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A Arte da Entrevista

Disciplina Grandes Reportagens

Prof. Dr. Vicente Darde


Atividade da Disciplina
Trabalho Individual
AVALIAÇÃO:
************A1*************
 De 0 a 5 pontos (Avaliação do Professor)
Atividade Narrativas Jornalísticas (0 a 1 ponto). Já entregue

Atividade Análise de Textos para Livro-Reportagem (0 a 2 ponto). Já entregue

Desenvolvimento das pautas, definição das fontes e realização das entrevistas


(0 a 2 pontos). Já entregue

************A2*************
 A avaliação A2 será a média entre a Prova que valerá de 0 a 5 pontos e o
trabalho prático final no formato de grande reportagem, que valerá também
de 0 a 5 pontos.
Atividade da Disciplina
Definição das Pautas da Grande Reportagem
Tema Geral: Diversidade, Inclusão Social e Direitos Humanos

Questões Relevantes para a produção e condução do texto jornalístico:


Abordagem (novos Olhares)
Linguagem (técnica; mais próxima ao público/informalidade)
Formato (texto, áudio, vídeo, foto, infográfico) para multiplataformas
(impresso, rádio, tv, portais, redes sociais)
Circulação
Audiência (público-alvo)

Prazo de Entrega do trabalho Final: 23 de junho


 Calendário da Disciplina até o final do semestre:

 02/06 – A Arte da Entrevista


 09/06 – Jornalismo, Diversidade e Cidadania
16/06 – Ética na Reportagem jornalística
 23/06 – Revisão do Conteúdo do Semestre para Prova (data
limite também para publicar a Grande Reportagem)
 30/06 – Prova A2
 07/07 – Vistas de Provas
 14/07 – Prova A3 (Exame para quem precisar)
A arte da Entrevista
 A entrevista teve um papel importante na construção e na legitimação da prática
do jornalismo informativo em diferentes países. Reivindicada pelos jornalistas
como parte do seu repertório técnico, ela teria participado do processo de
construção e afirmação da identidade profissional do grupo (RUELLAN, 1993).

 A entrevista também teria colaborado para a instituição de um novo regime


discursivo no jornalismo calcado nas noções de “objetividade” e de produção da
“verdade” (MAROCCO, 2011) – num processo de apagamento da opinião do
jornalista que delegaria à fonte-entrevistado a função de testemunhar ou comentar
um evento.
A arte da Entrevista
 Luiz Beltrão (A imprensa informativa; São Paulo, Folco Masucci) define a
entrevista como "a técnica de obter matérias de interesse jornalístico por meio de
perguntas e respostas".

 A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados nela


obtidos ele pode montar uma reportagem de texto corrido, em que as declarações
são citadas entre aspas, ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas,
também chamado "pingue-pongue".
A arte da Entrevista
 Segundo Luiz Amaral (Técnicas de jornal e periódico; Rio, Tempo Brasileiro, 1987)
podem-se distinguir dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião (quando
entrevistamos uma autoridade, um líder ou um especialista) e a de perfil (quando
entrevistamos uma personalidade para mostrar como ela vive, e não apenas para
revelar opiniões ou para dar informações.

 Em ambos os casos há interesse do leitor, e o jornalista será sempre um


intermediário representando seu leitor (ou receptor) diante do entrevistado. Na
primeira situação, quando se trata de divulgar informações e opiniões, mesmo para
produzir uma simples nota, é conveniente e necessário o jornalista repercutir o
material com outras fontes envolvidas com o fato, checando a informação.
A arte da Entrevista
Fábio Altman (A arte da entrevista: uma antologia de 1823 aos nossos dias; São Paulo,
Scritta, 1995) diz que "a entrevista é a essência do jornalismo". Segundo Altman, "a
entrevista transforma o cidadão comum em líder, dono da palavra, professor, uma
pessoa incomum".

