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OBRIGAÇÕES

FONTES
ESPÉCIES
MODALIDADES
CLÁUSULA PENAL
FONTES DAS OBRIGAÇÕES
O Direito se origina dos fatos = ex facto oritur jus. As fontes do Direito são a lei, a jurisprudência, a
doutrina e os costumes.
No caso das obrigações, quais suas fontes? De onde se originam as obrigações? há muitas
obrigações que interessam a outras áreas jurídicas e que têm por fonte a lei, ex: obrigação de
alimentar os parentes necessitados, assunto de Direito de Família (1.696); obrigação de votar,
assunto de Direito Eleitoral; obrigação de pagar impostos, assunto de Direito Tributário; obrigação
dos homens de prestar serviço militar, etc.
Mas e as obrigações patrimoniais privadas? Como surgem as relações concretas entre particulares
tendo por objeto determinada prestação? São três as fontes segundo o Código Civil, vejamos:
1 – Contratos: esta é a principal e maior fonte de obrigação. Através dos contratos as partes
assumem obrigações (ex: compra e venda, onde o comprador se obriga a pagar o preço e o
vendedor se obriga a entregar a coisa). Contratos (ex: locação, doação, empréstimo, seguro,
transporte, mandato, fiança, etc). O respeito ao contrato e honrar a palavra dada é condição em
qualquer democracia.
Inexiste desenvolvimento nos países que não respeitam contrato por uma questão de segurança
jurídica.
FONTES DAS OBRIGAÇÕES
2 – Atos unilaterais: segundo nosso Código, são os quatro capítulos entre os arts.
854 e 886, com destaque para a promessa de recompensa (ex: perdi meu
cachorro e pago quinhentos reais a quem encontrá-lo, obrigando-me perante
qualquer pessoa que cumpra a tarefa). Não temos aqui um contrato, mas um ato
unilateral gerador de obrigação.
3 – Atos ilícitos: Vide o art. 186 (ex: João bate no carro de Maria e se obriga a
reparar os prejuízos). O estudo dos atos ilícitos deve ser aprofundado na
importante disciplina Responsabilidade Civil (927) em Civil III.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
São três, duas positivas (dar e fazer) e uma negativa (obrigação de não-fazer).
1 – OBRIGAÇÃO DE DAR: conduta humana que tem por objeto uma coisa, subdividindo-se em
três: obrigação de dar coisa certa, obrigação de restituir e obrigação de dar coisa incerta.
1.1 – OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a
entregar ao credor determinado bem móvel ou imóvel, perfeitamente individualizado.
Tal obrigação é regulada pelo Código Civil a partir do art. 233, salvo acordo entre as partes, ou
seja, se as partes não ajustarem de modo diferente, vão prevalecer as disposições legais. Na
autonomia privada, como dito na aula 1, a liberdade das partes é grande, e o Código Civil serve
mais para completar a vontade das partes caso haja omissão no ajuste entre elas. Diz-se por isso
que a maioria das normas de direito privado são supletivas, enquanto a maioria das normas de
direito público são imperativas = obrigatórias.
O que caracteriza a obrigação de dar coisa certa é porque o objeto da prestação é coisa única e
preciosa, ex: a camisa 10 que Pelé usou na Copa, a caneta com a qual o presidente do Supremo
assinou o livro de posse, etc. (235). O devedor obrigado a dar coisa certa não pode dar coisa
diferente, ainda que mais valiosa, salvo acordo com o credor (313 – mais uma norma supletiva).
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
Se o devedor recebe o preço e se recusa a entregar a coisa, o credor não pode tomá-la, resolvendo-se o litígio em
perdas e danos (389). A obrigação não geral direito real ( = sobre a coisa), mas apenas direito pessoal ( = sobre a
conduta). Excepcionalmente, admite-se efeito real caso a coisa continue na posse do devedor (ex: A combina
vender a B o capacete de Ayrton Senna, B paga mas depois A recebe uma oferta melhor e termina vendendo o
capacete a C; B não pode tomar o capacete de C, mas caso estivesse ainda com A poderia fazê-lo através da Justiça;
esta é a interpretação do art. 475 do CC. Então o 389 é a regra e o 475 (execução forçada do contrato, poder não
sobre a conduta mas sobre a coisa) é a exceção.
E se a obrigação não gera direito real, o que vai gerar? Resposta: a tradição para as coisas móveis e o registro para
as coisas imóveis. Tradição e registro são assuntos de Direitos Reais.
Tradição é a entrega efetiva da coisa móvel (1226 e 1267), então quando compro uma geladeira, pago a vista e
aguardo em casa sua chegada, só serei dono da coisa quando recebê-la. Ao contrário, se compro um celular a prazo
e saio com ele da loja, o aparelho já será meu embora não tenha pago o preço (237). Eventual perda/roubo da
geladeira/celular trará prejuízo para o dono, seja ele a loja ou o consumidor, a depender do momento da tradição.
É a confirmação do brocardo romano res perit domino (= a coisa perece para o dono), seja o comprador ou o
vendedor, até a tradição (492). Se o devedor danificar a coisa antes da tradição, terá que indenizar o comprador
por perdas e danos (239).
Por sua vez, o registro é a inscrição da propriedade imobiliária no Cartório de Imóveis, de modo que o dono do
apartamento não é quem mora nele, não é quem pagou o preço ou quem tem as chaves. O dono da coisa imóvel é
aquele cujo nome está registrado no Cartório de Imóveis (1245 e § 1º).
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
1.2 – OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR: é também chamada de obrigação de devolver. Difere da obrigação de dar,
pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição, enquanto na obrigação de restituir a coisa pertence
ao credor, apenas sua posse é que foi transferida ao devedor. Posse e propriedade são conceitos que serão
estudados em Direitos Reais, mas dá para entender que quando se aluga um carro, a locadora continua
sendo proprietária do veículo, é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o
cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado (569, IV).
Na obrigação de restituir a prestação consiste em devolver uma coisa cuja propriedade já era do credor
antes do surgimento da obrigação. Igualmente se eu empresto um carro a meu vizinho, eu continuo
dono/proprietário do carro, apenas a posse é que é transferida, ficando o vizinho com a obrigação de
devolver o veículo após o uso. Locação e empréstimo são exemplos de obrigação de restituir, ficando a
coisa em poder do devedor, mas mantendo o credor direito real de propriedade sobre ela.
