazer de nossa felicidade
uma escrava do poder dos outros? (p. 118)

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