Em Técnicas de codificação em jornalismo-redação, captação e edição do jornal diário;


São Paulo, Ática, 1991, Mário Erbolato conta que as origens da entrevista remontam a
1836, quando James Gordon Bennet fez perguntas a Rosina Townsend, proprietária de
um prostíbulo de Nova York no qual ocorrera um assassinato classificado, então,
como "sensacional".
A arte da Entrevista
Segundo Juarez Bahia ( "Jornal, História e Técnica ? História da Imprensa Brasileira".
São Paulo: Ática, 1990 ) um dos requisitos mais importantes, na entrevista, é a
autenticidade, isto é, que as declarações atribuídas ao entrevistado possam ser
facilmente provadas.

Carlos Tramontina ( "Entrevista". Rio: Globo, 1996 ) lembra que todo entrevistador
faz a mesma coisa: perguntas. Mas cada um desenvolve um estilo próprio, prepara-se
de maneira diferente e usa de variadas estratégias para conseguir boas respostas.
Afinal, não há boa entrevista sem bom entrevistador.
A arte da Entrevista
Na opinião do professor de Jornalismo da Federal de Santa Catarina Nilson Lage (A
reportagem ? teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística; São Paulo, Record,
2001), a palavra entrevista é ambígua. Ela tanto significa o diálogo com a fonte, como a
matéria publicada.
A arte da Entrevista
 A entrevista jornalística necessita de muito preparo, para que o jornalista obtenha
o conteúdo planejado na pauta. O resultado dará credibilidade ao trabalho
do entrevistador, além do possível aumento da visibilidade. Diante disso, é
importante compreender as características dos principais tipos de entrevista
jornalística, para elaborar a pauta corretamente, e definir as perguntas mais
coerentes.

 Compreender os principais tipos de entrevista é apenas o começo de toda a etapa


para entrevistar corretamente e colher os melhores resultados. O jornalista atual
precisa levar em consideração não só o as perguntas mas sim as respostas.

 A elaboração do conteúdo, as pautas, a retórica, os gêneros a preparação, os meios


de entrevista em seus critérios, questionamentos e conhecimentos de dados.
A arte da Entrevista

1. Entrevista de rotina:

A entrevista de rotina é representada pelas fontes de notícias factuais,


 pautas diárias que têm curto prazo de validade para divulgação. É a mais usada de
todos os tipos de entrevista existentes.
Ou seja, personagens que estiveram presentes na cena que está sendo noticiada. Por
exemplo: Pessoas que presenciaram acidentes de trânsito, assaltos, desabamentos ou
vítimas de enchentes. O depoimento dessas pessoas ilustra a matéria, e comprovam a
veracidade do ocorrido.
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2. Entrevista individual:

A entrevista individual é marcada com antecedência, apresentando ao entrevistado


o tema da pauta. A entrevista é concedida apenas a um jornalista, após o devido
preparo das respostas, que foram elaboradas pelo entrevistado ou mesmo por
sua assessoria.
A arte da Entrevista

3. Entrevista em grupo:

Também conhecida como coletiva de imprensa, a entrevista em grupo ocorre com


a participação de vários jornalistas, que se revezam nas perguntas feitas a uma ou
mais pessoas.
Todas as respostas são aproveitadas pelo grupo de jornalistas, mas se destacam os que
fazem as perguntas mais importantes e criativas sobre o tema da coletiva.
Um furo jornalístico conquistado pode alavancar uma carreira jornalística.
Por isso, é importante sair na frente para não perder a chance de tirar a resposta que
todos almejam.
A arte da Entrevista

4. Entrevista exclusiva:

A entrevista exclusiva é concedida a um veículo, que divulgará o conteúdo em


primeira mão. Isto é, uma pauta de grande interesse dos veículos de massa porque
está em alta e atinge um grande número de pessoas.
A credibilidade e o alcance do veículo contam muito no aceite da entrevista exclusiva,
já que isso representa alto lucro financeiro e expansão da imagem do entrevistado.
A arte da Entrevista

