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Escola de Fé Cristã e Cidadania

Introdução a
Doutrina Social
da Igreja

Lucas Mann Pretto | Rafael Viana de Aramburu


O que é?

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1 A Terminologia
A Terminologia
● Doutrina Social da Igreja – DSI ● Pensamento Social Cristão
● Magistério Social da Igreja ● Teologia Social
● Ensino Social da Igreja ● Moral Social
● Pensamento Social da Igreja ● Filosofia Social
● Doutrina Social Católica ● Catolicismo Social
● Pensamento Social Católico

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Precisamos fazer algumas distinções:
Entre as idéias sociais declaradas pela Hierarquia da Entre Doutrina (conjunto de conhecimentos orgânico
Igreja em cumprimento da sua missão de ensinar ao e institucional – aspecto teórico) e Ensino (ação e
Povo de Deus e as idéias expostas pelos intelectuais efeito de ensinar – aspecto histórico e prático),
católicos, clérigos e laicos, que se dedicam ao estudo Pensamento (ação de investigar – aspecto
das questões sociais desde o ponto de vista da especulativo)
Doutrina Social da Igreja.

O mais apropriado é o termo Doutrina Social da Igreja - DSI

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2 A Natureza

É o resultado de uma atenta reflexão sobre as
complexas realidades da vida do homem na
sociedade e no contexto internacional à luz da fé
e da tradição eclesial (SRS 41g)

”7

A DSI se desenvolve por uma reflexão madura
ao contato com situações em mudança deste
mundo, baixo o impulso do Evangelho (OA 42)

”8

O ensinamento social da Igreja nasceu do
encontro da mensagem evangélica e de suas
exigências... com os problemas que emanam da
vida da sociedade. (LC 72a)

”9

A DSI se articula à medida que a Igreja
interpreta os acontecimentos ao longo da
história, à luz do conjunto da palavra revelada
por Jesus Cristo e com a assistência do Espírito
Santo (CIC 2.422)

”10
Estes textos explicitam a origem constitutiva dos
documentos sociais da Igreja. Manifestam que não são
outra coisa mais que o resultado do julgamento da
situação social de cada momento à luz da revelação e
da concepção cristã do mundo

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3 Identidade da DSI: o que é

Um conjunto doutrinal orgânico (SRS 1)

”13

De novo afirmamos, e acima de tudo, que a
doutrina social cristã é parte integrante da
concepção cristã da vida. (MM 221)

”14

Ela constituiu-se como uma doutrina, usando os recursos da
sabedoria e das ciências humanas, diz respeito ao aspecto
ético desta vida e leva em consideração os aspectos técnicos
dos problemas, mas sempre para julgá-los do ponto de vista
moral. (LC 72c)

”15

A DSI não é, ante todo, uma doutrina política nem muito
menos econômica... chamada a propor opções técnicas...,
nem um sucedáneo do capitalismo..., nem uma terceira via
entre o capitalismo e o comunismo... (Discurso Universidade
de Riga em 9-9-1993)

”16

A sua finalidade principal é interpretar estas realidades,
examinando a sua conformidade ou desconformidade com
as linhas do ensinamento do Evangelho sobre o homem e
sobre a sua vocação terrena e ao mesmo tempo
transcendente; visa, pois, orientar o comportamento cristão.
(SRS 41g)

”17

Ela pertence, por conseguinte, não ao domínio da ideologia,
mas da teologia e especialmente da teologia moral. (SRS 41)

”18
É a manifestação no campo social da doutrina cristã
geral o que comporta as seguintes consequências:

 O Campo próprio da DSI é o dos princípios gerais, dos juízos e orientações baseados neles, em ordem ao bem
total da sociedade e do homem, e não as soluções técnicas concretas.

 Não corresponde, pois, a DSI constituir um modelo de organização da sociedade determinado, nem um
programa de ação política, social, econômica ou cultural específico, nem uma ideologia ou construção racional
que tenha como finalidade servir de fundamento ou justificação a um movimento social ou político concreto.

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É uma doutrina teológica, moral, crítica e educadora,
sua função consiste em proporcionar: princípios sobre a
devida ordenação de qualquer sistema ou movimento
social, critérios para julgar as ideologias, os sistemas e
os movimentos sociais, e diretrizes para orientar a ação
social em geral.

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4 Conteúdo da DSI

Perita em humanidade, a Igreja oferece, em sua doutrina
social, um conjunto de princípios de reflexão, de critérios de
julgamento, como também de diretrizes de ação (LC 72c)

”22

Mas a Igreja é «perita em humanidade», e isso impele-a
necessariamente a alargar a sua missão religiosa aos vários campos em
que os homens e as mulheres desenvolvem as suas atividades em busca
da felicidade, sempre relativa, que é possível neste mundo, em
conformidade com a sua dignidade de pessoas. (SRS 41b)

