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Olavo Bilac
Contexto literário
• Literariamente, a segunda metade do século XIX foi altamente influenciada pelos
valores da Segunda Revolução Industrial. Em lugar da subjetividade idealista, tão
cara aos românticos, a objetividade crítica passou a imperar.
• Acontece que, no final do século XIX, surgiram outros dois movimentos literários,
fundamentalmente poéticos, que coexistiram com o Realismo-Naturalismo, embora
com propostas bem diferentes: o Parnasianismo e o Simbolismo.
Parnasianismo
• No início da década de 1860, surgiu na França um grupo de
poetas que acreditava que a verdadeira poesia não deveria
pautar-se pelo engajamento social. Com isso, eles negavam
tanto a poesia condoreira de Victor Hugo quanto a prosa
realista de Gustave Flaubert. No Brasil, isso equivaleria a opor-
se, simultaneamente, a Castro Alves e a Aluísio Azevedo.
A arte, doutrinava Bilac, deve ser uma tarefa difícil. A própria natureza, disse ele, não
trabalha de improviso: uma borboleta ou uma simples flor custaram longos e pacientes
esforços, são fruto de um complicado mecanismo de metamorfoses. (JORGE, Fernando)
Profissão de fé
Invejo o ourives quando escrevo: Corre; desenha, enfeita a imagem, Possa o lavor lembrar de um vaso
Imito o amor A ideia veste: De Becerril.
Com Ele, em ouro, o alto-relevo Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Faz de uma flor. Azul-celeste. E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
Imito-o. E, pois nem de Carrara Torce, aprimora, alteia, lima A trabalhar, longe de tudo
A pedra firo: A frase; e enfim, O pensamento.
O alvo cristal, a pedra rara, No verso de ouro engasta a rima,
O ônix prefiro. Como um rubim. Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Quero que a estrofe cristalina, Que ofício tal... nem há notícia
Dobrada ao jeito De outro qualquer.
Por isso, corre, por servir-me, Do ourives, saia da oficina
Sobre o papel Sem um defeito: Assim procedo. Minha pena
A pena, como em prata firme Segue esta norma,
Corre o cinzel. E que o lavor do verso, acaso, Por te servir, Deusa serena,
Por tão sutil, Serena Forma!
Olavo Bilac
• Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de
Janeiro, em 1865, e morreu na mesma cidade, em 1918. Ele
trabalhou como jornalista e como funcionário público e
envolveu-se bastante com o mundo da educação, chegando
mesmo a escrever livros didáticos para crianças pequenas.
• Nacionalista convicto, autor da letra do “Hino à Bandeira”,
Bilac defendeu a instrução primária e, principalmente, o
serviço militar obrigatório.
• A obra mais conhecida de Bilac foi publicada, em primeira
edição, em 1888, quando ele tinha apenas 23 anos. Poesias
é um dos livros mais importantes da poesia brasileira do
século XIX.
“permaneceu como o poeta do gosto médio, e mesmo
medíocre, sofrendo não apenas o desgaste dos que
representam com demasiada fidelidade uma corrente
literária, mas o descrédito que o modernismo lançou sobre
os parnasianos em geral. Todavia, a sua obra vem
revelando uma acentuada vitalidade, de que há poucos
exemplos em nossa literatura, e que se deve talvez à
constância com que o poeta mantém o seu nível.”
(CANDIDO, Antonio)
A obra
• Em 1908, Bilac foi acusado pela imprensa brasileira de receber dinheiro do
governo, em virtude de sua amizade com o Barão de Rio Branco.
• Ele decidiu devolver as quantias recebidas, contra a vontade do governo brasileiro,
e rompeu com os jornais.
• Mas ele continuou publicando textos em revistas ilustradas. Foi assim que, a partir
de 1912, muitos dos sonetos que viriam fazer parte de Tarde foram publicados na
revista Careta, com ilustrações de J. Carlos.
• Quando faleceu, em 1918, Olavo Bilac preparava a
publicação de Tarde, conjunto de 98 sonetos escritos ao
longo de muitos anos. A epígrafe da obra é um trecho de
Dante Alighieri (1265-1321), em que o autor de A divina
comédia fala da passagem do tempo e, especialmente,
de cada uma das épocas da vida.
• A escolha não poderia ser mais feliz. Tarde é uma obra que faz diversas referências ao tema da
velhice e, por extensão, à aproximação da morte. Assim, a própria imagem da tarde representa
menos um momento do dia do que uma etapa da vida. Isso fica claro em “Hino à tarde”,
primeiro poema do livro, cujos versos finais são:
[...]
Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre
Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,
• Fazendo uma análise dos 98 sonetos e reconhecendo que muitas vezes um mesmo poema
pode encerrar mais de um assunto, é possível encontrar cinco principais linhas temáticas na
obra:
• Passagem do tempo, reconhecimento da velhice e proximidade da morte.
• História e cultura brasileira.
• Elementos da natureza.
• Conflitos existenciais e amorosos.
• Personagens históricas e míticas.
Língua portuguesa
Última flor do lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
• O primeiro vem introduzido por um texto com o título “Diziam que...”, do Padre Simão
de Vasconcelos, extraído da Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil, de 1663.
Nele, faz-se referência a cinco povos fictícios. Para cada um deles, há um soneto: “Os
monstros”, “Os goiasis”, “Os matuiús”, “Os curinqueãs” e “As amazonas”.