5. Entrevista de Pesquisa:

A entrevista de pesquisa é feita com especialistas sobre determinado assunto, para


acrescentar informações a uma matéria com credibilidade. Conteúdos dessa natureza
são muito importantes na construção de artigos, por exemplo.
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6. Entrevista caracterizada:

É definida como entrevista caracterizada, os textos entre aspas, incluídos em uma


matéria. Isto é, a fala do entrevistado é descrita como foi dita, uma transcrição fiel do
que foi falado.
Estas passagens são curtas, definidas de acordo com a sua importância, sem
adaptação na transcrição.
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7. Entrevista de personalidade:

A entrevista de personalidade é feita para traçar um perfil de uma pessoa


pública. Nessa entrevista, constam informações sobre hábitos, história de vida e
outras curiosidades relevantes sobre a pessoa em questão.
A arte da Entrevista

8. Entrevista opinativa:

A entrevista opinativa é feita com pessoas que tem autoridade para falar sobre
determinado assunto, sejam profissionais consagrados, estudiosos, ou atletas com
grande experiência, por exemplo.
Para ceder uma entrevista opinativa, o personagem em questão deve ter
conhecimento sobre o assunto em longo prazo, para comprovar sua
 capacidade de crítica.
A arte da Entrevista

O jornalista e escritor Ruy Castro explica seu método de fazer entrevistas.

https://www.youtube.com/watch?v=DyjveXhyHYo
A arte da Entrevista

Guia para jornalistas que querem aprimorar a arte da entrevista


Centro Knight para Jornalismo nas Américas

1. Defina seus objetivos

Antes de mais nada é preciso saber o que se quer da entrevista: aspas, confirmação,
contexto, reconstituir uma cena? Este é o primeiro passo para traçar a estratégia a ser
adotada.
A professora da Universidade de Missouri Jacqui Banaszynski aconselha os 
jornalistas a responderem as seguintes perguntas antes de ligarem seus gravadores:
Por que você está fazendo esta matéria? O que você precisa saber (e como vai
conseguir)? O que você quer saber (e como vai conseguir)? Qual é o seu propósito ou
foco inicial? Quais são os desafios logísticos/jornalísticos/éticos/morais envolvidos?
A arte da Entrevista

2. Esteja preparado

Uma boa entrevista começa muito antes do contato com o entrevistado. Como Jon
Talton, colunista do Seattle Times, escreveu para o Reynolds Center, 
conhecer muito bem a fonte e o tema que será tratado é o dever de casa. Fazer uma
lista de perguntas prévias não garante o sucesso da entrevista, mas pesquisar e estar
completamente por dentro do que será debatido e da pessoa com quem se debaterá
pode render bons frutos.
Um bom exemplo disso é dado pelo colunista do Poynter Chip Scanlan: "AJ Liebling,
uma escritora famosa da The New Yorker, conseguiu uma entrevista com o
conhecidamente lacônico jóquei Willie Shoemaker. Abriu com uma única pergunta:
Por que você monta com um estribo maior do que o outro?
 Impressionado com o conhecimento de Liebling, Shoemaker falou".
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3. Saiba como perguntar

Assim como Liebling, jornalistas frequentemente se deparam com entrevistados que


não estão tão dispostos a falar quanto se deseja. Saber perguntar, nestas horas, faz
toda a diferença. Segundo as lições do jornalista investigativo canadense John
Sawatsky, uma autoridade na arte da entrevista:
 evite perguntas cujas respostas possam ser apenas "sim" ou "não" (a não ser que se
queira confirmar alguma informação precisa), prefira as do tipo "como", "por que",
"o que".
 mantenha as perguntas curtas e focadas em um único assunto (uma de cada vez)
 evite hipérboles ou palavras carregadas
 mantenha sua opinião fora das perguntas
 não tente argumentar com a fonte para convencê-la da sua versão; ao invés disso,
peça para ela comentar uma informação que você saiba ser verdadeira
 sempre questione: como você sabe?
 pergunte sobre temas sensíveis sem soar "combativo"
 peça exemplos e descrições, isso ajuda a fonte a lembrar e articular as respostas
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4. Conduza uma conversa

