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Curso filosofia da cultura:

Psicanálise e sexualidade
Sexualidade e cultura:
Desejo, sexualidade e o mal-estar na civilização
O inconsciente:
A terceira ferida narcísica infligida à sociedade:
Inicia como Copérnico
Continua com Darwin : Ao conceber que passamos por um processo de evolução e não
nascemos prontos .
O inconsciente é uma grande ferida, dentre outras que poderíamos citar, des-cobrimos, des-
velamos o fato de que existe uma instância psíquica em nós que não controlamos.
“No ser humano a sexualidade não é regida
pelo instinto, mas pelas pulsões, as quais
tendem a objetos que nada têm a ver com a
finalidade reprodutiva.”
Mas o que é pulsão sexual?
• A pulsão sexual, diferentemente do instinto sexual, não se limita às
atividades da sexualidade biológica, mas constitui o fator primordial
que impulsiona toda a série de manifestações psíquicas, estando,
portanto, no fundamento do aparelho psíquico e de seu
funcionamento. Freud inaugura, assim, uma nova e revolucionária
compreensão da sexualidade humana.
Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade
• Sexualidade Humana: • Relação sexual dos animais:
PULSIONAL Instintual
• Admite variações em relação ao • Não possui variação em seu
objeto objetivo
• Não possui fantasia/erotismo/
variação.
A pulsão sexual é Eros e se opõe a Thanatos : Pulsão de morte

Erich Fromm: Podemos ser Biófilos ou Necrófilos


HETEROSSEXUALIDADE : FÁBULA DA
CARA METADE
• “A teoria popular do instinto sexual tem uma bela correspondência
na fábula poética da divisão do ser humano em duas metades —
homem e mulher —, que buscam unir-se novamente no amor.
Resulta em grande surpresa, então, saber que existem homens para
os quais o objeto sexual não é a mulher, mas o homem, e mulheres
para as quais esse objeto não é o homem, mas a mulher.” (Freud, Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade. Pag. 21)
AS PERVERSÕES
Somos todos pervertidos?
• Em sua obra Três ensaio sobre a sexualidade Freud salienta que: “ a
disposição às perversões é a disposição originária e universal da
pulsão sexual dos seres humanos”
• A perversão é uma transgressão: contudo não uma transgressão da
função sexual, ou seja, a promoção do prazer.
• A perversão é uma transgressão das regras convencionadas pela
civilização/cultura que elegeu a procriação como função da
sexualidade.
• A sexualidade tem sua gênese na infância que se apresenta como
uma sexualidade polimorfa e auto-erótica.
• Existia na época de Freud, bem como hoje também um discurso sobre a
sexualidade que a identifica meramente com a reprodução.
• Se a sexualidade se identifica com a reprodução essa sexualidade começa a
ser policiada, por meio de critérios que estabelecem, ainda que não
escritos, o que seria certo e errado no uso do corpo e dos prazeres.
• Se ela se resume a reprodução a forma correta de dimensão sexual seria
aquela ligada a heterossexualidade
• Todas as outras formas seriam uma espécie de degeneração/desvios
• A exemplo da palavra homossexualidade que surge no Século XIX para
denominar uma doença.
• Pervertido não significa perverso
• O conceito de normalidade sexual é percebido por Freud como um custo
enorme não só para aquele que é homossexual mas também um peso
enorme por aquele que convencionalmente se chama de heterossexual.
• O heterossexual pode ter uma miscelânea de fantasias sobre possibilidade
de sua vida sexual: sobre Com quem? Com Quantos? E de que forma
fazer amor, transar, namorar . Acaba sofrendo uma auto-repressão
tremenda.
• Toda fantasia vai ser vista como patológica, tara, doença. Esse peso é
muito mais forte sobre as mulheres.
• Freud vai questionar esse discurso de que há uma natureza para a
sexualidade humana que a identifique com a reprodução.
• Apesar de todas as limitações da época em que viveu, está claro para
Freud que uma identidade sexual não é determinada pela sua
genética.

