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Teoria Geral

do
Negócio Jurídico
Facto Jurídico
lato sensu

Facto Jurídico
stricto sensu

Acto Jurídico
lato sensu

Acto Jurídico Negócio Jurídico


simples (art. 217º a
(art. 295º) 294º)
• Facto Jurídico lato sensu é todo o acto humano ou acontecimento
natural juridicamente relevante, ou seja, produtor de efeitos jurídicos
(a morte, a compra e venda, uma inundação, o abandono de uma
coisa, por exemplo)

• Actos jurídicos lato sensu são acções humanas tratadas pelo Direito
enquanto manifestações de vontade (a renúncia, qualquer contrato, o
testamento, a ocupação, a perfilhação, por exemplo)
• Factos jurídicos stricto sensu são estranhos a qualquer processo
volitivo – ou porque resultam de causas de ordem natural ou porque
a sua eventual voluntariedade não tem relevância jurídica

• Negócios jurídicos são factos voluntários a que o Direito atribui


efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo das declarações de
vontade do/s seu/s autores/s

• Simples actos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos se


produzem ainda que estes não tenham sido antecipados pelo/s seu/s
autore/s
Simples actos
jurídicos

Quase-
negócios
jurídicos

Actos
materiais
• Os quase-negócios são declarações de vontade que produzem efeitos
independentemente de o seu autor antecipar os respectivos efeitos
(interpelação do devedor, por exemplo)

• Os actos materiais traduzem-se na realização de um resultado factual


ao qual o Direito associa efeitos jurídicos (acessão industrial, por
exemplo)
Classes de negócios jurídicos

• 1.

• Negócios jurídicos plurilaterais (ou contratos): aqueles que têm duas ou mais partes
• Negócios jurídicos unilaterais: aqueles que têm apenas uma parte

• A parte pode ser unipessoal ou pluripessoal


• 2.

• Negócios inter vivos: não têm por função típica a produção de efeitos
jurídicos por morte
• Negócios mortis causa: os seus efeitos jurídicos são desencadeados por
morte da pessoa a que se referem
• 3.

• Negócios consensuais: aqueles cuja válida celebração não depende de forma


especial (art. 219º)
• Negócios formais: aqueles cuja validade depende de forma especial (v.g.,art.
875º)
• 4.

• Negócios reais quanto à constituição: são aqueles cuja perfeição supõe a entrega da
coisa que seja tida como seu objecto (v.g., art. 1142º)
• Negócios consensuais: são aqueles em que a entrega da coisa que constitua o seu
objecto apenas é exigida para execução de obrigações já dele decorrentes (art.
408º/nº2)
• 5.

• Negócios pessoais: aqueles cujo conteúdo se refere ao hemisfério pessoal


• Negócios patrimoniais: aqueles cujo conteúdo se refere ao hemisfério
patrimonial
• 6.

• Negócios (contratos) sinalagmáticos: aqueles que constituem obrigações recíprocas


(uma como fundamento da outra e vice-versa)
• Negócios (contratos) não-sinalagmáticos: aqueles que geram obrigações para apenas
uma das partes ou para ambas mas não reciprocamente
Genético
Sinalagma (negócios de efeitos
instantâneos)

Funcional
(negócios de efeitos
duradouros)

• Consequências da existência do sinalagma:


• A) Excepção do não cumprimento (428º)
• B) Condição resolutiva tácita (801º/nº2)
• 7.

• Negócios onerosos: aqueles que implicam sacrifícios patrimoniais para todos


os intervenientes
• Negócios gratuitos: aqueles que implicam sacrifícios patrimoniais para
apenas alguma/s da/s parte/s
• 8.
• Os negócios onerosos subdistinguem-se em:
• Comutativos: aqueles em que há equivalência de contrapartidas
• Aleatórios: aqueles em que livremente se assume o risco (característico do
negócio em causa) de desequilíbrio nas prestações
• 9.

• Negócios de administração: aqueles que se destinam à fruição e conservação


dos bens
• Negócios de disposição: aqueles que excedem tais limites e atingem a
substância do bem
• 10.

• Negócios causais: são aqueles em respectiva razão de ser é relevante para o


respectivo regime
• Negócios abstractos: são aqueles em que a respectiva razão de ser não pode
ser atendida, ao menos para certos efeitos
• 11.

