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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

IERI- UFU

ECONOMIA BRASILEIRA III

• Profa. Drª SABRINA FARIA DE QUEIROZ


PLANO REAL, ABERTURA ECONÔMICA E
DESESTATIZAÇÃO – (SOUZA, N. A.,2008)
PAI-Plano de Ação imediata: a transição (ganhar tempo para Plano Real)
- Inflação devia-se à desordem financeira e administrativa do setor público (equilibrar contas
públicas) a economia brasileira está sadia mas, o governo está enfermo! Governo precisa
por as contas em ordem - reduzir gastos – desequilíbrio das contas públicas era a causa da
inflação? Consenso de Washington!

- Primeiras medidas: elevação da taxa de juros e forte corte nos gastos públicos (limitou-se
as despesas com servidores e reduziu a autonomia dos gastos dos entes federados) e dar
continuidade ao processo de privatização;
- Acelerar o processo de privatização e abertura comercial aos produtos estrangeiros – Consenso
de Washington;
PLANO REAL, ABERTURA ECONÔMICA E
DESESTATIZAÇÃO
PAI-Plano de Ação imediata: a transição (ganhar tempo para Plano Real)

PAI indicava os caminhos a serem seguidos pelo Plano Real, que pode ser
dividido em 8 etapas:
PLANO REAL, ABERTURA ECONÔMICA E
DESESTATIZAÇÃO
1. Renegociação da dívida externa e suspensão da moratória:
• A atração de recursos externos era imprescindível para acumular as reservas cambiais
indispensáveis à formação do lastro que serviria de base para a nova moeda (moratória da dívida
inspirava insegurança aos investidores).
• 15/04/1994 – foi assinado acordo de reestruturação da dívida (novas condições de pagamento,
prazo de 14 anos, desconto de 7,6% do montante da dívida, compromisso de pagar juros
imediatamente e carência de 3 anos para pagamento do principal)

OBS: os títulos brasileiros estavam sendo vendidos no mercado secundário com desconto de 70% e a
negociação implicava em altos desembolsos que logo comprometeram as contas externas.
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DESESTATIZAÇÃO
2. Elevação da taxa de juros:
• O aumento da taxa de juros era a forma de atrair capitais externos, sobretudo
especulativos, que garantiriam o lastro para a nova moeda;
• Em agosto de 1993 a taxa real anual era de 29% e se iniciou a aceleração dos juros
(dezembro/93 era de 42,57% e março de 1994 era de 40%) .
• As reservas cambiais ancorariam a nova moeda na medida em que garantiriam o
importacionismo – controle inflacionário.
• As reservas cambiais aumentaram (US$25 bilhões para US$35bi) mas, só US$10bi eram
reservas boas (superávits comerciais) o restante era de caráter especulativo – e estava
ancorando a moeda nova!
PLANO REAL, ABERTURA ECONÔMICA E
DESESTATIZAÇÃO
2. Elevação da taxa de juros:

• Os juros altos incidiram sobre a dívida pública e aumentaram seus encargos


financeiros, recriando o déficit público que queriam combater;

• O aumento da taxa de juros começou em agosto de 1993 e, em dezembro de 1993, a


inflação anual continuava aumentando e chegou a 2.490%.
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DESESTATIZAÇÃO
3. FSE – Fundo Social de Emergência

• O Fundo Social de Emergência era o canal pelo qual seria feito o ajuste fiscal e o Social?
• Seu objetivo era o saneamento financeiro da Fazenda Pública Federal e a estabilização
econômica, principalmente através de ações de custeio dos sistemas de saúde e
previdência.
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DESESTATIZAÇÃO
3. FSE – Fundo Social de Emergência

• O FSE seria abastecido por três fontes de recursos:


1. Aumento de impostos dos que já pagavam, incidência de 5% sobre as taxas vigentes
dos tributos federais;
2. Desvinculação de 20% das transferências constitucionais e legais, particularmente
das destinadas aos Estados, municípios, educação, habitação e fundos regionais;
3. Destinação de 20% de todas as receitas não vinculadas.
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DESESTATIZAÇÃO
3. FSE – Fundo Social de Emergência
• O objetivo principal do FSE era liberar recursos para pagar a conta da política de
juros altos que continuaria a ser adotada – esterilizou 20% das destinações
orçamentárias para 1994 e 1995 (desviou-se dinheiro da área social para pagamento de
juros aos credores da dívida pública).
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DESESTATIZAÇÃO
4. Transição para a nova moeda (unidade de conta – URV): moeda indexada, aperto
fiscal, monetário e salarial
• Março de 1994 iniciava-se a reforma monetária com a implantação da URV;
• Era um programa monetarista de aperto fiscal, monetário e salarial;
• O valor da URV em cruzeiros reais seria fixado diariamente pelo Bacen com base na
inflação passada com aproximadamente um mês de defasagem.
• Os salários, aluguéis residenciais, preços e tarifas públicas e mensalidades escolares foram
convertidos compulsoriamente e o restante dos preços poderia ter termos de conversões
negociados livremente, desde que abolidos os prazos de reajustes inferiores a um ano.
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4. Transição para a nova moeda (unidade de conta – URV): moeda indexada, aperto
fiscal, monetário e salarial
• Edmar Bacha, membro da equipe econômica, deixa claro que um dos principais objetivos
era achatar os salários ao determinar que em 1/03/1994 todos os salários fossem
convertidos pelo salário real médio do quadrimestre anterior e não do quadrimestre
corrente!
• O achatamento dos salários fica evidente com a explosão dos preços dos produtos da cesta
básica- aumento de 20%;
• O salário rígido permitiria a melhoria da rentabilidade das empresas o que coibiria, na
etapa seguinte de implantação da nova moeda, ânimo na remarcação de preços.
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5. Criação da nova moeda, o real (meio de troca, meio de pagamento e reserva de
valor):
• 1° de julho de 1994, a URV foi convertida na nova moeda à taxa de R$1,00 para cada
CR$ 2.750,00 e foi estabelecido um teto máximo de R$1,00/ US$1,00 para o câmbio.
• O Bacen intervinha, vendendo dólares quando o valor de mercado alcançasse R$1,00 -
política cambial de banda assimétrica- objetivo era manter real sobrevalorizado!
• Num primeiro momento os preços se estabilizaram e alguns chegaram a cair mas, a
inflação logo retornou por conta da insistência dos setores oligopolizados manterem suas
taxas de lucros – conflito distributivo (setores concorrendo entre si para manter suas
margens)!
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DESESTATIZAÇÃO
5. Criação da nova moeda, o real: três setores básicos (trabalhadores, empresas e setor
público) em equilíbrio = controle da inflação???
• A arquitetura do Plano Real (ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas, URV para
indexar salário com reajustes mensais e alinhar aos preços e a troca da moeda para
recuperar a credibilidade – lastreada ao dólar) não resistiu à realidade.
• O aumento exagerado da taxa de juros desequilibrava as contas públicas pelo aumento do
serviço da dívida;
• Houve febre remarcadora sem precedentes, com isso os preços se desalinharam
novamente – a inflação se devia ao conflito distributivo.
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DESESTATIZAÇÃO
5. Criação da nova moeda, o real:
• Quanto aos trabalhadores, além de terem tido os salários convertidos pela pior média
salarial da história, a febre remarcadora impunha novas perdas que não foram recuperadas
pela correção mensal estipulada pelo indexador da URV. A inflação registrada chegou a
50,75% em junho de 1994.

• FHC preocupado com as eleições!

• A liberalização de tudo seria uma pancada na inflação? Liberalização de tudo!


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DESESTATIZAÇÃO
6. Criação da âncora cambial, valorização cambial e abertura econômica

• Outubro/1994, após as eleições, Ciro Gomes e a equipe econômica completaram a sexta


etapa: Combinação explosiva entre supervalorização artificial do real + redução das
alíquotas de importação = liberalização de tudo!
• Resultado: mercado interno inundado de produtos estrangeiros.
• E as empresas nacionais? sofriam com altas taxas de juros e agora com a queda no
consumo devido à concorrência de importados baratos - não tinham condições de concorrer e
nem mesmo se reestruturar e modernizar. Sucateamento da industria nacional!
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6. Criação da âncora cambial, valorização cambial e abertura econômica
• Completou-se o programa de redução das tarifas à importação iniciado por Collor (tarifa
média caiu de 37,4 para 7%). Autopeças a tarifa era de 2% e para bens de capital a tarifa
era nula.

• O câmbio se valorizava pela entrada de capitais (nov/1994 chegou a R$0,82/US$) e


também devido à inflação – âncora cambial para preços internos.

• A inflação continuava assombrando a economia.