”23

... A doutrina social, por si mesma, tem o valor de um instrumento de
evangelização: enquanto tal, anuncia Deus e o mistério de salvação em Cristo a
cada homem e, pela mesma razão, revela o homem a si mesmo. A esta luz, e
somente nela, se ocupa do resto: dos direitos humanos de cada um e, em
particular, do «proletariado», da família e da educação, dos deveres do Estado,
do ordenamento da sociedade nacional e internacional, da vida económica, da
cultura, da guerra e da paz, do respeito pela vida desde o momento da
concepção até à morte. (CA 54b)

”24
Se distinguem, ademais, três dimensões na DSI:

 Uma dimensão teórica, porque está formada por princípios teóricos de raíz teológica, moral ou racional,
derivados do evangelho e da experiência humana da Igreja.
 Uma dimensão histórica, porque os documentos da DSI estão em conexão e fazem referência à situações
históricas determinadas e porque os princípios de reflexão, critérios de juízo e diretrizes para ação que contém
usam-se neles para iluminar e julgar essas situações e as ideologias sociais, políticas e econômicas vigentes em
cada época.
 Uma dimensão prática, porque se dirige à orientar a ação humana o que exige a aplicação efetiva desses
princípios na práxis, traduzindo-os concretamente na forma e na medida que as circunstâncias permitem e
reclamam.

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A NATUREZA EPISTEMOLÓGICA DA
DSI
Com relação a essas formas básicas de conhecimento, a
DSI pode-se caracterizar como um conhecimento:
 Particular, porque versa sobre um setor da realidade determinado, o social e porque o abarca não na sua
totalidade, mas no seu aspecto público, estrutural e institucional ou seja sua constituição e funcionamento.
 Especial, porque é o resultado da sua consideração e do seu julgamento à luz da Revelação.
 Institucional, já que se formula não pessoalmente mas no nome de uma instituição, a Igreja Católica.
 Pastoral e como tal Prático, dado que é expressão da função que corresponde aos pastores da Igreja de guiar ao
Povo de Deus e ajudá-lo na vida social para que sejam possíveis a justiça, a solidariedade, a paz e o bem-estar
para todas as pessoas.

A DSI é uma disciplina teórica e prática

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6 O OBJETO DA DSI
 Objeto material da DSI: é a realidade social constituída pelas relações sociais institucionalizadas derivadas da
vida social humana organizada.

 Objeto formal da DSI, está formado pelos aspectos que a DSI considera nas questões que oferece a vida social
organizada. São aqueles que guardam relação com a fé e os costumes. A DSI vê e julga o social não de uma
maneira cientifica positiva, mas à luz da Revelação e, em geral, desde a concepção cristã da vida.

As relações sociais institucionalizadas

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7 O SUJEITO DA DSI
No sujeito podemos distinguir os seguintes aspectos:

 Quem é seu titular: a DSI é própria da Igreja, isto é, de toda a Comunidade Eclesial.
 Quem a formula: a DSI é subscrita e formulada pela hierarquia da Igreja, Papa e Bispos, que tem o carisma do
magistério em representação das suas respectivas comunidades eclesiais.
 Quem a elabora: a DSI elabora-se com a cooperação de teólogos e leigos, peritos e com experiência nas
questões sociais e em diálogo, mais ou menos explícito, com a Comunidade e com os homens de boa vontade.
 A quem é dirigida: os destinatários da DSI são as pessoas a quem se dirige o documento. A partir da PT as
Encíclicas sociais são dirigidas aos bispos, sacerdotes, religiosos, fiéis e a todos os homens de boa vontade

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8 O OBJETIVO DA DSI
No objetivo podemos distinguir os seguintes aspectos:

 Objetivo imediato: interpretar as realidades sociais, o que implica iluminá-las e julgá-las a luz do Evangelho e
desta maneira dar respostas as grandes questões sociais, que em cada tempo e lugar se plantam na vida social.
 Objetivo intermédio: guiar a conduta dos católicos e orientar as pessoas no seu compromisso na construção da
sociedade.
 Objetivo último: a libertação e promoção integral da pessoa.

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9 AS FONTES DA DSI
Gerais: Concretas: Os documentos que procedem:

● Teológicas: Escritura; Tradição Apostólica; ● Dos Concílios: Constituições dogmáticas e


Padres da Igreja; Vivência da fé; Magistério pastorais; Decretos; Declarações.
ordinário e extraordinário de Concílios, ● Dos Papas: Cartas encíclicas; Epístolas
Sínodos, Conferências episcopais, Papa e Encíclicas; Cartas decretais; Epístolas
Bispos; Teólogos e canonistas. apostólicas; Constituições apostólicas; Motu
● Morais: Lei natural proprio; Cartas apostólicas; Epístolas e
● Sociais: Sinais dos tempos Alocuções pontifícias.
● Dos órgãos de governo da Santa Sé: nomes
diversos entre os que se destacam as Instruções
e as Notas.
● Dos Bispos, conferências e sínodos
episcopais.