Como a coisa é do credor, seu extravio antes da devolução trará prejuízo ao próprio credor (240), enquanto
na obrigação de dar o extravio antes da tradição traz prejuízo ao devedor.
Em ambos os casos, sempre prevalece a máxima res perit domino. Mas é preciso cuidado para evitar
fraudes (238, ex: alugo um carro que depois é furtado, o prejuízo será da loja, por isso é prudente a
locadora sempre fazer seguro). Outro exemplo de obrigação de restituir está no art. 1.233, então se
“achado não é roubado”, também não pode ser apropriado, devendo quem encontrar agir conforme o p.ú.
do mesmo artigo
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
1.3 – OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA: nesta espécie de obrigação a coisa não é única, singular, exclusiva e preciosa como na
obrigação de dar coisa certa, mas sim é uma coisa genérica determinável pelo gênero e pela quantidade (243). Ao invés de uma coisa
determinada/certa, temos aqui uma coisa determinável/incerta (ex: cem sacos de café; dez cabeças de gado, um carro popular, etc).
Tal coisa incerta, indicada apenas pelo gênero e pela quantidade no início da relação obrigacional, vem a se tornar determinada por
escolha no momento do pagamento. Ressalto que coisa “incerta” não é “qualquer coisa”, mas coisa sujeita a determinação futura.
Então se João deve cem laranjas a José, estas frutas precisam ser escolhidas no momento do pagamento para serem entregues ao
credor.
Esta escolha chama-se juridicamente de concentração: é o processo de escolha da coisa devida, de média qualidade, feita via de
regra pelo devedor (244). A concentração implica também em separação, pesagem, medição, contagem e expedição da coisa,
conforme o caso. As partes podem combinar que a escolha será feita pelo credor, ou por um terceiro, tratando-se este artigo 244 de
mais uma norma supletiva, que apenas completa a vontade das partes em caso de omissão no contrato entre elas.
As normas supletivas, ao contrário das imperativas, não são obrigatórias tendo em vista a autonomia privada no Direito Civil, onde
predomina a liberdade do cidadão em fazer negócios.
Após a concentração a coisa incerta se torna certa (245). Antes da concentração a coisa devida não se perde pois genus nunquam
perit (o gênero nunca perece). Se João deve cem laranjas a José não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as laranjas se
estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a plantação de João se perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda
(246).
Todavia, após a concentração, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no armazém) a obrigação se extingue, voltando as partes ao
estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos (arts 234, 389, 402). Pela importância da
concentração, o credor deve ser cientificado quando o devedor for realizá-la, até para que o credor fiscalize a qualidade média da
coisa a ser escolhida.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
2 – OBRIGAÇÃO DE FAZER: conduta humana que tem por objeto um serviço.
Conceito: espécie de obrigação positiva pela qual o devedor se compromete a
praticar algum serviço lícito em benefício do credor.
Enquanto na obrigação de dar o objeto da prestação é uma coisa, na obrigação de
fazer o objeto da prestação é um serviço (ex: professor ministrar uma aula,
advogado redigir uma petição, cantor fazer um show, pedreiro construir um muro,
médico realizar uma consulta, etc.). E se eu quero comprar um quadro e
encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Se o quadro já
estiver pronto a obrigação será de dar, se ainda for confeccionar o quadro a
obrigação será de fazer.
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
A OBRIGAÇÃO DE FAZER TEM DUAS ESPÉCIES:
2.1 – FUNGÍVEL: quando o serviço puder ser prestado por uma terceira pessoa, diferente do devedor, ou seja, quando o devedor for
facilmente substituível, sem prejuízo para o credor, a obrigação é fungível (ex: pedreiro, eletricista, mecânico, caso não possam fazer o
serviço e mandem um substituto, a princípio para o credor não há problema). As obrigações de dar são sempre fungíveis pois visam a
uma coisa, não importa quem seja o devedor (304). Se Neymar lhe deve mil reais, você aceitará que ele mande o dinheiro por um amigo
(obrigação de dar). Mas se Neymar se obrigou a jogar futebol no campinho da sua casa, você não aceitará que ele mande esse amigo no
lugar, que acha?
2.2 – INFUNGÍVEL: ao credor só interessa que o devedor, pelas suas qualidades pessoais, faça o serviço (ex: médico e advogado são
profissionais de estrita confiança dos pacientes e clientes). Chama-se esta espécie de obrigação de personalíssima ou intuitu personae
( = em razão da pessoa). São as circunstâncias do caso e a vontade do credor que tornarão a obrigação de fazer fungível ou não. Em geral
quanto mais qualificada a profissão, mais infungível o serviço.
Em caso de inexecução da obrigação de fazer o credor só pode exigir perdas e danos (247). Viola a dignidade humana constranger o
devedor a fazer o serviço por ordem judicial, de modo que na obrigação de fazer não se pode exigir a execução forçada como na
obrigação de dar coisa certa (art. 475 – sublinhem exigir-lhe o cumprimento). Imaginem um cantor se recusar a subir no palco, não é
razoável o juiz mandar a polícia para forçá-lo a trabalhar “manu militari”, o coerente é o credor do show exigir perdas e danos (389).
Ninguém pode ser diretamente coagido a praticar o ato a que se obrigara. Assim, a execução “in natura” do art. 475 do CC deve ser
substituída por perdas e danos quando for impossível (ex: a coisa devida não está mais com o devedor) ou quando causar
constrangimento físico ao devedor (ex: obrigação de fazer).
Se ocorrer recusa do devedor de executar obrigação fungível, o credor pode pedir a um terceiro para fazer o serviço, às custas do
devedor (ex: derrubar um muro, art 249). Havendo urgência, o credor pode agir sem ordem judicial, num autêntico caso de realização de
Justiça pelas próprias mãos (pú do 249, ex: consertar parede de casa vizinha contígua ameaçando cair).
Mas se tal recusa decorre de um caso fortuito (ex: o cantor gripou e perdeu a voz), extingue-se a obrigação (248)
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
3 – OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER: trata-se de uma obrigação negativa cujo objeto da prestação é uma omissão ou abstenção. Os romanos
chamavam de obrigação ad non faciendum.