A ganhadora do Pulitzer Isabel Wilkerson considera entrevistas "conversas guiadas"


 nas quais a dinâmica da relação é mais importante que qualquer questão individual.
"Nas escolas de jornalismo, ninguém chama as interações entre jornalistas e fontes de
relacionamento, mas é isso que são", diz ela.
Aprenda a fazer anotações sem olhar apenas para o caderno. É fundamental manter
uma interação visual e corporal com o entrevistado. Demonstrar empatia deixa a fonte
mais à vontade, o que aumenta as chances dela se abrir. "Entrevistar
é a ciência de ganhar a confiança, depois ganhar a informação", ressalta
John Brady em "A Arte da Entrevista".
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5. Escute e controle o ritmo

Às vezes o jornalista está tão preocupado em seguir o seu rascunho que não percebe
os momentos por onde a história pode se desenvolver mais. Não corte a possibilidade
de informações mais profundas virem à tona pulando muito rapidamente para a sua
próxima pergunta. Se houver limitações de tempo, concentre-se no tópico mais
importante, escolha com sabedoria. Se o tempo for liberado, explore os pontos que
soarem mais interessantes durante a entrevista.
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6. Faça perguntas a partir das respostas

Não deixe qualquer dúvida passar em branco. Questões derivadas de respostas mal
compreendidas costumam dar pano pra manga. Como ensina Banaszynski, "para cada
questão, pergunte outras cinco".
Seja um ouvinte interessado e perceba quando as respostas te levam para outras
perguntas sobre o tema. Conforme explica Sawatsky, quanto mais você demonstra que
está realmente ouvindo, mais confiança se estabelece.
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7. Negocie os termos de antemão

Deixe claro o propósito e o contexto da entrevista e procure saber no início as


preocupações da fonte. Isso pode evitar que você seja surpreendido com um pedido de
"off the record" [não publicar a informação passada] depois de uma entrevista
reveladora.
Em um interessante artigo sobre a arte da entrevista para a Columbia Journalism
Review, a jornalista Ann Friedman cita Max Linsky, um entrevistador de peso do 
Longform Podcast, que diz: "Longas entrevistas podem ter três atos - saiba onde você
quer começar, onde você quer terminar, e como você quer chegar lá. E deixe o
entrevistado conhecer o plano! Essas conversas podem sair dos trilhos rapidamente -
compartilhar o roteiro antecipadamente permite que você interrompa e mude as
coisas com mais facilidade. Faz com que entrevistado e entrevistador se sintam como
se estivessem no mesmo time. "
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8. Cara a cara, telefone, e-mail?

A entrevista pode ser feita das mais variadas formas: pessoalmente, por telefone,
skype, e-mail, com uso ou não de câmeras de vídeo. Escrevendo para o Poynter, a
 jornalista Mallary Jean Tenore citou a preferência de cinco jornalistas com os quais
conversou. A maioria ressalta que a conversa cara a cara permite que o repórter
observe detalhes do comportamento do entrevistado e da cena que escapam em
conversas por telefone ou e-mail.
Quando a distância com a fonte não permite o contato pessoal, recorre-se ao telefone
ou até mesmo a ferramentas como o Skype. Ao falar por ligações on-line, o uso da
webcam tem a vantagem de permitir que se veja a expressão corporal do entrevistado.
É unanimidade que a entrevista por e-mail é a última opção. Mas o meio é válido para
agendar a entrevista, fazer perguntas preliminares ou verificar informações e tirar
dúvidas posteriores.
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9. Seja esperto, ouse ser ignorante
Certifique-se de que entendeu o que significam certas expressões, jargões e busque
analogias. Nas palavras de Ann Friedman, "banque o estúpido", especialmente
quando o assunto é técnico e complexo demais. Peça para a fonte explicar como se
estivesse falando a uma criança.