• Negócios fiduciários: são aqueles em que uma das partes (fiduciante)


concede à outra (fiduciário) poderes que confia que esta não exerça
• Negócios indirectos: são aqueles que cumprem a função tipicamente própria
de outro negócio
• Formação do negócio:
Vontade

Negócio
Jurídico

Declaração Receptícia
(teoria da recepção)

Não receptícia
(teoria da emissão)
• Declaração (modalidades):

expressa

Por acção

tácita

Por omissão silêncio


• A declaração tácita baseia-se numa presunção judicial.
• As presunções podem ser:

ilidíveis

legais
inilidíveis
presunções

judiciais ilidíveis
• O silêncio só tem significado negocial quando tal resulte de:

lei

acordo

uso
• Processo típico de formação do contrato:

Proposta Aceitação

Completa Pura

Firme ≠ Convite Firme


a contratar

Forma Forma
suficiente suficiente
• Efeitos da proposta:

Direito
potestativo
de aceitar

Rejeição

Aceitação com = (eventual)


modificações Contraproposta
• Outros tipos de contratação:

• 1. Sobre documento
• 2. Contratação automática
• 3. Contratação em auto-serviço
• Culpa in contrahendo:
• Segundo uma tripartição muito comum, a boa fé na responsabilidade pré-
contratual encerra três modalidades típicas de deveres:
• de protecção,
• de esclarecimento
• e de lealdade (este última contendo a sub-modalidade típica da não ruptura injustificada
das negociações).
• A) O primeiro tipo implica que, mesmo antes de iniciadas as negociações formais, bastando uma
“proximidade negocial”, as potenciais partes estejam já reciprocamente vinculadas por deveres de
cuidado com a vida, a integridade física e a propriedade da outra. É um dever cuja existência fará
sentido no Direito alemão, à semelhança do Direito Romano, onde a responsabilidade civil, mesmo
por factos ilícitos, obedece formalmente a uma taxatividade de modelos. Entre nós, a admissão
deste tipo afigura-se de discutível utilidade atendendo à cláusula geral contida no nº1 do art. 483º
do Cód.Civil e à largueza com que se admite a ressarcibilidade dos danos não patrimoniais.

• B) O dever de esclarecimento impõe que as potenciais partes, na negociação, prestem


reciprocamente as informações necessárias à correcta formação e motivação da vontade alheia, de
modo a que não fiquem escondidos, pelo menos, aqueles esclarecimentos cujo não fornecimento
possa determinar o surgimento de erro-vício (arts. 251º/252º, Cód.Civil) ou de erro-vício
qualificado por dolo omissivo (art. 253º/nº2/2ªparte, Cód.Civil).

• C) O dever de lealdade, por fim, impõe aos intervenientes no processo de contratação a vinculação
a um comportamento honesto, o que, para além de em muitos casos coincidir, total ou
parcialmente, com as vinculações decorrentes do dever anterior, obriga-os ainda a não romper as
negociações a não ser justificadamente e disso dando conhecimento ao outro interveniente e
também a não incluir cláusulas negociais que à partida se sabe serem juridicamente inadmissíveis.
Obrigacionais

Princípio da taxatividade
Negócios unilaterais

Com outros efeitos

Autonomia da vontade
Típicos

- Legalmente
Contratos
- Socialmente

Atípicos
Puros

Contratos
legalmente
atípicos

Mistos ≠ União de contratos


Combinados
(ex: contrato de
hospedagem)
- Absorção
Contratos
Tipo duplo - Combinação
mistos (ex: locação paga
em serviços)
- Analogia

Misto stricto sensu


(ex: doação mista)
Externa

União de
contratos Interna

Alternativa
Interpretação
• A) Interpretação
• I. Regras
1º) Fixação da vontade real
2º) Fixação do sentido objectivo da declaração
II. Casos especiais
- Negócios formais: correspondência mínima entre o texto e 1º) ou 2º)
- Casos duvidosos: 237º
- Testamento (2187º)
- Cláusulas contratuais gerais (art. 11º/nº2, DL nº 446/85 de 25/10)