Conceito: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a se abster de fazer certo ato, que poderia livremente praticar, se não tivesse
se obrigado em benefício do credor. O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster de algum ato em benefício do credor. Exemplos: o
engenheiro químico que se obriga a não revelar a fórmula do perfume da fábrica onde trabalha; o condômino que se obriga a não criar
cachorro no apartamento onde reside; o professor que se obriga a não dar aula em outra faculdade concorrente; o jogador de futebol que se
obriga a não jogar contra o time que o revelou, etc. Pode haver limite temporal para a obrigação (1.147).
Como na autonomia privada a liberdade é grande, as obrigações negativas podem ser bem variadas, mas obrigações imorais e anti-sociais, ou
que sacrifiquem a liberdade das pessoas, são proibidas, ex: obrigação de não se casar, de não trabalhar, de não ter religião, etc. Tudo é uma
questão de bom senso, ou de razoabilidade. Complicada essa expressão “razoável”, é uma expressão muito ligada ao Direito, mas o que é
razoável?
A violação da obrigação negativa se resolve em perdas e danos, então se o engenheiro divulgar a fórmula do perfume terá que indenizar a
fábrica. Mas se for viável, o credor poderá exigir o desfazimento pelo devedor (ex: José se obriga a não subir o muro para não tirar a
ventilação do seu vizinho João, caso José aumente o muro, João poderá exigir a demolição, 251). No caso do perfume não há como desfazer a
revelação do segredo, então uma indenização por perdas e danos é a solução (389).
Neste exemplo do muro, se José se mudar, o novo morador terá que respeitar a obrigação? Não, pois quem celebrou o contrato não foi ele.
Mas se João, ao invés de um simples contrato de obrigação negativa, fizer com José uma servidão predial, todos os futuros proprietários da
casa não poderão aumentar o muro (1.378). Servidão predial é assunto de Civil 5, e por se tratar de um direito real, já se percebe sua maior
força em relação a um direito obrigacional. Enquanto uma obrigação vincula pessoas (João a José), uma servidão predial vincula uma pessoa a
uma coisa, então a segurança para o credor é bem maior.
Ainda tratando do exemplo do muro, e se a Prefeitura obrigar José a aumentar o muro por uma questão de estética ou urbanismo? José terá
que obedecer e João nada poderá fazer, pois o Direito Público predomina sobre o Direito Privado (art 250 – é o chamado “Fato do Príncipe”,
em alusão aos monarcas que governavam os países na Europa medieval).
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
DAR COISA CERTA
Art. 233 CC> A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela,
embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das
circunstâncias do caso.
DAR PODE PRESSUPOR ENTREGAR OU RESTITUIR
Coisa certa e especificada pelo gênero, quantidade e qualidade.
NÃO HÁ ato de escolha futura do objeto.
REGRA: Princípio da Acessoriedade ou Gravitação Jurídica.
Principal caneta / Acessório tampinha.
EXCEÇÃO: Por ajuste das partes é possível afastar o princípio da
acessoriedade.
*O credor não pode ser forçado a receber coisa diversa ainda que mais
valiosa. OBS: Consentindo o credor, a modalidade se chamará DAÇÃO
EM PAGAMENTO.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
DAR COISA INCERTA
Art. 243> A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e quantidade.
A coisa não é especificada pela qualidade
3 sacas de açuçar / ?
O OBJETO É DETERMINÁVEL, mas não determinado
INDICA-SE ao menos (indispensáveis) gênero e quantidade (nula)
Pode faltar a qualidade.
>Pressupõe ato de escolha futura do objeto = Concentração
Regras:
Na omissão do contrato: a escolha do objeto é do devedor / que não pode
entregar o objeto de pior qualidade, mas não esta obrigado a entregar o da
melhor > Princípio do meio termo ou da qualidade média.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
FAZER

A PRESTAÇÃO CONSISTE EM UM ATO ou UM SERVIÇO .


Atividade física / material ou intelectual, artística ou científica.
Predominantemente Física: serviço de mecânica / Construir um muro =
serviço de construção
Predominantemente intelectual: Contratação de criação de um jingle
Predominantemente artística: Contratação de animadores de festa
Predominantemente científica: Contratação de empresa pesquisadora
para desenvolvimento de vacina.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
FAZER
Consiste em uma atividade que não seja a entrega de um objeto. É uma obrigação
positiva que pressupõe dar ou fazer, ou seja, uma ação, que pode ser física ou
intelectual.
Ob. De fazer é Fungível ou infungível? (substituível ou insubstituível)
Quanto á
Pessoa do devedor

OUTRA PESSOA PODE realizar a atividade no lugar do devedor OUTRA PESSOA NÃO PODE realizar a atividade no lugar do devedor
FUNGÍVEL É MUITO SIMPLES

OBRIGAÇÃO INFUNGÍVEL/ PERSONALÍSSIMA OU INTUITO PERSONAE: É aquela contratada em razão de determinadas características,
qualidades ou atributos do devedor.
REGRA: o credor NÃO PODE SER FORÇADO a aceitar o adimplemento da prestação por terceiro. SE ACEITAR, não poderá cobrar
indenização proporcional.
A aceitação torna a obrigação fungível
OBS: Se o credor aceitar a substituição em razão de urgência/emergência, poderá cobrar indenização proporcional no futuro.
OBRIGAÇÕES EM ESPÉCIE
NÃO FAZER
É a única espécie negativa existente (OMISSÃO),Consiste em um dever
de abstenção. Ex: exclusividade/não construir.

OBRIGAÇÃO REVERSÍVEL ou IRREVERSÍVEL?

Construiu? Demolição! Exclusividade de entrevista


É POSSÍVEL o desfazimento NÃO É POSSÍVEL o desfazimento
+ perdas e danos + perdas e danos

Perdas e danos no D. Civil pressupõe subjetividade, regra natural da


responsabilidade civil, que é a verificação da culpa, é preciso
comprovar que o inadimplemento foi culposo.
CLASSIFICAÇÃO
OU
MODALIDADE
DE OBRIGAÇÕES
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
São várias modalidades, mas que sempre irão corresponder a uma das três espécies de dar, fazer ou não-fazer. A primeira modalidade é:
1 – OBRIGAÇÃO NATURAL: a obrigação civil produz todos os efeitos jurídicos, mas a obrigação natural não, pois corresponde a uma obrigação
moral. Há autores que a chamam de obrigação degenerada. São exemplos: obrigação de dar gorjeta, obrigação de pagar dívida prescrita (205),
obrigação de pagar dívida de jogo (814), etc.
