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Sociologia 2016 (C)

Capítulo 1
A República do Entretenimento
Século XIX
 Cultura popular era muito mais ampla nos Estados Unidos
do que na Europa. Susan Warner (1819-1885)
 Uma revolução cultural em andamento Elizabeth Wheterell – pseudônimo

 The Wide, Wide World (1850): Uma história


sobre uma jovem, cujos pais vão para a Europa,
deixando-a à mercê de uma série de tutores e
torturadores;
 Almanaques de humor devasso, histórias de
crimes, vilões como John Mitchell, que castrou
um menino com um pedaço denteado de lata;

George Lippard (1822-1854)


 The Quaker City (1845): literatura erótica e
romances libertinos;

Buffalo Bill Cody (1846-1917)

 Romances baratos, histórias como a de Buffalo


Bill Cody, caçador de búfalos.
A República do Entretenimento
 Qual era a ideia que a elite norte-americana fazia sobre arte e cultura?
 Era uma visão abrangente ou restrita da arte?
Arte Entretenimento

Sublime Grosseiro
Intelectual Sensual
Eterno Temporal
Universal Particular
Espiritual Corpóreo
Moralidade Imoralidade
Edificação Diversão
Esforço intelectual/Razão Não faz exigências ao seu público
Arregimenta os sentidos a serviço da mente ou da Trabalha a serviço dos sentidos e das emoções
alma
Reflexão/Pensamento/Crítica Reação passiva
Razão Sensação; o Entretenimento, e não a religião, como
ópio do povo.
Arte x Entretenimento, em relação aos públicos

Arte Entretenimento
Arte trata cada espectador, ouvinte ou leitor como um Plateia como “massa”, um “não-homem”.
indivíduo.
Resposta única e pessoal à obra. Dirigida a uma Dirigido ao maior número de pessoas.
pessoa.
Interpretação. Sensação.
Experiências diversas. A mesma experiência.
Invenção Convenção.
Meios tradicionais: Literatura, pintura, escultura, Popularização/massificação dos meios tradicionais.
música. O surgimento de novos meios, como cinema e
televisão.
Inversão: não seria a criação de novos meios que
transformaram o espaço público.
A Revolução do Entretenimento é que foi propícia ao
surgimento dos novos meios.
Religião x Entretenimento
A Questão Americana

 Origens: A dinastia Tudor (1485-1603) como primeira dinastia


absolutista na Inglaterra.
 Reforma religiosa e fundação do anglicanismo. Henrique VIII
como chefe da Igreja na Inglaterra. Ao morrer, Henrique VIII
deixa Eduardo VI, seguido por Mary, que tenta reinstalar o
catolicismo na Inglaterra.
 Ao contrário da Espanha, unificada em torno do catolicismo, a
Inglaterra conheceu a relatividade religiosa.
 Morte de Elizabeth em 1603 encerra dinastia Tudor.
 Século XVII: líder Oliver Cromwell manda matar Carlos I
(Stuart).
 1688: Revolução Gloriosa depõe mais um Stuart (Jaime II).
 Situação da Inglaterra explica inexistência de um projeto
colonial sistemático para a América.
 Ingleses que foram para a América tinham tradição diversa dos
espanhóis ou mesmo dos portugueses, de tradição católica
dominante. Eles conviviam com mais religiões.
 Visão de mundo mais diversificada, relativismo cultural.
 A América não tenha uma religião de Estado. Tinha dezenas de denominações diferentes, entre as quais se podia
escolher livremente;
 Autoridade da Igreja era bem menos ditatorial e tolerante que em outros países.
 Em meados do século XIX o protestantismo evangélico já era o movimento mais popular.
 Os cultos evangélicos apelavam para a expressão e o teatro.
 Walt Whitman (1819-1892) comentou que os trabalhadores que frequentavam os encontros evangélicos se
comportavam como se estivessem no teatro.
 Culto e divertimento.
A questão das classes e a nova ordem cultural
A eleição de 1828

John Quincy Adams(1767-1848): sexto presidente dos Estados Unidos, concorria à


reeleição.
Andrew Jackson (1767-1845): venceu a eleição e se tornou o sétimo presidente.

 Aristocracia (Adams, filho de um ex-presidente, homem de letras) x Democracia


(Jackson, herói militar, líder popular, personificação do homem comum).
 Uma mudança não apenas política, mas também uma mudança cultural.
 O entretenimento de massas pode ter começado como a revolta dos
democratas contra as elites.
 O entretenimento como equivalente da política igualitária de Jackson.
 Democracia cultural se tornou bem mais substancial do que a democracia
política.
 Os Estados Unidos do século XIX foram o triunfo da democracia sobre a
opressão.
 Fortalecimento da cultura popular (entretenimento) sobre a cultura da elite.
 A Revolução do Entretenimento: cultura popular se transformou na Cultura
dominante do país.
Em 1849...

