FONTES
ESPÉCIES
MODALIDADES
CLÁUSULA PENAL
FONTES DAS OBRIGAÇÕES
O Direito se origina dos fatos = ex facto oritur jus. As fontes do Direito são a lei, a jurisprudência, a
doutrina e os costumes.
No caso das obrigações, quais suas fontes? De onde se originam as obrigações? há muitas
obrigações que interessam a outras áreas jurídicas e que têm por fonte a lei, ex: obrigação de
alimentar os parentes necessitados, assunto de Direito de Família (1.696); obrigação de votar,
assunto de Direito Eleitoral; obrigação de pagar impostos, assunto de Direito Tributário; obrigação
dos homens de prestar serviço militar, etc.
Mas e as obrigações patrimoniais privadas? Como surgem as relações concretas entre particulares
tendo por objeto determinada prestação? São três as fontes segundo o Código Civil, vejamos:
1 – Contratos: esta é a principal e maior fonte de obrigação. Através dos contratos as partes
assumem obrigações (ex: compra e venda, onde o comprador se obriga a pagar o preço e o
vendedor se obriga a entregar a coisa). Contratos (ex: locação, doação, empréstimo, seguro,
transporte, mandato, fiança, etc). O respeito ao contrato e honrar a palavra dada é condição em
qualquer democracia.
Inexiste desenvolvimento nos países que não respeitam contrato por uma questão de segurança
jurídica.
FONTES DAS OBRIGAÇÕES
2 – Atos unilaterais: segundo nosso Código, são os quatro capítulos entre os arts.
854 e 886, com destaque para a promessa de recompensa (ex: perdi meu
cachorro e pago quinhentos reais a quem encontrá-lo, obrigando-me perante
qualquer pessoa que cumpra a tarefa). Não temos aqui um contrato, mas um ato
unilateral gerador de obrigação.
3 – Atos ilícitos: Vide o art. 186 (ex: João bate no carro de Maria e se obriga a
reparar os prejuízos). O estudo dos atos ilícitos deve ser aprofundado na
importante disciplina Responsabilidade Civil (927) em Civil III.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
São três, duas positivas (dar e fazer) e uma negativa (obrigação de não-fazer).
1 – OBRIGAÇÃO DE DAR: conduta humana que tem por objeto uma coisa, subdividindo-se em
três: obrigação de dar coisa certa, obrigação de restituir e obrigação de dar coisa incerta.
1.1 – OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a
entregar ao credor determinado bem móvel ou imóvel, perfeitamente individualizado.
Tal obrigação é regulada pelo Código Civil a partir do art. 233, salvo acordo entre as partes, ou
seja, se as partes não ajustarem de modo diferente, vão prevalecer as disposições legais. Na
autonomia privada, como dito na aula 1, a liberdade das partes é grande, e o Código Civil serve
mais para completar a vontade das partes caso haja omissão no ajuste entre elas. Diz-se por isso
que a maioria das normas de direito privado são supletivas, enquanto a maioria das normas de
direito público são imperativas = obrigatórias.
O que caracteriza a obrigação de dar coisa certa é porque o objeto da prestação é coisa única e
preciosa, ex: a camisa 10 que Pelé usou na Copa, a caneta com a qual o presidente do Supremo
assinou o livro de posse, etc. (235). O devedor obrigado a dar coisa certa não pode dar coisa
diferente, ainda que mais valiosa, salvo acordo com o credor (313 – mais uma norma supletiva).
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
Se o devedor recebe o preço e se recusa a entregar a coisa, o credor não pode tomá-la, resolvendo-se o litígio em
perdas e danos (389). A obrigação não geral direito real ( = sobre a coisa), mas apenas direito pessoal ( = sobre a
conduta). Excepcionalmente, admite-se efeito real caso a coisa continue na posse do devedor (ex: A combina
vender a B o capacete de Ayrton Senna, B paga mas depois A recebe uma oferta melhor e termina vendendo o
capacete a C; B não pode tomar o capacete de C, mas caso estivesse ainda com A poderia fazê-lo através da Justiça;
esta é a interpretação do art. 475 do CC. Então o 389 é a regra e o 475 (execução forçada do contrato, poder não
sobre a conduta mas sobre a coisa) é a exceção.