B) Qualificação
- Juízo primário: de maior ou menor proximidade ao tipo
- Juízo secundário: de subsunção ou não subsunção ao tipo
• C) Integração
Regras (inexistindo norma legal supletiva)
1 - Vontade conjectural
2 - Regras de boa-fé (objectiva)
Conteúdo do negócio
• Regra
Liberdade contratual (405º)

Limites (280º)
a) não contrariedade à lei
b) indeterminabilidade
c) impossibilidade legal ou física
d) contrariedade à ordem pública
e) contrariedade aos bons costumes
Conteúdo típico dos negócios
• A) Condição e termo consistem:
- em factos futuros
- de verificação incerta, no primeiro caso, e de verificação certa, no
segundo
- voluntariamente inseridos no negócio
- cuja eficácia deles fica dependente automaticamente
• Assim, não constituem condição nem termo próprios:
- os que resultam directamente da lei (v.g. 66º/nº2);
- os que não são dotados de eficácia automática.

Além disso:
- são inadmissíveis as chamadas condições ilícitas (271º) e
- há negócios puros
Suspensiva/o
= paralisa a eficácia
Condição
e
termo
Resolutiva/o
= faz cessar ou
destrói a eficácia
• Na pendência da condição e do termo (período que medeia entre a celebração do negócio e a sua
verificação/não verificação):

São titulares de uma


expectativa jurídica porque:
O adquirente sob condição
suspensiva Podem exigir que a outra parte
ou o actue segundo a boa fé
alienante sob condição
resolutiva Podem praticar actos
conservatórios

Podem praticar actos


de disposição
• Findo o período de pendência (por verificação, não verificação ou
equivalente – 275º):
- ou o negócio fica definitivamente sem efeitos (verificação da
condição/termo resolutivo; não verificação da condição/termo suspensivo)
- ou o negócio fica definitivamente consolidado (verificação da
condição/termo suspensivo; não verificação da condição/termo resolutivo)
• A verificação da condição/termo tem efeito retroactivo, salvo (277º):

Contratos de execução duradoura

Actos de administração praticados


pela parte que exerceu o direito

Aquisição de frutos
pela parte que exerceu o direito
• B) Modo
• Cláusula típica das liberalidades que limita o enriquecimento do
respectivo beneficiário
• Não suspende nem resolve (em princípio), mas obriga

• Em caso de falta de cumprimento:


• 1. Tanto o autor da liberalidade, como os seus herdeiros, como qualquer interessado,
podem exigir o cumprimento
• 2. Se tal estiver previsto na liberalidade, tanto o seu autor, como os seus herdeiros,
podem resolvê-la
• C) Cláusulas contratuais gerais
• São pré-cláusulas elaboradas por uma futura parte para vigorar em futuros
contratos massificados (nº1) ou num futuro contrato individualizado (nº2)

• Requisitos gerais de inclusão:


1º comunicação integral e atempada
2º informação
• As cláusulas predispostas ou integradas serão inadmissíveis se:

Por contrariedade
1. As integradas à boa-fé ou
em contrato
singular, Nas relações
se forem nulas entre não
(art. 12º) Por serem
consumidores
absoluta ou
relativamente
proibidas por lei Nas relações
com consumidores

2. As predispostas, se forem proibidas por


decisão judicial em acção inibitória (art. 25º)
coacção
física

Faltas de
falta de
vontade
consciência
da declaração

Declaração
não séria
coacção moral

medo
estado de necessidade
vícios da
vontade
espontâneo
erro

provocado por dolo


bilaterais = Simulação
Intencionais
(logo
enganosas) unilaterais = reserva mental
vícios da
declaração

erro na declaração
não
intencionais
erro na transmissão
• Coacção física: o coagido é utilizado com um instrumento pelo coactor
• Consequência: inexistência jurídica
• Falta de consciência da declaração: inconsciência do significado da
declaração objectivamente proferida
• Consequência: inexistência jurídica
• Declaração não séria: declaração não jurídica (feita em contexto não
jurídico)
• Consequência: irrelevância jurídica
• Vícios da vontade: divergências entre a declaração e a vontade
conjectural causadas por medo ou erro

• Erro: desconhecimento da realidade ou má representação da mesma


• Medo: Falta ou diminuição da liberdade de motivação por causa de coacção
moral ou situação de necessidade

