DE KWAME NKRUMAH A

JULIUS NYERERE: O
PENSAMENTO SOCIALISTA
NA ÁFRICA PÓS-COLONIAL

PEDRO OLIVEIRA BARBOSA - DOUTORANDO PUCRS (CNPQ)

ORIENTADOR: MARÇAL DE MENEZES PAREDES
 A “GUERRA FRIA” E O PENSAMENTO AFRICANO
• O PROBLEMÁTICO CONCEITO DE “GUERRA FRIA” E O
PENSAMENTO POLÍTICO AFRICANO;
• PARA LUPALO (2018), O PENSAMENTO DE NKRUMAH
SERIA “NÃO MAIS DO QUE O SOCIALISMO-CIENTÍFICO
ENUNCIADO POR MARX E ENGELS, REPETIDOS POR
NKRUMAH. SEM SOCIALISMO-CIENTÍFICO, NÃO
EXISTIRIA NKRUMARISMO. ALÉM DISSO, SEM MARX E
ENGELS, E SEM LÊNIN, CUJAS IDEIAS INSPIRARAM
NKRUMAH, NÃO HAVERIA NENHUM NKRUMARISMO. E
ENTÃO NÃO HAVERIA NENHUM NKRUMAH COMO UM
PENSADOR SOCIALISTAS” (NKRUMAH AND NYERERE:
• JÁ
HOWSOBRE A BASE
TO UNITE DOP.PENSAMENTO
AFRICA, DE LIVRE);
21-22, TRADUÇÃO NYERERE,
KELLEY E ESCHE (1999) AFIRMAM: “UNIDADE, AUTO-
DETERMINAÇÃO, TRABALHO E RESPONSABILIDADE
COLETIVOS, ECONOMIA COLETIVA (SOCIALISMO),
CRIATIVIDADE, PROPÓSITO, E ATÉ FÉ, SÃO
CONSOANTES TANTO NAS IDEIAS DE MAO QUANTO NA
CULTURA AFRICANA ‘TRADICIONAL’. E NÃO É
COINCIDÊNCIA, POSSIVELMENTE, QUE ESSES SETE
PRINCÍPIOS SEJAM A BASE DA FAMOSA ARUSHA
DECLARATION FEITA NA TANZÂNIA EM 1964 POR
JULIUS NYERERE – A TANZÂNIA FOI O PRIMEIRO E
MAIS IMPORTANTE ALIADO CHINÊS NA ÁFRICA”
(BLACK LIKE MAO, P. 32, TRADUÇÃO LIVRE).