10. Fique atento ao pós-entrevista


Banaszynski observa que é sempre bom anotar telefones, e-mails, endereços, detalhes
sobre o local e o entrevistado. Se precisar, não hesite em fazer contato novamente
para tirar dúvidas ou até mesmo agendar uma segunda entrevista. Após a publicação,
é sempre bom passar a matéria à fonte e estar aberto a seus comentários.
Chip Scanlan acrescenta que a auto-avaliação é uma boa forma de se aperfeiçoar. Ao
transcrever as conversas gravadas (e gravar é fundamental!), observe não só as
respostas, mas as suas perguntas. "Você faz mais perguntas que encerram a conversa
ou que a estimulam? Você interrompe o seu interlocutor quando ele está começando a
se soltar? Você soa um ser humano interessado e amável ou um promotor
atormentado?"
A arte da Entrevista

Programa Papo de Graça

Caio Fábio, escritor, psicanalista e ex-


pastor presbiteriano brasileiro

Dar entrevista pra repórter burro é


cansativo! 

https://www.youtube.com/watch?v=cqPsXzVAJoU
A arte da Entrevista

Direitos do entrevistado

Além das técnicas de entrevista, o jornalista também deve levar em conta os direitos
do entrevistado. Segundo Caio Túlio Costa (O relógio de Pascal ? A experiência do
primeiro ombudsman da imprensa brasileira; São Paulo, Siciliano, 1991), nos EUA as
vítimas de entrevistas deturpadas ou fraudadas podem recorrer ao Centro Nacional
das Vitimas, com sede em Forth Worth, no Texas, que defende os seguintes direitos
dos entrevistados:
A arte da Entrevista

1. De dizer não a um pedido de entrevista. 


2. De escolher um porta-voz ou um advogado da sua preferência. 
3. De escolher a hora e o local para entrevistas. 
4. De requisitar um repórter de sua escolha. 
5. De recusar entrevista a um repórter específico, mesmo que você tenha prometido
entrevistas a outros repórteres. 
6. De dizer não a uma entrevista mesmo que você tenha dito anteriormente que daria
entrevistas. 
7. De excluir crianças de entrevistas. 
8. De não responder perguntas que julgue desconfortáveis ou inapropriadas. 
9. De saber com antecedência quais direções a história vai tomar. 
10. De pedir para rever suas declarações antes da publicação. 

Segue...
A arte da Entrevista

11. De recusar coletivas de imprensa e falar com cada repórter por vez. 
12. De pedir retratação quando informações imprecisas forem reportadas. 
13. De pedir que fotografias ou imagens ofensivas sejam omitidas na publicação ou
não levadas ao ar. 
14. De dar entrevistas na televisão mostrando apenas a silhueta ou solicitar que sua
foto não seja publicada. 
15. De se recusar a responder perguntas de repórteres durante julgamentos.
16. De processar um jornalista. 
17. De sofrer na privacidade. 
18. De ser tratado com dignidade e respeito pelos meios de comunicação".
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Tipos de perguntas

Existem perguntas que dão a possibilidade do entrevistado elaborar, pensar e dar uma
resposta melhor, embasada na opinião dele ou na descrição de um fato. É o caso
das perguntas abertas. Exemplo: “Qual sua opinião sobre a maioridade penal ser
reduzida para 16 anos?”
Além de pedir uma análise ou opinião de um caso ao entrevistado, outra forma de
fazer perguntas abertas é usar no início das questões “Quais”, “De que forma”, “Como”,
“Por que” etc.
O contrário disso são as perguntas fechadas, que podem fazer o entrevistado limitar
a resposta em “sim”, “não” ou pouquíssimas palavras. Exemplo: “As investigações
apontam que o copiloto tinha problemas psicológicos?”
Perguntas longas podem fazer o entrevistado se perder na tentativa de entender o
que você quer com essa questão. Se preciso for, contextualize, mas sem alongar-se
demais. Pense nas réplicas e tréplicas dos candidatos nos debates políticos. Elas têm
perguntas mínimas, mas argumentações gigantes que mais parecem uma “palestra”. É
bom evitar isso.
A arte da Entrevista