A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só vai pagar se quiser, bem diferente da obrigação civil. Vocês sabem que se
uma dívida não for paga no vencimento o credor se arma da pretensão de executar, e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial.
Mas tratando-se de obrigação natural, o credor não terá a pretensão para executar o devedor e tomar seus bens (189). A dívida natural existe,
mas não pode ser judicialmente cobrada, não podendo o credor recorrer à Justiça.
CONCEITO: obrigação natural é aquela a cuja execução não pode o devedor ser constrangido, mas cujo cumprimento voluntário é pagamento
verdadeiro.
Por que a obrigação natural interessa ao Direito se corresponde a uma obrigação moral? Porque a obrigação natural, mesmo sendo moral, possui
um efeito jurídico: soluti retentio ou retenção do pagamento.
Mesmo tratando-se de uma obrigação moral, o pagamento de obrigação natural é pagamento verdadeiro e o credor pode retê-lo. Então se João
paga dívida prescrita e depois se arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o credor tem direito à retenção do pagamento (882). Como
diz a doutrina, “a obrigação natural não se afirma senão quando morre”, ou seja, é com o pagamento e sua extinção que a obrigação natural vai
existir para o direito, ensejando ao credor a soluti retentio.
Mas não se confunda obrigação natural com obrigação inexistente: se João paga dívida inexistente o credor não pode ficar com o dinheiro, e João
terá direito à repetitio indebiti ( = devolução do indébito; em direito “repetir” significa “devolver”, e “indébito” é o que não é devido). Então
quem efetua pagamento indevido pode exigir a devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que outrem não enriqueça sem motivo. O
credor de obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem recebe dívida inexistente não (ex: pago a meu credor João da Silva, mas por
engano faço o depósito na conta de outro João da Silva, que terá que devolver o dinheiro, 876).
Na obrigação natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio.
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
2 – OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA
A obrigação simples só possui um objeto, mas a obrigação alternativa tem por objeto duas ou mais prestações, mas apenas
uma será cumprida como pagamento. É muito comum na prática, até para facilitar e estimular os negócios (ex: vendo minha
casa por cem mil ou troco por terreno na praia; outro ex: um artista bate no seu carro e se compromete a fazer um show na
sua casa ou a pagar o conserto; mais um ex: o comerciante que se obriga com outro a não lhe fazer concorrência, ou então a
lhe pagar certa quantia; exemplo da lei: art. 1701, outro exemplo da lei, art 442).
Características da obrigação alternativa:
a) nasce com objeto composto, ou seja, duas ou mais possibilidades de prestação;
b) o adimplemento de qualquer das prestações resulta no cumprimento da obrigação, o que aumenta a chance de satisfação
do credor, sem ter que se partir para as perdas e danos, caso qualquer das prestações venha a perecer. Como o credor
aceitou mais de uma prestação como pagamento, qualquer delas vai satisfazer o credor (253 e 256); a exoneração do
devedor se dá mediante a realização de uma única prestação.
c) o devedor pode optar por qualquer das prestações, cabendo o direito de escolha, de regra, ao próprio devedor (252); mas
o contrato pode prever que a escolha será feita pelo credor, por um terceiro, ou por sorteio (817); essa escolha chama-se de
concentração, semelhante a da obrigação de dar coisa incerta; ressalto todavia que não se confunde a obrigação alternativa
com a de dar coisa incerta; nesta o objeto é único, embora indeterminado até a concentração; já na obrigação alternativa há
pelo menos dois objetos;
d) se o devedor, ignorando que a obrigação era alternativa, fizer o pagamento, pode repeti-lo para exercer a opção. É um
caso raro de retratação da concentração, e cabe ao devedor a prova de que não sabia da possibilidade de escolha (877).
e) nas obrigações periódicas admite-se o jus variandi, ou seja, pode-se mudar a opção a cada período (§ 2o do art. 252). A
doutrina critica essa mudança de prestação porque gera instabilidade para o credor.
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
3 – OBRIGAÇÃO FACULTATIVA
É parecida, mas não se confunde com a obrigação alternativa. É muito rara, tanto que nosso Código não reservou para ela um capítulo
próprio. Sua fonte está mais na lei do que no contrato, conforme exemplos que veremos abaixo. Ou seja, há casos específicos na lei que
contemplam obrigações facultativas, porque as partes dificilmente contratam prevendo uma obrigação facultativa.
Conceito: é aquela cujo objeto da prestação é único, mas confere ao devedor o direito excepcional de substitui-lo por outro.
Exemplo: art. 1234, então quem encontra coisa perdida deve restitui-la ao dono, e o dono fica obrigado a recompensar quem encontrou;
mas o dono pode, ao invés de pagar a recompensa, abandonar a coisa, e aí quem encontrou poderá ficar com ela; pagar a recompensa é a
prestação principal do devedor, já abandonar a coisa é prestação acessória do seu dono.
O abandono da coisa não é obrigação, mas faculdade do seu dono. Ao invés de pagar a recompensa, tem o devedor a faculdade de dar a
coisa ao credor.
Outro exemplo: art. 1382, supomhamos que da fazenda A sai um aqueduto para a Fazenda B, levando água, com a obrigação, ajustada em
contrato, de que o dono da Fazenda A deverá conservar a obra. Pois bem, ao invés de manter o aqueduto, tem o dono da Fazenda A, a
obrigação facultativa de abandonar suas terras para o dono da Fazenda B. Ao invés de conservar o aqueduto, o devedor tem a faculdade de
abandonar suas terras, disponibilizando-as ao vizinho.
Ao nascer a obrigação o objeto é único, mas para facilitar o pagamento, o devedor tem a excepcional faculdade de se liberar mediante
prestação diferente. É vantajosa assim para o devedor.
Na obrigação facultativa, ao contrário da alternativa, o credor nunca tem a opção e só pode exigir a prestação principal, pois a prestação
devida é única e só o devedor pode optar pela prestação facultativa.