E se a obrigação não gera direito real, o que vai gerar? Resposta: a tradição para as coisas móveis e o registro para
as coisas imóveis. Tradição e registro são assuntos de Direitos Reais.
Tradição é a entrega efetiva da coisa móvel (1226 e 1267), então quando compro uma geladeira, pago a vista e
aguardo em casa sua chegada, só serei dono da coisa quando recebê-la. Ao contrário, se compro um celular a prazo
e saio com ele da loja, o aparelho já será meu embora não tenha pago o preço (237). Eventual perda/roubo da
geladeira/celular trará prejuízo para o dono, seja ele a loja ou o consumidor, a depender do momento da tradição.
É a confirmação do brocardo romano res perit domino (= a coisa perece para o dono), seja o comprador ou o
vendedor, até a tradição (492). Se o devedor danificar a coisa antes da tradição, terá que indenizar o comprador
por perdas e danos (239).
Por sua vez, o registro é a inscrição da propriedade imobiliária no Cartório de Imóveis, de modo que o dono do
apartamento não é quem mora nele, não é quem pagou o preço ou quem tem as chaves. O dono da coisa imóvel é
aquele cujo nome está registrado no Cartório de Imóveis (1245 e § 1º).
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
1.2 – OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR: é também chamada de obrigação de devolver. Difere da obrigação de dar,
pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição, enquanto na obrigação de restituir a coisa pertence
ao credor, apenas sua posse é que foi transferida ao devedor. Posse e propriedade são conceitos que serão
estudados em Direitos Reais, mas dá para entender que quando se aluga um carro, a locadora continua
sendo proprietária do veículo, é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o
cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado (569, IV).
Na obrigação de restituir a prestação consiste em devolver uma coisa cuja propriedade já era do credor
antes do surgimento da obrigação. Igualmente se eu empresto um carro a meu vizinho, eu continuo
dono/proprietário do carro, apenas a posse é que é transferida, ficando o vizinho com a obrigação de
devolver o veículo após o uso. Locação e empréstimo são exemplos de obrigação de restituir, ficando a
coisa em poder do devedor, mas mantendo o credor direito real de propriedade sobre ela.
Como a coisa é do credor, seu extravio antes da devolução trará prejuízo ao próprio credor (240), enquanto
na obrigação de dar o extravio antes da tradição traz prejuízo ao devedor.
Em ambos os casos, sempre prevalece a máxima res perit domino. Mas é preciso cuidado para evitar
fraudes (238, ex: alugo um carro que depois é furtado, o prejuízo será da loja, por isso é prudente a
locadora sempre fazer seguro). Outro exemplo de obrigação de restituir está no art. 1.233, então se
“achado não é roubado”, também não pode ser apropriado, devendo quem encontrar agir conforme o p.ú.
do mesmo artigo
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
1.3 – OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA: nesta espécie de obrigação a coisa não é única, singular, exclusiva e preciosa como na
obrigação de dar coisa certa, mas sim é uma coisa genérica determinável pelo gênero e pela quantidade (243). Ao invés de uma coisa
determinada/certa, temos aqui uma coisa determinável/incerta (ex: cem sacos de café; dez cabeças de gado, um carro popular, etc).
Tal coisa incerta, indicada apenas pelo gênero e pela quantidade no início da relação obrigacional, vem a se tornar determinada por
escolha no momento do pagamento. Ressalto que coisa “incerta” não é “qualquer coisa”, mas coisa sujeita a determinação futura.
Então se João deve cem laranjas a José, estas frutas precisam ser escolhidas no momento do pagamento para serem entregues ao
credor.
Esta escolha chama-se juridicamente de concentração: é o processo de escolha da coisa devida, de média qualidade, feita via de
regra pelo devedor (244). A concentração implica também em separação, pesagem, medição, contagem e expedição da coisa,
conforme o caso. As partes podem combinar que a escolha será feita pelo credor, ou por um terceiro, tratando-se este artigo 244 de
mais uma norma supletiva, que apenas completa a vontade das partes em caso de omissão no contrato entre elas.
As normas supletivas, ao contrário das imperativas, não são obrigatórias tendo em vista a autonomia privada no Direito Civil, onde
predomina a liberdade do cidadão em fazer negócios.
Após a concentração a coisa incerta se torna certa (245). Antes da concentração a coisa devida não se perde pois genus nunquam
perit (o gênero nunca perece). Se João deve cem laranjas a José não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as laranjas se
estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a plantação de João se perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda
(246).
