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ARCADISMO Letícia Coleone Pires

CONTEXTO HISTÓRICO
O Arcadismo (ou Neoclassicismo) surge em 1756 com a fundação da
Arcádia Lusitana: movimento de reação ao Barroco. O Arcadismo
procurava restabelecer o equilíbrio, a harmonia e a simplicidade da
literatura renascentista, rompida pelo período da contrarreforma
protestante.

O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por


sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de
Zeus e Calisto). Denota-se, logo de início, as referências à mitologia
grega que perpassa o movimento.
ILUMINISM
Voltaire O

Rousseau

Immanuel Kant
CONTEXTO HISTÓRICO
O movimento literário do século XVIII desponta em meio a
momentos marcantes da história mundial. Como o Iluminismo
(movimento cultural da elite europeia que visava ao esclarecimento –
século das Luzes –, levando ao espírito enciclopédico: difusão do
conhecimento); a Independência dos Estados Unidos (1776); a
Revolução Francesa (1789), que pregava os princípios de liberdade,
igualdade e fraternidade; a Inconfidência Mineira (1789),
movimento que busca a independência do Brasil em relação a
Portugal; a Economia: desenvolvimento industrial e comercial; o
Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal; e a Fundação da
Arcádia Lusitana (1756 – Academia Literária de Portugal).
Despotismo esclarecido: modernização das monarquias absolutas por meio da assimilação dos
conceitos de eficiência propostos pelo Iluminismo.

Pombal: proibiu os autos de fé e voltou contra a forte influência da Companhia de Jesus,


expulsando os jesuítas do reino em 1759.

O marquês de Pombal expulsando os jesuítas, de Louis-Michel van Loo e Claude Joseph Vernet,
1766.
A poesia árcade repudiava as coisas inúteis e
valorizava o contato com a natureza, símbolo de
felicidade e harmonia. Seus cenários são as
paisagens campestres e bucólicas, em contraste com
o avanço industrial e a realidade social estabelecida
na época.

Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela


cultura francesa devido aos acontecimentos
movidos pela burguesia que sacudiram toda a
Europa (e o mundo Ocidental).
O BALANÇO, DE NICOLAS LANCRET
CARACTERÍSTICAS
GERAIS
Segundo o crítico Alfredo Bosi, em seu livro História Concisa da
Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006), houve dois
momentos do Arcadismo no Brasil:

a) poético: com o retorno à tradição clássica com a utilização dos


seus modelos e  a valorização da natureza e da mitologia.

b) ideológico: influenciado pela filosofia presente no Iluminismo,


que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do
clero.
a) Visão antropocêntrica;
b) Busca pelo equilíbrio;
c) Sentimento Pastoral;
d) Bucolismo;
e) Influência da cultura greco-latina;
f) Convencionalismo amoroso;
g) Influência das ideias iluministas;
h) Contraste entre o ambiente urbano e o ambiente campestre;
i) Presença dos lemas árcades (Carpe Diem, Inutillia Truncat,
Aurea Mediocritas, etc.)
Bucolismo/Pastoralismo: a poesia árcade retrata uma natureza tranquila
e serena, procurando o “Lócus Amoenus”, um refúgio calmo que se
contrastava com os centros urbanos monárquicos. O burguês culto
buscava na natureza o oposto da aristocracia.

Pseudônimos pastoris: o fingimento poético (simulação de sentimentos


fictícios) é marcado pela utilização dos pseudônimos pastoris. Como
pastores, os poetas, em sua maioria burgueses que vivam nos centros
urbanos, realizavam o ideal da mediocridade dourada (aurea
mediocritas).

Universalismo/ convencionalismo: os árcades não compactuam com o


individualismo. Tratam dos temas de maneira geral ou universal.
Importante notar que os escritores árcades,
prezavam pela simplicidade da linguagem,
expressas sobretudo nos sonetos (forma fixa
literária muito utilizada por eles) de versos
decassílabos (dez sílabas poéticas).
"PSIQUÊ REVIVIDA PELO BEIJO DO AMOR", DE ANTONIO CANOVA
TÓPICAS ÁRCADES
Locus amoenus (lugar agradável): a natureza é idealizada
como um espaço de beleza e de primavera eternas:

Num sítio ameno,


Cheio de rosas,
De brancos lírios,
Murtas viçosas,
De seus amores
Na companhia,
Dirceu passava
Alegre o dia.
(Tomás Antônio Gonzaga, Lira XXIII de Marília de Dirceu).
Carpe diem: significa aproveitar o dia, viver o momento
com grande intensidade. Foi a atitude assumida pelos
poetas-pastores, que acreditavam que o tempo não parava
e, por isso, deveria ser vivido plenamente em todos os
sentidos.