KWAME NKRUMAH
• JÁ EM 1945 ESTEVE PRESENTE NO V CONGRESSO PAN-AFRICANO,
TENDO SIDO UM DOS PRINCIPAIS PROMOTORES DA LIBERTAÇÃO
AFRICANA;
• EM 1957 CONDUZIU A COSTA DO OURO PARA SE TORNAR UM PAÍS
A INDEPENDÊNCIA PELAS VIAS LEGAIS, ALTERANDO SEU NOME
PARA GANA. FOI RESPONSÁVEL POR DESENCADEAR PROCESSOS
DE INDEPENDÊNCIA EM TODOS OS CANTOS DO CONTINENTE;
• ERA O MAIS INFLUENTE POLÍTICO AFRICANO A ADOTAR O
SOCIALISMO-CIENTÍFICO NO CONTEXTO DOS ANOS 1960,
BUSCANDO PROMOVER UMA RÁPIDA INDUSTRIALIZAÇÃO NO
PAÍS. ERA TAMBÉM UM REPRESENTANTE DO NÃO-ALINHAMENTO;
• FOI UM DOS FUNDADORES E PRINCIPAIS LIDERANÇAS DA OUA EM
1963, TENDO SIDO UM GRANDE DEFENSOR E PROMOTOR DA
UNIDADE AFRICANA. TEVE ALGUMAS TENTATIVAS FRACASSADAS
DE CRIAR UNIDADES REGIONAIS;
• SOFREU UM GOLPE MILITAR EM 1966 APOIADO PELOS GOVERNOS
OCIDENTAIS. VIVEU EXILADO ATÉ 1972, QUANDO MORREU;
• ESCREVEU “CLASS STRUGGLE IN AFRICA” EM 1970, VIVENDO NO
EXÍLIO NA GUINÉ.
JULIUS
NYERERE
• CONDUZIU A INDEPENDÊNCIA DA TANGANYIKA EM 1962 PELOS
MEIOS LEGAIS. FOI SEU PRIMEIRO PRESIDENTE;
• ASSIM COMO NKRUMAH, FOI UM DOS FUNDADORES E
PRINCIPAIS LIDERANÇAS DA OUA EM 1963, TENDO MOVIDO
MUITOS ESFORÇOS PARA A FORMAÇÃO DA UMA UNIDADE
AFRICANA E ACOLHIDO O COMITÊ DE LIBERTAÇÃO DA
ORGANIZAÇÃO EM DAR-ES-SALAAM;
• EM 1964, APÓS REVOLUÇÃO QUE DERRUBOU O SULTANATO NA
ILHAS DE ZANZIBAR, PROMOVEU A UNIÃO ENTRE OS DOIS
TERRITÓRIOS, CRIANDO O ESTADO DA TANZÂNIA;
• ERA O POLÍTICO AFRICANO MAIS PRÓXIMO DA CHINA DE MAO
TSÉ-TUNG. PROMOVEU O SOCIALISMO “UJAMAA”, OU
“SOCIALISMO AFRICANO” BASEADO NA VIDA TRADICIONAL DO
CONTINENTE. ADOTAVA UMA POSTURA DE NÃO-ALINHAMENTO,
E PROMOVIA A REVOLUÇÃO ATRAVÉS DO MUNDO RURAL;
• PUBLICOU “FREEDOM AND SOCIALISM”, REUNINDO DISCURSOS
QUE SINTETIZAM SEU PENSAMENTO SOCIALISTA, EM 1968;
• RETIROU-SE DA POLÍTICA EM 1985, TENDO PERMANECIDO
PRESIDENTE DO PAÍS ATÉ LÁ. MORREU EM 1999.
 THE CLASS STRUGLE IN AFRICA (1970)
O Socialismo Nkrumah claramente realiza uma interpretação a partir das
teorias do marxismo-leninismo;
A Revolução Entretanto, não fica restrita a ela, colocando, por exemplo, a
classe campesina como o “motor da revolução”;
O Racismo Entende o racismo como uma questão de classe, acrescentando
um elemento nunca trabalhada pela teoria marxista-leninista;
A Unidade Coloca o processo da unificação do continente africano como o
Africana bastião da revolução mundial, indispensável para seu sucesso;
O debate da Se coloca em diálogo não com Marx, Lênin ou Mao, mas sim
época com os demais políticos africanos de seu tempo, sendo um
crítico tanto do “Socialismo Africano” quanto da “Negritude”.
“conhecem-se cinco grandes tipos de relações de produção: o
comunismo primitivo, a escravatura, o feudalismo, o
capitalismo e o socialismo” (P.13),
“é necessário desenvolver o potencial revolucionário dessa
camada rural de camponeses e operários agrícolas, porque
constituem a força principal da revolução” (P. 93-94)
“no mundo moderno, a luta de raças tornou-se parte integrante
da luta de classes. Noutros termos: o problema racial é
simultaneamente um problema de classes” (P. 29-30)
“A África é o centro da revolução do Mundo Negro; Enquanto
não for unificada sob a direção de um governo socialista, os
homens negros do mundo inteiro não terão uma nacionalidade
[...] A África é um continente, um povo, uma nação” (P. 106-
107)
O Socialismo Africano seria “utilizado com o fim de negar a
luta de classes e espalhar a confusão no espírito dos verdadeiros
militantes socialistas” (P. 27) e a Negritude seria uma
“pseudoteoria pretende conciliar a classe média africana
dominada por estrangeiros com a ideologia burguesa francesa”
(P. 27)
 FREEDOM AND SOCIALISM(1968)
O Socialismo Busca fundar seu pensamento nas sociedades tradicionais
africanas, utilizando o conceito de Ujamaa (família em Swahíli)
como base de seu pensamento;
A Revolução O campesinto seria a base de seu pensamento, entretanto não a
partir de uma “luta de classes” como Nkrumah, mas sim a partir
de um sentimento de unidade nacional que deveria ser sentido
por todos, independente de questões de classe;
A Unidade Entende a questão da Unidade Africana como fundamental
Africana para o futuro do continente, entretanto aceita que isso é um
processo mais gradual, e que os diferentes Estados podem
adotar diferentes vias de desenvolvimento; (ver p. 213)
O debate da Faz uma crítica radical aqueles que adotam o chamado
época “socialismo científico”, apontando sua via como sendo a
“verdadeiramente africana”.
“Pelo uso da palavra ‘Ujamaa’, assim sendo, nós dizemos que
socialismo envolve uma construção fundada em nosso passado,
e construída também da nossa própria maneira.” (P. 2 –
Tradução Livre)
“A solução para todos esses problemas depende do crescimento
da compreensão socialista e das atitudes socialistas do povo.
Em particular, isso depende da velocidade e sucesso em que os
conceitos de igualdade humana e soberania humana são aceitos
pela sociedade e seus líderes” (P. 25)
“Enquanto estamos separados nós temos diferentes
circunstâncias em diferentes partes da África [...] As técnicas
que nós nos apropriamos na Tanzânia – onde começamos quase
do zero, sem indústria ou mineração – não poderiam ser as
corretas para a Zâmbia” (P. 213)
“as palavras de Marx e Lênin são consideradas escritos divinos.
[...] os padres do “socialismo científico” decidiram qual o
verdadeiro significado em termos modernos de livros escritos
mais de 100 anos atrás. [...] Isso não é científico, e tenho quase
certeza que também não é marxista [...] ele (Marx) não era
Deus.” (p. 14-15)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

• KELLEY, ROBIN; ESCH, BETSY. BLACK LIKE MAO: RED CHINA AND BLACK REVOLUTION. IN:
SOULS: CRITICAL JOURNAL OF BLACK POLITICS & CULTURE, V. 1, N. 4, P. 6-41, 1999.
• LACAPRA, DOMINICK. RETHINKING INTELLECTUAL HISTORY: TEXTS, CONTEXTS,
LANGUAGE. CORNELL UNIVERSITY PRESS, 1983.
• LUPALO, LAWRENCE. NKRUMAH AND NYERERE: HOT TO UNITE AFRICA. CREATESPACE, 2018.
• NKUMAH, KWAME. A LUTA DE CLASSES EM ÁFRICA. TRADUÇÃO MARIA NAZARÉ CAMPOS.
LIVRARIA SÁ DA COSTA EDITORA, 1977.
• NYERERE, JULIUS. FREEDOM AND SOCIALISM. OXFORD UNIVERSITY PRESS, 1974.
• POCOCK, JOHN. LINGUAGENS DO IDEÁRIO POLÍTICO. VOL. 25. EDUSP, 2003.
• SKINNER, QUENTIN. SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO NA HISTÓRIA DAS IDEIAS. TRADUÇÃO DE
MARCUS VINÍCIUS BARBOSA. TEMPO E ARGUMENTO, FLORIANÓPOLIS, V. 9, N. 20, P. 358 ‐ 399.
JAN./ABR. 2017.