• Sobre esse fato Pedro Santi afirma:


• “ Não há duas pessoas que tenham a mesma fantasia, que escolham
um objeto único como objeto de desejo. Não há um caminho único
para a sexualidade humana”.
• O termo heterossexual é muito limitado para falar de gente que no
detalhe, na sua singularidade, deseja e vive sexualidades diferentes.
•“Para Freud, a disposição perversa é parte da constituição normal de
todas as pessoas. Nesse sentido, não é uma transgressão: passa a ser
transgressão na medida em que se preconiza que o sexo deve estar
inscrito em rituais (casamento) e deve ter como objetivo a procriação
(moral judaico-cristã), e, nesse sentido, a perversão passa a ser
transgressão porque vai contra a lei, a regra estabelecida como
normalidade.” (MURIBECA, Mercês, 2009, pag.2)
• “Na vida sexual de cada um de nós, ora aqui, ora ali, todos
transgredimos um pouquinho os estreitos limites do que se considera
normal”. (FREUD. Fragmentos da análise de um caso de histeria (1905[1974], p. 53)
• A PERVERSÃO : Tem sentidos diversos, se relacionando também a práticas
sexuais que extrapolam o que foi estabelecido como objetivo do coito.
• As perversões seriam a organização da pulsão sexual em zonas erógenas distintas
das genitais.
• Ainda nos três ensaios sobre a sexualidade Freud utiliza do termo inversão para
falar das relações homo-afetivas, contudo também inverte o conceito de
inversão, e faz uma classificação que para nós hoje talvez em grande parte esteja
obsoleta.
AS diferenças sexuais
Vaso: a.C.
Detalhe de uma ânfora ateniense (V a.C.)
• Para o discurso psiquiátrico do século XX, a homossexualidade
sempre foi tida como uma inversão sexual, isto é, uma anomalia
psíquica, mental ou de natureza constitucional, um distúrbio da
identidade ou da personalidade. A terminologia passou por múltiplas
variações: com respeito às mulheres, empregavam-se os termos
safismo ou lesbianismo, numa referência a Safo, a poetisa grega da
ilha de Lesbos que era adepta do amor entre as ulheres; quanto aos
homens, falava-se de uranismo, pederastia, sodomia, neuropatia,
homofilia etc.
• Dicionário de Psicanálise
• Em uma nota acrescentada à sua obra Três ensaios sobre a
sexualidade Freud expressa “claramente sua hostilidade a qualquer
forma de diferencialismo e discriminação:
• “A investigação psicanalítica opõe-se com extrema determinação à
tentativa de separar os homossexuais dos outros seres humanos
como um grupo particularizado.”
• Em sua obra Mal-estar na civilização no capítulo IV Freud salienta:
• “ Quanto ao indivíduo sexualmente maduro, a escolha de um objeto
restringe-se ao sexo oposto, estando as satisfações extragenitais , em
sua maioria proibidas como perversões. A exigência, demonstrada
dessas proibições, de que haja um tipo único de vida sexual para
todos, não leva em consideração a dessemelhança inata ou
adquiridas, na constituição sexual, tornando-se assim fonte de grave
injustiça”.
• Ver livro pag. 162
•   A sexualidade humana é sempre uma psicossexualidade. Ou seja, o
ser humano, como ser desejante, atribui sentido ao sexo.
• Possibilita vários destinos para a pulsão e tornando a sua satisfação
uma escolha tanto em relação ao objeto, quanto ao próprio objetivo
pulsional.
Mal-estar na civilização
• Começa identificando a ideia de um sentimento oceânico como
resquício da infância
• Opõe dois princípios:
• Princípio do prazer X princípio da realidade
• Fontes do sofrimento:
• Nosso próprio corpo: Condenado a decadência
• Do mundo externo: O qual pode voltar-se contra nós com forças
esmagadoras de destruição
• Do nosso relacionamento com outros seres humanos.
Nas palavras de Freud:
• “Uma satisfação irrestrita de todas as necessidades apresenta-se-nos
como o método mais tentador de conduzir nossas vidas; isso porém,
significa colocar o gozo antes da cautela, acarretando logo o seu
próprio castigo.” pag. 142

• Identifica técnicas para afastar o sofrimento, afastar-se da pressão da


realidade tal como a intoxicação, que ele identifica como algo capaz
de causar danos, pois desperdiça uma energia que poderia ser
empregada para o aperfeiçoamento do ser humano.
Diante disso é possível ser feliz?
• “O programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe ;
não pode ser realizado; contudo, não podemos abandonar nossos
esforços de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de
outra”.
• “ Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem
tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser
salvo.”
• (Ver texto pag. 146)
• A civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas a sexualidade,
mas também à sua agressividade

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