Ressalto que a impossibilidade de cumprimento da prestação principal extingue a obrigação, resolvendo-se em perdas e danos, não se
aplicando o art. 253, pois, como já dito, a prestação acessória não é obrigação, mas faculdade do devedor. Então quem encontrar coisa
perdida e não receber a recompensa, não poderá exigir o abandono da coisa para apropriá-la, mas sim deverá processar o devedor pelo
valor da recompensa (art 389 do CC).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
Não confundir obrigação natural com obrigação inexistente: se João paga dívida inexistente o credor não pode
ficar com o dinheiro, e João terá direito à repetitio indebiti ( = devolução do indébito; em direito “repetir”
significa “devolver”, e “indébito” é o que não é devido).
Então quem efetua pagamento indevido pode exigir a devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que
outrem não enriqueça sem motivo.
O credor de obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem recebe dívida inexistente não (ex: pago a
meu credor João da Silva, mas por engano faço o depósito na conta de outro João da Silva, que terá que
devolver o dinheiro, 876). Na obrigação natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti
retentio. Falaremos mais de enriquecimento sem causa e pagamento indevido em Civil III, junto com os Atos
Unilaterais.
Em suma, a obrigação natural não se cumpre por bondade ou liberalidade ou doação, mas por um dever moral,
e a moral influencia o Direito, tanto que a lei lhe atribui o efeito jurídico da soluti retentio.
Na doação, o donatário deve ser grato ao doador, então se João doa um carro a Maria, Maria lhe deve gratidão,
não podendo agredi-lo ou ofendê-lo sob pena de perder a doação (557). Mas se por trás dessa doação existe
uma obrigação natural, tal doação não se revoga por ingratidão (564, III; ex: João deve dinheiro a Maria mas a
dívida prescreveu, porém mesmo assim João resolveu pagar e doou uma jóia a Maria; pois bem, caso Maria
venha no futuro a agredir João, tal doação não se extinguirá já que não foi feita por liberalidade, mas sim em
cumprimento de obrigação natural).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
4 – OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL E INDIVISÍVEL
Em geral, numa obrigação existe apenas um credor e um devedor, mas caso existam na mesma relação
vários devedores ou vários credores, o razoável é que cada devedor pague apenas parte da dívida, e que
cada credor tenha direito apenas a parte da prestação. Essa regra sofre exceção nos casos de
indivisibilidade, que veremos hoje, e de solidariedade, na próxima aula. Tanto na indivisibilidade como na
solidariedade, embora concorram várias pessoas, cada credor pode reclamar a prestação por inteiro, e
cada devedor responde também pelo todo (259 e 264). Comecemos pela divisibilidade e indivisibilidade:
Obrigação divisível é aquela cuja prestação pode ser parcialmente cumprida sem prejuízo de sua
qualidade e de seu valor (ex: uma dívida de cem reais pode ser paga em duas metades; um curso de
Direito Civil pode ser ministrado em várias aulas). Mas a depender do acordo entre as partes, o devedor
deve pagar de uma vez só, mesmo que a prestação seja divisível (314).
Obrigação indivisível é aquelela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro (ex: quem deve um
cavalo não pode dar o animal em partes, 258; mas se tal cavalo perecer e a dívida se converter em
pecúnia, deixa de ser indivisível, 263).
A indivisibilidade vai despertar interesse prático quando houver mais de um credor ou mais de um
devedor.
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
– PLURALIDADE DE DEVEDORES: imaginem que um pai morre e deixa dívidas, seus filhos irão pagar estas
dívidas dentro dos limites da herança recebida do pai (1792, 1997). Então o credor do pai terá mais de um filho
para cobrar esta dívida. Se a prestação for divisível, cada filho responde pela parte correspondente a sua
herança, e a insolvência de um deles não aumentará a quota dos demais (257). Mas se a prestação for
indivisível, cada filho responde pela dívida toda, e aquele que pagar ao credor, cobrará o quinhão
correspondente de cada irmão (259 e pú – veremos sub-rogação em breve). A relação obrigacional antes era do
credor com os filhos do pai morto, agora é do irmão pagador contra os outros irmãos.
E NA PLURALIDADE FOR DE CREDORES? Sendo divisível a prestação, cada credor só pode exigir sua parte
(257). Mas sendo indivisível aplica-se o 260, pelo que o devedor deverá pagar a todos os credores juntos, para
que um não engane os outros. Ou então o devedor deverá pagar àquele credor que prestar uma garantia ( =
caução) de que repassará o pagamento aos outros (ex: João deve um carro a três pessoas, mas não encontra os
três para pagar, assim, para se livrar logo daquela obrigação, paga ao credor que ofereceu uma fiança; se este
credor não repassar o carro aos demais credores, o fiador poderá ser processado pelos prejudicados. Se o
devedor pagar sem as cautelas do art. 260, terá que pagar de novo àquele credor que, eventualmente, venha a
ser lesado pelo credor que recebeu todo o pagamento, afinal quem paga mal paga duas vezes.
Diz-se por isso que o pagamento integral da dívida a um só dos vários credores pode não desobrigar o devedor
com relação aos demais concredores. Mas pagando o devedor corretamente, caberá aos credores buscar sua
parte com o credor que recebeu tudo (261).
Tratando-se de coisa indivisível (ex: carro, barco, casa), poderão os credores usar a coisa em condomínio, ou
então vendê-la e dividir o dinheiro (1320).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
ESPÉCIES DE INDIVISIBILIDADE:
a) FÍSICA: a prestação é indivisível pela sua própria natureza, pois sua divisão alteraria sua
substância ou prejudicaria seu uso (ex: obrigação de dar um cavalo, obrigação de restituir o
imóvel locado, etc);
b) ECONÔMICA: o objeto da prestação fisicamente poderia ser dividido, mas perderia valor
(ex: obrigação de dar um diamante, art. 87);
c) LEGAL: é a lei que proíbe a divisão (ex: a lei 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do
solo urbano, determina no art. 4º, II, que os lotes nos loteamentos terão no mínimo 125
metros quadrados, então um lote deste tamanho não pode ser dividido em dois);
d) CONVENCIONAL: é o acordo entre as partes que torna a prestação indivisível (art. 88, ex:
dois devedores se obrigam a pagar juntos certa quantia em dinheiro, o que vai favorecer o
credor que poderá exigir tudo de qualquer deles, arts 258 in fine, e 259).
