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CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
E ASPECTOS LINGUÍSTICOS
4º ENCONTRO – NOVEMBRO/2013
Se bem
me lembro ...
emórias Literárias
A vida não é a que a gente viveu, e
sim a que
a gente recorda, e como recorda para
É aquilo que ocorre ao Relato que alguém faz, muitas
espírito como resultado de vezes na forma de obra literária,
experiências já vividas; a partir de acontecimentos
lembrança; reminiscência. históricos dos quais participou
ou foi testemunha, ou que estão
fundamentados em sua vida
particular.
SEMELHANTES,
PORÉM DIFERENTES
MEMÓRIAS LITERÁRIAS E SUAS
SEQUÊNCIAS TIPOLÓGICAS
MEMÓRIAS LITERÁRIAS –
CARACTERÍSTICAS E PECULIARIDADES
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E
CONTEÚDO TEMÁTICO
Identificação da situação de comunicação
PLANO GLOBAL DAS
MEMÓRIAS LITERÁRIAS
Partes próprias da composição do gênero
Início, meio e fim bem demarcados.
O Início do texto é dedicado a situar o leitor no
tempo e no espaço a serem rememorados.
Relato de fato(s) marcante(s), ao longo do texto, e
os motivos que o tornam significativos.
O texto pode ser concluído com uma cena ou fato
vivido pelo narrador em um momento passado.
As memórias também podem ser concluídas com o
deslocamento do narrador para o tempo presente.
PLANO GLOBAL DAS
MEMÓRIAS LITERÁRIAS
Narrador
Narrador-personagem ou narrador-testemunha em
1ª pessoa.
Apesenta-se e manifesta-se como EU, falando
daquilo que viveu sob, somente, o seu ponto de vista.
Adequação da Linguagem
MODIFICADORES
ASPECTUAIS
PALAVRAS E ORAÇÕES SUBORDINADAS
EXPRESSÕES
PALAVRAS/EXPRESSÕES
ANTIGAS OU EM DESUSO
OS ASPECTOS LINGUÍSTICOS
NAS MEMÓRIAS LITERÁRIAS
Sinais de pontuação no texto
SINAL DE PONTUAÇÃO EMPREGO
Indicar enumeração.
DOIS-PONTOS
Indicar a introdução da fala de uma personagem ou de
uma explicação ao longo do texto.
Tenho 86 anos de idade e sou conhecido como senhor Souza. Deus me deu a
oportunidade de ter uma vida maravilhosa, cercado por pessoas inigualáveis. Durante
minha vida, morei em muitos locais: Mossoró, Apodi, Sobral e, por fim, Fortaleza.
Lembro-me bem da infância maravilhosa que tive em cada um desses lugares. Como
esquecer o calor de Mossoró? Como posso me esquecer de um bairro onde morei em
Apodi chamado Apanha Peixe? Na verdade, é assim chamado, porque nele há uma
lagoa tão grande
APESAR que
DEmal dá para ver
APRESENTAR seu fim REMINISCÊNCIAS,
ALGUMAS e, quando alguémO ia pescar,
TEXTO É, as redes
vinhas lotadas de tantoPREDOMINATEMENTE,
peixe, daí o nome. Mais tarde, eu me mudei um vilarejo de dez
AUTOBIOGRÁFICO.
casas de taipa que ficavam a uma distância de 150 metros umas das outras. Apesar da
simplicidade, era um local ótimo de se morar. Eu me sentia feliz em meio a tantas
vacas, ovelhas, galinhas e outros bichos.
Tempos depois, partimos para Sobral. A cidade com aqueles prédios
centenários, casas do século XVII e uma igreja tão linda! Nosso destino era o vilarejo
chamado Triângulo. Lá era fantástico! Havia grandes árvores, rios e uma barragem
enorme para represar água por conta da seca. Como tudo que é bom dura pouco, mais
uma vez tivemos de vir embora para Fortaleza, onde nasci. Chegando a Fortaleza,
quase não a reconheci, pois estava muito diferente da que tinha deixado há três anos.
Muitas coisas tinham mudado: a rodoviária, as casas, ruas e avenidas,
muitos prédios tinham sido construídos. Nossa família instalou-se num bairro de
nome Parangaba, onde passei o resto de minha infância e vida. Na mesma rua,
residia uma umbandista amiga de minha mãe. Esse foi o meu primeiro contato com
alguma religião. Gostava de participar dos cultos, achava muito linda a forma como
os mesmos eram feitos, as vestimentas, as músicas, as imagens dos santos
africanos, tudo aquilo me fascinava, eu achava magnífico. Em frente de casa havia
uma praça e uma igreja. Na época de festas juninas, o lugar se enchia de alegria.
Nós crianças ficávamos fascinadas com o parque de diversões.
Era um prazer subir na roda-gigante, no alto da qual dava para se ver as
luzes da cidade. Havia também um carrossel, um tiro ao alvo para ganharmos
prémios tão cobiçados. Divertíamo-nos assistindo às tradicionais quadrilhas e ao
casamento matuto.