Todavia, após a concentração, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no armazém) a obrigação se extingue, voltando as partes ao
estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos (arts 234, 389, 402). Pela importância da
concentração, o credor deve ser cientificado quando o devedor for realizá-la, até para que o credor fiscalize a qualidade média da
coisa a ser escolhida.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
2 – OBRIGAÇÃO DE FAZER: conduta humana que tem por objeto um serviço.
Conceito: espécie de obrigação positiva pela qual o devedor se compromete a
praticar algum serviço lícito em benefício do credor.
Enquanto na obrigação de dar o objeto da prestação é uma coisa, na obrigação de
fazer o objeto da prestação é um serviço (ex: professor ministrar uma aula,
advogado redigir uma petição, cantor fazer um show, pedreiro construir um muro,
médico realizar uma consulta, etc.). E se eu quero comprar um quadro e
encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Se o quadro já
estiver pronto a obrigação será de dar, se ainda for confeccionar o quadro a
obrigação será de fazer.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
A OBRIGAÇÃO DE FAZER TEM DUAS ESPÉCIES:
2.1 – FUNGÍVEL: quando o serviço puder ser prestado por uma terceira pessoa, diferente do devedor, ou seja, quando o devedor for
facilmente substituível, sem prejuízo para o credor, a obrigação é fungível (ex: pedreiro, eletricista, mecânico, caso não possam fazer o
serviço e mandem um substituto, a princípio para o credor não há problema). As obrigações de dar são sempre fungíveis pois visam a
uma coisa, não importa quem seja o devedor (304). Se Neymar lhe deve mil reais, você aceitará que ele mande o dinheiro por um amigo
(obrigação de dar). Mas se Neymar se obrigou a jogar futebol no campinho da sua casa, você não aceitará que ele mande esse amigo no
lugar, que acha?
2.2 – INFUNGÍVEL: ao credor só interessa que o devedor, pelas suas qualidades pessoais, faça o serviço (ex: médico e advogado são
profissionais de estrita confiança dos pacientes e clientes). Chama-se esta espécie de obrigação de personalíssima ou intuitu personae
( = em razão da pessoa). São as circunstâncias do caso e a vontade do credor que tornarão a obrigação de fazer fungível ou não. Em geral
quanto mais qualificada a profissão, mais infungível o serviço.
Em caso de inexecução da obrigação de fazer o credor só pode exigir perdas e danos (247). Viola a dignidade humana constranger o
devedor a fazer o serviço por ordem judicial, de modo que na obrigação de fazer não se pode exigir a execução forçada como na
obrigação de dar coisa certa (art. 475 – sublinhem exigir-lhe o cumprimento). Imaginem um cantor se recusar a subir no palco, não é
razoável o juiz mandar a polícia para forçá-lo a trabalhar “manu militari”, o coerente é o credor do show exigir perdas e danos (389).
Ninguém pode ser diretamente coagido a praticar o ato a que se obrigara. Assim, a execução “in natura” do art. 475 do CC deve ser
substituída por perdas e danos quando for impossível (ex: a coisa devida não está mais com o devedor) ou quando causar
constrangimento físico ao devedor (ex: obrigação de fazer).
Se ocorrer recusa do devedor de executar obrigação fungível, o credor pode pedir a um terceiro para fazer o serviço, às custas do
devedor (ex: derrubar um muro, art 249). Havendo urgência, o credor pode agir sem ordem judicial, num autêntico caso de realização de
Justiça pelas próprias mãos (pú do 249, ex: consertar parede de casa vizinha contígua ameaçando cair).
Mas se tal recusa decorre de um caso fortuito (ex: o cantor gripou e perdeu a voz), extingue-se a obrigação (248)
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
3 – OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER: trata-se de uma obrigação negativa cujo objeto da prestação é uma omissão ou abstenção. Os romanos
chamavam de obrigação ad non faciendum.
Conceito: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a se abster de fazer certo ato, que poderia livremente praticar, se não tivesse
se obrigado em benefício do credor. O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster de algum ato em benefício do credor. Exemplos: o
engenheiro químico que se obriga a não revelar a fórmula do perfume da fábrica onde trabalha; o condômino que se obriga a não criar
cachorro no apartamento onde reside; o professor que se obriga a não dar aula em outra faculdade concorrente; o jogador de futebol que se
obriga a não jogar contra o time que o revelou, etc. Pode haver limite temporal para a obrigação (1.147).