Perguntas abrangentes podem dar margem ao entrevistado escolher o foco da


resposta e falar sobre o que mais o agrada. Exemplo: “Qual sua opinião sobre a
vida?” – aqui, o entrevistado pode preferir falar da vida profissional, vida social, vida
familiar ou filosofar sobre a existência do ser humano na Terra. Nesse caso só resta
aceitar a declaração que vier. É preciso ser objetivo na pergunta. Quanto mais
específico for, mais direto ao ponto será a resposta.

Perguntas complexas devem ser evitadas, já que o trabalho do repórter é esclarecer


os assuntos e não os complicar ainda mais. Usar termos técnicos, jargões que só dizem
respeito àquela profissão (como advogados, médicos ou cientistas) pode confundir
quem não entende do que se fala. Pedir para o entrevistado evitar esses termos ou
explicá-los em uma linguagem coloquial ajudam. Tenha para si que se você não
compreende o que está sendo perguntado ou o próprio assunto, melhor entender
mais sobre o tema e reformular a pergunta.
A arte da Entrevista

Como conduzir bem uma entrevista

O jornalista Fábio Salgueiro, com


passagens pelas rádios CBN e Globo e
jornal Diário de São Paulo, é,
atualmente, comentarista do canal
BandSports e dá dicas de como
conduzir bem uma entrevista.

https://www.youtube.com/watch?v=UfZDoI4gp1g
A arte da Entrevista

Do ponto de vista dos objetivos, as entrevistas podem ser:

a) ritual – é geralmente breve. O ponto de interesse está mais centrado na exposição


(da voz, da figura) do entrevistado do que no que ele tem a dizer. Entrevistas de
jogadores ou técnicos após a vitória ou derrota, ou de visitantes ilustres, logo após sua
chegada, costumam ter essa característica. As declarações ou são irrelevantes, ou
esperadas, ou ainda, mera formalidade a que, por algum motivo, se atribui dimensão
simbólica. O mundo oficial é rico em situações rituais: interessam, aí, o ambiente, o
clima, a encenação (cumprimentos, cerimonial, trajes e atitudes), cuidadosamente
programados para compor o “documento histórico”. Buscam-se desvios e falhas de
protocolo, nuanças na fala diplomática (nesse gênero de discurso, palavras como
cordial e amistoso podem ter sentidos muito diferentes). Mas, em geral, frustra-se o
esforço para encontrar algo importante no que é declarado.
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b) Temática – aborda um tema, sobre o qual se supõe que o entrevistado tenha


condições e autoridade para discorrer. Geralmente consiste na exposição de versões
ou interpretações de acontecimentos. Pode servir para ajudar na compreensão de um
problema, expor um ponto de vista, reiterar uma linha editorial com o argumento de
autoridade (a validação pelo entrevistado) etc.

c) Testemunhal – trata-se do relato do entrevistado sobre algo de que ele participou


ou a que assistiu. A reconstituição do evento é feita, aí, do ponto de vista particular do
entrevistado, que usualmente, acrescenta suas próprias interpretações. Em geral, esse
tipo de depoimento não se limita a episódios em que o entrevistado se envolver
diretamente, mas inclui informações a que teve acesso e impressões subjetivas.
A arte da Entrevista

d) Em profundidade – o objetivo da entrevista, aí, não é um tema particular ou um


acontecimento específico, mas a figura do entrevistado, a representação de mundo
que ele constrói, uma atividade que desenvolve ou um viés de sua maneira de ser,
geralmente relacionada com outros aspectos de sua vida. Procura-se construir uma 34
novela ou um ensaio sobre o personagem, a partir de seus próprios depoimentos e
impressões.
A arte da Entrevista