Porém, minha vida em Fortaleza não era bem o que eu queria, apesar de
ter parque de diversões, fantástico para uma criança deslumbrada como eu.
Quando você é uma criança, tudo lhe fascina. Você pensa que o mundo é de uma
forma até você crescer, estudar e descobrir que seu pais não é o mundo como
pensa, até descobrir que existe egoísmo, pessoas que desmatam as floretas por
pura ambição, matam animais para o comércio. Quantos animais que estão em
extinção hoje! Na minha época, não existia essa coisa que se chama aquecimento
global. Revendo tudo, fico triste demais, pois hoje tudo está sendo destruído: as
florestas, os animais, rios e lagoas, cachoeiras e tantos outros tesouros preciosos da
terra.
Outros tempos ótimos de minha vida foram vividos intensamente. Segui
meu rumo, passei pela adolescência, vivi a juventude em boa parte na faculdade.
Anos depois, conheci uma linda jovem com quem casei e assumi minha fase adulta.
Minha esposa não pôde ter nenhum filho, mas sempre me deu muita alegria e
compensou essa falta com sua presença afetuosa. Infelizmente, vinte anos depois que
nos casamos, ela veio a falecer. Depois disso, eu me dediquei a cuidar de minha mãe,
pois ela já não tinha mais tanta vitalidade, falecendo com pouco mais de cem anos.
Fui um homem bem sucedido no trabalho, tive ótimas amizades e me tornei
esse senhor solitário que sou agora. Atualmente minha única companhia são alguns
animais que crio, meus amáveis gatos e cachorros, sem contar com a companhia de
minhas plantas. Hoje, ao completar 86 anos, sou um senhor muito agradecido a Deus
pela intensa vida que tive, agradeço por tudo que me fez e fico aguardando o
momento em que todas essas e tantas outras lembranças restem apenas em papéis
escritos no livro de minha vida.
Os velhos tempos
Aqui era muito bom nos velhos tempos, as casas eram simples e as pessoas
eram mais unidas. Todo santo dia as pessoas iam de manhã bem cedo tomar café na
casa da Dona Verônica. Nós adorávamos os seus bolos. Muitas crianças deixavam de
tomar seu lanche só para poder apreciar os doces da vizinha mais querida da rua. Era
um verdadeiro mundo de açúcar, doces, bolos coloridos, de formas e tamanhos
variados. Que saudade! O de brigadeiro era divino, vocês iriam adorar, se apaixonar,
seria a melhor palavra para dimensionar a nossa admiração. Uma pena hoje não ser
mais assim, ninguém tem amigos como antigamente, atualmente as pessoas são mal
educadas e também falsas, na verdade, nem todos, mas a sua maioria,
As pessoas podiam ser mais humildes e menos mal educadas. Mas isso é
coisa de agora, e o que importa no momento são as boas lembranças do meu lugar. O
APESAR DE MENCIONAR BREVENMENTE UM LUGAR (NÃO ESPECIFICADO),
cheiro de terra molhada, por exemplo, que quase não sentimos mais, isso quando
PREVALECE
chove. São duas O as
raridades, RELATO
chuvas DOS COSTUMES
e a terra. DE por
A primeira UMA ÉPOCA.no nordeste e
estarmos
a segunda porque na minha rua só tem asfalto. O asfalto tornou minha rua muito
quente. Na verdade, hoje sobra calor no chão e falta calor humano.
Outra saudade dos velhos tempos é o costume de sentarmos na calçada para
uma conversa no final da tarde. Minha avó e toda a vizinhança ficavam horas batendo
papo, jogando conversa fora, esperando o tempo passar até meu pai chegar da escola e
ela entrar para cuidar de seu jantar. Hoje, quase ninguém faz isso, por causa dos
assaltos e também das brigas, todos nós temos medo da morte, por isso quase
ninguém senta mais nas calçadas, os tiros e as brigas de gangues invadiram nosso lugar.
É muito triste a realidade da minha rua atualmente. Percebemos que o ontem
já envelheceu e está muito doente, assim como eu, e estão mais velhos ainda os
hábitos e os costumes que ficaram num passado que infelizmente não volta mais.
EM TODO CORPO DO TEXTO, PERCEBEM-SE INDÍCIOS DA REALIZAÇÃO DA
ENTREVISTA COM ALGUM ANTIGO MORADOR DO LUGAR RETRATADO.
Naquele tempo tudo era diferente, as pessoas eram mais amigas umas das
outras e viviam mais felizes. O LUGAR É BEM CARACTERIZADO,
Hoje, o engenho está de pé, bem conservado,
SABENDO-SE as pessoas
EXATAMENTE sempre
DE ONDE SÃOvêm para
tirar retratos e ouvir histórias de como funcionavaAS
tudo aquilo, mas nunca vão entender
MEMÓRIAS.
como funcionava o coração, a amizade de cada pessoa que ali vivia, pois essa máquina de
tirar retrato jamais vai retratar as lembranças, as saudades e a história real do mundo
encantado do engenho.