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DIREITO EMPRESARIAL

CONHECIMENTO DE TRANSPORTE
EQUIPE

• CINTYA KALIANA DE QUEIROZ LEITE


• JULIANA ANTUNES BARRETO
• SÉRGIO HENRIQUE GUIMARÃES PINTO
• VALÉRIA BORGES DE MACÊDO
• VITÓRIA BUENO ARAÚJO

6ºp. Direito Noturno A, FacFunam, Pirapora-MG


INTRODUÇÃO
Este trabalho intenta fazer uma breve análise a respeito do título representativo de crédito chamado Conhecimento de
Transporte. Sabe-se que os títulos representativos são aqueles que não representam uma verdadeira operação de
crédito, mas, sim, existem no intuito de representar mercadorias ou bens que justificam a sua existência (MARTINS,
2008). Como se trata da representação de mercadorias determinadas, distingue-se, então, o que se chama de títulos de
transportes e títulos de depósitos.
Aqui, o escopo é abordar unicamente sobre o Conhecimento de Transporte, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas
abordando o seu conceito, origem, regulamentação, natureza e requisitos, procurando trazer à luz também a
modalidade eletrônica do Conhecimento de Transporte.
ORIGEM E
REGULAMENTAÇÃO
Nos primórdios, os recibos eram feitos contratação de “boca”, palavra dada era palavra cumprida; ou seja, a
mercadoria chegaria não importasse o caso fortuito que ocorresse, pois ela seria entregue ao destinatário.

Segundo Martins (2008), com a criação das estradas de ferro, o Governo baixou o decreto nº 1930 de 26/04/1857
para regulamentar os transportes; assim, nessa nova modalidade, estabeleceu-se que, após o recebimento da carga,
as ferrovias deveriam emitir um conhecimento de talão, para a retirada da mercadoria no seu destino. Esse decreto
vigorou até 1922, quando novo decreto, nº 15.673 de 7 de setembro, trouxe regras diferentes para a mercadoria a ser
transportada, lançando, então, a nota de expedição que deveria conter a natureza, a quantidade e o destino do objeto
despachado, assinada pelo expedidor e pelo funcionário da estrada que fizesse o despacho.

Uma via dessa nota seria entregue ao expedidor para a remessa ao destinatário e, por disposição especial do
regulamento, as mercadorias poderiam ser entregues através de um recibo assinado pelo destinatário ou por pessoa
autorizada por ele; assim, automaticamente, esse recibo anularia o conhecimento.

Em 10 de dezembro de 1930, o Governo com o decreto 19.473, regulamentou os conhecimentos de transportes de


mercadoria por terra, água ou ar. Conforme disposto no art.743 a 756 do código civil, sobre transportes de coisa,
essa legislação nos rege até o momento e os conhecimentos de transportes também são conhecidos como
conhecimentos de carga ou frete de mercadoria por terra, água e ar (MARTINS, 2008).
NATUREZA DO
CONHECIMENTO
O conhecimento de transporte, quando emitido, prova o recebimento e a obrigação de entregar a
mercadoria no lugar de destino, sendo considerada não escrita qualquer cláusula restrita ou
modificativa dessa prova (recebimento da mercadoria) ou da obrigação (de entrega no lugar de
destino). É, portanto, um documento que marca a conclusão de um contrato de transporte, feito de
maneira consensual, sendo que o remetente fica obrigado a cumprir a entrega da mercadoria
transportada ao local de destino, início da execução do contrato. Como prova da entrega e da obrigação
de transportá-la, visto que se trata que locomoção e não de guarda, a empresa de transporte emitirá o
conhecimento que servirá me meio de prova do recebimento da mercadoria, tal qual da obrigação
assumida em entregá-la.