William Charles Macready, ator britânico, Edwin Forrest, ator norte-americano, encenava O
encenava Macbeth no Astor Place Opera House Gladiador no Broadway Theatre.
O tumulto no Astor Place Opera
House

 Em 8 de maio de 1849, um
bando de rapazes chamados
de b’hoys, infiltrou-se no Astor
para vaiar Macready.
 10 de maio: confrontos com a
polícia.
 Polícia abre fogo contra a
multidão: 22 mortos e mais de
100 feridos.
 Os b’hoys se sacrificaram pelo
entretenimento, ou pelo
direito de impor sua própria
autoridade cultural.
Os tumultos no Astor Place reforçaram a divisão cultural e provocaram a separação das formas de
entretenimento e de suas plateias. Em Nova York, em 1880, as casas de espetáculos eram assim divididas:

Elite

Classe Média Protestante

Vaudeville

Bares e cervejarias

Locais de vício
Dwight Macdonald (1902-1982) e a ascensão
Entretenimento Classe média Elite da classe média
(Classe operária)
Transição do século XIX para o século XX

Cultura popular Nova referência Mas a Alta


desarmou a alta cultura não
cultura. levava a sério a
cultura popular.

Caminho intermediário
Midcult, ou middle culture
A midcult alistou os
americanos da classe média
na causa do
entretenimento.

Irving Berling modificou o


ragtime.
Elvis Presley transforma a
ameaça do blues negro no
rock branco.
Transição do século XIX para o século XX:
 Midcult alistou os americanos da classe média na causa do entretenimento.
 Reconversão da cultura americana. Unificação de classes, religiões e idades, com exceção dos negros e dos que
continuavam insistindo em sua superioridade cultural e intelectual.
O cinema como a “nova arma” da
cultura popular:

 O poder cultural do cinema estava


no fato de ele não ter aparecido
apenas como resultado da
tecnologia.
 O cinema chegara como uma
espécie de realização dos desejos
e anseios americanos.
 O cinema como curiosidade
científica e o cinema como
narrativa.
 Europa: Cinema atendia ao gosto
da classe média como “maravilha
tecnológica”.
 Estados Unidos: arte
democrática, arma cultural da
classe operária.
 Uma passagem curiosa sobre o
ato de comermos pipoca no
cinema. Ver p. 52.
Charles Chaplin (1889-1977)
 O vagabundo.
 Provocação e irreverência. Sátira da classe média e da elite.
 A maior estrela da segunda década do cinema.
 A passagem da vida vitoriana para a vida moderna.
 O velho cede lugar ao novo.
 Os hipócritas do passado aos novos e francos americanos do futuro.
 Depois de quase um
século de combate, o
cinema, a arma
definitiva, acabaria por
selar não só o triunfo do
entretenimento sobre a
alta cultura e a midcult
como uma vitória ainda
maior e mais profunda: o
triunfo do
entretenimento sobre a
própria vida. (p.55)
Capítulo 2
A Sociedade Bidimensional
Transição do século XIX para o século XX
A Revolução Gráfica
Imagem toma o lugar da palavra?

 Uma nova ênfase no ato de ver.


 Críticos conservadores queixavam-se das imagens, que
teriam substituído as palavras. Símbolos visuais como fonte
primordial do discurso.
 Neil Postman (1931-2003): a Revolução Gráfica era apenas o
começo de uma longa caminhada rumo ao antirraciocínio,
que acabaria por culminar na televisão.
 Transformada no meio primordial mediante o qual as pessoas
se apropriavam do mundo, a televisão disseminou uma
epistemologia na qual toda e qualquer informação era
forçada a se transformar em entretenimento.
Marshall McLuhan Richard Sennett

Daniel Boorstin Neal Gabler

Neil Postman

 Teóricos como McLuhan, Boorstin e Postman atribuíam às tecnologias


as transformações reinantes nas sociedades contemporâneas.
 McLuhan: “Toda tecnologia cria aos poucos um ambiente humano
totalmente novo”.

