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Fernando pessoa

(1888-1935)
ORFISMO
“Bem propriamente, ORPHEU, é um exílio de
temperamentos de arte que a querem como a
um segredo ou tormento…
Nossa pretensão é formar, em grupo ou ideia,
um número escolhido de revelações em
pensamento ou arte, que sobre este princípio
aristocrático tenham em ORPHEU o seu ideal
esotérico e bem nosso de nos sentirmos e
conhecermo-nos”.
(Introdução de Luís de Montalvor para o primeiro número da
revista Orpheu)
ORFISMO
Tendências futuristas : exaltação da
velocidade, da eletricidade, do "homem
multiplicado pelo motor"; antipassadismo,
antitradição, irreverência.
Agitação intelectual, "escandalizar o burguês",
o moderno como um valor em si mesmo.

Domínio da metafísica e do mistério;


- desajuste social e cultural
- cosmopolitismo
- elitismo 
- incorporação das propostas das vanguardas
“À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da
fábrica  
Tenho febre e escrevo.  
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!  
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!  
Em fúria fora e dentro de mim,  
Por todos os meus nervos dissecados fora,  
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!  
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,  
De vos ouvir demasiadamente de perto,  
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um
excesso  
De expressão de todas as minhas sensações,  
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!(...)”
Ode triunfal -Álvaro de Campos
ORFISMO
Atravessa esta paisagem o meu sonho de um porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes
navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que o sonho é sombrio é pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
Nos navios que saem do porto são estas árvores ao sol. . .

Chuva Oblíqua – Fernando Pessoa


Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no
porto.

Ode Marítima – Álvaro de Campos


FERNANDO PESSOA
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
O FENÔMENO DA
HETERONÍMIA
Heteronímia:heteros= diferente; + ónoma = nome
Designa o fenômeno da utilização de diferentes
nomes que correspondem a personalidades
diferentes, com biografia e estilo próprios, com
uma visão de mundo específica, num processo de
fragmentação psicológica.
O heterônimo implica uma personalidade
particular, com uma biografia própria e uma visão
específica do mundo.
"hoje já não tenho personalidade: quanto em
mim haja de humano eu o dividi entre os
autores vários de cuja obra tenho sido o
executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma
pequena humanidade só minha." Trata-se,
contudo, simplesmente do "temperamento
dramático elevado ao máximo"; escrevendo,
em vez de dramas em atos e ação, "dramas em
alma".
(Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro, 1935)
"Passo agora a responder à sua pergunta sobre
a gênese dos meus heterônimos. Vou ver se
consigo responder-lhe completamente. Começo
pela parte psiquiátrica. A origem dos meus
heterônimos é o fundo traço de histeria que
existe em mim. Não sei se sou simplesmente
histérico, se sou, mais propriamente, um
histero-neurastênico. Tendo para esta segunda
hipótese, porque há em mim fenômenos de
abulia que a histeria, propriamente dita, não
enquadra no registro dos seus sintomas. Seja
como for, a origem mental dos meus
heterônimos está na minha tendência orgânica
e constante para a despersonalização e para a
simulação. [...]"
Semi-heterônimo: quando o heterônimo tem as
suas características semelhantes ao seu criador,
sendo enigmático e misterioso sempre cultivando
traços de Fernando Pessoa em seu modo de
escrever.

Bernardo Soares é considerado um semi-


heterônimo porque, como seu próprio criador
explica "não sendo a personalidade a minha, é,
não diferente da minha, mas uma simples
mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e
afectividade."
Chevalier de Pas (francês);

Alexander Search, que escreve poemas em inglês;

1912-1914- (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro


de Campos e Bernardo Soares);

"A dificuldade de adaptação à vida por excesso de


visão ou por anemia da vontade, a incapacidade de
concentração"

"são como personagens à procura do autor. São


personagens de um drama. Cada um é diferente
dos outros e fala e procede tal qual é"
ALBERTO CAEIRO

Eu nunca guardei rebanhos,


Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
RICARDO REIS
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe
quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Á LVARO DE CAMPOS

Não sou nada.


Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.
BERNARDO SOARES

"Se escrevo o que sinto é


porque assim diminuo a febre
de sentir. O que confesso não
tem importância, pois nada tem
importância. Faço paisagens
com o que sinto."
MENSAGEM

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