Sabemos que todo texto diz alguma coisa, possui uma
intenção e, para isso, o seu produtor deve escolher um gênero que seja adequado às atividades de interação: agir sobre o outro; às necessidades sócio-comunicativas. Quando falamos em escolha de um gênero, obviamente, não nos referimos apenas às formas linguísticas (verbais), mas há outras formas que servem tanto quanto as verbais a nossa intenção de interação pela linguagem. Vale dizer que a linguagem verbal não é e nunca será a única forma de construção simbólica da realidade, mas há outros sistemas, além das palavras que servem para realizar mensagens: gestos, expressões faciais e corporais, tom de voz, ritmo dentre outras possibilidades, que são denominados recursos icônicos. • Nas histórias em quadrinhos, nas tirinhas, esses recursos icônicos estão presentes e requerem habilidades específicas porque são produzidos com auxílio da linguagem verbal e da não-verbal. • Segundo Capistrano Júnior ( 2011), a construção verbo-visual das tirinhas possibilita a articulação da palavra com a da diagramação, da imagem o que exige habilidades para sua compreensão. • Um aspecto a ser observado refere-se à instauração do referente, ou seja, à introdução do sobre o que falamos. Essa instauração pode ser dar por palavras, por imagens e por ambas. Vamos observar como isso se dá. • Na primeira tira, observamos quatro referentes visuais: Mônica, melancia, faca e homem. A introdução de tais referentes inseridos na tira por meio icônico tem a função de explicitar o tema da tira: arte de Mônica que chupa a melancia, deixando a casca intacta. • Na tira dois, os referentes são: Cebolinha, Mônica, Cascão, rio, sol, chuveiro, banheira e ventilador. São por meio desses referentes que detectamos o tema da tira: calor e a necessidade de se refrescar. Nossa atenção deve voltar-se, também, par o último quadro da tira, em que a introdução do referente novo, ventilador, diferente dos outros, pois não possui água permite-nos a leitura de o Cascão ter tanto medo de água, que nem para aliviar o calor se arrisca em usá-la. • O aluno deve ter claro o entendimento de que os signos icônicos não são meras ilustrações, mas suportes de leitura, pois há a união da palavra com a imagem. • Na tira acima, os referentes são árvores, jornal e pássaros. Um deles efetua leitura do jornal, nomeando uma série de acontecimentos: enchentes, maremotos, ciclones, terremotos. • Vale dizer que o leitor da tira expressa juízos de valor, pois introduz o texto: rapaz!! A coisa tá feia! O que devemos observar nesse texto? O uso reiterado do ponto de exclamação (rapaz!!), o aspecto visual do leitor, ar circunspecto. Na mesma direção, há a imagem, vamos dizer, desconsolada, do interlocutor, o outro pássaro. • Após a leitura de todos os acontecimentos, o leitor toma novamente a palavra e introduz um questionamento: O que falta nos acontecer mais? A resposta está no último quadro, em que há introdução da onomatopeia (ROARRRRRR!!!), cuja função é representar a motosserra e a árvore sobre que estavam começa a cair. Finalmente, introduz-se a resposta: Caracas! Motosserras Assassinas!!. • As palavras, os recursos icônicos e expressivos: exclamação, cuja função é intensificar a indignação; a expressão facial dos pássaros e a onomatopeia unem-se às palavras e remetem-nos ao tema: a destruição da natureza e a evasão dos pássaros. • Todo gênero textual possui uma estrutura, que o professor deve conhecer e ensinar aos alunos. • Os quadrinhos possuem um sistema narrativo composto, como já abordamos, em dois códigos: a linguagem verbal e a linguagem visual (signo icônico), que se unem para a produção do sentido. • Um aspecto que merece ser explorado nas histórias em quadrinho e nas tiras são os balões. Sabe por quê? Porque o uso dos balões permite que os leitores leiam as palavras dos personagens, criam a sensação de que os leitores podem ouvi-las. • Segundo Rama, Vergueiro, Barbosa, Ramos e Vilela Para a decodificação da mensagem contida no balão, o leitor deve considerar tanto imagem e texto como outros elementos do código que são mais ou menos icônicos por natureza. Como característica única dos quadrinhos, o balão representa uma densa fonte de informações, que começam a ser transmitidas ao leitor antes mesmo que este leia o texto, ou seja, pela própria existência do balão e sua posição no quadrinho. Ele informa que um personagem está falando em primeira pessoa. RAMA, VERGUEIRO, BARBOSA, RAMOS E VILELA, 2004, p: 56 • A indicação da fala do personagem vem representada por um balão com rabicho apontando para o personagem. • A tira acima apresenta a indicação da fala dos personagens. Vale dizer que Mafalda, criada por Quino, é personagem questionadora