• Consequência de ambos: anulabilidade


Objecto
Essencialidade
+
Pessoa do cognoscibilidade
declaratário
Erro
Essencialidade
Motivos +
em geral (o seu) reconhecimento

Sobre a base Violação manifesta do


do negócio princípio da equivalência
activo

Dolo erro negócio


(ilícito)
omissivo
ameaça de
um mal

concretizável

Ilícita
Coacção (por violar direitos do medo negócio
moral coagido ou por os
colocar em perigo)

com o fim de
forçar uma
declaração
inocente/
242º/nº2
fraudulenta
Simulação

só com negócio
aparente
absoluta nulo (240º/nº2)

também com relativa regime próprio


.subjectiva
negócio oculto .objectiva
aplicável (241º)
absoluta/
relativa
Reserva
mental

conhecida os mesmos efeitos


(do declaratário) da simulação

desconhecida
declaração válida
(do declaratário)
patente rectificação
Erro na
declaração
Essencialidade
não
anulabilidade +
patente
cognoscibilidade
com dolo
anulabilidade
do núncio
Erro na
transmissão
da declaração

sem dolo anulabilidade


do núncio como sendo
erro na
declaração
• Forma: meio através do qual a vontade se manifesta

ad substantiam

ad probationem

Forma
legal

convencional

voluntária
• As consequências da falta de forma dependem da natureza do documento escrito
exigido

oficial

autêntico extra-oficial

documento
escrito autenticado

particular legalizado

simples
• Se a forma for legal e ad substantiam, a sua falta produz nulidade (220º) – salvo
se tiver sido substituída por outra de valor probatório superior (art. 364º/nº1)
• Se forma for legal mas ad probationem, a sua falta determina a impossibilidade
de prova do facto – salvo se a lei admitir a prova por outro meio
• Se a forma for convencional, presume-se que as partes não se quiseram vincular
a não ser por aquela que pré-estabeleceram
• Em princípio, a forma abrange não só o negócio propriamente dito, como
também as respectivas cláusulas acessórias
• Pelo que aquelas que não tiveram contidas no documento negocial não
valem, excepto:
- se corresponderem à vontade do autor
- se a razão de ser da forma não lhes for extensível
Ineficácia do negócio
resolução

revogação
stricto
sensu denúncia
caducidade

Ineficácia anulabilidade
invalidade

nulidade

inexistência
• Inexistência:

• A) Não tem prazo para ser invocada


• B) Pode ser invocada por qualquer pessoa
• C) É insanável
• D) O acto inexistente não tem qualquer efeito jurídico
• Nulidade (art. 286º):

• A) Não tem prazo para ser invocada


• B) Pode ser invocada por qualquer interessado
• C) É de conhecimento oficioso
• D) É insanável, apesar de o acto nulo poder ter alguns efeitos colaterais (arts.
292º e 293º)
• Anulabilidade (art. 287º):

• A) Só pode ser invocada pelo beneficiário da anulabilidade – pessoa que a lei protege
com a atribuição do poder de anulação
• B) A invocação deve ser feita no prazo de um ano a contar da cessação do vício que a
origina
• C) É sanável por confirmação (art. 288º)
• Efeitos da declaração de nulidade ou da anulação:

• O acto nulo ou anulável considera-se sem efeito, tanto prática como juridicamente,
desde a data em que foi celebrado (retroactividade)
• Excepto quando tal seja impossível, como por exemplo:
• - verificada a hipótese do art. 291º
• - nos contratos de execução continuada ou periódica
• Aproveitamento do negócio (redução comum e conversão comum):

• Em caso de nulidade ou de anulação o negócio pode:


• - reduzir-se à parte válida
• - converter-se num (outro) negócio (válido)

• Requisitos da redução (comum):


• 1º - que o negócio seja parcialmente inválido
• 2º - que à redução não se oponha a vontade conjectural das partes

• Requisitos da conversão (comum):


• 1º - que o negócio a converter seja totalmente inválido
• 2º - que o negócio inválido contenha os requisitos de validade formal e
substancial do negócio no qual se irá converter (negócio sucedâneo)
• 3º que a vontade conjectural das partes seja conforme à conversão

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