(Silva, 2004, p.45-49) Apple – se apropria de teorias anteriores (Althusser e Bourdieu) para elaborar uma análise crítica do currículo bastante influente nas décadas seguintes.
Apple se apropria dos temas centrais da crítica marxista
o currículo, segundo Apple (1982), é o resultado de uma
seleção de saberes em um universo mais amplo de conhecimentos, na medida em que deduzem que tipos de conhecimento serão considerados válidos, por se encontrarem justapostos aos tipos de pessoa que se pretende considerar ideal em um determinado modelo de sociedade. Dominação de classe – dinâmica da sociedade capitalista – os que detem o controle da propriedade e dos recursos materiais dominam os que detem a força de trabalho.
Apple (2001,p. 30), "[...] não devemos agir como se as
relações de classe não contassem mais". Essas relações de poder das classes favorecidas economicamente sobre as desfavorecidas existiram e existem talvez elas tenham sido reorganizadas de maneiras diferentes daquelas iniciais. Apple recorre ao conceito de hegemonia – Vê o campo social como um campo contestado onde os grupos dominantes se vêem obrigados a recorrer a um esforço permanente de convencimento ideológico para manter sua dominação. Por meio desse esforço a dominação econômica se transforma em hegemonia cultural Para a teoria tradicional – os técnicos em currículo se limitam ao como organizar o currículo Para Apple a questão é “por que?” – por que esses conteúdos e conhecimentos e não outros? Trata-se do conhecimento de quem? Quais interesses guiam essa seleção?
Dá ênfase ao “currículo oficial” – é preciso analisar as
“regularidades do cotidiano escolar” e o currículo explícito e implícito. Silva (2004), ainda considera que tal proposta relaciona- se ao papel da escola, no que concerne ao conhecimento oficial, pois, se no currículo, conhecimento e poder não estão separados, certamente, há uma clara conexão entre produção, distribuição e consumo dos recursos materiais e econômicos com a produção, distribuição e consumo de recursos simbólicos, como a cultura, o conhecimento, a educação e o currículo.
Portanto, segundo Apple (1982), o currículo não pode
ser compreendido e transformado, se não fizermos as perguntas fundamentais sobre suas conexões com as relações de poder. Para isso, algumas questões deverão ser consideradas: Como as formas de divisão da sociedade afetam o currículo? De que forma o currículo processa o conhecimento e as pessoas reproduzem a divisão da sociedade? Apple (1982) ressalta, ainda, que existe uma clara conexão entre a forma como a economia está organizada e a forma como o currículo está organizado. Nesse sentido, as escolas, como um lócus privilegiado, reproduzem as relações de desigualdade do mundo econômico, em prol da manutenção de uma ordem social desigual. As escolas são usadas para finalidades hegemônicas. Essas finalidades são visíveis quando, em seu espaço, realiza-se a transmissão de valores, tendências culturais e econômicas que, supostamente, são compartilhadas por todos. Nesse sentido, garante-se que um número de estudantes seja selecionado para os níveis mais elevados de ensino, em virtude de sua competência, contribuindo para a maximização da produção do conhecimento técnico, enquanto modelo de conhecimento exigido pela economia da sociedade capitalista. Uma das funções tácitas da escolarização é a transmissão de diferentes valores e tendências para diferentes populações escolares. Nesse sentido, o conhecimento formal e informal, transmitido pela escola, precisa ser revisto e considerado como interligado, assim como as práticas educativas cotidianas devem ser relacionadas aos interesses econômicos, sociais e ideológicos. Textos
O currículo como política cultural: Henry Giroux
(Silva, 2004, p.51-56) • Henry Giroux: Autor - Estados Unidos colabora com o desenvolvimento de elementos teóricos críticos.
• Defende que a cultura deve aparecer como
elemento prioritário quando se discute o currículo, principalmente quando são veiculados os elementos culturais apresentados no cinema, na música e na televisão. Para o autor a teoria tradicional desconsidera o caráter histórico, ético e político das ações humanas e sociais e, no caso do currículo, especificamente, desconsidera a construção do conhecimento. Ele aponta que, dessa forma, ao desconsiderar o caráter histórico, ético e político, acaba contribuindo para a reprodução das desigualdades e injustiças sociais.
É preciso romper com esse modelo para que haja
elementos de emancipação e libertação. Segundo Silva (2004, p. 53), "[...] Giroux é igualmente crítico, entretanto, questionava os modelos [...]". Assim, podemos considerar que Giroux critica essas análises por não darem suficientes ou nenhuma atenção às conexões entre, de um lado, as formas como essas construções se desenvolvem no espaço restrito da escola e do currículo e, de outro, as relações sociais mais amplas. Alternativa - o conceito de resistência enquanto um conceito que superaria o pessimismo e o imobilismo sugeridos pelas teorias tradicionais. Giroux (1988, p. 26) aponta, então, que elementos de resistência precisam compor o universo escolar, pois, para romper com os modelos tradicionais,
[...] há necessidade de romper com a visão de que o
conhecimento escolar é objetivo, como algo a ser simplesmente transmitido aos estudantes. E sim que o conhecimento é uma representação particular da cultura dominante [...] [...] existe uma outra questão relacionada e importante operando ao definir-se as escolas e o currículo como esferas públicas democráticas. [...] o papel do professor. [...] os professores precisam desenvolver um discurso e conjunto de suposições que lhes permita atuarem mais especificamente como intelectuais transformadores em que combinarão reflexão e ação. Giroux (1999, p. 29) [...] atentem seriamente para a necessidade de dar aos alunos voz ativa em suas experiências de aprendizagem? significa desenvolver um vernáculo crítico que seja adequado aos problemas experienciados ao nível da vida diária, especialmente quando estes são relacionados com experiências pedagógicas desenvolvidas por práticas de sala de aula. Giroux (1988, p. 33) É por meio do conceito de voz que Giroux aponta para a necessidade de um espaço em que os anseios, os desejos e os pensamentos dos estudantes possam ser ouvidos e atentamente considerados. O fato é que nas relações de poder, no ambiente educativo e em ambientes mais amplos, essas vozes têm sido suprimidas. Considerar os alunos e ouvi-los é, também, levar em conta a subjetividade de suas manifestações. Nesse contexto, os professores, enquanto intelectuais transformadores, [...] não estão meramente preocupados com a promoção de realizações individuais ou progresso dos alunos nas carreiras, e sim com a autorização dos alunos para que possam interpretar o mundo criticamente e mudá-lo quando necessário. (Giroux, 1999, p. 29). A tríade esfera pública democrática, intelectual transformador e conceito de voz conferem ao currículo a dimensão democrática apregoada por Giroux. Com isso, a Pedagogia e o Currículo, por meio da noção de política cultural, indicam a necessidade de rever espaços e situações que valorizem o diálogo, a subjetividade do sujeito, as relações sociais, no sentido de romper com a questão tradicional de que o currículo é somente a transmissão de fatos e conhecimentos objetivos, acumulados ao longo do processo histórico.