Tal natureza probatória existe desde o extinto Código Comercial, em seu art. 99 e 100, onde
preceituavam a obrigação de fazer a entrega e os requisitos que deveriam estar especialmente
mencionados. No art. 101 do mesmo código ainda dizia que “a responsabilidade do condutor ou
comissário de transporte começa a correr desde o momento em que recebe as fazendas (mercadorias), e
só expira depois de efetuada a entrega”.
O Decreto nº 19.473 de 1930, sem retirar o caráter probatório do conhecimento, elevou o
conhecimento de frete em título de crédito, declarando-o título à ordem; salvo cláusula ao portador,
lançada no contexto. Nesse mesmo diploma legal, após definir sua natureza, declara, em seu art. 8º,
que “a tradição do conhecimento ao consignatário, ao endossatário ou ao portador, exime a respectiva
mercadoria de arresto, sequestro, penhora, arrecadação, ou qualquer outro embaraço judicial, por fato,
dívida, falência, ou causa estranha ao próprio dono atual do título; salvo caso de má fé provada...”,
afirmando após, que o conhecimento se encontra sujeito a tais medidas “por causa que respeite ao
respectivo dono atual”. E dando natureza de título representativo de mercadorias ao acrescentar “Neste
caso a apreensão do conhecimento equivale à da mercadoria”.

Tanto o Decreto nº 19.473, de 1930, quanto as alterações pelo Decreto nº 19.754, de 18 de março de
1931, deu ao conhecimento de transporte, natureza probatória do recebimento da mercado e obrigação
de entrega da mesma pelo transportador, no lugar de destino, ao consignatário, além da natureza de
título de crédito à ordem, representativo de mercadorias, veiculando direitos que circulam juntamente
com o documento, fazendo-se presumir que aquele que está em posse do conhecimento também é o
proprietário da mercadoria nele declarada, conforme §3º do art. 3º do Decreto nº 1.473/30.
Por ser um título que possibilita a emissão à ordem ou ao portador, circula mediante
endosso ou por tradição manual, conforme caso. No caso do endosso, pode ser em
preto ou em branco, resultando sempre no conhecimento nominativo. Endossado,
transfere-se o título juntamente com todos os direitos nele constantes, valendo
lembrar-se do § 3º do art. 3º do Decreto nº 1.473/30.

Por fim, a lei nº 20.454, de 29 de setembro de 1.931, posterior ao Decreto


anteriormente citado, passou a admitir também o conhecimento de frete não à ordem,
“mediante cláusula expressa, inserida no contexto” (art. 1º).
REQUISITOS DO
CONHECIMENTO
O transporte de mercadoria, seja ele por terra, água ou ar, tem uma série de requisitos.
Mais precisamente, são 8 requisitos, como previsto no decreto 19.473, de 1930.
Abaixo, listam-se para esclarecimento:

1. O nome comercial da empresa emissora, aquela que irá transportar o produto;

2. O número de ordem do conhecimento;

3. A data de emissão, que deverá conter o dia, mês e ano em que foi emitido;

4. O nome, por extenso, do destinatário e do remetente.


Antes de prosseguir, é importante destacar neste ponto que existe a possibilidade de se
substituir o nome do consignatário pela cláusula “ao portador”. Trata-se de um título
em branco ou à ordem; e, caso seja a segunda hipótese, o beneficiário poderá endossar
o título que estava à ordem ao portador. Caso as partes optem por essa alteração, a
mercadoria será entregue a quem detiver autoridade e conhecimento para tal
responsabilidade. Na hipótese de o “conhecimento” não indicar a quem se dirige a
entrega, seja ao consignatário ou “ao portador”, entende-se que o portador tem uma
autoridade superior ao consignatário.
5. Local de partida e Destino;

6. Espécie, quantidade ou peso da mercadoria;

7. Frete, contendo informações como: pago, a pagar, local e forma de pagamento;

Essas informações devem estar dispostas tanto por extenso, quanto em algarismos. Nas hipóteses de
divergências de informações, a informação disposta por extenso se sobressairá. Com relação ao frete
propriamente dito, este se encaixa na modalidade “a pagar”; portanto, seu pagamento será efetuado na
entrega dos produtos, no local de destino. Seu pagamento deve ser integral e caso não haja o pagamento
deste, existe a possibilidade de se reter a mercadoria até que se cumpra conforme pré-estabelecido.

8. Assinatura do transportador e do representante.


Além desses requisitos gerais, com o passar do tempo e com a implementação de novos regulamentos,
foram criados novos dispositivos com a finalidade de reger os transportes terrestres, especialmente as
estradas de ferro.