Quanto às circunstâncias de realização, as entrevistas variam bastante:

a) ocasional – não é programada – ou, pelo menos, não combinada previamente. O


entrevistado é questionado sobre algum assunto e o resultado pode ser interessante
porque, sem se ter preparado e preso ao compromisso de veracidade e relevância de
qualquer conversa (as máximas de Grice), dará provavelmente respostas mais sinceras
ou menos cautelosas do que se houvesse aviso prévio. No entanto, pessoas
acostumadas à abordagem para entrevistas desse tipo – como políticos, por exemplo,
aproveitam eventualmente a oportunidade para formular declarações maliciosas,
muito bem planejadas e que poderão desmentir ou corrigir posteriormente, alegando
que foram pegos de surpresa ou mal interpretados.
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b) Confronto – é a entrevista em que o repórter assume o papel de inquisidor,


despejando sobre o entrevistado acusações e contra-argumentando, eventualmente
com veemência, com base em algum dossiê ou conjunto acusatório. O repórter atua,
então, como promotor em um julgamento informal. A tática é comum em jornalismo
panfletário, quando se pretende “ouvir o outro lado” sem lhe dar, na verdade,
condições razoáveis de expor seus pontos de vista. Dependendo da habilidade retórica
do entrevistado e da competência acusatória do repórter, a entrevista pode
transformarse em um espetáculo de constrangimento ou, pelo contrário, em uma
peça de redenção; em suma, o repórter ou o entrevistado, o que é mais raro, pode
ganhar. Esse efeito será inevitavelmente notado se o receptor da informação tem
acesso direto à entrevista – isto é, no rádio ou na televisão ao vivo.
A arte da Entrevista

c) Coletiva – o entrevistado é, aí, submetido a perguntas de vários repórteres, que


representam diferentes veículos, em ambiente de maior ou menor formalidade. 35
Entrevistas coletivas são comuns quando há interesse geral por algum (ou alguns)
personagem (ns) que acaba (m) de participar ou de assistir a um evento interessante.
São também programadas como parte da promoção de espetáculos, eventos culturais
ou vendas de produtos que embutem alguma criação ou tecnologia. Altas
autoridades, situadas em um centro de decisões, costumam dar entrevistas coletivas
principalmente – diárias, semanais – para fazer um briefing (resumo) de sua
atividade. Por menos formal que seja o ambiente, a entrevista coletiva tem como
principal limitação o bloqueio do diálogo, isto é, da pergunta construída sobre a
resposta: há preocupação de distribuir por todos a possibilidade de questionamento e
a intervenção de cada repórter resume-se, em geral, a uma, duas ou mais perguntas
preparadas previamente. O comando, com freqüência, fica com o entrevistado ou
alguém vinculado a ele, e esta é uma das razões da simpatia que as assessorias de
imprensa têm por esse gênero de contato com jornalistas.
A arte da Entrevista

d) Dialogal – é a entrevista por excelência. Marcada com antecipação reúne


entrevistado e entrevistador em ambiente controlado, sentados, em geral, e, de
preferência, sem a interveniência de um aparato (como uma mesa de escritório) capaz
de estabelecer hierarquia (quem se senta diante das gavetas da mesa assume, de certa
forma, posição de mando). Entrevistador e entrevistado constroem o tom de sua
conversa, que evolui a partir de questões propostas pelo primeiro, mas não se limitam
a esses tópicos: permite-se o aprofundamento e detalhamento dos pontos abordados.
A arte da Entrevista

Chegue Mais Perto: Pedro Bial dá dicas para quem quer ser jornalista

Chegue Mais Perto é o projeto que abre as portas da Globo para estudantes,
professores e pesquisadores.

https://www.youtube.com/watch?v=C8yhimFq4dY
Abertura de Fórum para tirar as dúvidas
dos alunos com relação às reportagens
que estão em desenvolvimento.

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