Percebe-se que qualquer das três espécies de obrigação (dar, fazer e não-fazer) pode ser
divisível ou indivisível (ex: dar dinheiro é divisível, mas dar um cavalo é indivisível; pintar um
quadro é obrigação de fazer indivisível, mas plantar cem árvores é divisível; não revelar segredo
é indivisível, mas não pescar e não caçar na fazenda do vizinho é divisível).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
5 – OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
Como visto na aula passada, quando numa obrigação indivisível concorrem vários devedores, todos estão obrigados pela dívida toda, como se
existisse uma solidariedade entre eles (259). Assim, se várias pessoas devem coisa indivisível, a obrigação é também solidária. Mas pode haver
obrigação solidária mesmo de coisa divisível devida por várias pessoas.
Conceito legal: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou com
responsabilidade pela dívida toda, como se fosse o único (264).
As obrigações solidárias e indivisíveis têm consequências práticas semelhantes, mas são obrigações diferentes, vejamos:
– a obrigação indivisível é impossível pagar por partes, pois resulta da natureza da prestação (ex: cavalo, lote urbano, diamante, barco, fazer um
quadro, etc). Já a obrigação solidária até poderia ser paga por partes, mas por força de contrato não pode, tratando-se de uma garantia para
favorecer o credor. Na solidariedade cada devedor deve tudo, na indivisibilidade cada devedor só deve uma parte, mas tem que pagar tudo diante
da natureza da prestação. Pelas suas características a solidariedade não se presume, decorre de contrato ou da lei (265). Exemplo de solidariedade
decorrente de lei é a dona de casa que responde pelos danos causados a terceiros por sua empregada doméstica (932, III, 942 e pú).
– pode haver obrigação solidária de coisa divisível (ex: dinheiro), de modo que todos os devedores vão responder integralmente pela dívida,
mesmo sendo coisa divisível. Tal solidariedade nas coisas divisíveis serve para reforçar o vínculo e facilitar a cobrança pelo credor.
– o devedor a vários credores de coisa indivisível precisa pagar a todos os credores juntos (260, I), mas o devedor a vários credores solidários se
desobriga pagando a qualquer deles (269).
– se a coisa devida em obrigação solidária perece, converte-se em perdas e danos, torna-se divisível, mas permanece a solidariedade (271 e 279).
Se a coisa devida em obrigação indivisível perece, converte-se em perdas e danos e os co-devedores deixam de ser responsáveis pelo todo (263).
– o devedor de obrigação solidária que paga sozinho a dívida ao credor, vai cobrar dos demais co-devedores a quota de cada um, sem
solidariedade que não se presume (265 e 283). Então A, B e C devem solidariamente dinheiro a D. Se A pagar a dívida toda ao credor D, A vai
cobrar a quota de B e C sem solidariedade entre B e C.
Elementos da obrigação solidária: a) multiplicidade de credores ou de devedores, ou ainda, de uns e de outros; b) unidade de prestação; c)
corresponsabilidade dos interessados.
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5.1 – SOLIDARIEDADE ATIVA
Configura-se pela presença de vários credores, chamados concredores, todos com o mesmo
direito de exigir integralmente a dívida ao devedor comum (267).
A solidariedade ativa é rara porque na sua principal característica está sua principal
inconveniência (269). Assim, o devedor não precisa pagar a todos os concredores juntos, como
na obrigação indivisível (260, I). Pagando apenas a um dos credores solidários, mesmo sem
autorização dos demais, o devedor se desobriga, e se este credor for desonesto ou
incompetente, e reter ou perder a quota dos demais, os concredores nada poderão reclamar do
devedor, terão sim que reclamar daquele que embolsou o pagamento.
Mas caso algum dos concredores já esteja executando judicialmente o devedor, o pagamento
deverá ser feito ao mesmo (268), o que se chama de prevenção, ficando tal credor prevento para
receber o pagamento com prioridade em nome de todos os concredores.
Outro inconveniente é que se um dos credores perdoar a dívida, o devedor fica liberado, e os
demais concredores terão que exigir sua parte daquele que perdoou (272).
Como se vê, na solidariedade ativa cada credor fica sujeito à honestidade dos outros
concredores. Por estes inconvenientes a solidariedade ativa é rara, afinal não interessa ao credor.
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5.2 – SOLIDARIEDADE PASSSIVA
Esta é comum e importante, devendo ser estimulada já que protege o crédito, reforça o vínculo, facilita a cobrança e aumenta a chance de pagamento,
pois o credor terá várias pessoas para cobrar a dívida toda.
E quanto mais se protege o credor, mais as pessoas emprestam dinheiro, e com mais dinheiro os consumidores se equipam, as lojas vendem, as fábricas
produzem, os patrões lucram, geram empregos e o governo arrecada tributos. Como se sabe: proteger o crédito é estimular o desenvolvimento
socioeconômico. Entendo até que, por isso mesmo, para proteger o crédito, a solidariedade passiva, não a ativa, deveria ser presumida. Violando o art.
265, o art. 829 acertadamente faz presumir a solidariedade passiva conforme será visto próximo semestre em fiança.
Conceito: ocorre a solidariedade passiva quando mais de um devedor, chamado coobrigado, com seu patrimônio (391), se obriga ao pagamento da
dívida toda (275).
Assim, havendo três devedores solidários, o credor terá três pessoas para processar e exigir pagamento integral, mesmo que a obrigação seja divisível. O
credor escolhe se quer processar um ou todos os devedores (pú do 275). Aquele devedor que pagar integralmente a dívida, terá direito de regresso
contra os demais coobrigados (283).
Na solidariedade passiva não se aplica o benefício de divisão e nem o benefício de ordem. O que é isso?
Pelo benefício de divisão o devedor pode exigir a citação de todos os coobrigados no processo para juntos se defenderem. Isto é ruim para o credor
porque atrasa o processo, por isso a solidariedade passiva não concede tal benefício aos codevedores.
Pelo benefício de ordem, o coobrigado tem o direito de ver executado primeiro os bens do devedor principal (ex: fiança, 827). Mas o fiador pode
renunciar ao benefício de ordem e se equiparar ao devedor solidário (828, II). O avalista nunca tem benefício de ordem, sempre é devedor solidário, por
isso se algum amigo lhe pedir para ser avalista, recomendo não aceitar. Difícil dizer não a um amigo, mas já vi inúmeros casos em que se perde o
dinheiro e a amizade. Se o amigo insistir, seja então fiador com benefício de ordem, mas jamais fiador-solidário ou avalista.