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9.1 PRINCIPAIS DOCUMENTOS
Principais Documentos
Leão XIII: Encíclica Francisco:
Rerum Novarum Pio XII: Radiomensagem João XXIII: Encíclica Paulo VI: Encíclica João Paulo II: Encíclica João Paulo II: Encíclica Encíclica Laudato
La Solennità Pacem in Terris Populorum Progressio Laborem Exercens Centesimus Annnus Si’

1891 1931 1941 1961 1963 1965 1967 1971 1981 1987 1991 2009 2015 2020

Pio XI: Encíclica João XXIII: Encíclica Concílio Vaticano II: Paulo VI: Carta João Paulo II: Encíclica Bento XVI:
Quadragesimo Anno Mater et Magistra Constituição Pastoral Apostólica Octogesima Sollicitudo Rei Socialis Encíclica Caritas in
Gaudium et Spes adveniens veritate

Francisco: Encíclica
Fratelli Tutti

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10 O MÉTODO DA DSI

A DSI é a formulação acurada dos resultados de uma reflexão atenta sobre as
complexas realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto
internacional, à luz da fé e da tradição eclesial (SRS 41g)

”39

Para levar a realizações concretas os princípios e as diretrizes sociais, passa-se
ordinariamente por três fases: estudo da situação; apreciação da mesma à luz
desses princípios e diretrizes; exame e determinação do que se pode e deve fazer
para aplicar os princípios e as diretrizes à prática, segundo o modo e no grau
que a situação permite ou reclama. São os três momentos que habitualmente se
exprimem com as palavras seguintes: "ver, julgar e agir“ (MM 235)

”40
Segundo estes textos o Método da DSI implica:

 VER: O conhecimento das complexas realidades sociais. Trata-se de um conhecimento de caráter empírico
derivado como tal de experiências e dos estudos e investigações existentes.
 JULGAR: A atenta reflexão sobre as realidades sociais à luz da fé e da tradição eclesial. Como tal reflexão é
uma atividade racional de análise e discernimento, realizada à luz de todas as fontes teológicas da DSI.
 AGIR: Uma prática.

Método INDUTIVO – ascendente da realidade à doutrina - e DEDUTIVO – descendente dos princípios à práxis - ao
mesmo tempo.

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11 A INTERPRETAÇÃO DA DSI
 Devemos distinguir:

 O objeto da interpretação: está constituído pelos documentos e textos que a formam materialmente. Por isso
devemos ter em conta, como ponto de partida, as propriedades fundamentais dos documentos e textos. Estes têm
um caráter:
 Teológico,
 Pastoral,
 Moral,
 Histórico
 Social.

 O procedimento da interpretação: aqui temos que distinguir as regras que se referem ao texto e ao contexto.

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O procedimento da interpretação:
 Interpretação do texto:

 Texto oficial: Actae Apostolicae Sedis;


 Autoridade, destinatários, tema, título, a sua razão de ser, o objeto e a finalidade do documento;
 Cada palavra e cada texto devem tomar-se no seu sentido mais estrito, evitando generalizar;
 Examinar as generalidades, a insistência, a solenidade das fórmulas usadas, e sua continuidade com documentos
anteriores;
 Distinguir se contém princípios de reflexão, critérios de juízo ou diretrizes para a ação;
 Respeito aos dados de fato ou descrições da situação deverá comprovar-se a sua fiabilidade;
 Respeito aos termos empregados deverá examinar-se o sentido adoptado dos diversos que se poderiam empregar
e se seu significado é o mesmo na época em que foram escritos ou variou com o tempo.

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O procedimento da interpretação:
 Interpretação do contexto:

 Contexto linguístico das palavras na sentença; a sentença no parágrafo; o parágrafo no capítulo; o capítulo no
conjunto do documento.
 O contexto do documento completo; no plano intelectual, a doutrina do autor e da Igreja no seu conjunto; e no
plano sociocultural, as circunstâncias sociais e culturais que caracterizam o momento histórico do documento.

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11. A EVOLUÇÃO DA DSI

1
 Por explicação ou aclaração: adquirindo uma visão mais clara e justa do seu conteúdo;
 Por adequação aos tempos novos ou adaptação: propondo diversas soluções, quando essas são exigidas pelas
novas circunstâncias;
 Por conclusão: explorando a fecundidade dos princípios, deduzido deles novas conclusões

Prestar atenção ao PERMANENTE e ao CONTINGENTE fruto de cada época.

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12 A DIVISÃO DA DSI
 Geral: está constituída por todos aqueles elementos gerais, que por sua universalidade tem aplicação nos
diferentes tratados da parte especial: por exemplo os princípios, os critérios e as diretrizes.

 Especial: as grandes áreas temáticas da vida social

 Economia: Propriedade, Trabalho, Desenvolvimento...


 Política: Estado, Poder, Cidadania...
 Social: Demografia, Ecologia, Família...
 Cultural: Cultura, Educação, Informação...
 Jurídica: Direito, Ordenamento jurídico...

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13 A TÍTULO DE SÍNTESE
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52
Muito Obrigado!

Lucas Mann Pretto Rafael Viana de Aramburu


Seminarista Diocese de Uruguaiana Seminarista Diocese de Uruguaiana
mannprettoa@gmail.com rafael.aramburu@gmail.com

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Material aqui usado é fruto dos estudos de moral social dos
seminaristas e de materiais cedidos pelo Prof. Pe. Gilberto
Orsolin, SAC - FAPAS

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