 Autores mais recentes, como Sennett e Gabler, acreditam que as


transformações são, de certa forma, pré-midiáticas.
 Gabler: “É possível que McLuhan tenha errado e que o reverso do
teorema seja, de fato, o correto. Ambientes humanos totalmente
novos criam novas tecnologias”.
 Não teria sido a Revolução Gráfica que desencadeou uma mudança na
consciência americana; foi uma mudança na consciência americana
que desencadeou a Revolução Gráfica.
 A Revolução Gráfica (cinema, televisão) pode ser vista como parte
integrante de um movimento maior e mais significativo: a Revolução
do Entretenimento.
Tecnologias seriam resultantes de um modelo de sociedade e não a sociedade resultante da criação de novas
tecnologias
 O desejo de entretenimento, já insaciável no século XIX, provocou a invenção de novos métodos para que pudesse ser
satisfeito.
 Em outras palavras, o Entretenimento era a cosmologia que governava a vida americana na virada do século XIX para
o século XX, antes mesmo do cinema e da TV.
 Cinema e televisão eram apenas as sombras na parede da caverna. (p. 59)
O Cinema Total  O crítico de cinema francês André Bazin
(1918-1958) escreveu que uma das
Das telas para a Vida funções da arte é driblar a morte criando
a imortalidade.
 O “mito do cinema total”: os filmes
conseguiriam o que nenhum outro
veículo (pintura, literatura, fotografia)
conseguira: replicar completamente a
realidade.
 Do cinema mudo ao sonoro, do preto-e-
branco para as cores, tela gigante,
efeitos especiais, cinema em 3D.
 O que Bazin não poderia ter previsto é
que o veículo para o cinema total não
seria o filme. Seria a própria vida.
 A vida seria o maior, o mais interessante
e o mais realista de todos os filmes, um
filme que passaria 24 horas por dia, 365
dias por ano.
 O cinema total existiria na realidade e
seria constituído por ela.
O Jornalismo:
A notícia como entretenimento

 New York Sun (1833).


 Antes, o público dos jornais eram as
classes mais favorecidas.
 Editoriais e opiniões no lugar de
notícias.
 Os jornais custavam seis centavos de
dólar. O Sun custava um centavo, ou um
penny. Daí a designação “penny press”,
ou imprensa barata. Benjamin Day
 Da opinião às notícias. Notícias (1810-1889)
constituíam conteúdo mais
emocionante e divertido, histórias mais
sensacionais.
 Assassinatos, suicídios, incêndios.
Informação e entretenimento.
New York Herald (1835)

 O grande “salto” do Herald como


veículo de entretenimento foi a
célebre cobertura do assassinato da
prostituta Helen Jewett, de 19 anos,
em 9 de abril de 1836.
 O modo como o caso foi explorado
estabeleceu os padrões a serem
seguidos dali para a frente, até os
James Gordon Bennett dias de hoje.
(1795-1872)  Charles Dickens, depois de uma
visita aos Estados Unidos, em 1842,
escreveu que não importava o que
os americanos fizessem, “enquanto
a imprensa do país estiver neste
estado abjeto atual, ou próxima
dele, qualquer melhora na América
é inviável”.
 “Guerra Moral” contra Bennett e o
Helen Jewett Herald.
Joseph Pulitzer (1847-1911) William Randolph Hearst (1863-1951)
New York World (1883) New York Journal (1895)
 Destaque para manchetes principais.  Investigação jornalística.
 Ilustrações, charges, quadrinhos.  “O Journal AGE, enquanto os representantes do velho
 O criador do jornal como veículo visual de jornalismo permanecem sentados à toa, esperando
entretenimento. que algo aconteça”.
A fase seguinte: o Jornalismo na
televisão

 A televisão como veículo ideal para


realizar o sonho dos tabloides:
encontrar uma maneira de tornar as
notícias divertidas o suficiente para
competir com o cinema.
 Assim como os filmes e os tabloides, a
televisão adorava ação e suspense e
pouco importava se eram
provenientes de entretenimentos
convencionais ou da realidade.
 A televisão transformou em notícia
qualquer coisa que tivesse os
rudimentos de entretenimento, mas
também transformou em
entretenimento tudo o que contivesse
os rudimentos da notícia.

A Montanha dos Sete Abutres. Estados Unidos, 1952.


Direção: Billy Wilder.
Rede de Intrigas. Estados Unidos, 1975. Direção; Sidney Lumet.
O âncora Howard Beale (Peter Finch) sentencia: “A televisão não é a verdade. A televisão é um
maldito parque de diversões”.
O caso O. J. Simpson
 Ex-astro do futebol americano acusado de assassinar a mulher e seu jovem amigo, foi o espetáculo mais
assistido e sem dúvida o mais divertido dos anos 90.
Guerra do Golfo (1991)
A guerra não é o inferno. É entretenimento.

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