Fiança e aval são exemplos de solidariedade passiva decorrente de acordo de vontades. Então a Universidade quando financia o curso de um estudante,
geralmente exige um fiador ou um avalista (897), de modo que se o devedor não pagar a dívida no vencimento, o credor irá processar o devedor, o
fiador ou o avalista. Fiança será estudada em Civil 3 e aval em Direito Empresarial.
Exemplos de solidariedade passiva decorrente da lei estão na responsabilidade civil (932), no comodato (585) e na gestão de negócios (pú do 867).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
6 – OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS
Líquida é a obrigação certa e determinada, ou seja, certa quanto à sua existência e determinada quanto à
sua qualidade, quantidade, natureza e objeto. Em outras palavras, obrigação líquida é aquele cuja existência
é certa e cujo valor é conhecido.
Vocês sabem que se uma dívida não for paga no vencimento o credor se arma da pretensão de cobrar o
pagamento e a responsabilidade do devedor é patrimonial (art 391, CC). Esta pretensão consiste no poder
de executar o devedor para tomar seus bens através do juiz e satisfazer o credor. Pois bem, a ação de
execução só é possível quando a obrigação é líquida.
Sendo a obrigação ilíquida e não havendo acordo entre as partes, precisa ser apurada pelo Juiz em processo
de liquidação para poder ser executada, afinal não se pode executar obrigação ilíquida (947).
Inclusive importante que o juiz sempre profira sentenças líquidas para evitar mais demoras ao credor.
Exemplo: o juiz condena João a indenizar Maria porque João matou o pai dela, devendo o juiz dizer logo o
valor da indenização, e não deixar isso para uma fase posterior do processo, 946. E de quanto é essa
indenização por morte? A lei responde no art. 948. Como se vê, até a vida tem preço no Direito Civil… Assim,
um crime interessa ao Direito Penal para a punição com a prisão do infrator, e também interessa ao Direito
Civil para a punição ao bolso do infrator. A punição civil é mais rápida e não depende de delegado ou de
promotor, dispensando parte do burocrático aparelho estatal. Cabe a vítima com seu advogado pedir
indenização na Justiça Civil ao infrator. Mas se o infrator não tiver bens, só haverá punição penal, pois
liberdade todos têm para perder. Mais detalhes na importante disciplina Responsabilidade Civil.
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
7 – OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA
Principal é a obrigação autônoma, ou seja, tem vida própria, já a obrigação acessória depende da principal,
agregando-se a ela. Então uma compra e venda, um empréstimo e uma locação são contratos que geram
obrigações autônomas. Por outro lado, a fiança, a hipoteca e o penhor produzem obrigações acessórias que
vão se agregar a uma obrigação principal, por exemplo, como a locação.
Então quem aluga uma casa celebra um contrato principal de locação e pode exigir um contrato acessório de
fiança para garantir o pagamento do aluguel na hipótese de inadimplência do inquilino. A locação existe sem
a fiança, mas o contrário não. Inclusive, sendo nula a locação, nula será a fiança, mas o inverso não (art. 184,
2ª parte).
8 – OBRIGAÇÃO CUMULATIVA OU CONJUNTIVA
Caracteriza-se pela pluralidade de prestações (ex: troco uma casa por um carro e uma lancha). Não se trata
de obrigação alternativa (carro OU lancha), mas obrigação cumulativa (carro E lancha).
Na obrigação cumulativa todas as prestações interessam ao credor, na alternativa apenas uma delas. Na
cumulativa, muitas prestações estão na obrigação e muitas no pagamento.
Já na alternativa, muitas prestações estão na obrigação e apenas uma no pagamento. Exemplo legal de
obrigação cumulativa é o contrato de empreitada onde o engenheiro pode fazer o serviço E dar os materiais
para a construção de uma casa (610).
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
9 – OBRIGAÇÃO PURA
É a obrigação simples, ou seja, é toda aquela cuja eficácia não está subordinada a qualquer das três modalidades dos negócios
jurídicos: a condição, o termo (ou prazo) e o encargo (ou modo, ou ônus). Estas modalidades vocês conhecem de Civil 1, vamos
exemplificar:
– OBRIGAÇÃO CONDICIONAL: subordina a obrigação a evento futuro e incerto (ex: o alfaiate compra tecido da fábrica e combina só
pagar o preço se vender as roupas; vender as roupas não é uma certeza, pode ou não acontecer, 121, 876) Condições absurdas são
proibidas (ex: alugo minha casa a você, mas você não pode entrar nela, isso é o que a lei chama de “privar de todo efeito o negócio
jurídico”, no art. 122).
– OBRIGAÇÃO A TERMO: subordina a obrigação a evento futuro e certo (ex: pagarei o tecido em trinta dias; trinta dias são o prazo e
o prazo é um evento certo, só depende do inexorável passar do tempo, 132).
– OBRIGAÇÃO MODAL: o modo (ou encargo, ou ônus) é imposto ao beneficiário de uma liberalidade como uma doação ou herança.
Então pode-se doar uma fazenda com o ônus de construir uma escola para as crianças carentes da região (553, 136). Ou pode-se
deixar uma herança para um sobrinho com o ônus de mandar rezar mensalmente uma missa para o falecido. O encargo precisa ser
pequeno para não caracterizar uma contraprestação (ex: dou um carro a meu vizinho com o ônus de levar meus filhos e eu para a
escola e o trabalho diariamente; ora, isso não é doação, mas prestação de serviço; pode ser feito, não é ilegal, apenas não será
doação). Se o encargo for de interesse público (ex: construir uma escola), o promotor de Justiça fiscalizará sua execução (pú do 553,
este é um dos poucos casos de participação do Ministério Público no direito patrimonial, afinal o Ministério é público e o Direito Civil
é privado).
Caso o encargo seja exagerado (ex: mandar rezar missa todo dia para o falecido) o juiz pode interferir na obrigação privada para
modificá-la.
Então obrigação simples é aquela que não for condicional, a termo ou modal.