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DESESTATIZAÇÃO
7) Desestatização da economia

• Corte nos gastos públicos + absorção do patrimônio público por parte de grupos estrangeiros
>> era a forma de garantir o financiamento do déficit que seria produzido pela âncora
cambial;

• Antes de promover a venda do patrimônio público era preciso: dar segurança ao capital
estrangeiro de que seus interesses estariam garantidos (renegociação da dívida) e realizar
alterações constitucionais legais que permitissem a desestatização (bloqueio por resguardo
institucional).
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DESESTATIZAÇÃO

8) Eleição de FHC
• Metas do governo eram: emprego, saúde, educação, segurança, agricultura, os famosos
“cinco dedos da mão”. Em nenhum momento, defendeu “abertura econômica”, capital
estrangeiro, privatização, questões que constituíram o norte do governo FHC.
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Quebra do domínio público sobre setores estratégicos
• Fim de fevereiro de 1995 – enviou ao congresso PEC para a quebra o domínio público sobre petróleo,
exploração do subsolo, as telecomunicações e a energia, além de abrir para o capital estrangeiro a navegação de
cabotagem e de conceder à empresa estrangeira o mesmo status da empresa nacional – aprovada em junho/1995.

• Enviou-se ao Congresso PEC para redução de direitos previdenciários: alteração na aposentadoria por tempo
de serviço, aposentadorias especiais de professores e em profissões insalubres e de alto risco, redução do teto de
10 salários mínimos para aposentadorias do INSS e fixação de um teto para aposentadorias dos servidores
públicos.
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Quebra do domínio público sobre setores estratégicos
O objetivo das alterações na previdência era abrir espaço para os fundos de pensão
patrocinados pelos bancos = privatização.
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Quebra do domínio público sobre setores estratégicos

• Petrobrás: garantiu que a mesma não seria privatizada, somente haveria leilões dos postos já
descobertos;
• Discurso de ineficiência e falência do Estado brasileiro;
• Petrobrás: ganhadora de prêmio por eficiência tecnológica;
• Alta elisão e renúncia fiscal, legal e ilegal, os distintos Estados nacionais que ficaram
sobrecarregados de encargos financeiros de uma dívida imposta por uma política monetária;
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Quebra dos direitos previdenciários
Começo de 1995 se rejeitou a PEC 20 – de quebra dos benefícios previdenciários;

1996 – objetivo central: substituir tempo de serviço por tempo de contribuição, o que significava:
1. Substituir o conceito solidário pelo de capitalização;
2. Estabelecer idade mínima independente do tempo de serviço e servidor público – tempo
mínimo no cargo público;
3. Fim da aposentadoria especial para professores o final do cômputo para os trabalhadores
urbanos do tempo de serviço no meio rural;
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DESESTATIZAÇÃO
Privatização e avanço do capital estrangeiro
• 1996: foi alienado o patrimônio ou a concessão de 11 novas empresas, sobretudo do setor
ferroviário, num montante total de US$ 4,23 bilhões.
• O processo de alienação do setor elétrico foi retomado com privatização da Light e da Cerj
do Rio de Janeiro. (US$ 2,5 bilhões e US$ 587 milhões) .
• 1997 – CVRD , telefonia, setor elétrico.
• 1998 – Alienação do sistema Telebrás, portos marítimos.
• O Estado perdera até então 76% do seu patrimônio.
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Privatização e avanço do capital estrangeiro
• 2000 foi a vez dos bancos estaduais e avançou sobre o patrimônio da Petrobrás.

• O capital estrangeiro que entrava contribuía para financiar o déficit das contas externas
provocado pela política de sobrevalorização do real.
• O capital estrangeiro respondeu agressivamente à demanda por recursos até o ano de 2000:
O IDE saltou em média de US$ 1,68 bilhão de 1991 a 1994 para US$ 5,48 bilhões em 1995 ,
em 1996 chegou a 10,5 bilhões e em 2000 atingiu US$ 30,5 bilhões.
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Privatização e avanço do capital estrangeiro
• O avanço do capital estrangeiro provocou forte crescimento do passivo externo líquido (soma de todo
capital estrangeiro existente no país – IDE, empréstimos e financiamentos e aplicações financeiras)
devido ao aumento da dívida externa e também do crescimento da presença do capital estrangeiro.

• O capital estrangeiro absorveu parte expressiva do patrimônio nacional, público e privado. A


participação das empresas estrangeiras no faturamento das 500 maiores empresas privadas e 50
maiores estatais subiu de 32% em 1994 para 46,4% em 2001. o capital estrangeiro entrou nos
setores mais importantes e lucrativos.
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Casos mais expressivos da privatização
• Vale do Rio Doce (CVRD)- a maior produtora e exportadora de minério de ferro do mundo
teve seu controle acionário entregue em maio de 1997 por apenas US$ 3, 3 bilhões (sócios
estrangeiros e sócios menores brasileiros indicados pelo governo).
• Sistema Telebrás.

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