e rebelde e não aceita as coisas, os desvãos do mundo com naturalidade. Atente bem para os rabichos dos balões. No balão com os dizeres: Sopa de peixe, você deve ter observado que não aparece o personagem mãe falando, mas é ela. • Após a resposta da mãe, Mafalda nos é apresentada com ares de reflexão, até que no último quadro retoma a palavra e diz: Abaixo a liberdade de imprensa. Você deve atentar, também, para o tamanho das letras dos quadros. Por exemplo, no último, as letras apresentam-se em tamanho bem maior. Além disso, a boca de Mafalda encontra-se escancarada. Unindo tamanho das letras com a boca de Mafalda, somos levados ao sentido de que ela está gritando. • Vale dizer que a linha que delimita o balão transmite informações. Um balão tracejado indica que a personagem está falando em voz muito baixa, para não ser ouvida pelos outros. • O primeiro quadro apresenta o balão tracejado indica-nos a necessidade de falar bem baixo, já que se refere à situação de prova. Há que se ressaltar a ambiguidade do quadro, expressa pro meio da palavra não. Essa ambiguidade só é desfeita, no último quadro, quando dois outros personagens afirmam que a resposta da questão três era não, o que não foi interpretado pelo aluno que solicitou a resposta da referida questão e agride o colega como prometido. • Se o balão se apresenta em formato de nuvem, com rabichos com formato de bolhas, é revelador de que o personagem está pensando. Observe bem a tira abaixo, retirada do site Domínio Público. • Se o balão apresenta vários rabichos, neste caso, o sentido é de vários personagens falando ao mesmo tempo, como se pode verificar, no quadro 1, da tira abaixo. • O balão em zig-zag revela-nos que a voz procede de um aparelho, como, por exemplo, televisão, robô, alto-falante, podendo, ainda indicar um grito do personagem. • Além da forma dos balões, a letra que aparece no texto verbal pode expressar diferentes sentidos. Vamos a eles? • Se as letras aparecem em negrito, o efeito de sentido produzido é de som maior, isto é, a frase foi dita em voz alta. • Muitas vezes, as palavras em negrito não implicam palavras ditas em voz alta, mas são empregadas para chamar a atenção do leitor, justamente por serem consideradas palavras-chave, como se observa na tira abaixo. • As tiras podem ser excelente recurso para o trabalho com a língua portuguesa, especialmente, no que diz respeito ao registro de fala dos personagens. No entanto, há que se cuidar para não incentivar o preconceito linguístico. O importante é dizer ao aluno que a língua é um organismo vivo e está sujeita a transformações de diferentes ordens. • A tira acima é um bom exemplo da necessidade de adequação de uso da língua e a importância de propiciar ao aluno o acesso à norma culta. Vale dizer que respeitar a variante não-padrão de forma alguma implica não se ensinar a padrão. • Voltemos à tira. A personagem feminina está em uma situação formal, provavelmente, uma situação de entrevista de emprego. Apresenta-se como poliglota, no entanto, ao ser questionada sobre o domínio de português, sua resposta é não-padrão “vareia”, o que causa espanto ao entrevistador, evidenciado pelo aspecto de seu rosto. • Sabemos que a fala de Chico Bento se caracteriza pelo emprego da língua não- padrão. Acreditamos que o trabalho com seus registros não deva se restringir à solicitação de passá-la para a língua padrão, mas há outros aspectos que merecem ser destacados, como certas variações que são comuns a qualquer falante: escolarizado ou não. Por exemplo, qualquer falante para “de” e “que” , diz, respectivamente, “ di ” e “qui”; para “vez”, diz “veiz”; para “falar”, diz “fala”; para besteira”, diz “bestera”. São variações comuns na fala. No entanto, há certas variantes que falantes escolarizados não dizem, tais como: ansim; espantaio, arguma. • Observe as tiras abaixo e faça o que se pede.
Na tira acima, há o emprego de onomatopeias. Retire-as.
Qual é o efeito de sentido produzido por “au”, escrito em negrito. • Observe a tira de Chico bento e faça o que se pede
Retire as variações presentes na tira.
Explique o sentido da tira, considerando a resposta de Chico Bento. 1. No quadrinho acima, o que acontece entre Cebolinha e Mônica? 2. Qual é a reação dos dois personagens? 3. Na opinião de Mônica, como Cebolinha ficou depois do ocorrido? 4. A Mônica está certa em sua opinião? Justifique sua resposta. 1. Na tira acima, uma das personagens faz um questionamento a respeito de gerações. Qual é o questionamento? 2. O que caracteriza a geração da personagem do texto? 3. Como a personagem vê as gerações antigas? 4. Na sua opinião, ela está na concepção da nova geração? Retire do texto elementos que comprovam sua resposta.