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10 - OBRIGAÇÃO REAL
Trata-se de uma obrigação propter rem ( = em razão da coisa). Não decorre de um contrato, mas da lei pela propriedade sobre um bem. Quem adquire certo
bem, adquire automaticamente essa obrigação real, decorrente da coisa (real = res = coisa). O adquirente do bem vai se tornar devedor, mesmo sem querer,
em decorrência de sua condição de dono desse bem.
Exemplo: 1.345, a lei determina que quem compra um apartamento com dívida de condomínio assume esta obrigação, embora tenha sido o dono anterior
que não pagou a taxa. A obrigação está vinculada à coisa, por isso chama-se obrigação real (res = coisa). Esta vinculação da obrigação à coisa, qualquer que
seja seu dono, deriva da sequela, que é uma característica dos Direitos Reais. Sequela é uma palavra que se origina do verbo seguir, então a obrigação segue
a coisa, não importa quem seja seu dono. O proprietário da coisa assume a obrigação automaticamente, apenas pelo fato de ter sucedido o dono-devedor
anterior na propriedade da coisa.
É também chamada de obrigação mista porque apresenta características de Direito das Coisas ( = Direito Real) e de Direito das Obrigações ( = Direito Pessoal).
O Direito Real e o Direito das Obrigações formam o Direito Patrimonial Privado (vide aula 1), sendo natural que algumas vezes eles se interpenetrem.
Conceito: obrigação real corresponde ao vínculo jurídico que se origina da lei com característica dos Direitos Reais e transmissão automática ao novo
proprietário da coisa.
Observação sobre o conceito: a OR se origina apenas da lei, e não do contrato. Os contratos podem ser inventados pelas partes, são numerus apertus (425),
mas os direitos reais não, só a lei pode criá-los, sendo numerus clausus (1225), por isso as obrigações reais originam-se sempre da lei. Originando-se da lei, a
OR é irrecusável, não podendo o devedor deixar de assumi-la.
Observação 2: o devedor da obrigação real varia caso a coisa mude de dono, então se a coisa é vendida, o novo dono se tornará o devedor. Quem se torna
titular do direito real ( = propriedade), torna-se devedor de eventual obrigação real sobre o bem adquirido.
Mais exemplos de OR: art. 1297 (quem compra uma fazenda tem a obrigação de fazer a cerca, embora a cerca tenha caído na época do dono anterior), art.
1383 (quem compra imóvel com servidão predial tem a obrigação de manter a servidão, por isso observem sempre o registro do imóvel antes de fazer a
compra, para não comprar barato um terreno e depois, por exemplo, descobrir que nele não se pode construir para não tirar a vista do edifício de trás; este
exemplo corresponde a uma servidão predial de vista.
A obrigação propriamente dita vincula uma pessoa (credor) a outra pessoa (devedor), já a obrigação real está vinculada a uma coisa, e quem for proprietário
dessa coisa será o devedor.
CLÁUSULA PENAL
Conceito: CP é a cláusula acessória a um contrato pelo qual as partes fixam previamente o valor das perdas e danos
que por acaso se verifiquem em consequência da inexecução culposa da obrigação (408, ex: um promotor de
eventos contrata um cantor para fazer um show, e já fixa no contrato que, se o artista desistir, terá que pagar uma
indenização de cem mil).
A cláusula penal é acessória, não é obrigatória, então se a dívida não for paga no vencimento ( = se o cantor não
fizer o show), e não existir cláusula penal no contrato, é o juiz quem irá fixar a indenização devida pelo cantor (art
389) tornando a obrigação líquida (vide aula 9), para só depois possibilitar o ataque pelo credor (o promotor do
show) ao patrimônio do cantor.
Grande vantagem da cláusula penal: pré-fixar as perdas e danos, economizando tempo, eliminando recursos
processuais ao dispensar o juiz de mandar calcular o valor previsto no art. 402 do CC.
Outra vantagem da CP é a de intimidar o devedor, ou seja, ele já fica sabendo que terá uma pena se não cumprir a
obrigação. É verdade que a lei prevê automaticamente uma punição ao devedor (389), mas a CP reitera essa sanção.
Quando uso no conceito a expressão inexecução “culposa”, refiro-me à culpa em sentido amplo (lato sensu), que
corresponde ao dolo (inexecução voluntária) e à culpa stricto sensu (em sentido restrito = imprudência e
negligência). Então se o cantor não fez o show porque não quis (dolo) ou porque bebeu demais e perdeu a voz
(imprudência), terá que pagar a CP. Mas se o cantor não fez o show porque pegou uma gripe, trata-se de um caso
fortuito que isenta de responsabilidade (393 e pú).
OBS: importante nesses casos fazer seguro.
CLÁUSULA PENAL
Se a obrigação for cumprida pelo devedor, a cláusula penal se extingue; se a obrigação principal for nula, a cláusula
penal também o será, afinal, como cláusula acessória, segue o destino da principal (184, in fine).
A CP geralmente reverte em favor do credor, mas o contrato pode prever que será paga a terceiros (ex: se o cantor
não fizer o show, pagará cem mil ao Hospital do Câncer). A CP geralmente é pactuada em dinheiro, mas pode
corresponder a obrigação de dar outra coisa, ou a fazer, ou não-fazer algum serviço, com ampla liberdade para as
partes.
Espécies:
a) CP compensatória: aplica-se em caso de inexecução (= inadimplemento) da obrigação pelo devedor (410, então
o credor poderá optar pela obrigação principal ou pela cláusula penal, semelhante a uma obrigação alternativa);
b) CP moratória: aplica-se em caso de atraso (= retardo, mora) do devedor no cumprimento da obrigação, pelo
que o devedor pagará a multa pelo atraso e cumprirá a obrigação, 411 (ex: multa de 10% em caso de atraso no
pagamento de aluguel, 416). Ambas as espécies estão previstas no art. 409.
Caso a cláusula penal compensatória tiver um valor muito alto, o juiz deverá reduzi-la (412, 413). Mas é justo o
Estado-Juiz se imiscuir nos contratos privados, alterando aquilo que foi estabelecido livremente pelos particulares?
O CC do século passado, no art. 924, que corresponde a esse 413, usava o verbo “poderá”, enquanto o Código atual
usa o verbo “deverá”, como consequência da publicização do Direito e a proteção que o Estado dá aos devedores.

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