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SEMANA DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

*Visã o do CARF e dos Tribunais sobre o


Planejamento Tributá rio

Cristiane Morgado – julho/2020


Elisão - Condutas lícitas, não
simuladas e anteriores ao fato gerador

Evasão - Condutas ilícitas anteriores ou


posteriores ao fato gerador (fraude e
sonegação)
1 - Abaixar o valor da compra e venda de um imó vel para fins de
Imposto de Renda

EVASÃ O

2 - Optar pelo leasing em vez de locaçã o comum ou incorporar


imó veis a serem alienados em sociedade limitada, de modo a
evitar ou deferir Imposto de Renda e se eximir do imposto de
transmissã o

ELISÃ O

* Silvio Crepaldi
Normas antielisivas
 Regras criadas pelo pró prio Fisco para combater o planejamento
tributá rio - Artigo 116, pará grafo ú nico, Có digo Tributá rio Nacional
“A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei
ordinária”.

Acórdão n. 1401-002.835 Publicado em 10/09/2018

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CONTEÚDO ECONÔMICO.


PROPÓSITO NEGOCIAL. LICITUDE. Não existe regra federal ou nacional que considere
negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia
tributária. Não tem amparo no sistema jurídico a tese de que negócios motivados por
economia fiscal não teriam "conteúdo econômico" ou "propósito negocial" e poderiam
ser desconsiderados pela fiscalização. O lançamento deve ser feito nos termos da lei. No
caso concreto as Recorrentes comprovaram existir razões de ordem negocial e restrições
impostas pela Resolução CMN 2.325/1996 que justificam as operações realizadas.
Propó sito negocial ou substrato econô mico

Motivo econô mico adicional, além da economia tributá ria, que justifica a
realizaçã o do planejamento tributá rio.

Devemos perguntar: sem o ganho tributá rio, ainda assim, a operaçã o seria
realizada?
Antiga Visão do CARF Nova Visão do CARF

• Adoção do princípio da tipicidade e • Busca a essência dos negócios


da estrita legalidade jurídicos
• O cumprimento, pelo contribuinte, • Busca pelo propósito negocial
dos requisitos legais previstos pela • A economia de tributo justifica um
norma para determinado negócio planejamento, contanto que
jurídico era suficiente para respeitada a finalidade dos institutos
caracterizar uma operação como do direito privado
lícita, ainda que posta a efeito de • Subsunção do fato à norma:
forma indireta verificação do cumprimento dos
requisitos formais e materiais para a
caracterização do negócio declarado
“Em direito tributário não existe o menor problema em a pessoa agir para reduzir sua
carga tributária, desde que atue por meios lícitos. Inclusive, é de se esperar que as
pessoas façam isso, sendo recriminável exatamente a conduta oposta. A grande
infração em tributação é agir intencionalmente para esconder do credor os fatos
tributáveis (sonegação), mas isso não ocorreu no caso concreto.

Quando uma pessoa física escolhe declarar pelo modelo completo ou pelo simplificado,
visando reduzir sua carga tributária, está agindo racional e licitamente. Sua conduta é
artificial, mas é admitida. O mesmo ocorre com dois profissionais que se organizam
como empresa para reduzir a carga tributária que teriam como pessoas físicas
autônomas.

Enfim, desde que o contribuinte atue conforme a lei, ele pode fazer seu planejamento
tributário para reduzir sua carga tributária. O fato de sua conduta ser intencional
(artificial), não traz qualquer vício. Estranho seria supor que as pessoas só pudessem
buscar economia tributária lícita se agissem de modo casual, ou que o efeito tributário
fosse acidental.”

* Trecho de voto do Conselheiro Carlos Eduardo de Almeida Guerreiro (2012)


PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. VALIDADE.
PROPÓSITO NEGOCIAL. A validade do
planejamento tributário é aferida após verificação
de adequação da conduta no campo da licitude ou
da ilicitude. Assim, a opção negocial do
contribuinte no desempenho de suas atividades,
quando não integrar qualquer hipótese de
ilicitude, ou seja, implicando a ausência de
subsunção do fato à norma tributária ou
acarretando o enquadramento à norma tributária
que prescreva exigências menos onerosas, é
perfeitamente lícita e não susceptível de
desconsideração pela autoridade administrativa
para fins de tributação. Todavia, estará o
contribuinte no campo da ilicitude se demonstrada
a ausência de propósito negocial.

*Ementa Processo nº 12571.720330/2014-33


Lei nº 13.988/2020
Fim do voto de qualidade nos julgamentos do CARF
• Agora o empate é do contribuinte e não há mais voto de desempate.

Infelizmente o Fisco, na maioria das vezes, despreza o planejamento tributário lícito (elisão fiscal), consistente no
estudo e aplicação da legislação para enquadramento do contribuinte na modalidade de incidência tributária que
lhe for mais vantajosa.

Em nota de 15/4/2020, a ANFIP (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), afirma
estar analisando as medidas jurídicas necessárias para resguardar a atuação do CARF na defesa do sistema
tributário nacional, com o seguinte trecho:

"Com o fim do voto de qualidade, os presidentes de colegiados internos do CARF não terão mais o poder de
desempatar um julgamento, o que, na prática, levará a vitória ao contribuinte, ou seja, às grandes empresas,
cercadas de planejamento tributário para burlar o sistema". (grifei)

Ao caracterizar qualquer planejamento tributário como uma atividade que visa burlar o sistema tributário
nacional, a ser combatida pelo voto de desempate no CARF, fica claro que a intenção da entidade é combater todo
e qualquer planejamento tributário, que é uma atividade lícita. Esse não é o papel da fiscalização, assim como o
papel do CARF não é o de defender o sistema tributário nacional, como afirma a ANFIP, mas sim de julgar
impugnações e recursos sobre a aplicação da legislação referente a tributos no âmbito federal.
Entendam:

Exigir o propó sito negocial como causa antecedente


que justifique a realizaçã o de uma determinada
operaçã o, como o Planejamento Tributá rio, além de
ilegal, por nã o haver previsã o normativa expressa
nesse sentido, mostra-se também inconstitucional
por violar princípios contemplados na Constituiçã o
Federal, como: exercício regular de direito e livre
exercício da atividade econô mica.

O que os Tribunais têm entendido?

A posiçã o predominante no segundo grau da Justiça


Federal é de considerar a elisã o fiscal como
planejamento tributá rio, e nã o como simulaçã o, o
que caracterizaria sonegaçã o, ou fraude.
Em maio, o TRF4 reconheceu como lícito um planejamento
tributá rio desconsiderado pelo CARF.

Um empresa (madeireira) constituiu outra (ramos


imobiliá rio) e transferiu prédios e terrenos nã o usados na sua
atividade e reduziu drasticamente a carga tributá ria.

O relator, desembargador federal Rô mulo Pizzolatti, afirmou


que nã o existe uma autorizaçã o legal para o Fisco
desconsiderar atos ou negó cios jurídicos, sem que exista a
comprovaçã o de que foi ilícito (dolosos, fraudulentos ou
simulados). Segundo a decisã o, “havendo perfeita
correspondência da substâ ncia das operaçõ es com as formas
adotadas para a sua realizaçã o, nã o é possível afirmar-se que
os atos praticados tenham sido simulados, sendo indevida a
ingerência da administraçã o tributá ria na liberdade de
iniciativa de que dispõ e o contribuinte, garantida no artigo
170 da Constituiçã o Federal, de reestruturar a exploraçã o do
seu capital da forma mais eficiente, inclusive sob a
perspectiva fiscal.”
* Processo nº 5009900-93.2017.4.04.7107

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