Como na autonomia privada a liberdade é grande, as obrigações negativas podem ser bem variadas, mas obrigações imorais e anti-sociais, ou
que sacrifiquem a liberdade das pessoas, são proibidas, ex: obrigação de não se casar, de não trabalhar, de não ter religião, etc. Tudo é uma
questão de bom senso, ou de razoabilidade. Complicada essa expressão “razoável”, é uma expressão muito ligada ao Direito, mas o que é
razoável?
A violação da obrigação negativa se resolve em perdas e danos, então se o engenheiro divulgar a fórmula do perfume terá que indenizar a
fábrica. Mas se for viável, o credor poderá exigir o desfazimento pelo devedor (ex: José se obriga a não subir o muro para não tirar a
ventilação do seu vizinho João, caso José aumente o muro, João poderá exigir a demolição, 251). No caso do perfume não há como desfazer a
revelação do segredo, então uma indenização por perdas e danos é a solução (389).
Neste exemplo do muro, se José se mudar, o novo morador terá que respeitar a obrigação? Não, pois quem celebrou o contrato não foi ele.
Mas se João, ao invés de um simples contrato de obrigação negativa, fizer com José uma servidão predial, todos os futuros proprietários da
casa não poderão aumentar o muro (1.378). Servidão predial é assunto de Civil 5, e por se tratar de um direito real, já se percebe sua maior
força em relação a um direito obrigacional. Enquanto uma obrigação vincula pessoas (João a José), uma servidão predial vincula uma pessoa a
uma coisa, então a segurança para o credor é bem maior.
Ainda tratando do exemplo do muro, e se a Prefeitura obrigar José a aumentar o muro por uma questão de estética ou urbanismo? José terá
que obedecer e João nada poderá fazer, pois o Direito Público predomina sobre o Direito Privado (art 250 – é o chamado “Fato do Príncipe”,
em alusão aos monarcas que governavam os países na Europa medieval).
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
DAR COISA CERTA
Art. 233 CC> A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela,
embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das
circunstâncias do caso.
DAR PODE PRESSUPOR ENTREGAR OU RESTITUIR
Coisa certa e especificada pelo gênero, quantidade e qualidade.
NÃO HÁ ato de escolha futura do objeto.
REGRA: Princípio da Acessoriedade ou Gravitação Jurídica.
Principal caneta / Acessório tampinha.
EXCEÇÃO: Por ajuste das partes é possível afastar o princípio da
acessoriedade.
*O credor não pode ser forçado a receber coisa diversa ainda que mais
valiosa. OBS: Consentindo o credor, a modalidade se chamará DAÇÃO
EM PAGAMENTO.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
DAR COISA INCERTA
Art. 243> A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e quantidade.
A coisa não é especificada pela qualidade
3 sacas de açuçar / ?
O OBJETO É DETERMINÁVEL, mas não determinado
INDICA-SE ao menos (indispensáveis) gênero e quantidade (nula)
Pode faltar a qualidade.
>Pressupõe ato de escolha futura do objeto = Concentração
Regras:
Na omissão do contrato: a escolha do objeto é do devedor / que não pode
entregar o objeto de pior qualidade, mas não esta obrigado a entregar o da
melhor > Princípio do meio termo ou da qualidade média.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
FAZER
OUTRA PESSOA PODE realizar a atividade no lugar do devedor OUTRA PESSOA NÃO PODE realizar a atividade no lugar do devedor
FUNGÍVEL É MUITO SIMPLES
OBRIGAÇÃO INFUNGÍVEL/ PERSONALÍSSIMA OU INTUITO PERSONAE: É aquela contratada em razão de determinadas características,
qualidades ou atributos do devedor.
REGRA: o credor NÃO PODE SER FORÇADO a aceitar o adimplemento da prestação por terceiro. SE ACEITAR, não poderá cobrar
indenização proporcional.
A aceitação torna a obrigação fungível
OBS: Se o credor aceitar a substituição em razão de urgência/emergência, poderá cobrar indenização proporcional no futuro.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
NÃO FAZER
É a única espécie negativa existente (OMISSÃO),Consiste em um dever
de abstenção. Ex: exclusividade/não construir.