Conforme o decreto n° 51.813 de 1.963, para o transporte ferroviário, se tem como requisitos:

• A estação, ou agência despachante;

• A via de encaminhamento de mercadoria;

• Referente a animais: número e espécie dos animais transportados;

• Declaração do valor da carga a ser despachada;

• Os próprios remetentes e destinatários têm como dever se responsabilizar pelas cargas, descargas ou
baldeações de seus bens;

• Expedição de declarações de garantia.


Por fim, além do que já foi disposto, ainda há a possibilidade de elencarmos as hipóteses cabíveis de negociação ou
de não negociação. Em conformidade ao artigo 91, são considerados negociáveis:

1) A expedição de conhecimento cujo valor comercial não ultrapasse o limite pautado nas condições gerais de
transporte;

2) O conhecimento nominativo (cláusula não à ordem);

3) Garagens, encomendas e animais;

4) Carga domiciliar;

5) Cargas particulares;

6) Mercadorias perigosas;

7) Mercadorias perecíveis;

8) Mercadorias frágeis.
CONHECIMENTO
MARÍTIMO E
CONHECIMENTO
AÉREO
No intuito de fazer alguns outros detalhamentos sobre Conhecimento, Martins (2008) faz a distinção de
Conhecimento marítimo e Conhecimento aéreo, os quais, para completarmos esta parte do trabalho,
intentamos elucidar de maneira breve neste tópico.

Dessarte, os requisitos do conhecimento marítimo, segundo disposição do Decreto nº 19.473/1930, são:

1. O nome do capitão, e o do carregador e consignatário, e o nome e porte do navio;

2. A qualidade e a quantidade dos objetos da carga, suas marcas e números, anotados à margem;

3. O lugar da partida e o do destino, com declaração de escalas, se houver;

4. O preço do frete e primagem, e o lugar e forma do pagamento;

5. A assinatura do capitão e a do carregador.


• Martins (2008) esclarece que esses requisitos são exigidos pelo Código Comercial, em
seu art. 575, mas que é costume que o conhecimento marítimo seja assinado não pelo
capitão, mas pelo agente a que está consignado. Por fim, entende-se que o objetivo do
conhecimento marítimo é “provar que as mercadorias foram embarcadas no navio,
destacar a propriedade das mercadorias nele descritas, e, finalmente, evidenciar os termos
e condições do transporte” (MARTINS, 2008, p. 516).
Já no tocante ao conhecimento aéreo, Martins (2008) elucida que seus requisitos são:

• 1. O lugar e a data de emissão;


• 2. Os pontos de partida e de destino;
• 3. O nome e o endereço do expedidor;
• 4. O nome e o endereço do transportador;
• 5. O nome do destinatário, e, se houver cabimento, o seu endereço;
• 6. A natureza da carga;
• 7. O número, o condicionamento, as marcas particulares ou a numeração dos volumes;
• 8. O peso, a quantidade e o volume;
• 9. O preço da mercadoria, quando a carga for expedida contra pagamento no ato da entrega;
• 10. O valor declarado, se houver;
• 11. O número das vias do conhecimento
• 12. Os documentos entregues ao transportador para acompanharem o conhecimento aéreo;
• 13. O prazo do transporte e a indicação sumária do trajeto.
CONHECIMENTO DE
TRANSPORTE
ELETRÔNICO
•No Brasil, o conhecimento de transporte está relacionado ao modelo
da atividade de transporte oferecido pela empresa, conforme as leis de
cada estado. Sendo eles: ferroviário; aéreo; rodoviário; fluvial;
multimodal (quando no mesmo documento constam mais de uma
modalidade de transporte, por exemplo: rodoviário e aéreo).
(BRANDÃO, 2019).

•Com a revolução tecnológica, o Sistema Nacional de Informações


Econômicas Fiscais (SINIEF), elaborou o Ajuste SINIEF nº 09, de 25
de outubro de 2007, o qual “institui o Conhecimento de Transporte
Eletrônico e o Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte
Eletrônico”. (BRASIL, 2007, s/p).
Com o Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e), o formulário físico é descartado e este substitui os
documentos:

I. Conhecimento de Transporte Rodoviário de Cargas, modelo 8;

II. Conhecimento de Transporte Aquaviário de Cargas, modelo 9;

III. Conhecimento Aéreo, modelo 10;

IV. Conhecimento de Transporte Ferroviário de Cargas, modelo 11;

V. Nota Fiscal de Serviço de Transporte Ferroviário de Cargas, modelo 27;

VI. Nota Fiscal de Serviço de Transporte, modelo 7;

VII. Conhecimento de Transporte Multimodal de Cargas – CTMC, modelo 26. (BRANDÃO, 2019, s/p).
• Segundo o site da Receita Federal, o CT-e é entendido como:

• [...] um documento de existência apenas digital, emitido e armazenado eletronicamente,


com o intuito de documentar, para fins fiscais, uma prestação de serviço de transporte de
cargas realizada por qualquer modal (Rodoviário, Aéreo, Ferroviário, Aquaviário e
Dutoviário). Sua validade jurídica é garantida pela assinatura digital do emitente (garantia
de autoria e de integridade) e pela recepção e autorização de uso, pelo Fisco. (BRASIL,
s/d, s/p).
• Vale ressaltar que o objetivo do CT-e é documentar a prestação de serviços de transporte, comunicando ao
Fisco sobre tal operação. Para cada operação de transporte realizada por uma empresa, faz-se necessário a
emissão de um CT-e e esse documento irá armazenar todos os dados referentes ao serviço, sendo válido em
todo o território nacional e inclui a incidência de impostos como IR, PIS, ICMS e COFINS.

• Após a Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ) autorizar a emissão do CT-e, emite-se também o
Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte Eletrônico (DACTE) e, só então, o serviço de transporte
poderá ser iniciado.

• É bom saber que, para a emissão do CT-e, primeiramente, a empresa deve ser credenciada junto à SEFAZ do
estado onde é locada, e esse processo é realizado pelo responsável pela empresa, ou o contador desta. Após
credenciar-se, a empresa precisa adquirir um Certificado Digital. Esse certificado é a assinatura digital da
empresa e garante a autenticidade do seu Conhecimento de Transporte Eletrônico.
Figura 1 –
Funcionamento do processo de emissão do
CT-e
MODELO DE
CONHECIMENTO
DE TRANSPORTE
FERROVIÁRIO
MODELO DE
CONHECIMENTO
DE TRANSPORTE
AÉREO
MODELO DE
CONHECIMENTO
DE TRANSPORTE
RODOVIÁRIO
MODELO CT-
E
MULTIMODA
L
REFERÊNCIAS:

BRANDÃO, Bruna. O que é Conhecimento de Transporte? Veja qual é a sua função! (2019). Disponível em:
https://maplink.global/blog/o-que-e-conhecimento-transporte/ Acesso em: 11 jun. 2021.

BRASIL. AJUSTE SINIEF Nº 09, 25 DE OUTUBRO DE 2007. Ministério da Economia. Conselho Nacional de
Política Fazendária (CONFAZ). Publicado no DOU de 30.10.07, pelo Despacho 91/07. Manual de Integração do
Contribuinte do Conhecimento de Transporte Eletrônico - CT-e: Atos COTEPE/ICMS 08/08 e 30/09 (revogado).
Alterado pelos Ajustes SINIEF 10/08, 04/09, 13/09, 18/11, 08/12, 13/12, 14/12, 21/12, 17/13, 26/13, 27/13, 28/13,
07/14, 10/16, 2/17, 8/17, 23/17, 17/18, 12/19, 32/19, 01/20, 07/20, 26/20, 42/20, 03/21. Convalidados os
procedimentos adotados na forma deste Ajuste, no período de 02.06.08 a 30.09.08, pelo Ajuste SINIEF 10/08.
Manual de Orientações do Contribuinte - CT-e: Ato COTEPE/ICMS 2/12, 33/13. Convalidadas a emissão e a
utilização, no período 01.12.12 a 07.12.12, do Conhecimento Aéreo, modelo 10, nos termos do Ajuste SINIEF
21/12. Disponível em: https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/ajustes/2007/AJ_009_07 Acesso em: 11 jun.
2021.

BRASIL. Conceito e uso do CT-e (s/d). CONHECIMENTO DE TRANSPORTE ELETRÔNICO. Receita Federal.
Disponível em: https://www.cte.fazenda.gov.br/portal/perguntasFrequentes.aspx?tipoConteudo=fYFuI10FiqM=
Acesso em: 11 jun. 2021.

MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 14.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

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