Que havemos de esperar, Marília bela?


Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.
(Tomás Antônio Gonzaga, Lira XIV de Marília de Dirceu)
Aurea Mediocritas: os poetas, autointitulados pastores,
exaltavam a vida simples, equilibrada, espontânea e
humildade. Para ser feliz, bastava estar em comunhão
com a natureza.

para viver feliz, Marília basta


que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
(Tomás Antônio Gonzaga, Lira LVIII de Marília de
Dirceu)
Fugere Urbem: os árcades buscavam uma vida simples,
próxima da natureza, longe das confusões urbanas. A
modernização das cidades trazia os problemas dos
conglomerados urbanos. A alternativa era mudar-se para
os prados e campos.

Deixa louvar da corte e vã grandeza:


Quando me agrada estar contigo,
Notando as perfeições da Natureza!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage, Convite a Marília)
Inutilia Truncat/Objetivismo: as inutilidades eram
cortadas. A linguagem era depurada, sem exageros ou o
rebuscamento da poesia barroca. Os poetas árcades eram
contidos em sua expressão poética.

Alguém há de cuidar que é frase inchada


Daquela que lá se usa entre essa gente,
Que julga que diz muito, e não diz nada.
(Cláudio Manuel da Costa, Écloga III).
ARCÁDIA, 1885, POR FRIEDRICH VON
KAULBACH.
PRINCIPAIS AUTORES

Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (português)


– poeta de transição entre o Arcadismo e o Pré-
Romantismo.

No Brasil, temos Cláudio Manuel da Costa,


Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Santa
Rita Durão, Silva Alvarenga.
PANTEÃO DE PARIS,
FRANÇA
ARCADISMO NO
BRASIL
ARCÁDIA ULTRAMARINA
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de
Vila Rica (MG), influenciada pela Arcádia italiana
(fundada em 1690) e cujos membros adotavam
pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores
cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns
dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam
suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e
romana.
- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por
exemplo, em O Uraguai (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico)
e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
- influência da filosofia francesa;
- mitologia pagã como elemento estético;
- o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a
pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida
simples, bucólica e pastoril;
- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
- pastoralismo: poetas simples e humildes;
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;
- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
- tom confessional;
- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
Os escritores brasileiros buscavam inspiração na literatura
árcade, que já estava consolidada no cenário internacional,
mas há alguns aspectos diferentes, como por exemplo a
imagem da natureza, que era mostrada de forma muito
mais selvagem.

Embora nem toda a temática do arcadismo aborde como


influência o contexto histórico, a maioria dos autores
árcades eram participantes do movimento político da
Inconfidência Mineira. Dessa forma, nas poesias,
conseguimos perceber uma vertente mais política e que
anseia por um Brasil independente.
As obras épicas do neoclassicismo no Brasil
foram as primeiras, em nossa história, a construir
um retrato literário de momentos
fundamentais da formação do povo brasileiro,
iniciando assim um processo de reflexão, por
intermédio da literatura, de questões que
envolviam nossa identidade e características.
CASA FRANÇA-BRASIL,
RIO DE JANEIRO
BARROCO X ARCADISMO
Enquanto o Barroco representa um homem em conflito
entre o sagrado e o profano (é bom lembrar que nessa
época, século XVII, a Contrarreforma havia restaurado
vários valores medievais no mundo), o Arcadismo
apresenta um sujeito fiel à razão, crente na ciência.
Além disso, vale dizer que linguagem do Barroco era
rebuscada e cheia de paradoxos, enquanto, no
Arcadismo, comunica-se com mais clareza e
simplicidade.
“A MORTE DE SÓCRATES” - JACQUES-
LOUIS DAVID, EM 1787.

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